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Os dias pareceram passar rápidos demais, Jane saía do quarto apenas para pegar livros novos na biblioteca buscando algum entretenimento. Ela tinha a impressão de que já havia lido todos os livros daquela biblioteca ao longo dos anos, mas como não havia coisa alguma para fazer além de reler os exemplares, ela o fazia.

No dia acordado para a chegada do futuro noivo de Jane, a jovem não conseguiu ficar presa ao quarto, aquele lugar a estava sufocando, seus receios a estavam enlouquecendo. Portanto, ela esgueirou-se para fora do quarto e desceu as escadas para sair da casa.

Jane caminhou pelos jardins, tomando cuidado para ficar fora das vistas dos irmãos e do pai. Mesmo que os empregados a vissem, ela não temia que lhe dissessem, certamente o pai estava ocupado demais com a ideia de receber o pretendente para ter tempo de repreendê-la, então estava segura até certo ponto.

Ela respirou fundo algumas vezes, contendo o medo que ameaçava lançá-la em outra crise. Para não deixar-se sucumbir, ela tentou se distrair com plantas do jardim.

Algum pássaro assoviou numa árvore chamando a atenção dela e Jane se viu retribuindo ao assovio tentando localizar o animal.

Ela caminhou pelo ambiente procurando na árvore conforme assobiava em resposta ao pássaro que continuava cantando. Jane não sabia há quanto tempo tinha produzido qualquer som, mas por alguma razão que desconhecia, o pássaro parecia chamá-la para cantar junto.

Longos minutos se passaram e a jovem perdeu a noção do que deveria estar fazendo, ela subiu em uma das raízes enormes da árvore agarrando-se ao tronco para não cair e voltou a assobiar para o pássaro que não mais lhe respondeu.

— A senhorita vai acabar caindo daí — avisou uma voz masculina desconhecida.

No susto que tomou, Jane soltou-se da árvore e perdeu o equilíbrio, antes que ela pudesse se segurar novamente ela sentiu um par de mãos lhe segurando a cintura antes que caísse de verdade. O homem a segurou até que ela desceu em segurança e a jovem se afastou das mãos dele. Ela evitou encarar o estranho e permaneceu com os olhos baixos, observando apenas o seu peito.

— Acredito que você seja a Srta. Jane Williams? — indagou, mesmo sem a resposta da jovem, ele prosseguiu: — Eu sou Archie Harris. Está um pouco frio para ficar aqui fora, vamos entrar. Creio que seu pai acharia inapropriado se nos visse juntos sozinhos.

Ela finalmente ergueu os olhos alarmada e encarou os olhos verdes do rapaz, ele sorriu, um sorriso diferente dos que seus irmãos usavam, mas o Sr. Harris era mais alto que Charles e Jane percebeu pela forma como os ombros eram largos que ele parecia ter uma força física admirável. Apenas por aquela constatação a jovem estremeceu.

— Sr. Harris? — a voz do conde chegou aos ouvidos dos dois.

Jane estava escondida pela árvore e pelo corpo do homem que ainda estava voltado para ela. Então a jovem se escondeu mais atrás do grosso tronco. Se recostando a madeira áspera. Ela sinalizou para que o homem fosse embora e odiou que o rapaz hesitasse.

— Estou indo, vossa graça — respondeu.

O rapaz se afastou e Jane finalmente conseguiu respirar para se acalmar, ela esperou alguns segundos antes de espiar pela lateral da árvore. Então avistou o conde ao lado do homem estranho conforme adentravam a casa.

Ela caminhou para dentro da casa e subiu as escadas correndo, a torre parecia estar longe demais, seu quarto parecia inalcançável, contudo, antes que ela conseguisse chegar ao outro lado do primeiro andar da propriedade, Charles a segurou pelo braço.

— O que faz fora da torre? — inquiriu.

Jane engoliu o pavor, guardou suas lembranças no lugar trancado dentro de si para que seus joelhos não cedessem.

— Me responda, demônio! — exigiu sacudindo a irmã mais nova. — Eu sei que você sabe falar, sempre falou quando era criança. Falava tanto que me dava dor de cabeça.

A dama segurou o fôlego ao sentir o cheiro de bebida do irmão. O braço estava dolorido onde os dedos dele se enterravam em sua pele, mas ela não conseguia abrir a boca e dizer que a soltasse. Não conseguia fazer nada, nem mesmo empurrá-lo para longe.

Não era a primeira vez que Charles a atacava. Jane já precisou ficar dias usando vestidos de gola alta por conta das marcas roxas no pescoço, ninguém se importava ou tentava defende-la, então a dama apenas se trancava mais. Demônio ou assassina eram apenas alguns dos apelidos que os irmãos usavam para chamá-la.

— Você não vai estragar o casamento. Papai não vê a hora de livrar-se de você, então pare de perambular por aí e fique no seu quarto.

O irmão a empurrou pelo corredor e Jane se apressou erguendo as saias para caminhar mais rápido. Ela ouvia os passos do irmão a seguindo e tentou apertar o passo. Não queria que ele a levasse até a porta do quarto. Nas escadas, a jovem correu pulando os degraus de dois em dois até estar no quarto fechando a porta atrás de si.

— Muito bem, na próxima vez, tente se apressar um pouco mais, não gosto de vir aqui em cima... sempre tenho a sensação de que seria muito fácil te jogar pela janela e dizer que você pulou para dar um fim a sua existência miserável — ela ouviu as palavras do irmão do outro lado da porta.

Jane ainda recostava o corpo contra a porta de madeira, tentando impedir que o irmão entrasse.

Os passos de Charles se afastaram da porta, então a jovem deixou que seu corpo escorregasse até cair sentada no chão, puxando o espartilho parar tentar respirar.

Está tudo bem, repetia mentalmente conforme seu corpo voltava a calmaria.

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