〖 Ouvindo palavras reconfortantes



Anteriormente em "Ouvindo o Oceano": Era para ser somente um dia de folga em que Doutor Parker passava ao lado do cuidador Jeon nas montanhas de Auckland, mas uma ameaça grave tornou tudo tenso de repente.

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— ... Ele fugiu. Saiu correndo rápido, não consegui fazer muita coisa.

Expliquei, sentado em um banco próximo ao departamento de segurança do topo daquela montanha, lugar o qual normalmente procuram quando alguém se machuca no esqui. Mas hoje não, eu estava ali porque tinha acabado de ser ameaçado durante meu passeio com Jungkook, e o cuidador estava um tanto alterado no momento enquanto tirava satisfações com o segurança local.

— Como as pessoas vão se sentir seguras vindo daqui, se podem ser ameaçadas com uma arma branca e o sujeito sair ileso? Deveriam fazer revistas por aqui. — Jungkook questionava, com um tom nervoso e revoltado.

Eu teria focado por mais tempo em observá-lo pela primeira vez alterado em minha frente, mas o acontecimento recente não me deixava analisar algo desse tipo agora.

— Entendo, Jeon. Vou sugerir para o departamento que as revistas antes de subirem na montanha sejam mais criteriosas. Mas você sabe que a gente infelizmente não consegue controlar tudo, o tempo todo. — o profissional de segurança, que o cuidador chamava pelo nome de Davis anteriormente, parecia ser um conhecido dele. Provavelmente por causa dos tempos que fazia muitos bicos turísticos por aqui. — Vamos checar pelas câmeras de segurança também, vai que flagramos algo relevante.

— Só vamos conseguir atenção ao denunciar pra polícia local se tivermos alguma coisa, Davis. Não dá pra acelerar isso não, cara? Apontaram a droga de uma faca pra ele bem aqui, onde vocês deveriam estar vigiando e zelando.

— Jungkook... — um pouco mais recuperado do choque momentâneo, decidi me levantar e tocar em seu ombro intervindo. No fim, aquele homem era somente um trabalhador que estava dando total suporte para a gente desde que subimos para procurar um responsável local. — Tá tudo bem, tenho certeza que seu colega vai dar o melhor dele. Não é, senhor?

— Certamente. Sinto muito pelo o que aconteceu, doutor. Vamos ver o que podemos fazer. — lançou um sorrisinho singelo mas não feliz, estava mais para reconfortante perante o que aconteceu. — Com licença, vou falar com o central de câmeras. Mas eu tenho o número do Sr. Jeon, qualquer posição, estarei dando retorno. Voltem para casa em segurança.

— Obrigado. — respondi, vendo-o se distanciar.

Suspirei, ainda sem saber o que pensar mesmo após o estado de choque passar. Antes de procurarmos o departamento de segurança do local, a primeira coisa que fiz foi ligar para Elena e contar tudo.

Ela era responsável por mim como profissional em Auckland, afinal de contas. A mulher ficou inconformada e preocupada, quase pegou o caminho daqui. Mas eu acabei pedindo que ela ficasse em casa, e que amanhã conversaremos melhor. Garanti que estava bem, mesmo depois desse episódio assustador.

Sinceramente, por mais que estivesse assustado e pensativo, não via motivos para ela vir até aqui essa hora. Não iríamos resolver nada às dez horas da noite, e eu estava inteiro. Depois de muita luta, Elena concordou, mas disse que amanhã conversaríamos sério sobre isso. Concordei. Nada mais justo depois de uma ameaça relacionada ao meu trabalho e pesquisa.

E agora estava aqui, somente eu e Jungkook. Sua expressão preocupada não abandonava seu rosto.

— Quer que eu te leve pra casa? — por fim, questionou.

— Quero... Acho que depois disso não tem mais como aproveitar o meu dia de folga. — cocei a nuca, dando um sorrisinho meio melancólico. Acho que tentei levar um pouco na leveza o ocorrido, mas percebi ser impossível.

Ao invés de continuar a andar, Jungkook continuou me analisando por uns instantes. Ele queria dizer algo, e não demorou muito para expor seus pensamentos:

— Doutor, sei que gosta do seu aconchego. Mas tem certeza que não quer ficar comigo hoje? Sei que o barco parece pequeno e apertado, mas te garanto que é confortável, hein? — assim como eu, ele também tentou usar a tática do tom repleto de leveza para me convencer. Sei que estava preocupado em me deixar sozinho depois do que houve.

— Obrigado pela preocupação e o convite, mas eu preciso alimentar o Crush. — me referi a tartaruguinha. — E eu preciso ver uns materiais antes de dormir. — sei que pareceu uma desculpa esfarrapada, talvez porque seja. Mas eu não queria dar trabalho. Queria, no fundo, acreditar que aquela ameaça não me abateu.

Ele riu fraco.

— Você sabe que te esperar nunca vai ser um problema pra mim, mas tudo bem. Vou respeitar seu espaço pessoal. — declarou. — Vem, vou te levar em casa.

Quando ele falou sobre me levar em casa, eu imaginei que fôssemos fazer a caminhada de dez minutos da montanha até a minha residência alugada. Mas me surpreendi quando descemos e Jungkook, inesperadamente, pediu um motorista de aplicativo. Perguntei porquê ele fez isso e mencionei que não precisava, mas não podia fazer desfeita. Entrei depois que ele falou que dez minutos é um grande desperdício em uma noite de folga.

O caminho foi silencioso, ter um motorista no carro foi a desculpa perfeita. Mas ambos sabíamos que o real motivo era a falta de palavras depois do que aconteceu comigo. Pelo olhar periférico, percebi Jungkook me encarando uma vez ou outra, mas decidi me manter na minha. Pensativo.

Eu era assim. Tinha momentos que eu só queria ficar no meu mundinho, e depois de passar por uma situação chata como essa recente, aí mesmo que me afogar em pensamentos e questões foi inevitável.

Quando chegamos e Jungkook desejou simpaticamente um boa noite e agradeceu ao motorista, logo estávamos na calçada em frente ao prédio de quatro apartamentos que eu residia.

De repente, parecia que eu conseguia ler tudo o que seu olhar relutante dizia. Mas como imaginei, ainda sim decidiu não forçar a barra comigo.

— Vai ficar bem mesmo?

— Não precisa perder o sono por causa de mim, cuidador. — sorri fraco. — Eu quero que saiba que não vou recuar. — relevei.

Aproveitei ter total de sua atenção, para continuar:

— Não sei o que tá acontecendo, muito menos no que estou prestes à me meter descobrindo mais e mais sobre essa caça das baleias locais. Mas eu vim pra Auckland para fazer isso, eu seria um fracote se desistisse do que me dediquei anos estudando. Sei que soa meio imprudente, mas eu ainda quero fazer diferença.

Quando achei que ele fosse me criticar, repreender, ou até mesmo me chamar de sem noção, o que verdadeiramente ganhei depois de uma análise sua foi um sorrisinho de canto.

— Eu sei que quer.

Ele sabe?

— Sabe mesmo?

— Se não quisesse fazer a diferença, não seria você.

Era... exatamente isso. Imprudente ou não, era exatamente isso.

A forma que ele afirmava pontos a meu respeito como se me conhecesse há anos, me intrigava. Quer dizer, eu não tenho fobia social e nada desse tipo, sou bem bocudo as vezes, na verdade. Mas eu definitivamente era uma pessoa introspectiva (o que é completamente diferente de tímida), eu com certeza limitava o quanto as pessoas podiam me conhecer. Sempre fui assim.

E se tratando de trabalho, então? Isso dobrava. Era completamente normal uma pessoa trabalhar meses comigo (até anos), e não saber algo básico sobre mim. Como por exemplo, sei lá, minha sexualidade, onde eu morava, quais bares eu gostava de frequentar, até mesmo quem são meus pais e se eu tenho um irmão.

Mas de repente, eu estava diante de uma pessoa que parecia me conhecer cada vez mais sem forçar a barra, sem fazer uma entrevista, sem me obrigar a falar. Jungkook simplesmente parecia colecionar migalhas de informações à meu respeito, e com essas migalhas, conseguia compor uma mesa cada vez mais farta.

Nem meu ex-namorado fazia questão de me conhecer tanto assim. Mas também, eu não colaborava em compartilhar. Agora me pergunto se essa última desculpa ainda cola.

Estaria Jungkook se tornando o meu novo melhor amigo? Não... Quer dizer, sim, o considero meu amigo. Mas seus flertes e o estilo da nossa relação me fazia perceber que não era exatamente isso.

Não conseguia comparar minha relação com Jungkook, com a minha relação com Charlie, por exemplo. E isso era uma zona de perigo que me deixava nervoso, com certeza.

— Não tô certo, Parker?

— Sim, você está. — sorri fraco. — Sabe, de repente me pergunto se tem alguém me vigiando dentro de Ocean Care e vai passar informações sobre a continuação ou encerramento da minha pesquisa. Seria muito estratégico, por mais que eu não goste de pensar no pior.

— Não necessariamente. — Jeon deu outro ponto de vista. — Você tem entrevistado pessoas, pôs voz ativa dentro da delegacia da cidade, declarou que vai arranjar provas. Para chegar nos ouvidos de quem quer que você encerre isso, é fácil.

— Você acha que pode ter alguém envolvido nessa ameaça, que marca presença na delegacia?

— É uma possibilidade muito grande, por mais que a gente não saiba exatamente com o que está lidando. — ao me flagrar pensativo, Jeon tocou suavemente no topo de meus ombros. — Amanhã vamos resolver tudo com Elena, tá bem? Não vamos tirar conclusões precipitadas. Você não tá sozinho nessa.

— Obrigado, Jungkook.

— Agora vou te deixar descansar. — aos poucos, ele foi se afastando mesmo que sua relutância fosse clara para mim. — Promete que qualquer coisa, me liga? Não importa se for no meio da madrugada.

Aquilo me fez rir, desacreditado que ele realmente estava propondo que eu o acordasse no meio da madrugada e lhe pedisse para vir correndo para a minha casa, por causa do modo que eu estaria supostamente me sentindo. Isso chegava a ser até desumano com alguém que acorda cedo para trabalhar, como ele.

— Sabe, você não deveria fazer tanto por alguém que conhece só a quase duas semanas, Jungkook. — aconselhei, mesmo que o meu tom fosse leve e descontraído.

De repente, tudo pareceu estranho. Ia fazer só duas semanas que cheguei em Auckland? Que loucura. Depois de confrontar a polícia, descobrir que as baleias que vim estudar estavam sendo mortas propositalmente, e até mesmo ser ameaçado...  Sinceramente, ninguém me daria só duas semanas na cidade (ou melhor, no país).

— Eu não deveria fazer tanto? — ele questionou, arqueando a sobrancelha. — Você me contou onde mora, sendo que se sente super desconfortável em falar isso pra qualquer um. Por motivos plausíveis, aliás. E eu não deveria fazer muito por você?

Sacana. Me deixou sem argumentos.

— Eu te daria uma resposta muito boa e afiada agora, mas eu ainda vou pensar nela. — apontei para ele, cerrando os olhos. Isso o fez rir.

— Pense amanhã, e descanse hoje. — aconselhou. Após isso, apenas o observei acenando para mim e dando a curva para prosseguir com sua caminhada.

Estava tão focado na sua partida, que me flagrei sem conseguir falar nada. Apenas vê-lo indo embora, como um menino curioso e insatisfeito de algum modo.

Ele iria caminhando até Ocean Care? Tá bem, não era super longe. Mas ainda sim...

Suspirando profundo, me senti um hipócrita repentinamente. Mas depois do episódio que vivi na montanha, decidi que era o momento perfeito para agir com minhas emoções.

— Jungkook. — o chamei, quando ele ainda não estava super distante de mim. Usei um volume razoavelmente alto, e aquilo foi o suficiente para que ele virar-se em minha direção novamente e prestasse atenção. — Eu falei pra você mais cedo que não vou recuar, e minha decisão sobre isso continua intacta. Mas... — a partir daqui, respirei fundo e meu tom se tornou mais sensível, apesar de confiante: — Fica comigo essa noite? Não é porque eu não vou recuar, que eu não posso me sentir afetado hoje. A verdade é que eu afetado pelo o que aconteceu, mas a partir de amanhã, o Jimin forte volta e ele vai procurar entender tudo o que está acontecendo em Auckland. Eu juro.

Me senti meio exposto, mas zero arrependido do meu pedido. Apesar de não conhecer Jungkook há anos, ele era alguém que eu me sentia seguro. E se é essa sensação que ele me transmite agora, em um momento sensível, é o suficiente.

— Você não precisa ser o Jimin forte o tempo todo. Sabia disso? — depois de uns instantes, foi a primeira coisa que ele disse. Dei os ombros, sem saber muito o que falar, Jungkook apenas sorriu de canto com a minha atitude. — Olha, você não sabe o quanto me alivia poder te trazer mais segurança essa noite. Mas tem certeza? Eu não quero invadir seu espaço pessoal, Jimin. Última coisa que eu busco é te deixar desconfortável com a minha presença.

Tenho certeza que ele não diz isso apenas pela minha cisma de não informar onde moro para as pessoas, mas também, pelo meu lado acanhado e reservado. Ele respeita isso, por mais que no ambiente de trabalho, eu não me importasse em criar caso por algo que eu ache certo.

Eu gosto quando a pessoa consegue ver essa ambiguidade em mim, pois ela não é fácil de ser notada. No geral, ou conhecem um, ou o outro.

— Tenho certeza absoluta, Jungkook. — tranquilizei, com uma expressão certa do que dizia. — Você não me deixa desconfortável. Mas e aí, vai ficar? Eu faço chá pra compensar o vinho quente que não tomamos lá. — ofereci.

Ele deu um sorrisinho, achando graça da minha proposta.

— Como se eu precisasse desse tipo de incentivo pra ficar do seu lado, doutor. Mas claro, eu jamais recusaria tomar um chá seu.

Aquela frase boba me deixou meio desconcertado, e antes que ele pudesse perceber isso, eu sorri fraco e apontei para a entrada lhe convidando. Logo estávamos subindo as escadas e eu estava destrancando a porta do meu apartamento.

Quando abri, lhe dei passagem e liguei a luz do ambiente. Aquilo possibilitou que ele adentrasse com uma boa visão do espaço.

— Queria te dizer alguma coisa como "Conheça um pedacinho de mim", mas com pouco tempo nesse apartamento, só tem cara de apartamento básico alugado mesmo. — comentei. — Tudo ainda muito branco, sem muita personalidade. Mas quem sabe, conforme a sensação de lar vá chegando a cada dia, eu não começo a pendurar uns quadros... Ou até mesmo mudar a cor dos tapetes para um vermelho. Acho que ficaria bem mais vivo e parecido comigo.

Ele continuava analisando cada cantinho daquele ambiente básico. Falei sério quando disse que nada tinha muita personalidade, mas para a minha sorte, esse imóvel veio mobiliado. Então até que tinha um sofá grande e cinza legalzinho e uma TV nem tão básica, mas também nem tão antiga (que eu sequer tinha ligado ainda, aliás).

Além de uma cozinha com o essencial, também só tinha um quarto no apartamento. Não é como se eu pudesse exigir muito para quem queria algo bom e completo próximo ao trabalho.

Mas não vi desvantagens. Fora meu companheiro de apartamento Crush, a tartaruga, eu vim para morar sozinho mesmo. Nada que eu já não esperasse. Para quê um apartamento enorme, só para mim, minha solitude e vício em trabalho? Zero necessidade.

— Aconchegante. — foi a primeira coisa que Jungkook falou após a análise. — Lena te ajudou com um bom achado. Logo vai ter cada vez mais sua cara aqui, tenho certeza.

— Pois é, assim espero. — respondi, admirando o ambiente junto à ele. — E o quarto é bem aconchegante também, veio com uma cama com um colchão muito bom e um guarda-roupa enorme. Vem! Vou te mostrar.

Ele me seguiu até o meu quarto, onde eu liguei a luz e mostrei o cômodo. Fiquei meio envergonhado porque não estava exatamente do jeito que eu gostaria...

— Desculpa a bagunça dos edredons. Eu sempre arrumo a cama quando acordo, mas hoje saí meio na pressa. — cocei a nuca. Eu me considero um cara organizado, costumava ajudar minha mãe nos dias de faxina. É uma pena que Jungkook tenha me flagrado em um dia de desleixo.

— Se você soubesse a bagunça que deixo minha cama de manhã, diria que tem pena de quem casar comigo. — ele respondeu, e acabamos rindo juntos. — Fico imaginando você aqui sozinho... Você gosta?

— Por muito tempo, eu achei que eu gostasse. Mas eu acho que eu me acostumei, na verdade. Muito tempo na adolescência isolado para estudar, acho que perdi uma boa parte da minha juventude. — tentei comentar em um tom descontraído, mas percebi que soou bem deprimente.

Achei que Jungkook diria que pesei o clima ou até mesmo que falaria em voz alta o quanto aquilo soava melancólico, mas ele simplesmente trocou olhares comigo e sorriu fraco, antes de dizer:

— Tá tudo bem, valeu a pena. Se tornou um profissional excepcional. Ainda tem muito tempo pra viver coisas incríveis, ao lado de pessoas que merecem sua companhia.

Caloroso. Achei caloroso o que ouvi.

— Ah! Vamos ao importante...

Lembrei que precisava ser um bom anfitrião.

— O lado bom de ter me mudado recentemente é que eu tenho muita coisa que provavelmente eu não teria... — comentei, fuçando meu quarta-roupa. — Começando pelo básico, claro, uma toalha nova... — fui pegando cada item que eu achava. — Uma escova de dente, ainda bem que sou ansioso e comprei bem mais de uma. Hmm... Ah, aqui também temos um edredom novinho.

— Eu ia dizer que o que não tiver, tá tudo bem, eu me virava. Mas nem preciso... Você tem tudo, doutor. — Jeon observou, tirando algumas coisas dos meus braços para me ajudar na coleta.

— Sou bem precavido. Com mudanças, então? No primeiro dia, comprei muita coisa em dobro. Eu tinha um estoque de iogurte na geladeira, mas já acabei todos.

— Alguém ama iogurte. — apontou.

— Você me pegou... — curvei meus lábios em um pequeno sorriso. — Sou viciado em iogurte de manga. Lutei pra achar aqui. Específico demais?

— Muito.

Lhe entreguei um conjunto de moletom que pensei que poderia ficar bom nele, por ser um tamanho maior do que costumo usar. Afinal, vergonhosamente, eu fico até menor ao lado dele. Jungkook era um homem grande, e olha que eu não era um cara super baixinho. Meus um e setenta e oito de altura não me incomodavam, mas fico me perguntando qual seria a altura de Jungkook. Mais de um e oitenta e cinco com certeza ele tem.

— Acho que vai ficar bom em você para dormir.

— Você é o melhor anfitrião que já conheci. — comentou.

— Eu? Não deve ter ido muito na casa dos outros. — eu ri com seu elogio.

— Já tive que dormir muito de favor quando mais novo. — apesar da história triste que chamou minha atenção, ele contava com bom humor. — Nem todo mundo é muito receptivo, principalmente quando sabem que você tá em uma situação em que precisa deles.

— Sinto muito por isso. — apesar da curiosidade, não lhe enchi de perguntas.

— Tá tranquilo, são só momentos interessantes para se lembrar hoje em dia. — piscou para mim, sorrindo fraco. — Bom, posso tomar um banho?

— Claro, o banheiro é logo ali. — saímos do meu quarto e lhe direcionei devidamente.

Depois disso, utilizei o tempo que Jungkook tomava banho e se arrumava para alimentar Crush e fazer o chá que tanto prometi. Depois de um pouco mais de dez minutos, eu até escutei a porta do banheiro abrir, mas estava tão concentrado no fogão e em levar as bebidas prontas, que apenas continuei o que estava fazendo.

Precisei de apenas mais cinco minutinhos para aparecer na sala com os chás em uma bandeja, mas a cena que me deparei quase me fez cair para trás se eu não tivesse muito equilíbrio e autocontrole.

O cuidador virou-se para mim, e ele vestia somente a calça do conjunto de moletom que lhe entreguei. Em sua mão, tinha a camisa, mas seu abdômen estava completamente à amostra.

Eu particularmente achei muita sacanagem dos céus que ele tenha um abdômen tão bonito e em forma como aquele, mas caramba! Faz total sentido. O homem está constantemente nadando e se exercitando na correria do trabalho, só não imaginei que sua rotina lhe deixasse tão bem nesse nível. Com esse peitoral que parece mais duro impossível, e com alguns pêlos singelos em seu tórax.

Veja bem... Sei que o modo que estou impactado dá a entender que sou aqueles babões por tanquinhos. Mas acredite se quiser, isso normalmente não faz a menor diferença para mim. Principalmente porque abdômen me remete à meninos novos (coisa minha), e eu gosto de pessoas mais maduras.

Me relacionei com homens que tinham barrigas não definidas, e acredite, eu acho sexy. Mas eu não sei... Isso só pode ser uma ironia do destino para me fazer passar por hipócrita por todas as vezes que olhei para um cara metido de tanquinho, e sussurrei para o meu melhor amigo algo como: "Ele se acha, né?".

Eu esperava que Jungkook tivesse pelo menos uma barriguinha sexy, mesmo que eu sempre percebesse que seus braços eram grandes e definidos. Mas na verdade, ele tem um tanque inteiro de lavar roupas sexy! E maldição, estar em forma combinava perfeitamente com ele.

Quer saber? Eu não vou negar que ele é um homem bonito, e talvez muita coisa fique bem nele.

— Eu ia ver com você se tinha outra camisa... Essa aqui ficou um pouco apertada. — ele enfim me explicou a razão pela sua falta de vestimenta, e mostrou o tecido em sua mão. — Mas a calça ficou ótima.

— A-Ah... Claro.

Antes de qualquer coisa, deixei a bandeja com as xícaras de chá em cima da mesinha de centro da sala antes que eu derrubasse.

Depois de dar uma passadinha no quarto, logo retornei com sua nova peça.

— Essa com certeza vai dar. Era do meu irmão e eu roubei dele por ter um tecido gostoso, ele é tão grande quanto você.

Ele agradeceu, em seguida pegando o tecido de minhas mãos. Enquanto passava a peça por sua cabeça, não resisti em comentar algo depois de lhe fitar por uns instantes:

— Então você tem uma tatuagem...

Agora vestido e perfeitamente ajustado na camisa como imaginei, ele me olhou e sorriu de canto. Levantou bastante a camisa, me proporcionando novamente a visão da arte que preenchia somente a metade de seu peito esquerdo.

— É a única que eu tenho. — explicou, enquanto fitávamos sua arte bem única, na minha opinião. Era mais de um elemento envolvendo um farol grande, uns traços que remetiam a uma bússola e enfim uma âncora.

Eu sorri com aquilo, afinal, remetia ao mar.

— É muito bonita. — elogiei. — Tem significado ou você só achou bonito mesmo?

— De tantos empregos que tive pra me sustentar, trabalhar com o mar foi o que mais me proporcionou segurança e conforto. — ele explicou. — Acho que quis remeter com essa tatuagem que sempre que eu tiver perdido, o mar vai fazer eu me encontrar de novo. Como um farol, como uma bússola. Até mesmo vai ser minha âncora.

— Jungkook, isso é muito lindo.

Aquilo era uma experiência nova para mim. Conversar com um outro homem que, além de bonito, vê o mar com essa visão tão pura e respeitosa. Apesar de não estarmos exatamente na mesma função, e que eu leve a causa como algo a mais (um grande objetivo de vida), ainda sim estava sendo um ponto de encontro de alguma maneira.

Parecíamos ter tido vidas diferentes, mas ainda sim, existia algo que nos ligava.

— Eu gosto do meu emprego, por mais que tenha gente que ache que é só limpar alas de bichos marinhos. — ele continuou, rindo fraco e pouco parecendo se importar com a visão alheia. A essa altura também já tinha sumido com a figura, por ter abaixado a camisa novamente. — É muito mais que isso, gosto de estar na linha de frente e fico feliz de ser útil para isso, já que não tive muita oportunidade de fazer uma faculdade. Sinto que o trabalho braçal e dedicação diária me tornam importante para o processo.

Lhe lancei um sorrisinho de canto. Se ele soubesse o quanto pessoas como ele são essenciais e tornam pesquisas como as minhas bem sucedidas, ele veria que é tão incrível quanto alguém que fez um doutorado.

— Sabe, pessoas que fazem trabalhos braçais e estão na execução dos serviços, são bem atraentes. As pessoas gostam de virilidade. — decidi aumentar seu ego falando tal coisa, e me senti até tímido quando imediatamente tive seus olhos focados nos meus.

Não é o tipo de coisa que eu falaria para um parceiro de trabalho (nunca fiz, inclusive), mas Jungkook me deixou muito à vontade para tal coisa. Espero que ele se sinta bem com o elogio.

Minha confirmação vem quando um sorrisinho indecifrável toma conta de seu rosto.

— Me acha viril, doutor?

Oh, Deus. Por que eu dei oportunidade dele desenvolver isso?

— Sim, cuidador. A resposta te agrada? Porque parece que sim. — cruzei os braços, prendendo um sorrisinho que queria brotar.

— Só gosto de sabe que alguém tão interessante como você me acha atraente. Ou melhor, como você mesmo disse: pessoas gostam de virilidade. — citou.

— Eu falei pessoas, não? Quem garante para você que eu estou nessa categoria? Eu posso muito bem gostar de pessoas mais delicadas. — dei os ombros, abrindo as possibilidades. Sei que ele sabe que gosto de homens, mas ainda sim, existem muitos homens que exalam feminilidade.

Quando eu era adolescente, admito que eu era bem mais feminino. Hoje, apesar de não me considerar o homem mais viril do mundo, consegui me tornar o que queria para as pessoas: uma incógnita. O fato de já ter sido paquerado por homens e mulheres me confirmou isso. Dificilmente adivinham minha sexualidade de cara.

Você não gosta de pessoas delicadas. — repentinamente sua frase soou firme, apesar de ainda existir um tom descontraído. Arqueei a sobrancelha em sua direção. — E isso não é uma pergunta.

Sua segurança me chocou. Em geral, eu ficaria incomodado com alguém querendo me ler tanto, mas não é o caso de Jungkook. Isso porque ele só entra dentro dos limites que eu proporciono para ele, e admito gostar muito disso em nossa relação de pouco tempo.

Então se ele ousou dessa maneira, foi porque eu dei abertura. Reconheço isso, e acabo rindo.

— Se está tão seguro, não vou discordar. Vamos deixar desse jeito. — dei os ombros, finalizando o tópico.

— Mas e você?

— O que tem eu?

— Tem alguma tatuagem? — questionou, curioso.

— Ah, tenho sim. — as vezes eu esquecia que tinha. — Mas nada que vá te impressionar, só tenho uma pequena e, acredite, ela é extremamente previsível para quem me conhece um pouco. Você até reviraria os olhos.

— E eu consigo ver essa tal tatuagem previsível?

A tatuagem não era em um lugar proibido do corpo, mas ao mesmo tempo, também não era no lugar mais acessível do mundo. Pensei por uns instantes e decidi que queria lhe mostrar.

— Certo, vou mostrar pra você. — levantei a barra da minha blusa e abaixei só um pouquinho a minha calça para lhe mostrar a tatuagem pequena de baleia, presente no meu quadril direito. Ele fitou, com curiosidade. — Antes que me pergunte o porquê no quadril, é porque foi a primeira coisa que fiz quando completei vinte e um anos. Minha mãe odiava tatuagens, então decidi fazer em um lugar em que eu pudesse esconder dela e ver sozinho.

Ele sorriu de canto, ainda encarando o desenho pequeno.

— Posso ver mais de perto? Se você tiver confortável, claro.

— De perto? Ah, claro. Pode ver.

Me senti meio nervoso quando ele deu um passo à frente e levou sua mão grande até o meu quadril, agarrando a área e passando o dedão por cima da tatuagem e analisando.

Seu toque quente só não foi mais intrigante do que o jeito que ele me deu um pequeno teste-drive de como seria um puxão seu em minha cintura. Jungkook tinha que parar de jogar sujo de uma maneira cínica, principalmente quando nos conhecíamos há menos de um mês e nos víamos todos os dias para fins de trabalho. Ele queria se tornar minha distração? Pois saiba que está brincando com um cara que, no último término, teve que ouvir:

Você é obcecado por essas coisas, não tem ninguém que consiga competir com essa sua obsessão de fazer a diferença na tua área. Nem tudo é você quem precisa fazer, Jimin!

Talvez ele estivesse certo. Eu errei? E se sim, até que ponto? Sou mesmo difícil de compreender? Difícil de alguém ter uma relação que funcione?

Qualquer tipo de relação me atrapalharia, da mesma maneira que a minha antiga me atrapalhava com suas chuvas de crises e reclamações à meu respeito?

Só funciono sozinho?

Foram as perguntas que me fiz por muito tempo depois do término, e por isso, escolhi ficar longos anos sozinho.

— Tratou sua tatuagem como desinteressante só porque ela é exatamente como a sua essência? — Jungkook questionou, ainda acariciando e observando o desenho. — Não podia ser outra. Tudo o que mostre um pouquinho de você, é perfeito.

Me senti um pouco atordoado com o seu toque que ainda permanecia em minha cintura. Ao mesmo tempo que era carinhoso, sua presença marcante dominava. Meu Deus... Isso é perigoso demais, demais mesmo!

Ele tinha essa noção?

Antes que eu ficasse constrangido ou qualquer coisa assim, ele passou o dedo pela tatuagem uma última vez e teve a atitude de levantar novamente a barra da minha calça, me cobrindo devidamente. Assim então, se afastou um pouco mais.

— Bom, vamos tomar o chá? — Jungkook relembrou, e após um sorrisinho de canto, sentou-se na ponta do sofá e iniciou os trabalhos experimentando o conteúdo dentro da xícara.

Eu ainda precisei de uns instantes parado ali, tentando digerir a aproximação que acabei de ter com meu colega de trabalho. Não que seja novidade a forma que Jungkook tenta me deixar desconcertado flertando comigo desde os nossos primeiros contatos, mas dependendo das suas investidas extremamente boas, pode começar a ficar difícil para o meu lado.

Ele realmente não parece querer facilitar para mim.

— Você sabe o que faz. — ele elogiou a bebida assim que me juntei a ele, tomando junto.

Desfrutamos o que parecia ser uns quinze minutos ali, até que eu decidi tomar meu banho e me preparar para uma noite de sono. Depois de ter vestido um moletom branco, e meias bem quentinhas por conta desse frio, retornei para a sala e o assisti de longe dobrando o edredom no sofá e colocando um dos travesseiros da sala nas extremidades, formando uma cama ali.

— Jungkook... — ganhei sua atenção. — Eu não disse pra você dormir na sala... — mas no fundo, também me senti nervoso porque não o chamei para dormir na minha cama ou algo assim.

Digo, somos dois homens, apesar da minha sexualidade. Deveria ser normal, como dois amigos, mas definitivamente não é. Até dormir com Charlie, que é uma mulher, me parecia muito mais repleto de "botheragem" do que com Jungkook.

Não era como se eu me sentisse desconfortável perto dele, longe disso, mas droga... Ele continuava sendo um homem atraente para dormir tão próximo assim de mim.

Antes mesmo que eu pudesse desenvolver mais minha fala, e talvez até percebendo um pouco minha falta de jeito, ele sorriu torto e se adiantou:

— Mas eu vou dormir aqui. Sabe, eu testei e esse sofá é mais confortável do que você imagina. — contou com empolgação. — Já fiz até minha cama.

Espontaneamente, dei um sorrisinho.

— Eu sei, o sofá é realmente confortável... Mas nós poderíamos nos organizar no meu quart-

— Jimin, tá tudo bem. — me cortou, com uma voz tranquila e confiante. — Ficar na sala é como se você tivesse me dando um quarto só pra mim. As vezes eu acordo no meio da madrugada, é até melhor. — logo estava parado em minha frente, tocando em meu ombro. — Vamos deixar assim, uh?

Sua expressão era tão serena, que mesmo querendo lhe oferecer o melhor mais uma vez, seu olhar me convenceu de que aquele assunto estava encerrado e resolvido. Assenti algumas vezes.

Como esse homem conseguia ser tão ousado em agarrar minha cintura só para ver uma mísera tatuagem, e momentos depois, extremamente respeitoso?

— Vai ficar bem mesmo aqui?

— Perfeitamente.

Com sua confirmação, eu me despedi e me recolhi para o meu quarto. Meu sono não veio de cara, não vou mentir que gastei um bom tempo pensando sobre a situação de mais cedo. Eu não estava mais amedrontado, e sim pensando sobre a gravidade que provavelmente é esse tal esquema com as baleias.

No início, achei que no máximo eu fosse conseguir descobrir uns nomes e entregar para a polícia uns possíveis sacanas que andam matando criaturas marinhas. Mas de repente, não me parecia ser somente isso.

Não me parecia mais tão simples assim, e impressionantemente, eu não queria recuar. Mas talvez precisasse de novas estratégias, de uma nova visão para essa situação. Mesmo que eu descubra uns nomes aqui e acolá, sinto que certas pessoas são apenas a ponta de um iceberg enorme.

O que eu, não sendo da polícia, poderia fazer? Estou por conta própria, e quanto maior o esquema é, mais provas aquele delegado vai querer de mim.

Respirei fundo na cama, percebendo que estava prestes a entrar em um grande desafio. Mas eu vim pra isso, não? Embarquei nessa sozinho. Não posso ser um frouxo agora.

Quando percebi, tinha rolado pela cama de todas as maneiras e o sono não vinha. O relógio na parede mostrava ser duas e pouco da manhã e isso me fez suspirar de insatisfação. Não conseguia dormir, e isso me motivou até a colocar meus óculos novamente no rosto.

Pensei muito sobre não levantar para não acordar Jungkook na sala, mas eu realmente precisava de um copo d'água. Espero que ele não tenha sono leve.

Fiquei feliz por essa porta do meu quarto não ser do tipo barulhenta, assim me possibilitaria cumprir minha missão em silêncio. No entanto, me surpreendi ao adentrar a sala e perceber Jungkook próximo à janela, apoiado em uma cadeira de forma descontraída, observando o lado de fora.

Não é como se ele estivesse totalmente focado, de vez em quando trocava o olhar para o seu celular em mãos. Mas ao assisti-lo de longe, tive certeza que seus olhares para o lado de fora eram repletos de análises e reflexão.

Aquilo me intrigou.

Para não assustá-lo, voltei um pouco para dentro do quarto e tornei a minha saída um pouquinho mais barulhenta ao pegar firme a maçaneta da porta. E assim, ele finalmente virou-se, focando na minha presença. Pareceu curioso.

— Sem sono também? — perguntei, abraçando meu próprio corpo enquanto me aproximava dele. A sala estaria completamente escura, se não fosse a janela permitindo que os postes do lado de fora trouxessem uma clareza equilibrada para o ambiente.

— Um pouco. — respondeu, observando-me sentar na cadeira próximo à ele. Enquanto isso, Jeon encostou-se no batente da janela, trazendo sua atenção toda para mim. — Por que não consegue dormir? Está assustado?

— Não é isso, não se preocupa. — não deixei de sorrir fraco por seu tom de voz preocupado. — Acho que minha cabeça só está barulhenta mesmo, aí é difícil dormir. — dei os ombros, aproveitando clima frio para abraçar minhas pernas em cima da cadeira. — E você? Por que está sem sono?

— É normal eu ficar sem sono as vezes. — comentou. — Já trabalhei em muitos horários diferentes, até mesmo de madrugada... Meu sono acabou ficando meio louco conforme o tempo.

— Entendi. — depois que eu assenti algumas vezes, um silêncio pairou entre a gente.

Quando achei que aquilo fosse se tornar algo constrangedor, ele puxou assunto:

— Quer conversar sobre o que tá gritando na sua mente?

Curvei os lábios, pensando um pouco a respeito.

— Acho que não, mas talvez você possa me distrair falando sobre outras coisas. — sugeri, dando os ombros. — Fale qualquer coisa.

— Qualquer coisa? — arqueou a sobrancelha, e eu assenti algumas vezes.

Jungkook cerrou os olhos em minha direção, me analisando por um momento.

— Tá me intrigando. — avisei.

— Por estar pensando bem nas minhas palavras?

— Se precisa pensar tanto, pode não ser algo bom.

— Não se preocupa... Eu sempre tenho pensamentos bons à seu respeito, doutor. — ele garantiu, com as mãos nos bolsos do moletom.

— Tipo?

Achei que ele fosse me deixar curioso, sem nenhuma resposta. Mas de repente...

— É que você fica muito lindo com a luz do luar no seu rosto.

O jeito que lhe fitei por uns instantes deixou muito claro a minha falta de palavras, principalmente meu riso preso nos lábios. Com quantas pessoas ele falava desse jeito, afinal de contas?

— Você tem lábia. — afirmei.

— Tenho?

— Ô, se tem.

— Certo... E isso é bom ou ruim?

— Na verdade... — pensei bem. — É perigoso.

— Eu te garanto que eu não apresento perigo nenhum, doutor. Eu ainda vou te mostrar cada vez mais isso. Posso? — ele pediu permissão antes de se acomodar na cadeira ao meu lado, mais próximo de mim. Eu apenas assenti.

— Jungkook...

— Hm?

— Obrigado.

— Pelo o que exatamente? — arqueou a sobrancelha, em dúvida.

— Por ter ficado essa noite, por mesmo em pouco tempo ser um amigo tão legal. Eu normalmente não aceito gentilezas tão rápidas vindo de alguém, sou do tipo que cultiva mais pessoas de longa data.

— Ah... Então deve ser sobre isso o tal perigoso. — o moreno pontuou. Não era exatamente só sobre isso, mas fazia parte, então não neguei. — Olha, Jimin... Não vou ser falso e negar que adoro te deixar desconcertado com meus elogios repentinos. — curvei os lábios em um sorrisinho disfarçado. — Mas não, não é por isso que faço o que está ao meu alcance pra te ajudar sempre. Em partes, é porque sempre fui assim... Em outras, é porque me sinto fazendo algo relevante para o mundo quando ajudo alguém tão inspirador como você.

— Você sempre fala isso de inspirador, como se eu já tivesse conseguido grandes feitos nesse pouco tempo que cheguei aqui. — respirei fundo, meio magoado comigo mesmo. — Eu só fiz o básico. E tenho tentado, o que parece ser algo tão complexo, fazer a diferença. Me perdoo por ser muito pouco tempo, mas em contrapartida, me sinto desafiado.

— Você sabe quanto tempo Charlie estava tentando resolver o problema dos animais marinhos maltratados diariamente no aquário de Wellington? — Jungkook me questionou, repentinamente. — Já fazia muito tempo. E não porque ela é incompetente, mas porque era muito difícil estar na posição dela e ter que brigar sozinha. Contra tudo e todos.

Ele continuou:

— Agora ela tem você, que não tem medo de brigar pelo o que acha certo e acelerou as coisas. Será mesmo que você não tem conseguido grandes feitos?

Não tive nem respostas perante ao tanto que ele me deixou pensativo. Não somente isso, mas esperançoso também.

— Não hesite em me chamar quando precisar de mim. — suavemente tocou em uma de minhas mãos, atando nossas palmas. — Que que eu chegarei em um instante. Você ainda vai conquistar muito mais coisas.

Um sorrisinho repleto de expectativa e força brotou em meu rosto. Se eu me cercar de pessoas como ele, ou até mesmo como Charlie, tenho certeza que sim, posso mudar muitas coisas.

[N/A]:

Perdão pela demora, mas eu estou escrevendo os últimos capítulos de outra obra e intercalando com o trabalho, acabo ficando atolada de coisa. Mas a notícia boa é que já tô escrevendo o próximo desse aqui.

Estão gostando? A partir do próximo já vou tentar acelerar mais o nosso tempo, acho que já está na hora do nosso doutor completar pelo menos 1 mês em sua nova jornada. 💙

Acho que esse foi o capítulo que o doutor ficou mais próximo ainda do cuidador...

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