13. Amor
Oi! Eu escrevi, apaguei e editei partes desse capítulo por quase um ano (TCC eu estou olhando pra você), mas acredito que agora ele tem tudo que precisa pra história. Espero que gostem (ou não? Vocês vão entender daqui a pouco). Boa leitura!
A mãe de Guilherme recebeu uma oferta de trabalho em São Paulo quando ele tinha seis anos, foi assim que ele, a mãe e o pai se mudaram. Miguel não foi junto, não quis ter que lidar com o estresse de ter que procurar um novo emprego e preferiu ficar morando com os amigos.
Na nova escola, os garotos mais velhos começaram a implicar com Guilherme. Não demorou muito até ele se cansar e reclamar para o pai. Arthur Almeida era um homem pensativo, tinha opiniões fortes sobre muitas coisas, o filho estava acostumado com seus longos silêncios no meio de conversas.
Foi nesse dia, depois de um desses silêncios, que o pai disse que iam fazer um desvio no caminho da escola para casa. Ele estacionou na frente de uma academia de artes marciais e eles entraram, Arthur matriculou o filho nas aulas de judô e eles foram conhecer a turma.
-Por que está aqui, Guilherme? - foi a primeira coisa que o Sensei lhe perguntou.
-Eu... não sei - ele dissera. "Porque meu pai me trouxe" não parecia uma boa resposta.
-Conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar - fora a resposta do homem antes de apresentá-lo para a turma.
Eventualmente, Guilherme descobriu que a frase era de Jigoro Kano, o criador do esporte. Na época ele não entendera o que queria dizer, mas até hoje pensava nela.
No caminho para a casa, o pai voltara a falar.
-Eu quero que você aprenda a lutar, mas não quero que lute. Quero que aprenda a resolver seus problemas com palavras. Entendeu?
O menino assentira.
-Mas, se um dia você precisar, vai saber se defender. Esse conhecimento só é pra ser usado em último caso.
Por mais sábias que as palavras de seu pai fossem, sabedoria não pagava contas. Não comprava roupas, material escolar e nem, em alguns casos, respeito. Guilherme frequentara as aulas de judô por sete anos. Os pais morreram durante um assalto a banco, o policial dissera que os dois estavam tentando acalmar um garotinho que estava chorando quando o assaltante se irritou e atirou em seis reféns. Pelo menos o garotinho sobrevivera.
Miguel chegou para buscar Guilherme na escola três horas depois do horário de saída, o levou até a casa para arrumar suas coisas e foram embora logo depois do funeral, no dia seguinte.
Os irmãos nunca tinham sido próximos, principalmente por causa dos quatorze anos de diferença de idade, mas Miguel tinha se afastado ainda mais da família depois que a mãe de Mel o abandonara. A situação apenas piorou com a morte dos pais. Pagar aulas de judô para o irmão era a menor de suas preocupações.
Seu novo quarto não era grande, mas tinha espaço suficiente para que o garoto praticasse os golpes que sabia pelos próximos anos. Era o único momento do dia em que o peso do mundo desaparecia de suas costas e não sentia a raiva do mundo que o dominava em todos os outros. Seu foco estava totalmente nos movimentos que fazia.
As lutas no porão de Felipe tinham começado pouco mais de um ano e meio atrás. Os dois estavam no porão onde agora elas aconteciam, junto com Aline e Carlos. Falavam sobre algo bobo quando Gui e Carlos começaram a lutar de brincadeira, Guilherme o derrubou no chão e não o deixou levantar até admitir que estava errado. Depois de explicar aos amigos de onde vinham suas incríveis habilidades de imobilização, Felipe teve a grande ideia.
Organizar lutas e cobrar as pessoas para assistir. Elas também podiam apostar em um dos lutadores e ganhar algum dinheiro, mas a maior parte do lucro ficaria com os organizadores. Guilherme explicou que o que ele estava sugerindo era ilegal, mas isso não os parou. Desde que começara, era assim que Gui pagava as contas que o irmão "esquecia" e comprava coisas que ele e Mel precisavam, além de guardar uma parte para emergências.
Também tinha ganhado novas cicatrizes, espalhadas pelo corpo, mas nada sério o bastante para fazê-lo parar de lutar.
-Mel? - chamou assim que abriu a porta da sala.
Ouviu um barulho na cozinha e foi até lá. Mel estava espremida contra o balcão, com os olhos vermelhos e segurando o choro, Miguel estava parado a meio metro de distância dela, com uma garrafa em uma mão e a outra para cima.
-Você acha que pode falar comigo como quer? Eu vou te ensinar a me respeitar, menina - o homem gritou, e levou o braço para trás. Mel fechou os olhos e se encolheu.
Guilherme de um passo rápido e segurou o braço do irmão.
-O que você pensa que tá fazendo, caralho? - gritou e se virou para Mel. - Vai pro seu quarto.
-Então a pirralha chamou o titio pra defender ela - Miguel falou e soltou um riso de escárnio.
Assim que Melissa saiu de seu campo de visão, Guilherme avançou em direção ao irmão e o empurrou. Guilherme cerrou os punhos, sentindo a raiva aumentar a cada segundo que olhava para a cara de tédio do irmão.
-Você ia bater nela, Miguel?
Miguel virou, colocou a garrafa que segurava junto com as outras no balcão e se voltou para o irmão mais novo.
-Ia... Não ia... O que você tem a ver com isso, moleque? - o cheiro de álcool saindo da boca de Miguel era tão forte que fez Guilherme virar o rosto.
-Ela é uma criança!
-E eu tô educando ela. Ela é minha filha, não sua. Ela tava me irritando, eu tenho que ensinar ela a me respeitar. Você mora debaixo do meu teto e não pode fazer nada. Eu sou o adulto aqui e vou fazer o que me der na telha.
Guilherme deu um passo para a frente, empurrou Miguel contra o balcão e segurou a gola da camisa dele. Ouviu o barulho de vidro se quebrando mas não desgrudou os olhos do rosto do irmão. Nunca sentira tanta raiva na vida, nada no mundo poderia superar aquelas palavras.
Ele se lembrou da voz assustada dela no telefone e apertou ainda mais o tecido em sua mão. Levantou a mão direita, pronto para dar o primeiro soco. Foram os olhos de Miguel que o fizeram parar, havia algo de malicioso no olhar dele. Ele não tinha feito nada para evitar o soco, queria que Guilherme batesse nele.
-Você não pode me bater, Guilherme. Vocês acham que eu sou idiota, mas eu não sou, não - Miguel se soltou e empurrou o irmão para trás. - Acha que eu não sei daquelas tuas lutinhas toda semana, né? Mas adivinha só, eu sou muito mais inteligente do que você imagina. Tudo que eu preciso fazer é dizer que meu irmão maluco me bateu, sei que eles vão adorar saber que você anda lutando sem um registro... Eles vão te levar daqui. E você não vai ver a menina por um bom tempo e acho que você não quer isso, né?
Guilherme não disse nada, os punhos cada vez mais fechados.
-Se você encostar um dedo em mim, ela vai pagar, moleque - Miguel finalizou, encarando o irmão mais novo com um sorrisinho.
O garoto avançou novamente, Miguel só percebeu o que o atingira quando sentiu o braço do irmão o pressionando contra a parede.
-Eu não vou tocar em você. Mas se você encostar nela de novo eu juro que você vai apanhar tanto que quando acordar não vai lembrar o próprio nome pra fazer uma denúncia.
Miguel não se mexeu. Guilherme se virou e andou até o quarto, bateu a porta atrás de si depois de entrar e parou do lado da cômoda. Dezenas de pensamentos passavam pela sua cabeça ao mesmo tempo, era difícil entender algum deles. Miguel faria mesmo aquilo? Ele podia? Hoje ele já tinha se provado ainda pior do Guilherme imaginava. Como Mel devia estar se sentindo agora? Como sair dessa situação? Havia ao menos uma única coisa que ele pudesse fazer?
Nada além de ameaças.
Ele soltou um suspiro e deu um soco na parede. Os pensamento sumiram, de repente só se sentia curioso com a própria reação. Surpreso, essa era a palavra. Não sentiu dor imediatamente e pensou que fosse por estar acostumado. Foi só quando afastou a mão do que costumava ser o ombro de Brendon Urie e viu o sangue escorrendo que a dor surgiu. Agora havia um rasgo em seu poster do Panic! At The Disco.
O rapaz deu alguns passos para trás até sentir a cama e se sentou. Ficou olhando para o poster arruinado, sentindo lágrimas e mais lágrimas descendo pelo seu rosto, silenciosas, enquanto sua respiração acelerava. Ele se sentiu vazio. Inútil. Se parasse de existir naquele segundo, ninguém notaria. Não podia fazer nada para proteger a única pessoa que o amara depois da morte dos pais. Ele devia falar com ela. Mas não podia deixá-la vê-lo nesse estado.
Por mais que desaparecer parecesse tentador, ele não podia. Se ele sumisse, Mel ficaria sozinha e a mera menção disso fez mais lágrimas surgirem.
Ele sentiu o celular vibrar, tateou os bolsos da calça com a mão esquerda, pegou o aparelho e abriu a mensagem.
"Tá tudo bem, tio Gui?", Mel perguntava.
"Tá sim... Continua aí com a porta trancada, ok?", ele respondeu.
Ele abriu a lista de contatos e desceu até o nome de Laura. Apertou o botão para chamar e esperou.
-Você pode vir? - perguntou. - Eu... Eu preciso que você venha aqui.
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