Há um fim para todo começo

Jimin abriu os olhos com lentidão, enxergando primeiro as paredes cor de gelo. Os apitos irritantes das máquinas conectadas por fios ao seu corpo foi a próxima coisa a chamar sua atenção. Ele sabia onde estava, mas demorou lembrar sobre Jungkook e demorou um pouco mais para perceber a ameaça em sua última sentença, antes dele ficar desacordado.

" Não se preocupe pequeno anjo. Vamos tirar isso de dentro de você e tudo ficará bem".

Jimin colocou a mão na barriga automaticamente, pensando no porquê ele queria proteger alguém que ele ainda nem conhecia com tanta vontade. Não importava as circunstâncias, ele não queria perder seu filhote.

O baixinho não sabia o que fazer ou quem chamar, mas de qualquer forma suas chances esgotaram no momento em que Jungkook entrou pela porta do quarto e o encarou com um sorriso encantador em seu rosto delicado.

Jimin costumava amar aquele sorriso, mas pra ser bem sincero, agora ele o assustava.

- Você acordou faz muito tempo? - Jungkook perguntou sorridente enquanto se aproximava para beijar a testa de Jimin.

Seus lábios estavam frios e seu sorriso parecia forçado, de perto foi bem fácil identificar que Jungkook não estava tão bem quanto queria demonstrar.

- Acabei de acordar. - A voz de Jimin saiu rouca e falha, o que fez Jungkook estender um copo de água com um canudo que estava ao lado da cama de hospital.

Jimin estava assustado e Jungkook sentia seu medo.

- Pequeno, Taehyung comentou que você não quer tirar o filhote, mas você é novo e precisa estudar. Não é hora para isso. Você entende, certo?!

Jimin fez um biquinho fofo, concordando com certa indecisão.

- Você não tem estrutura pra ter um filhote lúpus anjo. Você vai morrer.

- Eu nunca fui aceito na minha família, não quero rejeitar esse filhote. - Jimin falou parecendo bem mais velho do que realmente era.

- Ele não tem consciência ainda. Ele ainda nem sabe que existe. - Jungkook suspirou desanimado, sentando ao lado de Jimin na cama. - Jimin, esse filhote ainda é só um feto,  não vai sentir nenhum tipo de rejeição.

Jimin concordou distraído.

- Eu e meu pai podemos discordar em muitas coisas, mas pelo menos nisso ele me apoiou. Ele conhece uma clínica que faz o procedimento em anonimato, ninguém nunca vai saber disso e na semana que vem mesmo, você já vai poder voltar para escola. Eu vou falar para a diretora sobre o meu Hut e podemos ir alegando que você vai passar os dias comigo, assim você não se prejudica.

- Seu Hut. - Jimin fez um "O" com a boca, assustado por Jungkook parecer tão normal. Não era justo, no cio dele ele quase morreu.

- Você se encontrou comigo no meu último dia de cio. Alfas só tem três dias de Hut.

Ainda parecia injusto para Jimin.

- Então, concorda em tirar o filhote?

Jimin encarou o alfa, pensativo e assustado. Ele não conseguia aceitar aquilo, não queria que ninguém machucasse seu pequeno bebê.

- Se você concordar, a médica vai vir fazer o ultrassom para saber se você tem realmente um filhotinho aí dentro e como você está de saúde em relação a isso, e então vamos direto para clínica fazer o procedimento.

- Ultrassom?

- O hospital não deixou você ser liberado sem o ultrassom. É procedimento padrão.

Jimin concordou distraído.

Jungkook saiu da sala e logo apareceu o médico com Jungkook em seu encalço. O médico era um Beta e Jungkook ficou tenso e protetor ao lado de Jimin.

- Jimin eu sou o Dr. Victor Bass e vou precisar dar uma olhada no filhote. Tudo bem por você? - Ele perguntou enquanto um computador portátil era colocado ao lado de Jimin.

Jimin concordou assustado com a movimentação repentina, mas principalmente curioso. Ele não sabia que dava pra ver seu filhote antes de tirá-lo dalí.

- Eu preciso fazer isso sozinho Sr. Jeon.

- Nem pensar. - Jungkook retrucou.

Jimin tinha milhões de perguntas para o médico, mas com Jungkook alí, ele não conseguiria fazê-las.

- Kookie, por favor. - Jimin pediu com a voz delicada quase desaparecendo no ar.

Jungkook juntou os lábios numa linha fina e sua língua encostou irritada na lateral interna da sua bochecha, mas tudo que ele fez foi beijar a testa de Jimin e sair da sala.

- Estarei na porta do lado de fora. - Foi tudo que ele disse antes de fechar a porta com violência desnecessária.

- Ele é temperamental. - Victor disse sorridente enquanto manipulava o aparelho portátil.

- Alfas geralmente são. - Jimin resmungou irritado, o que fez o médico rir animado com a pequena observação.

O médico levantou o aventou que Jimin vestia e colocou um gel gelado em sua barriga.

Jimin estava prestes a reclamar quando de repente o ar na sala ficou pesado, o silêncio era absurdo, exceto pelas batidas aceleradas que não vinham dele.

- Esse som é o coração dele. - Victor esclareceu ao notar o espanto de Jimin.

- Ele tem um coração?

- Ele tem tudo Jimin. Segundo os registros seu filhote deveria ter aproximadamente 6 semanas, porém o crescimento parece mais acelerado que o normal.

Víctor enrugou a testa confuso.

O médico não sabia que Jimin era um lúpus, assim como Jungkook. Talvez isso alterasse a fisiologia do filhote, mas por mais que Jimin não soubesse muito bem o que estava acontecendo, já que todos lhe tratava como uma criança indefesa, ainda assim, ele era esperto o suficiente para saber que aquilo deveria permanecer em segredo, pelo menos por enquanto.

- Vou precisar rodar alguns exames, mas o que tudo indica, seu filhote está saudável. Gostaria de saber o sexo?

- Eu posso? - Jimin perguntou assustado. Tudo que ele via eram movimentos aleatórios de cinza e branco na pequena tela de computador.

- Se ele sair dessa posição sim. - Victor apertou a barriga de Jimin e massageou de um lado por outro. Jimin sentiu uma pressão forte e depois outra.

- O que foi isso? - ele perguntou em pânico.

Victor sorriu.   

- Ele chutou, tá bravo comigo por tentar mudá-lo de posição e é bem teimoso porque não sai do lugar.

Jimin riu sem perceber que também chorava.

Seu bebê tinha pezinhos e chutava.

Ele saberia que foi rejeitado, Jimin tinha certeza que sim, ele não queria tirá-lo dali, ele parecia tão confortável.

- Aqui é a mãozinha dele? - Jimin perguntou começando a entender os riscos na tela.

- Na verdade esse é o pé esquerdo. Cinco dedinhos completos já.

Jimin olhou para o que parecia ser um rabo e desistiu de tentar entender. Aquilo era pior do que quando alguém tentava forçá-lo a enxergar coisas nas nuvens.

Victor largou o transdutor de sua mão e começou a limpar o gel da barriga do ômega.

- Quantos anos você tem, querido?

- 18. - Jimin mentiu, estava próximo e já tinha virado ano, então de acordo com as leis ele já era maior de idade de qualquer forma.

- Jimin essa decisão é complicada e vai te assombrar pelo resta da sua vida, talvez você devesse procurar seus pais e…

- Terminou? - Jungkook perguntou entrando com tudo na sala.

Jimin secou o restante de suas lágrimas e concordou com a cabeça, o que não deixou o médico muito feliz, mas não havia mais nada que ele pudesse fazer.

- Eu vou rodar mais uns exames e…

- Meu pai já assinou a liberação dele, vamos sair assim que o médico responsável vir liberá-lo. - Jungkook disse sem olhar para Victor que não gostou nada daquilo também.

- Jimin, eu acho…

- Jimin por que não vai até o banheiro se trocar? Suas roupas estão lá dentro, Taehyung trouxe quando você ainda estava desacordado. - Jungkook disse apontando uma porta no quarto que Jimin ainda não tinha notado.

Jimin levantou obediente da cama e assim que fechou a porta do banheiro uma discussão baixa, porém acalorada, começou dentro do quarto.

Jimin suspirou irritado, vendo algumas peças de roupa que ele reconhecia pendurada ao lado da pia.

A jaqueta era de Taehyung no entanto, o que o deixou curioso. Não entendia porque seu amigo não foi visitá-lo ainda.

Jimin vestiu toda sua roupa e colocou a mão no bolso numa espécie de movimento involuntário.

Havia um papel dobrado ali e Jimin o tirou para ler.

" Jungkook não deixa ninguém falar com você, ele tem medo que alguém o faça mudar de ideia, mas saiba que você tem todo direito de não fazer o que eles querem. De qualquer forma, estou aqui por você".- V

Jimin enrugou a testa com o bilhete, o amassando e jogando no lixo.

Por que Kookie não deixava seus amigos o visitarem?

Jimin não queria tomar nenhuma atitude precipitada, porque ele não sabia o que queria ainda, a única coisa que ele tinha certeza era que precisava sair dali.

Ele olhou para o banheiro de maneira desesperada, quase pulando ao encontrar uma janela de vidro na qual era possível passar.

Jimin odiava se sentir o imaturo, mas não podia deixar Jungkook simplesmente decidir as coisas por ele.

 Ele queria o filhote.

Jimin parou de arrastar a lata de lixo e sorriu.

Sim! Ele queria aquele filhote.

Suas conclusões foram o suficiente para que ele subisse na lata de metal e se impulsionasse para fora do vitrô aberto.

Jimin caiu numas caixas de papelão jogadas e olhou ao redor.

Ele não fazia ideia de onde estava, mas tinha um ponto de ônibus bem na frente e ele nem pensou muito ao correr para o ônibus parado.

Ele não tinha dinheiro. Certo?!

Jimin colocou mais uma vez as mãos nos bolsos da jaqueta e nada, depois na calça e achou um bolo de dinheiro. Taehyung provavelmente colocou ali pensando já em tudo?!

Jimin sentou no ônibus e puxou a jaqueta ao redor do corpo, sentindo um frio que não tinha nada haver com a temperatura do ambiente.

Ele queria muito saber o que fazer e acabou descobrindo, assim que colocou os pés no internato e se viu indo para um caminho completamente diferente do que havia planejado inicialmente.

A porta do dormitório foi aberta e Yoongi levantou uma sobrancelha, assistindo Jimin assustado olhando para os corredores como se estivesse sendo perseguido.

- Jimin?

- Me ajuda a fugir.

Yoongi abriu a porta indicando que Jimin deveria entrar, o que foi exatamente o que o pequeno fez.

- Fugir?

- Jungkook não quer o filhote. Ele vai me obrigar a tirá-lo e se a escola descobrir minha mãe vai ser chamada e tenho medo de voltar pra lá também.

Yoongi fechou a porta sem conseguir se virar para o ômega. Ele não sabia o que fazer.

- Talvez seja o melhor a se fazer. Você é tão novo, seria uma criança cuidando de outra - Yoongi disse num tom baixo, fechando os olhos num quase arrependimento.

Jimin negou veementemente com a cabeça, mesmo que seus olhos parecessem vidrados e opacos.

- Ele tem pezinhos, com cinco dedos. - Jimin disse, como se aquilo explicasse tudo.

Yoongi contou sua respiração algumas vezes antes de se virar para o menor.

- Vou fazer uma mala.

Jimin concordou em silêncio.

- Taehyung e Hoseok estão na porta do hospital esperando você. Posso avisá-los onde vamos?

Jimin mordeu os lábios encarando Yoongi com indecisão.

- Se contar a eles, eles vão querer ir conosco e se ficarem do meu lado vão perder a amizade do Kookie. - Jimin disse com dor no peito. Ele perderia Kookie pra sempre por ter escolhido o filhote e isso já doía o suficiente.

- Eu vou pedir para eles não irem conosco então, mas você vai precisar de mais do que só eu.

- Você pode me deixar em qualquer lugar e voltar. - Jimin deu de ombros. Ele foi atrás de Yoongi porque seu instinto lhe disse para correr para um alfa, mas não se importava em ficar sozinho, desde que ninguém se prejudicasse por sua causa.

- Vamos sair daqui e resolvemos o resto. - Yoongi disse estendendo a mão para o ômega segurá-la.

A verdade é que nenhum dos dois sabiam muito bem o que fazer, mas Yoongi sabia que Taehyung nunca o perdoaria se não ajudasse Jimin e ele não era capaz de viver com essa decisão, sabendo que podia fazer algo para ajudar e escolheu não fazer.

Yoongi falou com Hoseok assim que pegou a estrada. Ele sabia exatamente para onde ir, Hoseok tinha um chalé no meio da floresta ao norte de onde estavam, lá era um lugar para manter Jimin protegido por alguns dias e depois eles seguiriam viagem para Oeste onde ficava a sede responsável por proteger ômegas lúpus. Era onde Hoseok trabalhava antes de voltar para o internato.

Quando ele e Yoongi terminaram, Hoseok não sabia muito bem o que fazer, então se uniu à ONG que protegia ômegas que sofreram abusos domésticos e lúpus. Ômegas lúpus eram uma espécie em extinção e os poucos que existiam eram constantemente abusados pela sua personalidade submissa e altruísta demais. Hoseok era um lúpus, um ômega puro, mas teve a sorte de ser resignado e resiliente o suficiente para não deixar ninguém passar por cima dele, mas ele era uma exceção e isso não o fazia se sentir sortudo e sim privilegiado. Era por isso que ele ajudava e exatamente por isso que resolveu voltar para ajudar Jimin quando Yoongi ligou. Só não esperava que encontraria aquela bagunça toda lhe esperando, apesar de não se arrepender nenhum pouco.

...

- Promete que ele tá bem? - Taehyung perguntou choroso para Hoseok, que foi quem falou com Yoongi pelo telefone.

- Ele está, eu juro. Vamos nos encontrar com ele em poucas horas, só precisamos ter certeza que Jungkook não vai atrás de nós.

- Ok. - Taehyung suspirou em desistência, vendo Hoseok parar com a correria das malas para tocar em suas mãos.

- Vai dar tudo certo TaeTae, prometo. - Hoseok roubou um beijo do mais novo, deixando o ômega um pouco mais tranquilo.

Não fazia muito tempo que eles se conheciam, mas Taehyung não conseguia se imaginar sem o ruivo mais.

- As férias de inverno estão próximas, podemos entregar os trabalhos por e-mail, não acho que vamos perder muita coisa, já Jimin, acho que ele vai perder o ano todo.

- Jimin sabia das consequências. Essa é a sua escolha. - Taehyung respondeu firme, o que fez Hoseok o encarar um pouco surpreso.

- Vamos precisar do Jin e do Namjoon. - Hoseok disse mudando de assunto.

- Por que?

- Porque Jin entende de filhotes, ele ajuda no orfanato da igreja nos fins de semanas.

- Como você sabe disso?

- Eu o conheci lá quando me juntei a ONG.

Taehyung enrugou a testa, não entendia porque não sabia de nada disso.

- Namjoon e Yoongi serão capazes de impedir Jungkook de fazer merda, caso ele tente.

- Acha que Yoongi faria algo contra Jungkook?

- Para proteger o filhote com certeza. Ele é alfa, proteger um filhote está no DNA deles.

- Queria saber o que aconteceu com o DNA de Jungkook, para querer tirar o filhote de Jimin assim. - Taehyung falou revoltado.

- Jungkook se responsabiliza pela morte da mãe, faz sentido não querer o filhote se o preço é a vida de Jimin.

- Ele não é marcado, tem boas chances de não morrer por se afastar de Jungkook, pelo menos temos isso a nosso favor.

- Estou contando com isso. - Hoseok resmungou preocupado.

- Hobi, eu tenho algo pra te pedir.

Hoseok encarou Taehyung com o corpo rígido e os lábios pressionados um contra o outro a espera do que o mais novo diria, mas já tinha o bastante em seus olhos para ele adivinhar, ele podia não saber o que era, mas sabia à quem seu pedido estava endereçado.

- Yoongi. - Hoseok falou em voz alta sem nem perceber.

- Ele precisa de você. - Taehyung disse se sentindo estranho, mas confiante.

- Tae, eu…

- Você o ama, sempre o amou. Você disse que deixou de amá-lo, mas eu sei que é mentira, eu sei que fugiu porque era doloroso demais ficar. Quando estávamos naquele quarto convencendo Yoongi de que seríamos bons juntos, eu vi. Eu vi nos seus olhos.

- Taehyung, isso é…

- Você o ama. - Taehyung disse, o interrompendo mais uma vez. - É por isso que eu me atraí por você. Eu sempre vou querer o melhor para o Yoongi, talvez você seja o melhor pra ele, não eu. De qualquer forma sempre vou amar qualquer extensão do Yoongi.

- Eu o amo. - Hoseok disse sem nem piscar. - Eu sempre vou amá-lo não importa o que aconteça, mas ele ama você e é exatamente por isso que eu o quis, porque um pedaço de você é dele.

Taehyung arregalou os olhos em completo choque.

Ninguém nunca foi tão sincero com ele como Hoseok estava sendo agora.

- Acho que acabamos dizendo a mesma coisa de formas diferentes. - Taehyung tossiu sem graça, tentando focar no porque começou aquele assunto.

- Precisamos dele Hoseok. Sem ele, nós dois... isso tudo não faz sentido.

- O que quer que eu faça?  - Hoseok perguntou ligeiramente atormentado.

Ele não podia perder o Yoongi, não de novo. O único problema é que agora, Yoongi não funcionava mais sem Taehyung e isso era confuso, porque Hoseok não queria que fosse nem mesmo um pouco diferente do que era agora, no entanto, não entendia como solucionar aquela situação complexa.

- Precisamos dele. Ele precisa entender que não é só pelo sexo, ele precisa… Hobi, quando eu tô com você falta algo, não porque você não é o suficiente, mas porque nós nos completamos de um jeito ímpar, Yoongi é o que nos completa, sem ele...

- Já entendi. - Hoseok já sabia onde aquilo ia dar, mas ouvir era outra coisa.

- Então me prometa. - Taehyung sentia sua insegurança, ele percebia que Hoseok não sabia o que fazer com aquelas informações e isso o amedrontava.

- Tae, eu não posso…

- Hoseok, me prometa.

Existia tanta aflição naquele olhar. Tudo que Hoseok queria fazer, era aliviar a angústia de Taehyung, estava em sua natureza, era como foi moldada sua essência e naquele momento, ele quis, quis mais que tudo fazer aquele ômega feliz, independente do preço pra isso.

- Eu prometo.

- Hobi, eu sei que é pedir muito, mas…

- Ele vai ficar Tae.  - Havia tanto o que traduzir no olhar atormentado de Hoseok que de repente não existiam palavras para aqueles sentimentos. O que não significava que Taehyung não entendia.

- Obrigado. - Foi o que Tae foi capaz de dizer, mesmo com tantas outras palavras na ponta da língua implorando para serem ditas no lugar dessa.


Yoongi terminou de acender a lareira e cobriu os pés de Jimin que estavam pra fora da manta no sofá da sala. O lugar era confortável e aconchegante, apesar da poeira por falta de uso.

Ele sentou no sofá de vime do lado de fora do chalé, sentindo um vazio estranho no peito.

Nos últimos dias Yoongi descobriu algo muito estranho. Ele chegou a conclusão que nunca amou alguém da forma que amava Taehyung e aquilo o assustou demais, porque Taehyung não sentia o mesmo, não depois de apresentar um lado diferente de Hoseok.  Era estranho, porque Yoongi se sentia confuso com o que pensar sobre isso, era diferente de ciúmes, era algo mais.

Era como se passasse a olhar com outros olhos para o ruivo. Taehyung parecia encantado com ele e isso o encantava de certa forma.

Talvez fosse normal adorar tudo que Taehyung adorava, porque aquele ômega o conhecia melhor do que ninguém.

Tudo que Yoongi queria, era fazer Taehyung feliz. Ele sempre foi uma pessoa simples de poucos desejos e muito fácil de agradar. Ele só precisava de um tempo pra si uma vez ou outra. Já Taehyung, aquele ômega era complexo e obstinado, isso o encantava tanto quanto o deixava assustado.

Yoongi se levantou do sofá e tensionou os ombros ao ouvir o barulho de motor de carro há poucos quilômetros dali.

Era Hoseok, uma mensagem no celular em  suas mãos confirmou antes mesmo que ele pudesse começar a se preparar para uma possível ameaça.

- Taehyung? - Foi a primeira coisa que ele perguntou quando avistou Hoseok saindo do carro.

- Ele vem com Namjoon e Jin. As coisas não estão boas por lá. - Hoseok resmungou se aproximando dos degraus que os separavam.

Os dois se encararam preocupados. Taehyung era a única preocupação daqueles dois, isso era bem claro agora.

- Jungkook está furioso e acionou a polícia. Disse que Jimin foi sequestrado, seu pai está organizando buscas, não sei quanto tempo vamos ficar seguros.

Yoongi juntou as sobrancelhas pensativo.

- Ele vai ficar bem Yoon. - Hoseok tocou no ombro tenso do alfa. - Eu não o teria deixado pra trás se não tivesse certeza disso.

Yoongi concordou com mais certeza dessa vez.

Eles entraram na casa aquecida com a lareira, Hoseok foi direto para a cozinha, preparando café para eles, já que dormir não seria uma opção até terem certeza da segurança de Jimin.

- Você realmente gosta dele, não é? - Yoongi não sabia porque começou o assunto, mas não foi capaz de frear os próprios pensamentos.

Hoseok suspirou, olhando para o mais velho pensativo.

- Eu realmente gosto, mas é você quem ele ama.

- E isso não é estranho? Como pode achar isso normal?

- Não sei o que quer dizer com normal Yoongi, mas tudo que eu gosto em Taehyung só estão lá por causa do que ele sente por você e eu sei que isso é maluco e até mesmo talvez um pouco errado, mas eu não posso evitar, simplesmente não posso evitar.

- Você tá dizendo que tem sentimentos por ele por minha causa? - Yoongi está fazendo o melhor para não gritar, mas estava ficando mais difícil a cada segundo. - Você está dizendo…

- Eu estou dizendo… - Hoseok começou, interrompendo Yoongi com uma espécie de grito sussurrado. - que tudo que eu sempre quis foi ver você feliz e agora estou vendo e isso é...

- Isso é confuso e errado... - Yoongi parou de rosnar ao perceber que começou com o barulho quando Hoseok disse que gostava do seu ômega

- Você não o ama, não pode amar o que não conhece e pelo amor de Deus Hoseok, vocês acabaram de se conhecer. Por que seria tão difícil assim simplesmente se afastar ?

- Eu sei e acredite, meus sentimentos por Taehyung não são novos só porque nossa relação é.

- O que quer dizer?

Hoseok entregou a xícara para Yoongi e se aproximou do seu ouvido, deixando o alfa tenso.

- Toma seu café e terminamos a conversa no quarto. Não quero acordar o Jimin.

Yoongi entrou receoso no quarto, seus olhos demoraram se acostumar com a pouca claridade do lugar, seus dedos estavam gelados no bolso da calça e seu coração acelerava a cada passo que dava pra dentro do cômodo.

- Você acha que não merece. - Hoseok disse sentado na cama encarando o chão com o olhar vazio. - Você ama Taehyung e já me amou, então acha que ter nós dois não passa de uma espécie de piada de mal gosto do destino.

- Eu não acho que…

- Sabe como eu sei? - Hoseok levantou a cabeça na direção de Yoongi, só pra vê-lo negar com a cabeça. - Eu te conheço Yoon, te conheço mais do que conheço a mim mesmo.

Yoongi suspirou pesado, caminhando até sentar ao lado de Hoseok para encarar um mesmo ponto no chão.

- Eu queria Tae aqui e isso é estranho.

Hoseok sentiu o coração pesar.

- Queria ele ao invés de mim. - Hoseok disse compreensivo.

- Queria ele aqui com a gente. - Yoongi disse num fio de voz, sem nem acreditar no que estava dizendo.

Mesmo assim, era a mais pura verdade. Ele queria Tae ali, mas se Hoseok não estivesse iria querê-lo também. Ele queria os dois.

- Dois ômega, passei uma vida toda com a certeza do quão errado isso era. Não é errado? - Yoongi olhou aflito para Hoseok que engoliu em seco pelo olhar desesperado do alfa.

Ele se aproximou um pouco mais e selou os lábios no do maior, prolongando o momento com um suspiro de alívio tanto quanto de aflição.

- Só se você quiser que seja. - Hoseok sussurrou, descendo a boca pela mandíbula travada do menor e chupando seu pescoço de um jeito que o fez gemer baixo, fazendo o pequeno espaço entre eles praticamente desaparecer.

- Hobi.

- Shhh… Só sinta. - Hoseok sussurrou voltando a chupar o pescoço do alfa.



Passaram-se dias e Jimin ainda acordava da mesma forma, enjoado. Tinha gosto de ferro na sua boca e não demorou muito para que ele corresse até o banheiro para vomitar água e um líquido verde estranho. Ele estava com fome, muita fome, mas toda vez que pensava em comer algo em seu estômago revirava e ele voltava a vomitar água tudo de novo.

Era cedo e pela primeira vez, Jimin desejou ter uma casa para voltar, um lugar para se sentir seguro.

Ele estava no meio do mato, num chalé que o fazia espirrar o tempo todo e não tinha para onde ir.

Jungkook ligou várias vezes para Yoongi durante a semana e a amizade deles foi acabando ao longo das conversas extensas ao telefone.

Jimin pegou muito pouco do que acontecia alí. Ele sabia que o Sr. Jeon, pai de Jungkook, cancelou as buscas de seu paradeiro, pois agora todos sabiam onde Jimin estava e aparentemente Jungkook estava tentando convencer a todos que eles tivessem uma conversa ao telefone, na qual Yoongi negou veementemente vezes seguidas.

Jimin só queria que aquele inferno acabasse, então depois de escovar os dentes e tomar um pouco de água gelada. Ele pegou o celular na cabeceira do quarto de Yoongi e ligou para Jungkook.

" Sabe que horas são? O que foi agora?"  

- Jungkook. - Jimin o chamou quase num sussurro de voz, sentindo seu peito queimar ao ouvir o nome do alfa saindo da sua própria boca.

A linha ficou muda por tanto tempo, que Jimin até afastou o aparelho do ouvido para ver se o maior tinha desligado.

" Volta pra mim anjo"

Jimin ouviu com dificuldade, pois o celular ainda estava um pouco distante do seu ouvido.

Ele andou pelo corredor com uma lentidão exagerada enquanto lágrimas jorravam dos olhos cansados.

Ele queria tanto voltar para os braços do seu alfa. Só assim se sentiria em casa de novo.

Seus pés acabaram o levando até a varanda e o frio do lado de fora era tão grande que dava para sentir nos ossos.

- Não posso voltar para você Jungkook. Você quer fazer mal ao nosso filhote. - Jimin tocou na sua barriga já aumentada.

Segundo Hoseok, um filhote puro nascia em apenas 5 meses, era diferente de um filhote de um beta ou um omega comum.

" Jimin, por favor. Isso é loucura".

Jimin chorou um pouco mais. Ele não conseguia entender porque Jungkook tinha a voz aflita, sendo que era ele quem queria acabar com uma vida inocente.

- Por que não quer nosso filhote Jungkook? - Sua voz saiu tão rasgada que até mesmo Jungkook suspirou em choque.

" Não quero que morra, pequeno. Meu pai pela primeira vez está do meu lado, ele quer te conhecer, mas primeiro quer que você fique bem".

Jimin alisou a barriga, pensativo.  

- Você não pode exigir isso Kookie, eu pesquisei. Eu faço 18 esse ano, então tecnicamente já sou maior de idade e você não pode tirar o filhote de mim a força.

Jungkook rosnou do outro lado da linha fazendo Jimin tremer de medo.

Jimin era um ômega puro, se Jungkook usasse sua voz de alfa, o ômega faria o que ele mandasse. Não havia dúvidas nisso, mas Jimin queria acreditar que tinha uma escolha, que sua vida não seria como a de sua mãe, que fazia tudo que seu alfa lhe ordenava e pronto.

" Por que não conversamos? Só você e eu. Vamos nos encontrar e eu falo tudo o que penso sobre isso e você fala tudo e então podemos dar um jeito. Jimin, por favor".

Jimin fechou os olhos, lembrando do seu lobo enorme e assustador lhe protegendo do frio quando ele foi sequestrado.

Talvez seu alfa não fosse tão ruim assim, talvez ainda houvesse esperança.

- Uma reunião? - Jimin perguntou incerto.

Jungkook falou com alguém do outro lado da linha, depois voltou a falar no telefone.

" Jimin, minha prima veio com meu pai para nos ajudar, ela é uma ômega e entende pelo que está passando. Ela está me perguntando o que você acha de conversarem antes e então se ainda quiser podemos nos encontrar. Talvez conversando com uma ômega que me conhece desde que eu nasci, fique mais fácil de você entender meus receios e eu prometo que vou respeitar seus desejos se, depois de nos ouvir, ainda for o que quer. Sem voz de alfa, sem força.

Jimin sentiu o sangue ferver e não pôde evitar um rosnado baixinho ao ouvir sobre a tal prima que conhecia Jungkook desde sua infância, mesmo sem entender o porquê do ciúmes agora. Talvez fossem os hormônios, que estavam lhe deixando louco.

Quem era ela?

Por que nunca ouviu falar da tal ômega antes?

Jungkook riu grave, fazendo os pêlos da nuca de Jimin se arrepiarem.

Ele sentia tanta falta do seu alfa.

"Calma gatinho. Ela é só minha prima e o mais importante, quer nos ajudar. IU também achou uma boa ideia, vamos lá Jimin, diz que sim".

Jimin gemeu um, OK sem muito ânimo e concordou. A tal ômega se encontraria com ele na frente do chalé e então Jungkook viria em seguida. Se era isso que precisaria fazer para ter o alfa ao seu lado, parecia até um preço pequeno a pagar. Ele faria tudo para ter Jungkook o apoiando e tinha certeza que poderia convencê-lo a amar o pequeno filhote que crescia dentro dele.

Pela primeira vez, Jimin se sentiu melhor, não melhor dos enjoos, mas pelo menos mais animado. Afinal, se tudo desse certo, até o fim da semana Jungkook estaria ao seu lado, sorrindo com seus dentinhos de coelho enquanto tocava na sua barriga e sentia os chutes agressivos do seu filhote impaciente.


Poucas horas antes

- Jungkook já mandei se acalmar. O ômega está seguro, já cancelei as buscas, agora é só ir até a merda daquele chalé e convencê-lo a tirar esse filhote antes que seja tarde. - O Sr. Jeon berrou fazendo Jungkook enrijecer o corpo e encarar o pai em sinal de alerta.

- Ele não quer me ver, já praticamente implorei para Yoongi convencê-lo, mas Jimin é genioso.

- Isso já foi longe demais. Em breve não vai dar pra tirar a criança. Um Jeon não precisa implorar, já te dei o endereço do lugar onde o ômega achou que podia  se esconder. Só vai lá e o obrigue a te ouvir. Você é um alfa pelo amor de Deus.

- Pai, eu…

- Eu fui a porra de um covarde antes. - Sr. Jeon gritou, pegando um copo de whisky do bar. - Se eu tivesse sido mais firme com sua mãe, seria ela ao meu lado agora, não você. Outro alfa inútil prestes a matar um omega por causa dos seus erros. Pelo visto somos feitos do mesmo material mesmo.

Eles estavam na casa de inverno da família, perto do internato e Jungkook não conseguia deixar de sentir um aperto no peito. Foi ali que Jimin passou seu primeiro cio com ele, foi ali que tiveram a primeira conexão de verdade. Se bem, que de acordo com o ultrassom que fizeram no hospital, foi ali que toda essa história de filhote aconteceu. Aquele lugar trazia um sentimento agridoce para o alfa.

- Já tem notícias  de Taemim? - Jungkook perguntou tentando mudar de assunto.

Falar de sua mãe sempre trazia o pior do seu pai.

- Preso. Um dos idiotas que te prenderam naquela jaula resolveu confessar, parece que o idiota ficou preocupado depois de descobrir que o ômega estava esperando um filhote e resolveu confessar tudo. Foi fácil conseguir uma condenação para todos eles.

Jungkook concordou distraído. Ele não conseguia pensar por muito tempo em nada além de Jimin.

- IU está vindo pra cá com Chay. Talvez as duas conversam esse ômega a fazer o certo. Ômegas sempre se unem nesses casos, talvez seja mais fácil, já que você provou  ser um inútil até agora.

- Prima Chay? - Jungkook perguntou confuso.

O que Chay tinha com isso?

- Esse ômega tem dinheiro? Talvez seja isso que ele quer com esse filhote. Fala com a família dele, vê se pode oferecer uma grana em troca de tirar o filhote.

- Que? - Jungkook olhou confuso para o pai, que lhe encarava em desafio.

Jungkook abaixou o olhar. Ele nunca conseguiu desafiá-lo, talvez por saber que seu pai não o achava merecedor de estar vivo.

A esse ponto, até ele achava que teria sido bem melhor se sua mãe tivesse sobrevivido no seu lugar.

- Você foi burro o suficiente para engravidar um omega, mas não significa que o omega em questão seja um burro também. Ele sabia que você tinha dinheiro?

Jungkook revirou os olhos.

- Jimin é diferente pai.

- Talvez você seja realmente o burro da história toda. E se oferecer um dinheiro a ele em troca de não te responsabilizar pela criança? Se ele morrer durante o parto você não paga nada, se ele sobreviver você o mantém longe, faça sua faculdade, assuma a empresa. Ninguém nunca vai ficar sabendo e em troca, ele assina um contrato te tirando a responsabilidade sobre a criança.

- Pai, isso é vergonhoso, eu nunca…

- Vou redigir o contrato. - Sr. Jeon saiu da sala, antes que Jungkook pudesse dizer algo, mas também não teria oportunidade, já que IU chegava acompanhada de Chay.

- Maninho, você tá bem? Fiquei sabendo do que aconteceu no seu Hut e acho que a culpa é minha. Se eu soubesse que Taemin…

- Não se preocupe com isso agora meu amor. - Jungkook disse beijando IU na testa. - Obrigado por ter vindo. - ele sussurrou no ouvido da irmã que sorriu pequeno em resposta.

- Chay, você cresceu. - Jungkook beijou o rosto da prima que ficou com uma coloração adorável nas bochechas pela timidez.

- Você também. Olha só pra você, já é um alfa e tanto. - ela disse sorridente.

IU saiu da sala, deixando Chay e Jungkook conversando sobre o passado e um pouco sobre o presente também.

Chay sempre teve uma queda por Jungkook e IU contava com isso quando a trouxe com ela. Jimin não merecia Jungkook, não depois de ser o motivo de Taemin usá-la. Se Jimin não tivesse aparecido, Taemin nunca teria visto uma brecha para se vingar de Jungkook e consequentemente não teria feito ela sofrer no meio daquele plano ridículo.

- Posso entrar pai?  - IU perguntou já entrando no escritório do pai.

- O que você quer querida? - O Sr. Jeon perguntou, parando de digitar algo no computador para dar atenção a filha.

- Chay me garantiu que consegue afastar Jimin de Jungkook, agora é só esperar a garota fazer sua mágica. - IU disse orgulhosa com seu pequeno plano imbatível.

- Tem certeza? Você sabe que esse seu relacionamento com o tal do Taemin foi o que causou aquele sequestro inútil e aproximou mais ainda ao ômega de Jungkook. Se nada daquela merda tivesse acontecido Jungkook com certeza me ouviria, mas agora com todo esse sentimento de culpa o deixando surdo para a razão, ficou mil vezes mais difícil.

IU abaixou a cabeça envergonhada.

- Sinto muito Appa.

O Sr. Jeon fez um gesto indiferente com as mãos.

- Jungkook teve o primeiro cio com Chay, eles tem uma amizade muito longa. Se tem alguém que ele vai escutar é ela. Pode confiar em mim. - IU insistiu.

- Ele a chama de prima, isso não é muito promissor.

- Acredite, ela consegue.

- Melhor que isso seja verdade ou Jungkook vai ter que criar um filhote inútil sozinho, já que o ômega com certeza vai morrer nesse parto.

- Posso ajudar a cuidar dele. - IU disse tentando ser de alguma ajuda, já que para seu pai, um ômega não servia pra muita coisa e já que ela era uma ômega…

- Se essa criança sobreviver, vai para uma casa de adoção no outro dia. Não é nisso que estou preocupado. Jungkook não pode ficar contra a família, o futuro da empresa depende disso. Ele não pode ser pai agora, se ele se afastar do seu propósito será tudo em vão. Tudo pelo que eu trabalhei. Entende isso?

IU queria dizer que ela também poderia assumir a empresa, afinal queria fazer faculdade de contabilidade e estagiar na empresa, mas seu pai nunca a consideraria. Um ômega fica em casa cuidado do seu alfa.

- Entendo Appa. - Foi a resposta de IU para o pai.

Chay estava tendo uma conversa incrível com Jungkook quando seu celular tocou e ela fez uma careta ao perceber a mudança de humor de Jungkook ao falar o nome do tal " Jimin" ao telefone.

O sonho de Chay sempre foi se tornar uma Jeon, e ter Jungkook todo choroso e carente era a oportunidade perfeita. Aquela família rica e poderosa era seu passe para sair de sua casa simples de interior e viver uma vida de verdade ao lado do homem mais lindo, e em breve o mais poderoso, de toda Seul.

Ela parou para prestar atenção na conversa, resolvendo se intrometer no assunto.

- Ele deve estar inseguro Jungkook. Ômegas esperando filhotes ficam ariscos e amedrontados, boa parte por causa dos hormônios. Por que não deixa eu conversar com ele antes, preparar o terreno? - Ela sussurrou animada.

Jungkook sorriu largo concordando, ele faria de tudo para ter seu Jimin de volta.

Não demorou muito para ele desligar o telefone, seu semblante mudou e o sorriso no rosto era enorme.

- Ele finalmente concordou com um encontro. Podemos ir agora mesmo, você vai até ele, conversam e eu fico esperando no carro. Por favor, o convença a falar comigo Chay. Eu te imploro. Jimin é muito importante pra mim.

Chay sorriu pequeno, concordando com a cabeça.

- Vou dar meu melhor Oppa.


- Jimin querido. Você tem certeza? - Taehyung perguntou assim que chegou no chalé acompanhado de Jin e Namjoon. Eles estavam fazendo preparativos caso o filhote resolvesse nascer antes do previsto, ser precavido não fazia mal.

Jimin deu de ombros.

- Ele disse que uma ômega amiga da família vai conversar comigo, se eu me sentir confortável o suficiente ele virá em seguida. Pelo menos ele tá tentando não me assustar. - Jimin disse um pouco esperançoso.

Se o alfa estava tendo todo esse cuidado com ele, é porque queria seu bem.

Certo?!

- Por que ele não simplesmente vem e conversa com você? - Jin perguntou achando tudo confuso demais.

- Talvez seja em partes minha culpa. - Yoongi assumiu. - Eu falei mil vezes que Jimin estava assustado, com medo dele usar a voz de alfa e obrigá-lo a fazer algo, com medo do poder da família Jeon. Enfim, falei um monte de merda para mantê-lo longe, ele deve ter ficado naturalmente inseguro de ser rejeitado.

- Yoongi. - Taehyung olhou feio para o alfa fazendo Jimin temer que alguém brigasse com o mais velho por sua causa.

Yoongi foi muito protetor até agora e o ajudou tanto, Jimin não queria que ele se prejudicasse.

- Yoongi não mentiu, meus medos são reais. Apesar de não gostar nada da ideia, uma ômega não pode me obrigar a fazer nada que eu não queira.

Jin enrugou a testa confuso.

- Jimin. Jungkook sempre foi muito amoroso e paciente com você, não consigo imaginá-lo o forçando a fazer algo que não queira.

Jimin fez um beicinho tristonho, voltando a chorar.

- Você não o viu no hospital Hyung, ele parecia outra pessoa, olhando com horror para a minha barriga. Ele nem fez questão de ficar pra ver o filhote no ultrassom. Ele é um alfa, não precisaria de muito para convencer o médico que ele ficaria comigo na sala durante o exame, mas ao contrário disso, ele saiu correndo da sala, ignorando meu medo que devia dar pra sentir no meu cheiro há quilômetros de distância.

Jin olhou para Namjoon com preocupação, mas não disseram mais nada.


A noite estava fria e Jimin balançava de um lado para o outro na frente do chalé.

Depois de muito sacrifício, ele convenceu a todos que devia fazer isso sozinho, afinal, Jimin se sentia um ladrão de amigos, já que todos vieram para o seu lado e ninguém ficou para conversar com Jungkook.

Ele queria provar que estava amadurecendo, disposto a ouvir o alfa e juntos, decidirem o que era melhor para eles e para o bebê.

Ele já nem sentia os dedos dos pés por causa do frio. Jungkook estava há uma hora atrasado, mas ele estava disposto a esperar o tempo que fosse necessário.

Só de Jungkook querer conversar ao invés de impor as coisas, já era um grande avanço.

O que Jimin não sabia, era que Chay havia deixado Jungkook na entrada da estrada de terra que dava para o chalé e se escondia na vegetação lateral da casa, vendo Jimin com lágrimas nos olhos e uma mão protetora na barriga, enquanto encarava esperançoso o portão que dívida a entrada da casa.

Chay ficou meia hora lá, olhando o ômega com desdém e então voltou para estrada, agradecendo a Deus pelo aquecedor no carro que Jungkook dirigia.

- E então? - Jungkook perguntou ansioso enquanto batucava os dedos no volante do carro por pura ansiedade.

Chay fez sua melhor cara de tristeza e o alfa se empertigou, já notando que não sairia boa notícia dalí.

- Ele mudou de ideia Jungkook, eu sinto muito. Eu tentei de tudo, mas ele te odeia muito.

Jungkook enrugou a testa confuso.  

- No entanto, eu conversei com ele sobre sua mãe, sobre a fisiologia de um alfa lúpus e em como é certeza que ele vai morrer se tiver o bebê e Jimin entendeu.

- O que? - Jungkook perguntou chocado.

- Ele disse que você fez isso com ele e é por isso que ele te odeia. Ele não sabia que podia ter filhotes e você abusou da sua ignorância só pra ter prazer. - Chay disse torcendo para que a informação que IU lhe dera fosse verdade.

Era de conhecimento público a inocência quase infantil de Jimin no internato e pela cara de Jungkook a informação estava correta.

- Eu não…

- Ele entende que não pode ter essa criança, mas não pode te perdoar por isso ter acontecido com ele. Disse que se você tiver um pouco de decência, vai respeitar seu espaço. Ele não quer te ver nunca mais e implorou para que você não o procure ou sequer pergunte sobre ele para seus amigos.

O mundo de Jungkook pareceu parar por um instante. Ele queria sair daquele carro e ir até Jimin, forçá-lo escutar o que ele tinha a dizer.

Mas, o que ele tinha a dizer?

Jimin era realmente inocente e confiou nele. A culpa dele ter engravidado, foi justamente falta de informação, que Jungkook não forneceu porque não queria assustar o ômega. Ele foi egoísta, porque queria Jimin e isso quase lhe custou a vida.

Confiar nele, quase custou a vida de Jimin.

- Então ele vai tirar o filhote?

Chay concordou limpando as lágrimas que caíam dos olhos do alfa sem ele nem perceber.  

- Ele disse que nunca vai te perdoar, mas se você se manter longe, ele não irá te denunciar.

- Denunciar?

- Não sei o que ele quis dizer com isso, mas Jungkook não tente conversar com ele agora. Esse é o meu conselho de amiga. Jimin está perturbado, ele não vai te ouvir e a sua aproximação pode causar mais danos. Ele disse que você é um monstro pelo que fez a ele. Ele só te chamou até aqui para dizer tudo isso na sua cara, mas acabou confessando isso à mim. Sua intenção nunca foi de reconciliação Jeon.

Jungkook ficou em silêncio, tentando parar de chorar inutilmente e tentar fazer alguma coisa com aquelas informações, mas seu pai tinha razão sobre uma coisa. Jungkook era um covarde, ele preferia manter distância e fazer tudo o que Jimin mandou, do que enfrentá-lo cara a cara e enxergar o ódio por ele estampado naquele rosto angelical que ele estava começando a desconfiar que amava.

Pelo jeito, descobrir que você ama seu ômega bem no dia em que descobriu  que ele desistiu de você era um preço justo a se pagar por quase matá-lo.

- Eu o feri. Quase o matei. - Jungkook sussurrou vendo Chay concordar com a cabeça pela sua visão periférica. - Eu sou um monstro.

- Você não tem culpa Oppa.

- Ele vai precisar de dinheiro.

- Ele não quer. - Chay disse irritada.

Por que Jungkook não desistia de uma vez. Ela passou meia hora olhando escondido para o ômega nanico, meio gordo e com as bochechas inchadas e grandes demais. O ômega nem era grande coisa

Jungkook merecia coisa muito melhor.

- Ele não quer?

Chay negou com a cabeça.

- Seus amigos já cuidaram disso pra você.

- Eu preciso falar com Yoongi e…

- Jungkook, não quero ser intrometida, mas seus amigos já escolheram um lado e eles vão cuidar do ômega. Por que você não volta para casa conosco? Você já se formou e Jimin sofreria desnecessariamente se te visse no internato. Volta para sua família e esquece que tudo isso aconteceu. Você traumatizou um ômega inocente, ninguém nunca vai te perdoar por isso, inclusive o ômega em questão. O melhor que você pode fazer é se afastar, deixar que o tempo cure as feridas que você provocou.

- Mas…

- Vamos voltar, conversamos melhor quando estivermos todos reunidos. Nós somos sua família Jungkook - Chay alisou o braço tenso do alfa. - Jungkook não há nada que possa fazer aqui. O que você acha que sua mãe diria numa situação dessas?

Jungkook suspirou desanimado.

Como ele poderia saber? Ele matou sua mãe e quase matou a primeira pessoa que ele amou. Fazia sentido o ômega rejeitá-lo.

Jimin tinha razão. Ele não merecia nem mesmo o direito a uma conversa e mesmo se merecesse. O que diria?

Ele foi um canalha.

Jungkook concordou com a cabeça, enterrando fundo seus sentimentos conturbados e com a mente em completa dormência, ele ligou o carro e foi embora sem olhar pra trás, afinal Chay tinha razão. Jimin merecia coisa melhor e tinha todo direito de odiá-lo por ter tirado sua inocência.


Jimin tremeu ligeiramente, sentindo o corpo vacilar com o próprio peso.

Ele sentiu uma manta ser colocada em seu ombro e uma caneca de café atraiu sua atenção.

- Vamos entrar, pequeno. Já faz três horas que você tá aqui no frio.

- Não me chama assim. -  Jimin pediu com o olhar triste fazendo Yoongi concordar imediatamente.

Ver um ômega triste ia contra sua natureza, era simplesmente impossível assistir aquilo por mais tempo.

- Você está tremendo. Vai ficar doente, vamos entrar?

Jimin não conseguia tirar os olhos do portão pequeno. Ele já tinha até memorizado as imperfeições na madeira pelo tempo que ficou olhando fixo para um mesmo lugar.

- Jimin, ele não vêm.

O ômega sentiu uma dor tão forte no peito ao ouvir aquelas palavras, que parecia que seu coração tinha literalmente se partido.

- Eu pensei que talvez, pudéssemos nos tornar uma família, sabe?! O Jungkook que eu achei que conhecia nunca abandonaria um ômega esperando um filhote dele. Sou muito ingênuo, não é mesmo?

Yoongi apertou os lábios numa linha fina, puxando Jimin para seus braços.

- Você precisa pensar no filhote agora Jimin. As ações do Jungkook não muda a situação atual e se ficar mais tempo aqui no frio, seu filhote vai ser prejudicado.

Jimin soluçou e agarrou Yoongi com força.

- Eu acho que o amo. Eu o amo, mas ele não me escolheu.

- Eu sei bebê, eu sei. - Yoongi não entendeu metade do que Jimin balbuciava sem parar, mas no final das contas, acabou pegando o ômega no colo e o levou de volta para o chalé.

Ninguém entendeu muito bem a atitude de Jungkook. Tudo o que o alfa passou a semana toda implorando pra ter, era uma conversa com Jimin e agora tinha simplesmente desistido?

De qualquer forma, Jimin não estava preparado para passar por todo aquele drama, então ninguém foi até Jungkook socar a cara dele em resposta.

No final da semana, Namjoon descobriu que Jungkook havia pedido transferência para a escola em Busan para ficar perto da família e Taehyung foi o escolhido para contar isso para Jimin que mal se mexeu em resposta.

Jimin ficou por dias em estado catatônico, até perceber que não é porque ele tinha desistido de lutar que a guerra Havia terminado. Tinha um filhote dependendo dele e isso fez com que ele guardasse todo seu rancor e tristeza fundo no peito e se concentrasse em não morrer enquanto tentavam pensar na melhor forma de tirar aquele bebê dele, porque no final, ele foi o único que sobrou para proteger e cuidar daquele ser, que nem nasceu ainda e já foi rejeitado e quase morto várias vezes.

Jimin não pôde voltar para o internato porque a escola não queria seu nome manchado com um ômega adolescente grávido, então entregaram o diploma de conclusão daquele ano letivo para ele e Hoseok preparou as papeladas para que Jimin ficasse na ONG.

Jimin passou os próximos quatro meses sozinho no lugar enquanto seus amigos voltaram a estudar.

Sua vida era ajudar as ômegas responsáveis pelo abrigo e sentar numa macieira para ler mangás e qualquer outra coisa que não envolvesse qualquer tipo de romance clichê que o livrasse do desastre que foi sua tentativa de uma vida amorosa.

O bebê parecia crescer na velocidade da luz e Jimin ganhou uma doula. Ela era uma ômega e cuidaria do parto de Jimin. Ele não tinha dinheiro nenhum, não tinha trabalho e estava tentando terminar seu ensino médio online, mas a OnG estava cuidando bem dele e Taehyung ia visitá-lo com bem mais frequência do que o resto dos meninos.

Ninguém falava de Jungkook, mas a verdade é que Jimin se lembrava dele toda vez que via um rosto conhecido daquela época, então pra ser sincero, ele até que gostava da distância, apesar de amar os amigos do fundo do coração.

Jimin parou de ler One Piece, olhando estranho para a barriga enquanto sentia uma pontada incomum na boca do estômago.

- OH merda!

Jimin berrou, andando parecendo um pinguim até a casa antiga que virou seu lar nos últimos meses.

- Chama a doula Ryu. - Jimin implorou quando encontrou uma das meninas novatas no abrigo.

Ele sabia que seria cortado, para que arrancassem o filhote da sua barriga e não estava nenhum pouco preparado para isso.

Ele ia morrer.

A próxima pontada de dor o acertou bem no umbigo. Jimin sentiu todo seu interior ser repuxado lhe garantindo uma morte certa nas próximas horas.

- Peguem as bolsas de sangue e plasma no freezer e o levem para a enfermaria. - a Doula disse para a enfermeira de plantão naquele dia.

Jimin gritou e caiu nos braços da mulher quase idosa na sua frente.

- Ryu eu vou morrer. Tira logo esse filhote mulher, ele quer sair. - Jimin berrou mais uma vez e desmaiou nos braços da ômega, que o segurou da melhor forma que pôde enquanto gritava por ajuda.

Mesmo na inconsciência, Jimin podia sentir a dor excruciante enquanto sentia ser rasgado por dentro.

Jimin só queria que aquilo acabasse logo.

A Sra. Ryu ouviu um barulho de uma costela quebrando, a dor fez Jimin acordar aos berros e agora ela não estava mais tão confiante de que aquele ômega sobreviveria.

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