Archie Harris não conseguia acreditar que a mãe estava falando sério, ele estava encarando desnorteado a mulher loira que parecia ter envelhecido absurdamente bem, a viúva Harris o havia prometido em casamento a filha mais nova do Conde de Bath, sem sequer perguntar sua opinião a respeito.

— Nós tínhamos concordado que conversaríamos a respeito antes de acertarmos qualquer acordo de casamento para mim — ele disse depois do primeiro instante de choque.

— Sim, nós tínhamos. E você nunca tomou um instante para conversar comigo a respeito, portanto, eu tomei a iniciativa. Soube que a penúltima das filhas do Conde havia se casado e como seu pai era um velho amigo da falecida esposa dele, achei conveniente entrar em contato com ele para tentar um acordo com a filha mais nova.

— Eu sequer conheço a filha mais nova dele. As mais velhas são mulheres lindas, é claro, mas nunca vi a mais jovem — retrucou.

— Eu conheci seu pai poucos dias antes do nosso casamento e nós fomos muito felizes — a mulher jogou aquela mesma verdade em seu rosto pela milésima vez.

— Devo esperar ter a mesma sorte? — indagou. — Me parece estranho que esta jovem nunca tenha sido vista em um único baile na casa de seu pai.

— Pelo que os criados comentam, a jovem é tão linda quanto as irmãs, se é isso que o preocupa — explicou a mãe com paciência.

— Não sou tão superficial e sabes bem disso. Só não concordo com casamentos arranjados, menos ainda com moças jovens sendo forçadas a casar com homens mais velhos por interesse de suas famílias — completou.

— Pelo que o conde me disse, sua filha mais nova acaba de completar dezoito anos. Não é tão jovem quanto algumas de suas pretendentes mais promissoras.

Archie lançou a mãe um olhar de incredulidade.

— E a senhora ainda ponderou a respeito de outras jovens. Ainda mais novas que ela? — questionou. — Eu tenho vinte e seis anos, para a Srta. Williams já serei um homem muito mais velho, imagine para outras jovens mais novas.

— Não exagere — pediu a mãe.

— Não o farei, preciso cuidar dos negócios — avisou se levantando e beijando a mão da mãe antes de sair da casa.

Archie adentrou a carruagem e seguiu em direção às plantações, os criados passavam por ele e o cumprimentavam. Aquela propriedade era de sua família há muito tempo, mas o pai jamais ousou tentar lucrar com as terras. Quando as herdou, Archie tratou de fazer alguns acordos comerciais para fazer diversas plantações.

Ele passou o dia caminhando com seus servos e ajudando em algumas partes da colheita. Archie sempre foi contra a ideia da mãe de apenas observar, o rapaz acreditava que precisava fazer parte do seu negócio para fazê-lo prosperar, portanto sempre tratou de trabalhar junto com os funcionários.

Durante o trabalho, ocasionalmente o homem se via indagando que tipo de dama seria sua futura esposa, ele pouco sabia sobre os filhos do Conde de Bath, os rapazes nunca tiveram amizade com ele, já que os três orgulhavam-se de suas conquistas sendo nada mais que libertinos que esbanjam a fortuna do pai. As três filhas que conheceu pouco teve contato, pois as damas não achavam seu sangue azul o bastante para considerá-lo um pretendente, mas a mais nova era um enigma e Archie não era muito propenso a adorar enigmas. O rapaz sempre gostou de situações seguras e apostas sem risco.

Quando o trabalho do dia estava terminado, ele retornou para casa, onde sua mãe estava conversando com a filha e o cunhado do jovem. Archie estava com a camisa desabotoada, as calças sujas de lama e as mãos ainda mais calejadas, mas se aproximou do grupo e estendeu a mão para o cunhado.

— Como está, Elizabeth? — inquiriu ao apertar a mão do cunhado.

— Estou bem, irmão — a jovem loira sorriu.

Ela era quase um espelho da mãe. Tinham a mesma altura e o cabelo igual, os penteados que usavam eram semelhantes, Elizabeth tinha apenas os olhos do pai, mas até mesmo sua astúcia vinha da mãe.

— Vou me preparar para o jantar e já volto — ele avisou antes de deixar o grupo e rumar para as escadas.

Conforme subia, Archie percebeu que sua mãe provavelmente atualizaria sua irmã sobre seu noivado próximo e se preparou para toda a manipulação que aconteceria da parte das duas.

O rapaz suspirou conforme se lavava e vestia com roupas secas, ele sempre detestou ter ajuda para se vestir, portanto o criado que estava no quarto apenas limpava a lama que ele havia deixado, conforme o homem se vestia.

Quando terminou, ele saiu do quarto e voltou a descer as escadas. Archie observou a irmã que o olhava como se ela fosse uma coruja faminta e ele o rato desavisado que viria a ser sua presa.

— A caçula do conde... isso é realmente promissor — comentou Elizabeth com um sorriso se formando nos lábios.

— Eu a vi poucas vezes quando visitei Charles e os irmãos, eles me disseram que ela não fala — contou Theodore conforme estudava o cunhado. — Nunca perguntei se era algo de nascimento ou se ela simplesmente parou de falar.

— Será que isso poderá ser passado para os filhos? — Elizabeth indagou com o cenho franzido.

— Não sejam tão dramáticos. Pelo que o conde me contou, a filha é muito instruída, ela lê diversos livros e se porta como uma verdadeira dama. Ele me contou que ela tem uma saúde delicada, por isso fica quase sempre confinada nos aposentos — a Sra. Harris afirmou.

— De qualquer forma um acordo já está firmado, irei à propriedade do conde em alguns dias para acertarmos os detalhes. Espero poder conhecer minha futura esposa na ocasião.

— Charlotte, Mary e Katrina são damas respeitáveis, se a irmã mais nova for tão educada quanto elas, você estará se casando com uma princesa — Elizabeth sussurrou.

— Uma que provavelmente irá gastar toda a sua fortuna com vestidos bonitos — avisou o cunhado fazendo com que Archie o olhasse com uma sobrancelha erguida.

Theodore Smith não era o melhor exemplo de homem com quem Archie gostava de se relacionar, porém sua irmã afirmou estar apaixonada pelo sujeito dois anos antes e um casamento fora arranjado, gastando boa parte do dinheiro que o pai lhes deixou em um dote. Pois Smith é um Lorde e precisou de um dote gentil para aceitar uma esposa sem ascendência nobre.