Desaparecida

Sophie Turner como Samantha Allen

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  A música “Rude Boy” pertencente a cantora Rihanna ecoava pelo ginásio enquanto o grupo de cheerleaders dançava uma coreografia totalmente pensada e criada por Victoria T.Becker, que se encontrava sentada em uma cadeira de braços cruzados, observando as meninas dançarem sem dar muita atenção. Seu cérebro estava funcionando de uma maneira meio lenta aquele dia, não estava conseguindo se concentrar direito por conta da noite mal dormida e, seus olhos focavam apenas em Claire, enquanto sua mente focava em Andrew, na forma indiferente a qual ele havia “terminado” com ela naquela noite. E ela tinha a certeza de que tinha sido por causa daquela garota que rodopiava, se preparando para ajudar Janette Wilbert a fazer uma pequena pirâmide junto de Carly Jensen, que ficara no topo, usando as pernas das garotas de apoio para os pés e levantando os braços com um belo sorriso nos lábios.

  ...E assim, a música acabou. O grupo das seis garotas que faziam duas pirâmides permaneceram na mesma posição, esperando que sua capitã dissesse algo, mas Victoria olhava para baixo, calada, na mesma posição que se encontrava desde o início da coreografia.

 — Vicky! — chamou Janette já não aguentando mais ficar daquela forma. A morena estremeceu pelo susto e se ergueu na cadeira, observando as meninas.

 — Hum… Vocês foram ótimas dessa vez — forçou um sorriso. — Podem descansar. — E um coro de suspiros foi ouvido enquanto as cheerleaders saíam de suas posições. Todas se encontravam suadas e com as respirações desreguladas pelo cansaço. — Dispensadas por hoje! Vejo vocês nos vestiário! Fizeram um trabalho incrível, meninas! — Com exceção de Janette e Claire, que caminharam até a capitã, as outras meninas andaram até as bolsas cilíndricas coloridas postas no banco da arquibancada e cada uma pegou a sua antes de se dirigirem para fora do local. Estavam extremamente exaustas e não viam a hora de terminarem seus banhos e irem para suas casas. Além do aquecimento, tiveram de fazer aquela mesma coreografia pelo menos umas sete vezes, algumas das jovens até chegaram a se enjoar daquela música. Victoria estava avoada na maioria das vezes, perdida em seus pensamentos pessoais. Ela apenas pedia para que repetissem e repetissem, até desistir de prestar a atenção nessa última vez, dizendo agora que as meninas haviam sido ótimas sendo que ela nem mesmo sabia como elas tinham sido de fato.

 — Ei, garota… — disse Jane com o cenho franzido e os lábios esticados em um sorriso. Sua pele negra brilhava tamanho era o suor que escorria por esta.  — Você não está bem hoje, está?  

  Claire apenas observava a amiga com as mãos na cintura e a boca entreaberta, tentando regular sua respiração.

 — Me desculpe, eu só não dormi muito bem… Meu primo sumiu por dois dias, voltou ontem pela madrugada e também eu tive um outro…

  — O gostoso do Harry? — indagou a do cabelo afro, fazendo a loira ao seu lado franzir o cenho, tombar a cabeça para o lado e sorrir. — Uau, o que aconteceu pra ele sumir?

 — Sei lá, parece que passou a noite na casa do amigo no sábado e no domingo foi se encontrar com uma garota. E… eca. Já falei para não chamar meu primo de gostoso. Você já trocou alguma palavra com ele?

 — Acredite em mim — Claire disse ao colocar a mão no ombro da amiga ao seu lado. — Ele pode até ser bonitinho, um bom amigo, mas… não é um cara que se deve paquerar.

 — E Claire diz isso com firmeza, visto que até se recusou a beijá-lo na vez em que jogamos Verdade ou Desafio quando tínhamos... Sei lá, uns doze anos? — a morena proferiu com um sorriso no rosto, olhando em direção a loira que foi impregnada por um sentimento de vergonha repentina dentro de si.

 — Você se recusou a beijar Harry Becker?!

  Victoria se sentia mal por estar irritada com Claire e se sentiu mais mal ainda quando disse aquilo com a intenção de deixá-la constrangida. Ela sabia que a Blake se envergonhava fácil e também sabia que aquele era um momento o qual a garota queria esquecer. Só de se lembrar das pessoas naquela roda repetindo “beija” sem parar e dela se levantando e saindo correndo, o rosto daquela jovem corava como um pimentão. Não gostaria de beijar Harry, nunca quis isso e nem iria querer.

 — É… Eu… Sei lá, vejo ele como um irmão.

 — Quais dos nossos amigos além dele você vê como um irmão?  — Becker perguntou ao mesmo tempo em que Janette disse:

 — Eu não desperdiçaria essa oportunidade. A propósito, Vicky poderia descolar um encontro para mim, mas ela vive dizendo que ele não presta... — sorriu ao mesmo tempo em que fez um biquinho e levou uma mão à cintura gordinha. — Fala sério, quero dar uns beijinhos, não casar com ele. Bom… Meu pai já deve ter saído do trabalho, então… vou logo tomar o meu banho. Vocês vão ficar aqui ou…?

 — Pode ir na frente, já estamos indo. Preciso conversar com a Claire uma coisa a respeito do nosso trabalho de literatura.

 — Certo. Então até, meninas!

  As duas garotas acenaram. Blake não sabia o porquê de Victoria estar estranha com ela, suspeitava que fosse um ciúme bobo  — o que era —, mas ela e Andrew sempre foram grandes amigos, não havia motivo para que Vicky a tratasse assim.

  No momento em que Jane saiu do ginásio, Victoria suspirou e encarou a jovem ao seu lado que estava com as madeixas loiras divididas em dois rabos de cavalos altos, que balançaram quando ela virou o rosto para encará-la de volta com um olhar assustado.

 — Me desculpa, amiga — a morena disse com um semblante triste e abraçou a garota à sua frente. — Me desculpa por ter sido uma idiota com você agora… é que… eu não dormi muito bem essa noite, o Andrew terminou comigo no sábado e… Eu não consigo parar de pensar que ele pode estar apaixonado por você e…

— Ei…  — interrompeu. — Vocês terminaram? — Andrew não tinha contado isso a ela, então foi uma surpresa. — Sinto muito por isso…  — Disse após a amiga assentir com a cabeça. — Mas não foi por minha causa, eu tenho certeza. 

 — Vocês pareciam estar mais próximos do que nunca nesse último mês  — se afastou. — Isso acabou me incomodando um pouco, é besteira, eu sei, mas... — Suspirou. — Foda-se… Olha… Não vou deixar que cara nenhum destrua a nossa amizade, certo? Então mesmo se ele estiver apaixonado por você e você por ele… — Victoria não quis admitir, mas sentiu uma dor no peito ao dizer aquelas palavras. — Eu vou te apoiar e fazer o máximo para que nossa amizade não acabe. Você é minha melhor amiga, eu jamais vou deixar que esses… — Revirou os olhos sorrindo. — oito ou nove anos acabem assim. — Segurou em ambas as mãos de Claire que, embora retribuísse o sorriso dela, não se sentia nada bem com aquilo. Ela não sabia se de fato estava apaixonada por Andrew, procurava pensar que não. Se lembrava de ter uma queda por ele quando eram crianças, pelo fato dele ser muito cuidadoso com ela e vice-versa, mas faz tanto tempo… Tinham uma outra mentalidade agora. — Mas enfim, vamos mudar de assunto. — Soltou suas mãos. — Por que suas irmãs não vieram?

  O sorriso de Claire se desfez de imediato. Era óbvio, tinha algo muito mais importante para se preocupar do que os seus sentimentos por aquele garoto ruivo. Conseguira se distrair e manter seus pensamentos longe do que estava acontecendo com sua família quase que o dia todo, mas… bastou apenas aquela simples pergunta para que tudo voltasse à tona.

  Os Reinckes são os únicos que sabem… Faz sentido visto que foram os únicos que vieram me dizer algo, mas… o que eu deveria dizer a Vicky? Sobre a Kate direi a verdade, mas sobre a Heather… Acho que vou ter de pensar em alguma coisa… Talvez dizer que ela saiu de casa e não voltou...

***

  Dirigindo o Corolla de Derek a caminho da chácara, Victor pensava o quão péssimo havia sido o seu dia...

  O diretor havia conversado com os garotos na enfermaria enquanto o enfermeiro Carl cuidava dos ferimentos do Reincke que chorava a todo momento. Não pelas dores causadas pelos hematomas e cortes, mas pelo fato de que nunca imaginaria estar na situação a qual se encontrava agora. Além do risco que tinha colocado a sua vida e a de seus amigos quando fugiram com Heather e esconderam ela em uma propriedade de sua família, tinha engravidado uma garota que parecia querer tornar a vida dele um inferno. Ele se recusou a dizer o porquê de ter ameaçado ela, chorou mais, pediu para não ter de falar sobre aquilo e quase brigou com Bernarde de novo, até que o diretor resolveu chamar sua neta e perguntar o que aconteceu de fato. Victor ficou assustado, suplicava mentalmente para que a garota não dissesse a verdade, pelo menos não ali, e foi exatamente o que ela fez… Pelo menos em partes. Ela disse apenas que tinha implicado com ele por livre e espontânea vontade, porque queria irritá-lo e que ele era um pé no saco. Isso deixou o garoto bem mais aliviado…

  No fim, Rachel levou uma advertência, Bernarde foi suspenso e Victor saiu ileso, livrando-se até mesmo de ter sua avó chamada na escola. Quando chegou em casa — havia ido de ônibus ao invés de ter esperado o seu irmão sair do treino —, fez o máximo para que ela não visse seu rosto. Esvaziou a mochila, colocou o carregador de seu celular, sua escova e pasta de dentes e algumas de suas roupas dentro, pegou um óculos escuros acima de sua cômoda, os colocou no rosto, pegou a chave do carro de Derek e assim que gritou para sua avó que iria na casa de Thomas, saiu de sua própria casa e caminhou até o local onde havia deixado o Corolla.

  E após dar uma passada na farmácia e em um bazar de roupas femininas, seguiu o seu caminho até a chácara, tendo de colocar o óculos acima da cabeça no meio do caminho por conta do fato do céu ter escurecido e da estrada para Flowerville já não ser muito iluminada…

  Quando chegou, abaixou o óculos novamente, pegou as sacolas e sua mochila postas no banco ao lado, saiu do carro e em seguida caminhou até a porta. Mas antes que pudesse bater, Heather a abriu com um sorriso nos lábios.

 — Hey, vadi… — ela parou e franziu o cenho ao notar os curativos distribuídos pelo rosto do garoto, acompanhados dos óculos escuros a frentes de seus olhos. — Mas que merda aconteceu?

 — Conto logo — sorriu e a abraçou, soltando-a no mesmo momento. — Acho que vai gostar das roupas que comprei para você. Foram poucas, mas acho que está bom por enquanto. — Passou por ela. — Hey, Derek. — Disse ao garoto sentado no sofá e logo colocou as coisas acima da mesa de madeira.

 — Hey… — ele franziu o cenho. — Olhando daqui, não parece que está muito sol lá fora.

 — Ha, muito engraçado.

 — Falando sério agora, o que aconteceu com você?

 — É… Eu não quero falar sobre isso agora — pigarreou. — Bom, roupas. — Apontou para a sacola de papel acima da mesa. Heather logo andou até ali enquanto dizia entre um suspiro:

 — Obrigada, Victor, eu estava doida para tomar um banho e me livrar dessa roupa de hospital. 

  As roupas cuidadosamente escolhidas pelo garoto eram simples, mas ainda sim, agradaram a sua amiga. Consistiam em quatro shorts, sendo dois jeans e os outros dois de uma malha preta. Também haviam duas camisetas que não continham sequer uma estampa, mas em cores, uma era amarela e a outra azul-marinho. Eram bem soltinhas e aparentemente bem quentes. Dois conjuntos de moletom também faziam companhia em suas escolhas, sendo um totalmente preto e o outro totalmente cinza, e por último, havia cinco calcinhas, todas feitas de um pano branco e acompanhadas de três sutiãs de malha da mesma cor. Todas as peças eram bem básicas, não continham sequer adornos ou uma marca, mas até que eram bonitas e, bom, davam pro gasto. No fundo da sacola havia uma caixa de sapatos. E dentro dela, se encontrava um par de pantufas rosas de coelhinho acompanhado de um saco plástico retangular no qual se encontravam dois pares de meias brancas.

 — Eu amei essas pantufas! Foram as melhores — proferiu entre um riso. — Bom, já vi que vou ter de lavar as roupas assim que usá-las e ter de colocá-las para secar logo em seguida, senão vou acabar ficando sem nenhuma para usar. — Fechou a caixa de sapatos e a colocou ao lado da sacola de papel.

 — Foi só o que o meu dinheiro deu por enquanto, no dia da sua fuga iremos dar um jeito de comprar roupas e sapatos mais apropriados.

  O sorriso de Heather se desfez devagar, sumindo por completo com seus últimos resquícios de alegria. Fuga… Eu terei mesmo de passar por tudo isso de novo? E… sozinha dessa vez? Em seu corpo, a jovem pôde sentir um certo receio lhe eletrocutar por completo. Me perdoe, James, me perdoem Kate, Claire… eu não queria ter causado tanta confusão e agora ter de desaparecer de repente.... sei que nunca vai ser o suficiente, que eu não mereço, mas por favor, me perdoem...

  Secando uma lágrima disfarçadamente com a parte de trás do dedão, Heather fungou com o nariz e se virou para a sacola, logo separando o conjunto de moletom cinza que usaria após seu banho, junto às suas peças íntimas. Agradeceu mais uma vez, porém mentalmente, por poder se libertar daquele vento incômodo que aquela roupa hospitalar provinha para o seu corpo.

 — Está tudo bem com todo mundo?

 — Oh, sim… — ele preferiu não dizer sobre o que aconteceu com James na manhã de ontem. Pelo menos não ainda. — Claro, acredite, estão todos melhores do que eu. Isso se Harry não levou uma surra dos tios dele quando chegou em casa, mas… creio que ele está bem.

 — Nossos amigos e... James já sabem sobre o meu desaparecimento, certo? — a boca de Reincke se entreabriu. Mas antes que ele pudesse pensar em algo para dizer, sua melhor amiga continuou. — Acho que deveríamos falar a verdade para o James.

  Silêncio. Ambos os garotos desviaram seus olhares e calaram-se por completo. Victor involuntariamente mordeu o lábio inferior, sentindo uma leve ardida pelos seus machucados e Derek levou a mão à nuca, ambos se perguntando mentalmente como e quem daria essa notícia.

 — Os policiais fizeram algo com a minha família?! — a jovem aumentou seu tom de voz, alternando o olhar entre os dois garotos que não conseguiam manter o contato visual. O silêncio havia conseguido entregar tudo e tornar a cabeça da jovem a mil por hora com várias e várias tristes suposições.

 — Eles só… levaram… o James — disse Victor em um tom de voz comovido. Heather, sentindo o sangue em suas veias ferver, soltou as roupas que separou na mesa, levou a mão ao cenho e suspirou.

 — Porra… — se virou e andou. — porra, porra, porra, PORRA! — Parou próxima à mesinha de centro à frente do sofá que Derek estava sentado com os olhos atentos nela e logo girou nos calcanhares novamente. — Eu sabia que eles fariam isso! Mas que droga! — Sua voz agora se tornava embargada, bem longe de seu juízo normal. — Eu não posso fugir e deixar o James preso daquela forma… E-eu não posso fazer isso… — Ela abaixou a cabeça traçando com suas mãos seu cenho de novo e fungando, lutando contra si mesma para não deixar o marejar de seus olhos se tornar em lágrimas.

 — Heath… — Victor falou, se aproximando. — Ele não vai ficar lá por muito tempo, vai conseguir se livrar quando souberem que ele não tem nada a ver com o seu sumiço. — Levou a mão ao seu ombro em um gesto empático, tentando dar forças a sua amiga.

 — Foi o cara que cuidou de mim por três anos — levantou a cabeça, o encarando com o semblante sério, porém mal conseguindo manter uma fala consistente pelo seu estado atual. A voz embargada e os olhos cheios de lágrimas estavam lhe dificultando os pensamentos, porém ainda sim havia muito a ser dito, muito que seu coração pedia para ser dito. — É óbvio que não vão deixar ele escapar.

  O silêncio invadiu a sala novamente. Os meninos não sabiam o que dizer, não tinham a mínima ideia de como lidariam com isso. Não havia como.

  ...Ou havia?

 — Eu posso tentar dar um jeito — Derek disse ao se levantar, ajeitando a própria camiseta. — Não garanto que conseguirei tirá-lo de lá, mas… posso tentar alguma coisa… 

 — Isso é sério? — indagou a garota, encarando-o com um olhar de dúvida. — Você não conseguiria tirar alguém da cadeia.

  Um sorriso surgiu nos lábios do garoto ao mesmo tempo em que ele estreitou os olhos e tombou a cabeça um pouco para o lado. Se tinha uma coisa a qual o motivava mais do que palavras de apoio, era que lhe desafiassem.

 — Só aguarde — a loira revirou os olhos em resposta. Aquilo era certamente impossível, ela sabia disso. — Bom… — Adentrou os bolsos do jeans com as mãos. — Acho que vou indo. Você vai ficar bem?

— Vou tentar…

 — Ah! Sobre os remédios… — Victor começou. — Eu não consegui ir até a sua casa para pegar os seus, então comprei um calmante natural na farmácia. Não é o ideal, mas acho que pode dar pro gasto, certo? Também comprei uma escova de dentes e um sabonete líquido.

 — De qualquer forma, estou precisando mesmo de um calmante agora — suspirou e cruzou os braços. — Derek — O garoto arqueou as sobrancelhas ao ser chamado. —, se encontrar com a Claire na escola, diga a verdade a ela. Ela sabe guardar segredo, e também… ela merece saber. 

  Heather até pensou em pedir para que ele também contasse à Kate, ela também não merecia estar passando pelo que estava passando, mas… diferente de Claire, Kate não era nem um pouco boa com segredos. Preferia não se arriscar.

 — Você tem certeza? — ele indagou, não gostando muito da ideia. — Mesmo?

 — Tenho — afirmou, fazendo-o suspirar.

 — Okay, então… — caminhou até os outros dois jovens. — Até. — Estendeu a mão para Victor, que a apertou no mesmo momento. — E obrigado.

 — Disponha… — sorriu.

 — Espero que melhore da face, seja lá o que tenha acontecido — retribuiu o sorriso e em seguida soltou a mão dele, olhando agora a garota que ainda estava com o rosto marcado pelas lágrimas. Seus olhos azuis brilhavam, era incrível como eles conseguiam ficar ainda mais bonitos quando estavam marejados. Ela o abraçou, conseguindo encaixar perfeitamente o seu queixo no ombro do garoto que sentiu seu coração se acelerar e retribuiu aquele abraço logo em seguida. — Voltarei amanhã.

 — Até… — ela sorriu, se separando daquele abraço caloroso e confortante. — Ah… — retirou a jaqueta que ainda usava e a entregou para o garoto — Eu quase me esqueci.

 — Obrigado… — sem desfazer o sorriso, ele pegou a peça de roupa. — Até. — E se afastou, caminhando até a porta, abrindo-a e saindo.

 — Então… — disse Victor, cruzando os braços e lançando um sorriso malicioso à amiga. — Derek Daniel? — Ainda era estranho para o jovem ver a sua melhor amiga ter um certo “clima” com um garoto, mas, tinha de admitir que até era divertido.

 — Então… — ela retrucou, imitando a expressão facial e o gesto do amigo. — Qual vai ser o plano para matarmos a pessoa que quebrou a sua cara? — Reincke abaixou os braços e suspirou, revirando os olhos por detrás dos óculos escuros. — Eu vou tomar um banho e um remédio… Daí nós conversamos até eu dormir, certo? Preciso descansar um pouco, não consegui dormir nada essa noite e… bom, amanhã vamos ter o dia quase todo só para nós.

 — Certo, tudo bem, vai lá… — sorriu de canto.

— Ah! Trouxe o que te pedi? — o jovem assentiu em resposta. Ela havia utilizado o celular de Derek para fazer um pedido ao seu melhor amigo. — Obrigada, Vic. Você é o melhor! — Declarou em meio a um sorriso.

***

Terça-Feira, 23 de setembro de 2014

  Desde que chegou na escola e se encontrou com Harry, Derek teve de aguentá-lo falando por alguns minutos sobre a conversa que seus tios haviam tido com ele. Conversa esta que sempre alternava entre “Ainda bem que você voltou, estávamos morrendo de preocupação” e “Você tem merda na cabeça? Qual é o seu problema?”. Também contou e reclamou do fato de terem aumentado seu castigo, o que de fato, era compreensível. Ele só parou de falar quando, junto de Derek, se deparou com um certo cartaz pregado no mural de informações da escola.

“Desaparecida” era o que estava escrito no topo daquele cartaz. E abaixo, havia uma foto colorida de uma garota, uma versão mais jovem e ruiva da que conheciam. Ela estava séria, olhando para a câmera, com as poucas sardas se destacando no dorso de seu nariz avermelhado. No rodapé do cartaz, estavam escritas algumas informações, tal como o nome — tanto o falso quanto o verdadeiro —, a idade, a altura, o local onde ela foi vista pela última vez junto da data do desaparecimento, e por fim, o número de telefone da delegacia de Heaven Hills.

 — Lembro-me de uma vez no bar em que você me disse que tinha um certo fetiche em ruivas — disse Harry entre um sorriso, olhando para o amigo ao lado que mantinha os olhos fixos naquele papel. — E também me lembro de ter dito que acha a Heather gostosa. Como se sente sabendo que ela é naturalmente ruiva? Aliás, tem como tirar uma foto disso? — Voltou o olhar ao cartaz. — Sinto que ela vai detestar essa foto.

 — Caras! — a voz de Thomas chamou a atenção de ambos os garotos que olharam atentos o jovem latino se dirigir à eles em passos rápidos. — Vocês sabem de algo da Heath? Parece que ela desapareceu de um hospital no domingo à tarde, eu nem mesmo sabia que ela tinha sofrido um acidente. Agora tem policiais aqui na escola procurando informações sobre e…

 — Oh, merda! — Harry arregalou os olhos, não conseguindo impedir que aquelas palavras escapassem de sua boca, fazendo o garoto ao seu lado lhe lançar um olhar fulminante. — Realmente... É uma grande merda essa situação… — Tentou se corrigir, o que chegou a dar certo, pois Thomas comprimiu os lábios, assentiu com a cabeça e respondeu com um “Pois é…”.

  Um barulho agudo e irritante pertecente ao alto falante adentrou os ouvidos das pessoas presentes naquele corredor, fazendo até com que algumas tapassem suad orelhas. Em seguida, a voz do diretor Husky ecoou por ali:

 — Sr.Morris, por favor, comparecer à diretoria imediatamente — e repetiu. — Sr.Morris, por favor, comparecer à diretoria imediatamente.

 — Parece que esse Morris está fodido — Harry disse entre um riso no mesmo momento em que Derek revirou os olhos e suspirou, novamente lhe lançando um olhar ameaçador.

— Sou eu — retirou o próprio celular do bolso e penteou o cabelo para trás com os dedos.

— Espera… — o semblante de Becker mudou. Agora ele estava surpreso. — Você é o Morris? Eu pensava que seu sobrenome fosse Daniel! — Thomas os encarava com o cenho franzido. Ele pensava a mesma coisa que Harry, mas não estava dando muita importância.

 — Meu nome é composto, caralho. Você está com o seu celular aí? — com a tela desbloqueada, logo o garoto foi para as opções do aparelho, algumas cujas grande parte das pessoas não saberia mexer, onde lá, dados diferentes poderiam ser trazidos como atuais de uma forma bem discreta.

 — Sim, estou — ele o retirou do bolso. — Minha tia só me deixa usá-lo na escola...

 — Certo. Troque de celular comigo — bloqueou o próprio e entregou para ele, que fez o que foi pedido sem questionar. — Vá para o banheiro em dez minutos. — E se virou, andando em passos rápidos rumo à diretoria.

 — Mas o que está acontecendo? — indagou Thomas para o amigo que desviou o olhar para o lado, desceu os cantos dos lábios e deu de ombros.

 — Eu não faço a mínima ideia — obviamente mentiu.

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Peço perdão pela parte longa, realmente não deu para encurtar 🙏

Mas espero que estejam gostando. Um obrigada aos que leram até aqui, não se esqueçam de deixar seus votos. Um beijo e até a próxima 😘

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