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A caçula dos Williams estava desperta, seus olhos se abriram muito tempo antes, talvez horas antes, mas ela não conseguiu voltar a dormir. O pesadelo recorrente voltou a atormentá-la e ela apenas não conseguiu mais dormir, pois o mínimo piscar de olhos, fazia com que a imagem da mãe se afogando ficasse fixada em sua mente.
Jane se sentou na cama dura, o quarto frio ainda estava escuro, ela estava acostumada o suficiente com aquele tipo de insônia para saber que logo o sol nasceria. Então ficou de pé, estremecendo ao sentir o chão gelado sob a pele descalça dos pés. Envolveu o corpo em um lençol e observou a janela do último andar daquela torre.
Os primeiros raios de sol descontaram no horizonte e a jovem Lady segurou o fôlego. Ela sempre adorou aquela mistura de cores que apareciam naquele instante único de despertar do sol, aquele era o único conforto que Jane tinha ao despertar de seus pesadelos.
Ela contou os segundos, aqueles míseros segundos de liberdade, antes que as batidas soassem em sua porta. Batidas secas e impacientes, Jane não respondeu, todavia, a mulher que adentrou o cômodo não esperava que ela respondesse.
A senhora de meia-idade com cabelos grisalhos entrou no quarto e lhe dirigiu um sorriso mínimo.
— Bom dia, milady.
Ela carregou o balde com água fria pelo quarto e o despejou na tina. A senhora sempre dizia que a água era quente, mas dado o tempo que levava para subir a torre, a água esfriava no caminho e não havia maneiras de dar a jovem o conforto de um banho quente pela manhã naquela situação.
Jane soltou o lençol e deixou que a mulher a ajudasse a se despir. Quando entrou na água fria, a dama travou os dentes para impedir que batessem quando o frio se agarrou em seus ossos. As duas limparam a pele dela, então a senhora a ajudou a se vestir, e passou a pentear seus cabelos escuros.
Nenhuma delas falava qualquer coisa, o que para Jane era confortável, mesmo que a mulher não se incomodasse em ser delicada conforme desembaraçava os fios de sua cabeça. A jovem lady esperou pacientemente até que o penteado ficasse pronto. Na verdade, ela torcia para aquele momento se estender mais.
Quando percebeu que a criada havia terminado o trabalho, Jane se levantou da cadeira velha e caminhou pelo quarto pequeno em direção a porta. Ela conseguia ouvir os passos da criada que a seguia. A mulher se mantinha distante. Nunca perto demais da garota que matou a própria mãe. A criada já suportava o fardo de cuidar da filha indesejada do conde de Bath, não precisava que os outros pensassem que havia algum tipo de amizade entre as duas.
Jane adentrou a sala de refeições da família e viu seu pai sentado a cabeceira da mesa, o cabelo grisalho dele denunciava a idade já avançada, a filha mais nova se apressou a desviar o olhar do progenitor. Ela se sentou ao lado da esposa de seu irmão mais velho, cumprimentando a mulher com um aceno de cabeça.
Os irmãos mais velhos conversavam preenchendo a mesa com um barulho que a jovem achava sufocante. Suas irmãs já não estavam naquela casa, Mary, a segunda mais jovem se casara há pouco mais de seis meses. Os irmãos estavam todos em seu mau-humor costumeiro devido a noite de libertinagens e a jovem já se preparava para receber os insultos que lhe dirigiam todos os dias.
Jane tratou de comer fingindo não estar ali, porém, não conseguiu passar despercebida do pai naquela manhã.
— Você… — o homem chamou.
Ela virou o rosto em sua direção, sabendo que ele estava falando com ela, já que o pai jamais chamava-a pelo nome.
— Estou encontrando um casamento para você — avisou e Jane sentiu a pouca comida em seu estômago se revirar.
— Quem iria se casar com ela? — Charles indagou.
O segundo irmão de Jane era alto, tão alto que a intimidava, tinha os olhos escuros e o cabelo castanho. Ele sorriu ao lhe dirigir aquelas palavras.
— Nenhum nobre, com toda certeza — o pai resmungou. — Nenhum nobre vai se casar com uma mulher que não fala, eles têm medo que a condição seja passada a possíveis filhos.
— Não os culpo por isso — Edward retrucou.
— Como eu estava dizendo… — o conde continuou. — Encontrei um cavalheiro de boa fortuna que precisa de um casamento e talvez precise de algum dinheiro já que está disposto a aceitar se casar com uma mulher nessa condição. Estou acertando o casamento com a mãe dele, já que a viúva está tão disposta a casar o filho com uma mulher de ascendência nobre que não parece se importar com a sua condição.
Jane sentiu as mãos suarem e tremerem, ela não sabia exatamente o que pensar a respeito. Nunca teve uma vida boa na casa de sua família, mas casar-se com um estranho era ainda mais assustador.
— Vou acertar os detalhes com o rapaz e sua mãe ainda essa semana. Portanto, não quero que você fique perambulando pela propriedade pelos próximos dias. Direi ao rapaz que você está doente e por isso não pode conhecê-lo pessoalmente. Deus sabe que não podemos perder essa oportunidade.
Jane assentiu sentindo o corpo tremer ainda mais, ansiedade e raiva travavam uma batalha dentro de seu corpo e a jovem temia desesperadamente o que viria a seguir. Ela sabia que os casamentos de suas irmãs foram rápidos, com exceção de Charlotte que teve um noivado de dois meses.
Sem conseguir mais comer, Jane permaneceu imóvel tentando respirar no espartilho apertado, ela pôde sentir o suor escorrendo pelo corpo mesmo que a manhã estivesse fria.
Assim que o pai se levantou, antes que qualquer comentário fosse feito por seus irmãos, a jovem ficou de pé e caminhou pela casa seguindo em direção ao jardim nos fundos da propriedade.
Ela saiu da construção sufocante e o ar frio se chocou contra o seu rosto. Jane segurou o espartilho junto aos seios puxando a peça de vestimenta, não era a primeira vez que a dama sentia o ar lhe faltar daquela forma, seu corpo inteiro tremia e o nariz parecia não conseguir puxar ar.
Lágrimas lhe queimavam os olhos conforme caminhava cambaleante até se deixar cair na saliência das raízes de uma grande árvore, lugar escondido o bastante para que ela pudesse se contorcer em busca de ar sem que a vissem passar por aquele tormento.
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