〖 Ouvindo Ocean Care



#RisadinhaDoOceano 🦭

A primeira noite no meu apartamento foi tremendamente fria, entretanto aconchegante. Tive um trabalhão para organizar tudo das minhas malas em seu devido lugar, e agradeci ao meu próprio sendo preventivo por ter pego um apartamento pequeno e mobiliado. Teria sido terrível ter uma primeira noite sem cama, guarda-roupa, fogão, geladeira e etc...

E falando em geladeira, descobri que existe um mercadinho perto do meu aconchego. O que foi maravilhoso, pois fiz um supermercado básico apenas para não ter uma geladeira completamente vazia na minha primeira noite.

Dormi profundamente. Afinal, noite passada eu fiz tudo no meio daquele mar escuro e silencioso, menos dormir. Então todo o sono pendente, descontei nessa noite no meio de dois cobertores grossos em cima de mim. Acordei sete horas de manhã, e quase tive a sensação de madrugada de tão escuro que estava... E como imaginei assim que criei coragem de me levantar e olhar em minha janela da sala/cozinha: estava nevando.

Maravilha. Um dia com neve, será que estou preparado pra isso? Saberemos logo.

Com um casaco grosso azul por cima de minha blusa e um donut na mão, me senti preparado para iniciar meu dia. E como morava tão perto de onde iria para trabalhar, decidi andar devagar pelas ruas para conhecer um pouco de Auckland.

Os comércios já estavam abrindo, marcando presença naquele dia frio. Essa cidade até que tem uma estética bonita, essa é a vantagem de cidades menores e bem estruturadas, a organização era bem melhor que em muitas metrópoles. E bom, sem muita perda de tempo, finalmente adentrei os grandes portões de Ocean Care.

Tudo deveria estar tranquilo, mas não por muito tempo...

— Olha a foca passando!

— Jesus! — tive que ser super estratégico e rápido para não ser atropelado por uma foca adulta que estava correndo livremente por ali. E em seguida, um homem moreno e de cabelos longos trajado em sua roupa de frio.

— Te peguei, garota. Não faça mais isso. Pode voltar pro alojamento! Vai, vai. — o homem apontou, e apesar de seu jeito bobo, para a foca deve ter soado como uma grande ordem. Porque ela logo se comportou como se tivesse sido pega no flagra e retornou seus passos em direção onde deveria ser seu cantinho. — Oi, e aí! Foi mal por isso. Focas! — riu, negando com a cabeça. — Sabe como elas são, né?

Acabei rindo, assentindo algumas vezes.

— O diálogo poderia ser mais normal se eu dissesse que não, não fazia ideia. Mas fazer o quê? Sei sim exatamente como elas são. — fui descontraído por igual, fazendo rir e colar sua mão na minha, como um cumprimento bacana.

— Espera, espera... Você por acaso não é o novo biólogo não, né? — ele apontou pra mim, surpreso.

Abri os braços, e entreguei:

— Na verdade, é exatamente isso que sou.

— Que massa! Espera aí, só um minuto. — o cara de cabelos longos se distanciou momentaneamente, e assim que ele fechou a porta do alojamento que a foca tinha entrado, foi se aproximando de novo. — Só pra garantir. Prazer, sou o Stewart. Stewart Johnson.

— E eu sou Jimin. Você é...? — ele demorou para raciocinar que eu estava me referindo à sua função no ambiente, e quando percebeu, logo explicou:

— Ah! Sou cuidador. Cuidador dessas pestinhas. — sorriu, pondo as mãos na cintura. — Alguém tem que ficar com o trabalho sujo, né? Literalmente. Você já viu morsas defecando? De verdade, não queria ver. — ele colocou a língua pra fora e chacoalhou a cabeça, aparentemente afastando essas imagens.

Até eu fiz isso, mas no final me entreguei a uma risada.

— Imagino. Então você é parceiro de mão na massa do Jungkook. — deduzi.

— Já conheceu o Jeon? Que daora, somos parceiraços! Ele que me guiou quando ganhei meu emprego aqui, ensinou tudo o que eu sei, é como se fosse um supervisor dos cuidadores por conhecer aqui tão bem. Além de me colocar em cada uma, viu? — negou algumas vezes, mas sua reação demostrava muito divertimento ao falar do parceiro de trabalho. — É seu primeiro dia por aqui?

— Na verdade, foi ontem. Mas passei muito tempo dentro do laboratório com Charlie. — me expliquei, de forma simpática. — Quando tive um tempinho pra sair, só conversei com Jungkook. É um prazer conhecer mais um profissional do local, espero poder contribuir bastante.

— Que isso! Eu que espero poder contribuir com seus estudos. — se mostrou super acessível aos meus objetivos profissionais aqui. — Eu sempre adoro quando Charlie precisa de relatórios meus sobre os animais. Me sinto importante, porque quero ser da área de vocês.

— Jura? — me mostrei impressionado.

— Sim! É meu sonho. — seus olhos quase brilharam ao falar sobre isso. — Apesar de ter meus vinte e sete anos, não gosto de pensar que já perdi tempo, sabe?

— Nem pense nisso. — rebati firmemente, o impedindo de pensar assim. Não tinha sentido. — Você ainda está muito novo! Só continue estudando que vai dar tudo certo.

Ele sorriu, satisfeito com a minha resposta.

— Poxa, valeu mesmo! Olha, mas de verdade, se precisar de mim pra qualquer coisa nos seus estudos, pode me chamar! — dava pra ver o quanto ele queria ser útil na área de estudos. — Fiquei sabendo que é sobre baleias. Pode ir à qualquer momento no alojamento das que estão em tratamento conosco, que pode te ajudar bastante.

Lhe lançando um sorriso agradecido de canto, apenas assenti algumas vezes.

— Obrigado, Stewart. Obrigado mesmo.

— Pelo visto conheceu outros cuidadores... — no meio daquele diálogo entre nós, uma terceira vez um tanto conhecida soou no ambiente e logo lanço meu olhar para trás de mim. Lá estava Jungkook, com as mãos nos bolsos do casaco escuro, nos fitando brincalhão. — Espero ainda ser o escolhido para o seu tour mais tarde.

Precisei rir, negando algumas vezes.

— Se eu não te conhecesse tão bem, diria que está dando um de galanteador! Sorte que seu charme é natural, seu atrevido! — Stewart falou apontando para o outro, logo se aproximando e o puxando para um abraço desajeitado. Sendo retribuído com risadas e puxões na medida do possível.

— Bom dia pra você também! — o moreno acabou por bagunçar o cabelo escuro e longo do amigo, o fazendo lhe empurrar como retribuição. Nem conhecia Stewart por tanto tempo, mas tenho certeza que ele odeia que fiquem bagunçando o seu cabelo longo. E compreensível, vai? Eu jamais conseguiria ter um cabelo desse tamanho. Se curto dessa forma, esqueço de pentear as vezes virando noites de estudo. Imagine desse comprimento. — E bom dia, Jimin. Pronto pra mais um dia por aqui?

— Perfeitamente. — sorri, confiante. — Hoje meu dia vai ser focado cem por cento para análise das baleias. Não quero mais nenhum segundo de enrolação. — esclareci, fazendo os dois parceiros de trabalho em minha frente assentirem, com expressões impressionadas. Sinto que preciso ter um contato direto com elas pra poder entender como as coisas funcionam por aqui.

— Se precisar de ajuda, é só chamar. — Jungkook alertou, acessível.

— É, qualquer coisa, nos aciona mesmo. Ninguém conhece mais as manias dessas criaturinhas do que a gente... — Stewart esclareceu, abrindo os braços.

Por mais que eu ainda não tenha conhecido todos os meus colegas de trabalho, já me considerava tremendamente sortudo pelas poucas pessoas que tive oportunidade de conhecer serem tão acessíveis. Principalmente Charlie, minha parceira de trabalho. Tive medo de ser alguém insuportável no lugar dela, e convenhamos, trabalhar com alguém que o santo não bate é um duro desafio à se enfrentar.

— Obrigado. Qualquer coisa chamo vocês. — me demostrei de fato super grato pela gentileza. — Marquei com a Charlie de analisarmos juntos, ela logo deve estar me procurando. Espero que vocês tenham um ótimo dia de trabalho.

As vezes até eu mesmo ficava surpreso com o meu nível de profissionalismo. E fazer o quê? Tive a sorte de ser ensinado pelos melhores professores de bióloga da Califórnia. Se tem algo que tenho orgulho, é isso. Diploma é só um diploma, mas ter a oportunidade e realmente aprender para exercer da melhor maneira, não tem preço.

[🌊]

É até engraçado pensar que as famosas Orcas Assassinas são animais extremamente sociáveis e dóceis com seres humanos. E juro, não estou mentindo pra você.

Eu estava no alojamento delas que foi perfeitamente feito para pegar um bom lado do mar, e com espaço suficiente para não deixá-las agoniadas. Estavam em tratamento.

Eu via duas através de uma grande parede de vidro, e por isso, sentar ali em duas cadeiras confortáveis junto com Charlie enquanto as encarava, estava sendo uma experiência incrível. Tinha duas, porque recentemente uma foi solta novamente, estava ótima para continuar sua vida marinha.

Charlie tinha os pés cobertos por meias rosas descansando em cima da pequena mesa que deveria estar nossos cadernos, enquanto eu, estava abraçando minha próprias pernas no meu assento confortável. As Orcas nos fitavam, nos fascinando.

— Se metade das pessoas soubessem o quanto estressam essas criaturas por prisão pelo entretenimento, não as chamariam de Assassinas quando elas cometem um delírio de raiva. — repentinamente, a loira ao meu lado comentou, reflexiva durante nossa análise.

Tive que concordar, sem tirar minha atenção delas.

Meu estudo era focado em todo tipo de baleia e os problemas que sua população enfrenta para minha área poder ajudá-las de alguma forma. E mesmo que a fascinante baleia-azul fosse a que mais deixasse muitas incógnitas em minha mente por ser a maior dos mares, eu não poderia ignorar ter duas amiguinhas preta-e-branca aqui disponíveis.

Apesar de orcas não serem baleias, e sim golfinhos cientificamente falando, não é errado você chamá-las de baleias. É bem comum, na verdade. Afinal, pertencem a mesma ordem (Cetácea). No entanto oficialmente, elas são golfinhos, com direito a ter até mesmo dentes diferente das baleias.

E aparentemente, no momento na Ocean Care, não existiria nenhuma grande baleia-azul em tratamento para eu poder acompanhar de perto. Isso me pegou ainda mais, pois eu precisaria ir além desses portões daqui para entender mais sobre elas, principalmente levando em consideração o encalhamento constante na praia. E eu iria, até onde fosse necessário.

— O nosso problema como ser humano é sermos os animais racionais mais egoístas desse mundo todo. — acabei por responder para a minha parceria. — Um ser humano enjaulado para entretenimento de outra espécie, na primeira oportunidade, faria pior que muitos casos que vemos nos jornais de atitudes severas dessas criaturas.

— Realmente... Seaworld, meu sonho é que vocês não ganhem mais uma mísera moeda através do circo que fazem. — a loira praticamente grunhiu ao meu lado, com os olhos cerrados. Em seguida comeu raivosamente seus doces em mãos.

Na natureza, as orcas têm uma expectativa de vida média de trinta a cinquenta anos, sendo que a expectativa de vida máxima estimada é em torno de sessenta a setenta anos para os machos, e de oitenta a mais de cem anos para as fêmeas.

A idade média das orcas que morreram no SeaWorld é de quatorze anos. Só... quatorze anos. Preciso falar mais alguma coisa?

— Tudo pelo show business. — comentei, deixando sair de mim um suspiro prolongado. — Charlie, como essas Orcas param aqui para tratamento na maioria das vezes?

— Você vai gostar de saber... — ela virou para mim, e com uma expressão confiante me respondeu: — Foram transferidas de parques aquáticos. Essas duas e a que foi libertada recentemente, eu ganhei em uma causa ambiental marinha.

Não pude esconder minha expressão impressionada em sua direção, e ao perceber isso, ela assentiu algumas vezes como quem dissesse: "incrível, não?"

— Pois é... — fechou a pequena sacolinha com seus doces, enquanto refletia junto à mim. — Foi uma grande vitória, como todos os outros animais que eu consigo trazer pra cá. Apesar de muito trabalho duro, esse trabalho me fez entender pra que sirvo no mundo. Consegue me entender?

Eu conseguia. Perfeitamente.

— Muito. Sabe, eu também trabalhava exclusivamente com isso. O que me impressionou não foi necessariamente o ato de você vencer a causa, e sim você ter feito isso no tempo em que esteve aqui, completamente sozinha. — pontuei, fazendo questão de demostrar minha admiração. — Passei a metade da minha vida profissional trabalhando com outros profissionais para ganhar causas dessas, e a outra metade estudando igual um louco para conseguir um doutorado e finalmente estar onde estou... agora. Nesse exato momento.

Ela me fitou, se envolvendo nitidamente em tudo o que eu estava contando.

— Pode contar comigo pra tudo à partir de hoje. — enfim, complementei. — Apesar de minha pesquisa ser o meu grande foco, estou aqui também pra ser o melhor parceiro pra você, e um grande biólogo para os animais que são acolhidos por esse lugar. Quero estar por dentro de qualquer processo que você esteja trabalhando em cima.

Percebi que prendi a atenção da loira. Prendi o suficiente para ela sorrir sutilmente, e iniciar:

— Tem um grupo de golfinhos. E tem outros animais também, mas falo especialmente dos golfinhos pela situação que eu soube que estão.

Tombei a cabeça vagamente para o lado, curioso sobre.

— Continue.

— Não estão muito longe daqui. Estão em um aquário na capital, Wellington. — ela explicou melhor, olhando rapidamente para as orcas nadando através do vidro, assim então virando para o meu lado, empolgada. — Elena tem se estressado bastante com essa luta porque o aquário resolveu jogar baixo. Nos acusaram de cárcere para os animais só porque temos alojamentos de tratamento, isso tudo só pra ganharem essa briga no cansaço! — ela compartilhou, nitidamente super afetada sobre. — Essa semana o inspetor do processo vem aqui em dia de visita, conferir como funciona. E sobre isso claro que eu e Elena estamos tranquilas, nossos animais são apenas tratados e não enjaulados.

— Mas o que quebra é a intenção de atraso... — murmurei para ela, e de alguma forma para mim mesmo analisando sobre. — Tô entendendo.

Ela bufou, frustrada.

— Sim...

— Não se preocupa. Vamos resolver isso. Vocês tem provas que os animais sofrem maus tratos?

— Um amigo meu que coletou essa informação início desse ano pra mim. — Charlie me contou. — Mas lá não pode fotografar. Iriam expulsar ele.

— Eles não precisam ver as câmeras, se é que me entende. — sugeri, arqueando a sobrancelha para ela. Agora lhe interessei, pude notar.

Faz parte do meu trabalho ajudar em cada processo desse, estou aqui pra isso, não estou?

— Acho que consegui captar... — ela me respondeu, com um sorriso disfarçado de satisfação. — Nossa, eu meio que já pensei em algo assim antes! — ela bateu fraco na própria testa. — Mas achei que pudesse nos prejudicar coletar conteúdo dessa forma.

— Vai nos prejudicar... com eles. — tentei fazê-la entender, e esperta como parecia ser, claro que ela captou minhas mensagens. — Os processados. Qualquer coisa que eles queiram fazer, vai ser minúsculo contra as provas que vamos coletar.

— Tem razão, Jimin! — ela parecia super satisfeita com nossa conversa, até cutucava os próprios lábios como um tipo de tic ansioso. — Vem, preciso que você conheça alguém da família Ocean Care que provavelmente ainda não conheceu. Além da Glauber, eu também compartilho algumas coisas com ele.

— Eita, quem?

Minha curiosidade não tardou muito para ser saciada. Assim que ela me levou em uma parte que eu ainda não tinha ido daquele imenso lugar, bateu em uma porta a qual eu já subtendi com a plaquinha que tinha ali.

Enfermaria Ocean Care.

Um veterinário será? E bom, assim que aquela porta foi aberta e quem estava ali fazendo presença era um homem alto, com pele escura e bonito vestido com um jaleco branco, tive certeza que conheceria o veterinário do local agora.

— Charlie... — ela olhou surpreso para a mulher em sua frente, esbanjando um belo sorriso gracioso. — Que surpresa. Não te vejo há dias.

— Pois é... — sorriu, e eu poderia estar louco mas eu posso jurar que estava vendo ela um tanto sem jeito. Mas vou ignorar por enquanto. — Eu meio que tinha andado muito ocupada com os relatórios, sabe como é, né?

Ele sorriu, assentindo algumas vezes. Alguém lembra que eu também estou aqui por acaso?

— Ah. Eu vim te apresentar uma pessoa! — ela pareceu acordar de um certo transe e finalmente me puxou para perto. Até arquei a sobrancelha perante isso, foi mal, foi natural. — Esse é Jimin Parker. Meu novo parceiro de laboratório e novo biólogo daqui. Parece que não estou mais completamente sozinha. — brincou na última frase. E foi quando o homem finalmente voltou o seu olhar para mim e sorriu simpático, levantando a mão em minha direção.

— É um prazer em conhecer, doutor.

— Ah, por favor! — acabei rindo, e decidi lhe corrigir. — Não precisa mesmo me chamar assim. Doutor é você... — cocei a nuca, sem graça. De novo esse doutor me perseguindo.

— E você também. — ele esclareceu descontraído, dando os ombros e colocando as mãos nos bolsos do jaleco. — Mas como preferir, Jimin. Sou o Anthony! Dr. Anthony Lewis. — eu sabia porque estava escrito no crachá dele. — Fiquei sabendo que você viria mesmo... Estava ansioso pra lhe conhecer. Fico feliz que a Charlie tenha uma companhia agora.

Lhe fitei de canto, e ela deu um sorriso super cintilante.

— Pois é... Estou aqui à postos! — abri os braços rapidamente, transmitindo receptividade apesar de um pouco tímido ainda. — Para o que ela precisar de mim, e você também.

Ele concordou com a cabeça.

— Digo o mesmo.

— Na verdade, Anthony... — Charlie tomou voz. — Eu vim aqui porque queria que você mostrasse pra Jimin todas as informações do caso do aquário em Wellington que conversamos semana passada e fizemos aquele breve relatório. Se não estiver consultando algum animal ou ocupado com outra coisa, queríamos roubar um pouco do seu dia. Jimin tem ideias para colocarmos em prática depois que essa situação da inspeção passar.

Ele olhou para nós dois e cerrou os olhos, fingindo estar pensativo por um momento. No final apenas sorriu, e enfim disse:

— Tudo pra resgatar eles. Venham, meu consultório é de vocês!

[🌊]

Podem me chamar de louco, mas algo me diz que alguém está interessada em um amigo de trabalho. Acreditem, eu sei reconhecer de longe. Eu percebia quando o meu melhor amigo Taehyung, que ficou na Califórnia, estava paquerando alguém só através dos olhares dele. Definitivamente não estou louco.

Mas deixando um pouco esse assunto de romance de lado, a conversa com o veterinário marinho Anthony foi realmente muito produtiva. E antes que você pense que é somente pelo caso dos golfinhos, está tremendamente enganado. Depois de falarmos sobre isso e eu compartilhar meus planos, conversamos sobre diversas outras coisas.

E gente boa do jeito que ele e Charlie eram, me mostrou coisas que eu super me interessei em ver: um pote com a gordura de baleia. Séculos atrás, a morte delas tinha esse material como motivo. Outra coisa que Anthony me mostrou foram fotos de baleias-azul que já consultou ao longo de sua carreira. Foi tão descontraído o papo, que o tempo correu.

Os postes de luzes para iluminar Ocean Care já estavam acesos quando eu saí do laboratório e comecei a caminhar por ali, avistando tudo com atenção. Para não forçar minha vista péssima o resto da noite, já tinha retirado minhas lentes de contato e optado pelo meu óculos em meu rosto.

Estava prestes à pegar o rumo para a minha casa, até que lembrei de uma promessa que eu bem que poderia cobrar agora nessa noite tão parada. Então voltei alguns passos e acelerei meu caminho.

Lá estava eu, na beira do imenso oceano conectado com essa base que eu chamo de ambiente de trabalho agora. Através de algumas daquelas pontes, foi onde eu cheguei ontem ao pisar aqui pela primeira vez. Mas não era nisso que eu estava focando minha atenção agora, e sim nos vários barcos por ali estacionados.

Fui me aproximando cautelosamente, e ao forçar minha vista através daquelas lentes, pude avistar enfim a figura que eu tanto procurava e que tive a sorte de ter vindo no lugar certo de primeira. Tudo o que lembrei foi o que ele disse ontem: que morava em um barco estacionado em frente ao local.

Contei com a sorte, afinal, ele poderia muito bem ainda estar trabalhando em um lugar da imensidão que é o nosso local de trabalho. Mas não, ele estava ali de pé, na parte aberta de seu barco. Parecia estar fazendo alguns tipos de nó em algo que Jimin tinha quase certeza que era uma âncora.

Bom, ele não parecia estar tããão ocupado assim, não é? Acho que não vou atrapalhar tanto ao me aproximar para incomoda-lo um pouco.

Não sei, apesar de ter achado aconchegante o meu cantinho alugado na cidade, seis horas ainda me parecia muito cedo para ir pra casa e ficar olhando para as paredes, me cobrando para explorar um pouco mais esse lugar.

Quando minhas botas marrons fizeram um sútil barulho de aproximação, não precisei falar nada para Jungkook tirar sua atenção do que fazia e finalmente olhar para mim.

— Então... Não quero parecer um pé no saco, mas será que aquele suporte de guia tem vaga pra hoje? — franzi vagamente o rosto, demonstrando que não querendo ser um incômodo pra ele. Mas deixei bem claro que estava precisando de uma companhia para espairecer, era a verdade.

O que ele fez diante ao meu convite foi sorrir, sutilmente largando o que segurava de canto.

— Eu prometi, não prometi? — me questionou de volta, com aquela sua expressão calorosa de sempre. — Promessa é dívida.

— Mas essa "dívida" — fiz aspas com os dedos. — Eu só quero que você pague se não tiver ocupado, e o principal: se estiver com vontade. — falei as regras.

Ele cruzou os braços, assentindo algumas vezes como se estivesse em um nítido falso pensamento sobre o que eu ditei.

— Pra quem se oferece pra ser seu guia, seria até estranho se eu não tivesse afim. Não concorda?

Acabei dando os ombros, mas no final acabei sorrindo para ele. É bom a forma que os papos com eles são sempre confortáveis de alguma maneira.

— Me dá um minuto. Já sei exatamente onde te levar.

Foi tudo o que ele me pediu, para meia hora depois estarmos chegando em um lugar nem tão distante, mas que necessitou de uma certa caminhada da nossa parte. Ironicamente, eu nem percebi. Principalmente quando no caminho tive um verdadeiro guia turístico me mostrando cada canto que passávamos.

Nessa breve caminhada, já sei bares pra ir, restaurantes pra desfrutar, barbeiros qualificados para frequentar e até mesmo um parque local pra lá de lindo (e melhor, não muito longe da minha casa).

De qualquer forma, essas coisas foram apenas o nosso trajeto. Desacreditado mesmo fiquei, quando percebi que Jungkook simplesmente me trouxe para uma área de pequenos quiosques da praia mais próxima. Claro, o frio era terrível, tenho certeza que qualquer tipo de surfista ou pessoas que dormiam na praia queria passar longe de passar a madrugada por ali. Mas aquela área de pequenos quiosques iluminados, trazendo uma sensação bem confortável, eu...

— Adorei. Adorei ainda mais saber que não errei em te escolher como meu guia. — brinquei, sem deixar de admirar o lugar ao redor. Tinha alguns casais dividindo drinks, grupo de amigos colocando o papo em dia, algo tipicamente gostoso de cidades menores mas bem estruturadas.

— Você não poderia ter vindo com alguém melhor. Conheço essa cidade como a palma da minha mão, doutor. — ele informou, me fazendo rir desacreditado ao ouvir aquela bendita palavra que ainda estava tentando adentrar em meu cérebro.

Porém dele soou diferente. De novo, eu posso estar louco e ser um tremendo fantasioso, mas tenho quase certeza que esse doutor vindo dele soou mais implicante do que outra coisa. Parecia até que ele tinha uma breve noção, mesmo sem me conhecer, que eu poderia não ser acostumado com aquilo. Pelo meu jeito talvez?

— Até você? Pelo visto vou ter que começar a realmente aceitar essa nova nomenclatura... — acabei falando, enquanto andávamos lado a lado.

— É, você passa longe de ter cara do tipo de pessoa que exige ser chamado assim. — ele comentou, admirando à vista ao redor junto à mim.

— Vou considerar que você está me chamando de humilde. Obrigado pelo elogio. — ele deu os ombros, como quem diz para eu interpretar o que eu quiser. — Podemos sentar aqui? Adorei a temática desse quiosque.

Não me ache um fissurado pela minha profissão, mas o pequeno estabelecimento tinha o formato de um golfinho super fofinho e que sorri para os clientes. Quem não iria simpatizar com isso? Além das luzes coloridas ao redor, era aqui que eu queria ficar. Jungkook não tardou em se acomodar de frente à mim, na pequena mesa de praia.

Praia com neve, era o que estávamos presenciando no ambiente agora. Obrigado, belos casacos novos que comprei antes de chegar aqui. Vocês são descentes e muito úteis.

— Boa noite, senhores. O que vão pedir? — o atendente logo se aproximou, todo equipado com grossos casacos como nós.

— Então, Parker... Você bebe ou é correto demais pra isso? — ele estava me provocando por trás daquele sorriso simpático? Quem ele pensa que engana?

Eu também tenho expressão debochada, e por isso usufrui dela nesse momento.

— Bebo mais do que você imagina. — e pela sua feição, tive a plena certeza que o surpreendi agora. Sei que não tenho cara de bêbado, mas eu teoricamente sou bem alcoólatra diga-se de passagem. Muito tempo olhando para livros e relatórios, resultou nisso em minha vida. — Me surpreenda. Peça algo pra mim.

Ele fez uma expressão pensativa enquanto me analisada, até que pareceu saber o que pedir.

— Traga dois Hot Vodka Lemon, por favor. — o moço anotou em seu pequeno caderninho.

— Beleza. Boa pedida, Jeon. — e assim se retirou.

— Certo, o atendente do quiosque te conhece. — esclareci, assentindo algumas vezes. — O que devo concluir sobre isso? Que você vem bastante aqui beber?

— Ou... que eu conheço bastante essa cidade. — contrapôs, dando os ombros. — Você que escolhe.

— Sabe, eu achei ótimo aqui. É um local bem bacana para um cara como você trazer mulheres, devem adorar. Bem pensado. — o que foi que você está me olhando estranho aí do outro lado? Eu só estou tentando conhecer mais do cuidador do meu trabalho. Não misture as coisas, viu!

Ele acabou rindo singelo, abaixando o olhar por um momento. Até que retornou a fitar meus olhos.

— Ou homens também, quem sabe. — ele apenas complementou, colocando os cotovelos sobre a pequena mesinha e analisando minhas reações.

Eu não ia dar esse gostinho para esse cuidador simpático entregando algum tipo de surpresa ou algo parecido. Apenas cerrei os olhos em sua direção através das lentes de meu óculos, e prendi perfeitamente algum tipo de riso que eu poderia dar.

— Um homem de cartela cheia... Está certo. — concordei. — Um pouco antiético da sua parte trazer um colega de trabalho pra cá, então. — dei os ombros, mas ele sabia que eu estava nitidamente brincando.

— Eu não acho. — ele contrapôs. — Como você observou, aqui é o lugar perfeito pra tudo. — abriu os braços, falando do ambiente. — Principalmente pra ser a sua primeira saída noturna na cidade. Achei digno. Além da melhor companhia, claro.

Muito modesto ele, né?

— Não vou negar. Realmente gostei, obrigado. — apesar das piadinhas, eu estava realmente estava agradecido por ele ter disponibilizado um tempo para me fazer companhia e dar uma volta comigo. Após isso, nossos drinks finalmente foram postos na mesa pelo atendente anterior.

— Aproveitem. Tem muito mais de onde isso veio! Qualquer coisa é só chamar. — e com a nossa concordância, ele se retirou.

Ansioso, não perdi mais um único segundo para sugar o conteúdo daquele drink de tons quentes muito bem preparado. E falando em quente, como eu imaginava pelo próprio nome, ele tinha a temperatura ideal para ser degustado em dias intensamente frios como hoje. Além disso, o gosto era simplesmente incrível misturado com o sabor forte da vodka (que eu particularmente apreciava).

Fazendo uma breve careta pela intensidade, mas mostrando que nitidamente eu já era acostumado aquilo, acenei com a cabeça algumas vezes como reação.

— Você sabe escolher drink. — enfim, falei. — Parabéns, você praticamente deu banana pra macaco. Curto demais bebidas fortes.

Ele riu, tomando um pouco do seu drink também.

— Que bom que gostou.

— E não se preocupa, não vou sair daqui bêbado e precisar ser levado pra casa. Bebo, mas tenho meus métodos. — o tranquilizei, porque da forma que eu falei que apreciava bebidas fortes, deu muito a entender que era de ficar louco por aí. Na verdade não, eu só era um cara que gostava de estudar usando a bebida alcoólica pra me manter acordado. Por isso disse que sou acostumado.

Eu nem gosto de ficar bêbado. Já pensou ficar tão louco à ponto de perder a noção das ações e fatos que aconteceram? Tô fora.

— Métodos? E quais seriam eles? — ele arqueou a sobrancelha, curioso sobre.

— Me agradeça, vou te contar meu grande segredo que vai te manter sóbrio quase sempre. Use com sabedoria! — o alertei, e minha fala definitivamente o interessou. — Você só precisa... beber parcelado.

— Beber parcelado?

— Isso mesmo. Beber parcelado. Você vai tomando o mesmo drink de pouquinho em pouquinho, e quando você percebe, bebeu a noite toda mas não todas as cachaças do mundo pra ficar louco.

— Hmm, então sua tática é ficar no mesmo drink à longo prazo?

— Quando não quero ficar louco, sim, exato. — parecia tão simples pra mim.

— Isso não funciona pra quem quer degustar vários tipos de drinques. — ele contrapôs.

Droga, realmente.

— Aí vai de você. — foi tudo o que falei antes de rirmos juntos e tornando a degustar aquela deliciosa obra de arte de bebida.

Aproveitei aquele momento para olhar distante o oceano escuro pelo horário. Afinal, esses quiosques ficaram a uma certa distância do mar para mil razões. E encarando aquele lugar, me veio em mente algumas dúvidas que não tardei em expor pra Jungkook.

— Essa praia aqui, é uma das que mais encalhavam baleias?

Ele sugou mais um pouco da sua bebida e olhou rapidamente para o mesmo canto que eu.

— As vezes acontece casos aqui também. Mas na real, andando mais adiante, a praia ao lado é que mais acontece esses casos, infelizmente. — me contou. — Quando são encontradas encalhadas pela manhã, não tem mais o que fazer além de aproveitar pra estudo. — ele suspirou, também parecendo compartilhar da frustração do assunto junto comigo.

— Existe um padrão espécie para a maioria que encalha? Charlie comentou sobre baleias-piloto.

— Grande parte sempre essa espécie mesmo. Mas recentemente, isso estranhamente tem mudado. — ele contou, franzindo o cenho confuso ao lembrar do que estava dizendo. — Baleias-azuis. Tem aparecido muitas baleias-azuis mortas por encalhamento.

Não consegui nem disfarçar o fato dos meus olhos terem crescimento de interesse sobre o que o cuidado está falando.

— Recentemente tipo quando?

— Bom, — coçou a nuca, tentando recordar perfeitamente. — Há umas duas semanas. Quer dizer, não tô dizendo que nenhuma baleia-piloto encalhou mais. Só que nessas últimas semanas, o tanto que tem acontecido com baleias-azuis, sendo que em geral elas não nadam tanto nas beiradas de praia e nunca costumaram ter tantos casos assim, nos surpreendeu. — ele bufou, frustrado. — É montado um grande esquema de proteção sobre elas por causa da possibilidade de extinção, pra no final, isso ficar acontecendo de forma... natural.

E mais uma vez, eu tive a plena certeza que todas as mudanças da minha vida parecem sempre ocorrer no momento certo. Cheguei no momento exato em que houve uma estranha mudança, em algo que você pode estar me achando um lunático.

"Mas Jimin, você acha que pode fazer o que pra mudar uma situação natural dessas?" Não estou necessariamente querendo ser o salvador da patrão. Mas admito, me deu um grande interesse em ver essa situação extremamente de perto.

Eu estava decidido. Queria coletar fatos, queria mais informações concretas para os meus estudos. Então franziu o cenho e olhei firmemente para Jungkook, enfim pedindo:

— Você vai me achar um chato se eu te incomodar um pouco mais amanhã?

Ele me fitou, sorrindo fraco.

— Você não me incomoda, doutor. Acredite.

Devolvi o sorriso singelo.

Afinal, do que adianta meus anos de estudos e dedicação, se elas estão morrendo aos poucos?
Que fim dará isso?


[N/A]:

Stewart Johnson
Cuidado de animais marinhos (Ocean Care).




Anthony Lewis
Médico Veterinário local de Ocean Care,
especialista em animais marinhos.




Deve ficar muito mais fácil ir conhecendo o elenco conforme vão aparecendo na obra, né? Sinto que vai se construindo algo na mente. Eu colocava muito nas minhas histórias tudo no início, mas sinto que até aparecer todo mundo, a gente já esquece de tudo. 😅 Não sei, pode ser impressão.

Bom, de qualquer forma, só vou colocando de quem achar interessante. Tem personagens que é bom deixar 100% pra imaginação mesmo, outros, podemos dar uma ajudinha.

Estão gostando da história? Obrigada à quem
está aqui, estou adorando desenvolvê-la. O que vocês acham que tem para acontecer? Vou ler todos os comentários!

Até o próximo capítulo 🌊

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