〖 Ouvindo Auckland



[🐋]

Seis da manhã em ponto.

— Parece que chegamos, doutor! Espero que tenha aproveitado essa noite, só o senhor mesmo pra querer passar esse início de inverno assim, hein? — o navegador, Jeff, de meia idade anunciou assim que o nosso veículo aquático foi estacionado, próximo à ponte da grande base que eu precisava chegar. Depois de guardar meus equipamentos em uma das malas que eu trouxe, o avistei em uma das colunas do barco, se alongando após essa viagem.

Ter navegado a noite inteira por opção do passageiro deve ter sido algo bem diferente do que ele costuma fazer, mas é nítido o quanto o homem é habituado.

— Sabe, ainda estou me acostumando com esse "doutor". Preciso me situar que você realmente está falando comigo. — acabei compartilhando espontaneamente, ainda me habituando com a ideia do doutorado nas minhas costas. — Como falei pra você ontem antes de iniciarmos a viagem, no final das contas eu ainda sou o cara que acaricia golfinhos, por exemplo. — ri, coçando a nuca.

— Bem-vindo à Ilha Norte do país. — ele abriu os braços, super receptivo. — Como eu disse antes, você vai gostar de Auckland. Seguro, cheio de cultura por alta influência imigrante, não tão barulhento quanto a capital... Você vai se habituar, acredite. Muito diversificado por aqui.

— Obrigado. Foi bom te conhecer, Jeff. — me despedi assim que retirei minha última mala do seu barco.

— Bom estudo, doutor, bom estudo! Minha mulher me espera. — o homem exclamou, já adentrando para a área da direção do veículo novamente para zarpar dali. É, esposa do Jeff, foi mal roubar ele de você essa noite, mas pelo menos ele lucrou com minhas loucuras.

E agora com a saída do homem, pude focar minha atenção cem por cento no que seria meu cotidiano à partir de agora. Ocean Care, reabilitação de animais marinhos e laboratório focado em estudos da minha área. Serei o novo biólogo do local, se não me engano terei uma parceira. De qualquer forma, não consigo não deslumbrar-me ao ver a imensidão que é esse lugar.

Além de ser literalmente uma base conectada ao lado do mar, ainda tem um laboratório com paredes de vidro. Ali de baixo, eu conseguia ver onde eu provavelmente passaria a maior parte do tempo.

E olhando ao redor, uma cena um tanto distante mas próxima do ambiente externo que eu estava chamou minha atenção: um mergulhador saindo da água. Estranhamente, tudo ao redor era atraente aos meus olhos, então fita-lo fazer algo tão comum levando em consideração o ambiente, prendeu meus olhos na cena de imediato.

Ele sentou na beira de uma das pontes que existiam no ambiente. E um tanto curioso, eu continuei a encarar, querendo muito saber o que ele faria em seguida... De verdade, como ele estava aguentando mergulhar nesse frio? Ele não parecia tremer, nem nada do tipo. Isso era comum por aqui? Mergulharem mesmo com uma tempestade de neve nitidamente próxima?

Dentro daquela roupa apropriada para mergulhos, o homem aleatório recuperou um pouco do fôlego e levantou-se, pegando algo dentro de um balde próximo e assim, fazendo um assobio pairar no ar. Me impressionei quando notei ele lançar para o alto o que tinha em mãos e, repentinamente, um lindo e deslumbrante golfinho azul atirar seu próprio corpo para fora da água, e de forma super única... pegar aquele alimento com o bico. Sua volta para o mar veio logo, obviamente. Mas aquele salto que o animal deu, me fez ter certeza que ele é muito bem adestrado e que estava em contato com aquele ser humano no mar frio.

Sem perceber, minha boca estava vagamente aberta. Como se eu nunca tivesse mergulhado com um golfinho antes na minha vida... aff! Mas tinha motivo: tinha meses que eu não fazia isso por causa dos estudos e do doutorado. Me fez ficar saudoso de ter um contato direto com os animais marinhos, e não somente com livros e documentários.

Enquanto estava ali refletindo sozinho, mal me dei conta que agora o mergulhador tão observado por mim parecia estar olhando em minha direção. Talvez já estivesse na hora de pedir lentes de contato novas e começar a usar mais os meus óculos, ou seria apenas por ele estar meio fora do meu alcance de vista mesmo. Maldita miopia e astigmatismo!

Com o objetivo de não parecer um louco por estar encarando de forma um tanto descarada, eu simplesmente peguei minhas duas grandes malas e prossegui pelo ambiente. Existia um tipo de supervisão e gerência geral na Ocean Care, a qual seria a pessoa que tive contato à distância nesses últimos tempos. Elena Glauber, uma mulher já com os seus quarenta e cinco anos e muito profissional. Ela também participou da minha contratação para essas pesquisas por aqui, e é representante das grandes sócias que investem nesse local. Pelo o que eu entendi, esse grande espaço de estudos e cuidados é bem antigo por aqui.

Apesar de ser um centro de reabilitação e estudos, para ajudar o local a se estabelecer mais e sustentar bons funcionários, Ocean Care é aberto para visitas agendadas com um certo valor por pessoa. Ainda não sei como funciona, mas em todas as reuniões on-line, Elena representou muito bem a parte deles dizendo que nenhum animal sofre malefícios com essas visitas, mesmo que elas sejam bem populares por aqui. Inclusive o popular mergulho com os golfinhos, me passaram que é cem por cento supervisionado e ninguém sobe nos animais, ou muito menos os obriga a fazer apresentações idiotas. As pessoas só são permitidas... vê-los, literalmente vê-los sendo eles mesmos. Somente isso.

Eu estou aqui em Auckland, Nova Zelândia, porque sou apenas uma das pessoas desse projeto convocadas ao redor do mundo para estudar e trazer resultados. E esse ambiente aqui, está apenas fazendo parte disso.

Voltando a Elena, foi ela que me ajudou a fechar um confortável apartamento próximo daqui. Eu claramente não queria nada muito longe do laboratório o qual usufruiria muito para estudos, e estou citando essa mulher, justamente porque durante minha caminhada pelo local, ela me avistou de longe enquanto passava e logo veio em minha direção.

— Ainda estou impressionada que sua primeira noite no país você decidiu passar em um barco. Bem-vindo, Jimin. — a mulher com cabelos curtos e castanhos parou em minha frente, trajada em um casaco de lã super fofo e rosado. Apesar de já ter seus quarenta e poucos anos, sempre ressaltei no nosso contato à distância o quanto ela parecia ser mais nova. — É bom depois de tantas reuniões, finalmente te ver pessoalmente. Que bom que te mandaram pra atuar pra cá conosco no final das contas.

— É bom te ver pessoalmente também, Lena. — parecia que já nos conhecíamos há anos depois de tanto ela propagar o local para mim e para os meus superiores nesse projeto de estudos, o que não quer dizer que somos extremamente íntimos. Só sombras conhecidas e que se ajudaram nesse processo. Eu costumava atuar em uma agência pública de fiscalização ambiental na Califórnia, até ser chamado por um dos meus contatos de trabalho para esse novo foco. E cá estou eu. — Sabe, Ártico me soava um tanto... radical. — dei uma risada só de lembrar que era a outra opção que me enviariam. Quer dizer, parece legal, mas acho que escolhi certo.

— Tenho que concordar. — ela acabou rindo junto, fazendo uma expressão assustada só de pensar no frio do Ártico. — Não é como se você tivesse chego no auge de algum tipo de verão, maaaas... No meio do dia talvez você ainda veja um pouco do Sol. Pelo menos, eu acho.

— Isso é uma boa notícia, devo dizer.

— Antes que eu esqueça, aqui. — ela retirou do seu bolso da calça uma chave, balançando no ar e enfim entregando-me. — A chave do seu apartamento.

— Não sei como te agradecer por ter me ajudado nisso. Seria uma barra ter que procurar apartamento só quando chegasse por aqui. — seria mesmo. — Ainda mais em um lugar que eu ainda não conheço.

— Que isso! Não tem que agradecer. E assim como você ficou por dentro nas nossas conversas e vídeos chamadas, ele é literalmente três ruas daqui, todo mobiliado, como você viu. — ela parecia tão feliz pelo conforto quanto eu. — Só não é enorme, mas...

— Por favor, Lena. Você acha mesmo que pessoas que vivem de estudos tem tempo pra aproveitar um apartamento enorme? — eu arqueei a sobrancelha na direção ela, e precisando gerenciar um lugar enorme como esse, sua expressão mostrou concordância na hora. — O fato de ter só um quarto com banheiro e uma sala que também é cozinha já está ótimo.

— De qualquer forma, você e sua parceira de análise vão ter acesso vinte quatro horas ao grande laboratório. As vezes ela passa algumas noites aí... Falando nela, vamos conhecer? Você vai ter tempo de sobra pra olhar todo o resto, incluindo o espaço de cada animal em tratamento. — ela me convidou, e eu assenti na hora. — Deixa eu te ajudar com uma das malas.

— Não preci-

— Já peguei, querido. Com licença.

E ela simplesmente levou uma das minhas malas. Zero oportunidades de ser um cavalheiro.

Eu achava que só a conectividade do local com o oceano fosse me surpreender, mas na verdade, não. Estava redondamente enganado. O laboratório com as paredes de vidro, nos dando acesso à vista de tudo o que estava acontecendo lá fora e na imensidão do mar, foi o que me fez largar a minha mala e ir correndo até o vidro, observar fascinado. Nunca estive em um laboratório tão desenvolvido como esse. E apesar de já ter avistado quando estava saindo do barco, lá embaixo, estar aqui de cima é mil vezes melhor para apreciar tudo. Literalmente tudo.

— Se ele não ficasse impressionado com essa vista, seria louco. Qualquer um que entra aqui, corre até aí. — uma voz até então não conhecida por mim foi o que desprendeu minha atenção daquela visão, e eu rapidamente virei-me.

Na enorme mesa de estudos, estava sentada de frente para o seu computador e equipamentos parecidos com os meus, uma moça de cabelos loiros e pele super clara. Seus olhos eram tão azuis que eu podia ver mesmo não estando cara a cara com ela. Seu casaco azul de lã (roupa mais confortável à se usar) e seus cabelos presos levemente bagunçados me fez ter certeza que ela fazia da vida a mesma coisa que eu. Acredite.

— Jimin, essa é Charlotte Russell, nossa bióloga marinha há um ano e meio. — Elena apresentou a mulher para mim. — Tenho certeza que ela vai somar muito nas pesquisas e nos projetos de proteção local.

— Não tenho doutorado como você, mas acredito que serei bem útil. Principalmente na grande pesquisa sobre as baleias. — a tal da Charlotte acabou dizendo, como uma piada consigo mesma.

— Como se um doutorado tornasse alguém mais inteligente que outros... — foi o que acabei murmurando ao me aproximar dela, e estender a minha mão: — Jimin. Jimin Parker. Eu espero ser muito útil pra você também, e poder não atrapalhar um espaço que já era seu... — detesto ser a pessoa enxerida que chega no ambiente dos outros de forma invasiva, sem mais nem menos.

— Ah, que isso! Tô numa boa. — despojadamente, ela se apressou em dizer e deu um aperto em minha mão. — Eu amo ficar sozinha, mas admito que nos dias que Elena ou outro profissional não aparecem por aqui, eu meio que já estava começando a me sentir sozinha.

Eu a entendia completamente. Solidão é perigosamente viciante, em um sentido que parece bom, mas depois descobrimos que é meio ruim.

Elena apenas acompanhava a conversa, até que seu celular tocou e ela checou rapidamente. Aquilo lhe fez dizer para nós dois presentes:

— Que inferno... Infelizmente não vou poder ficar mais tempo porque tenho que resolver a transferência de alguns animais que vem de longe. Mas Jimin, sinta-se parte desde já. — ela novamente ressaltou. — Realmente espero que Auckland e Ocean Care sejam lugares em que você realmente se encontre, mesmo com essa mudança radical em prol da profissão.

Sinceramente? Eu também esperava. Mas como ela disse, só de ser em prol de algo que me dediquei minha vida inteira, eu definitivamente não tenho nada a perder. Principalmente depois do último ano onde minha mãe veio a falecer, eu realmente achava que tinha enfrentado o pior com a perda do meu pai com vinte anos, mas depois que ela se foi e o fato do meu irmão mais velho já ser casado e com filhos em San Diego, nada mais me segurava a não ser me doar inteiramente para a minha profissão.

Viver naquela casa sozinho, a qual minha mãe viveu a vida inteira, já não estava me fazendo bem. E mesmo que meu amigo desistente na época da faculdade, Taehyung, fosse me fazer companhia as vezes... quando chegava a hora de ficar sozinho, já era destruidor. Era como intensificar a falta da minha mãe. Então não pensei duas vezes ao vender aquela casa com o apoio do meu irmão mais velho, Joshua Parker, e aceitar estar onde estou agora.

Pensando em tudo isso apenas em segundos, eu assenti e respondi confiante à Elena:

— Vai ser.

Vou arcar com minhas decisões até o fim.

— Bom, agora que você tem companhia da Charlotte, eu vou me apressar para resolver essas questões. Perdão não poder ficar cem por cento com você no seu primeiro dia no país, Jimin. Mas tenho certeza que cada profissional daqui que for conhecendo aos poucos, vai poder agregar muito na sua jornada de pesquisa. Eles tem boas experiências nas costas, cada um em seu cenário profissional.

— Não se preocupe. Passei minha primeira noite em um barco apenas com um navegador, o que é um primeiro dia inteiro? — essa era a verdade.

— É... — ela riu sozinha. — Pensando bem, é verdade. Cada diálogo com você eu entendo mais o porquê te mandaram pra cá.

Depois de um sorriso simpático, ela enfim se retirou do laboratório, deixando somente eu e minha nova parceira de pesquisas.

— Você passou sua primeira noite em um barco, sem sequer pisar no seu apartamento? — assenti, tornando a andar pelo ambiente e observando cada parte, inclusive as estantes de diversos livros. Tirei um do local: A ecologia dos Oceanos. — Uau... Que admirável. — ela descansou suas costas na parte de trás acolchoada da cadeira e cruzou os braços, sorrindo sozinha. — Todas as vezes que invento de colocar a mim mesma em um barco é pela manhã. Talvez um dia eu chegue no seu nível de conectividade.

Eu ri de sua fala. Não sei bem se é um nível de conectividade, e sim um eu tentando me acostumar com o que mais terei contato esses tempos... Essa parte do oceano.

— Você já leu todos esses livros? — tive a curiosidade ao ver as prateleiras realmente cheias, admirado.

— Bom, não todos. — a loira contou, dando os ombros. — Eu normalmente leio o que parece ser mais interessante para a pesquisa ou análise do momento. Nesse sentido, ainda julgo pela capa e título, e colho o que tem dentro.

— A coleção de vocês é enorme... Entendo completamente não ter lido todos. E esses equipamentos... — eu ainda estava admirado o quanto aquele laboratório era completo. Tinha ali equipamentos sonoros de diferentes tipos e muito conteúdo indicativo. E provavelmente vendo minha admiração, logo Charlotte levantou-se e pareceu ao meu lado.

— Aqui temos modelos em formatos de mandíbulas de todos os tubarões que já encontramos. — ela apontou para a sequência de amostras extremamente organizadas e com nomenclatura. — Claro que a parte permitida para mergulhos é diferente de onde podemos encontrar esse tipo de animal. A segurança é muito importante.

E com o que ela dizia, lembrei de algo.

— Por onde os barcos chegam até aqui... É muito perigoso pra nadar?

— Por onde os barcos chegam...? — ela parecia tentar recordar a direção. — Ah, onde você deve ter vindo. Bom, ali não é tão perigoso porque já entra no terreno da Ocean Care, e foi montado uma rede de proteção embaixo d'água para aquela parte. Mas claro, não é tão seguro quanto a parte específica para mergulhos, que tem barreiras de vidro e tudo mais...

— Quando cheguei, vi um mergulhador saindo da água... — contei, dividindo aquela informação. — Ele parecia estar treinando um golfinho livre.

— Ah, deve ser o louco do Jeon... — ela simples falou, tornando a fitar com atenção os itens que tinham por ali, eu sentia o seu orgulho pelas coletas só pelo seu olhar. Ela parecia torcer para eu perguntar sobre tudo, só para ela poder contar cada vez mais sobre. — Ele é um dos nossos cuidadores. O mais envolvido, na verdade. Provavelmente estava revendo algum golfinho recém curado e libertado, mas que ainda não teve coragem de passar da rede, e provavelmente estava ainda rondando por ali. Acontece. — ela explicou, de forma simpática. Faz sentido. — Mas só ele mesmo pra estar na água nesse horário, e com uma tempestade de neve chegando...

Conectados mensalmente ou apenas um pensamento óbvio e inteligente? Eis a questão. De qualquer forma, não comentei nada sobre, apenas escutei o que ela estava falando e assenti. Não tinha muito à desenvolver sobre quem não conheço, e espero que todos os profissionais daqui possam responder muitas perguntas minhas.

De forma irritante, tenho várias. Espero achar mais pessoas como Charlotte, que parece implorar os com os olhos para meus questionamentos voltarem a surgir.

— Tô apaixonado por esse laboratório. — suspirei encantado, parando de mexer um pouco nas coisas. E ao trocarmos olhares, ela não se aguentou e caiu em uma risada boa junto comigo.

— Você tá parecendo eu a primeira vez que pisei aqui... — ela contou, abraçando ainda mais seu próprio corpo pelo frio provavelmente. — De verdade. Com um lugar desses para pesquisas, é um pouco difícil não se sentir confortável. Olha aqui, quero te mostrar uma coisa... — ela caminhou em direção à uma mesa de canto onde tinha várias pastas com arquivos, todas cheias de post-it coloridos para facilitar a procura. E claro, eu a segui como uma criança curiosa. — Aqui você tem o arquivo médico de cada animal em tratamento por aqui, é muito interessante porque através disso a gente consegue entender quais são os principais fatores dos tratamentos. — ela passa rapidamente as páginas de uma das pastas, e suspira repentinamente. — Apesar de que, recentemente tem tido muita baleia encalhada por aqui pela cidade...

O que ela contou obviamente chamou minha atenção, e ela percebeu isso. Não é à toa que continuou:

— A cidade é maravilhosa, Jimin. Mas essa é uma realidade que você precisa saber, aqui os índices de encalhamento de baleias, principalmente baleias-piloto são altíssimos. — compartilhou. — Em geral os navegadores locais sempre tentam devolvê-las pro mar quando isso acontece, o problema é quando é tarde demais e não estão por perto. — minha áurea imediatamente murcha ao ouvir aquilo. Não estou dizendo que eu não sabia desse problema social de encalhamento de animais aquáticos, com certeza sei. Mas saber que o índice por aqui é bem alto, trás a realidade mais pra perto de mim. — Semana passava morreram cinco baleias juntas encalhadas. Problemas naturais, infelizmente.

Problemas naturais me pegam de jeito. Afinal, como detê-los? Não existe nem senso de justiça nesse momento. Isso que é ruim.

— Mesmo sendo notícias tristes, essa é a importância do que fazemos... Entender a realidade deles. — acabei por falar depois de uns segundos em silêncio, absorvendo tudo o que me foi dito. — Não sei se você se sente assim mas, fazer o que estiver ao nosso alcance de forma bem feita e não-egoísta, já trás um sentido nem que seja mínimo para o porquê nos esforçamos. Independente dos resultados. Não acha? — arrisquei em compartilhar meus profundos pensamentos com quem acabei de conhecer. Não estou mais em fase de ter medo de ser julgado por uma fala ou outra, seja do que for. Então tenho vivido dessa forma... apenas digo.

Após me ouvir, a loira acabou sorrir fraco e guardar novamente a pasta que segurava. Depois disso, a observei virando pra mim e estendendo a mão na minha direção novamente (como se não tivéssemos nos cumprimentado mais cedo):

— Me chama de Charlie.

Eu e minhas interpretações... Se estou certo ou errado, tanto faz, mas o que entendi agora é que não era mais apenas simpatia, e sim uma abertura. Ela não estava mais sendo educada sobre trabalhar comigo, ela realmente queria saber a partir de agora como é trabalhar comigo. E isso é ótimo.

Devolvi um sorrisinho singelo e apertei sua mão.

— Certo, Charlie. E bom... Comigo é Jimin mesmo, eu meio que não tenho apelido. — meu amigo Taehyung costumava de chamar de pimpolho, mas não vou dar a informação desse apelido realmente nada profissional e que lembra a palavra repolho (não lembra?).

— Relaxa, você vai ter. Os apelidos sempreeee chegam na nossa vida uma hora, é um saco. — piscou para mim, concluindo sua reflexão.

Repolho, opa! Pimpolho que o diga...

[🌊]

Depois de passar longas horas no laboratório com Charlie conhecendo cada cantinho daquele meu novo local favorito, eu olhei para o céu através do vidro e percebi uma abertura climática para sair um pouco. Nada de neve por enquanto, então decidi que seria o momento perfeito pra dar uma explorada no ambiente geral de Ocean Care. Afinal, se ficasse preso só no laboratório, não estaria me esforçando pra me adaptar em geral. Eu preciso conhecer cada pedacinho daqui, começando pra já.

Ainda sequer pisei no meu apartamento, mas aproveitei que tinha minhas malas e um banheiro no laboratório com água quente e tomei um banho, trocando para outras roupas que me aqueçam assim como as que eu estava. Tirei minhas lentes e coloquei meus óculos de armação preta, queria descansar minha vista daquelas coisas em minhas pupilas.

Assim, me retirei para explorar o local. Devia ser em torno de umas quatro horas da tarde, tive a confirmação ao olhar para o relógio em meu celular. E assim, sai por ali para explorar.

Encontrei um alojamento que tinha pinguins-azuis! Os reconheci de longe, e logo me aproximei. Eles pareciam muito bem, e isso me fez sorrir. Tinham piscininha exclusiva e tudo, e aparentavam estar bem saudáveis. Esses são conhecidos por serem os menores pinguins do mundo, e eu já sabia que eram bem comuns aqui pela Nova Zelândia. Mesmo que provavelmente venha muitos animais de fora pra cá para tratamentos. Ocean Care é conhecido.

— Pelo visto cuidam muito bem de vocês, pingos de gente. — eu falei para eles, e até senti alguns olharem para mim. São uma graça.

Vamos ver mais animais que tem por aqui sob cuidado deles... Uau, achei uma morsa. Literalmente enorme, eu só tinha visto uma vez de perto, até me esqueci o quão grande elas eram. Um dos cuidadores estava limpando ela, e não resisti em sorrir ao perceber o quão o animal estava habituado à isso. Provavelmente ele tinha se sujado com algo para estar sendo banhado com a mangueira. Achei uma graça.

Animais marinhos tendem a ser muito travessos, que sensação saudosa que estou ao estar tão próximo deles novamente. É disso que eu precisava.

Nem atrapalhei o moço, apenas decidi seguir meu caminho, disposto a explorar tudo o que conseguisse sem ter um guia nesse momento. Charlie estava muito apegava com alguns relatórios para eu incomodar ela pedindo para ser minha guia. E de verdade? Quem precisa de guia? Nós nascemos sozinhos, podemos muito nos virar sozinhos. Então com licença...

Vou dar uma voltinha aqui e... Epa! Que isso?!

Quê?!

Até dei uns passos pra trás.

Que susto eu tomei quando segui meu caminho, fui virar para um dos corredores dos alojamentos e dei de cara que um ser vagando, solto por ali. Era um lobo-marinho! E ele estava fora de qualquer alojamento! O que houve?!

Será que ele está perdido? Ou melhor, ele fugiu? Um fato sobre esses seres é que eles costumam ser bem travessos e interativos conosco quando bem treinados. Em outras palavras, são muito dos senhores espertinhos! Isso sim. Ele pensa que eu não estou atento ao seu jeitinho natural de ser. Muitos se assustariam com ele solto por aí, principalmente na minha frente praticamente... Mas eu não. Até cruzo os braços lhe fitando.

— Ei, coisinha pançuda. O que você está fazendo por aqui, assim, tão avulso? — lhe questionei, arqueando a sobrancelha. Sim, eu estava esperando explicações.

Acontece que tudo o que aquele ser fez foi... adivinha, vai.

Rir. Sim, ele começou a rir! Até colocou uma de suas patas em frente a própria boca, como quem escondesse o sorriso. Meu Deus! Tá muito engraçadinho, não?! Meus olhos cresceram vendo essa cena.

— Do que você está rindo? Quem te ensinou a fazer isso? — tive que questionar, chocado. — Eu conheço muito bem sua espécie, viu? Não adianta achar que me surpreende com esses comportamentos.

E novamente, ele riu prolongadamente. Devo dizer que ele tinha um costume muito único de sempre rir colocando a pata em frente a boca, apenas para enfatizar a sua ação. Sério mesmo, de quem ele pegou esse costume de debochar dos outros?

Não aguentei, acabei rindo um pouco junto, uma risada mais incrédula pelo o que eu estava presenciando.

— Por que esconde o sorrisão? Vai, ria sem colocar a pata em frente da boca! — o desafiei, confiante. — Vamos ver quem tem o sorriso mais bonito.

E deixando uivos soarem no ar, ele virou o corredor daquele grande local aberto e eu me indignei, me senti na obrigação de segui-lo e desvendar de onde ele veio.

— Ei, volte aqui agora mesmo! Ei! — ele basicamente me ignorava e continuava a correr livremente pelo local, como se não tivesse alojamento. E eu bobo, estava correndo atrás. — Da onde você veio, seu engraçadinho? Onde é seu alojamento? — e como se o seu objetivo estivesse nos conformes, ele virou para trás rapidamente apenas para conferir se eu estava o seguindo, e ao perceber que sim, continuou sua correria em direção a sabe lá onde.

Isso me deixou impressionando e indignado. Aquela criatura marinha estava de fato brincando comigo, e mesmo assim, eu não podia deixar de segui-lo. Já estou fazendo isso, não é mesmo?

Mais determinado, eu continuei indo atrás desse pançudo até vê-lo adentrar em um local específico. Entrei em seguida, sem mais nem menos.

Ele me atraiu para o alojamento dele? É isso? Até travei quando percebi estar em um lugar grande e aberto, mas com a piscina com mais uns cinco como ele. Inclusive filhotes.

A gracinha que me atraiu até aqui, por outro lado, não mergulhou com eles e sim continuou na parte seca, dando pequenos pulos quando percebeu que conseguiu me atrair onde deveria ser sua pequena casa na Ocean Care.

Fiquei até sem jeito, me perguntei se realmente deveria estar ali, literalmente dentro da casinha dos lobos-marinhos. Aliás, uma curiosidade importante é que lobo-marinho e leão-marinho pertencem à mesma família, o que os diferencia são características bem básicas como: o focinho do lobo-marinho ser comprido e longo, e do leão não. Além do lobo ter pequenas orelhas, e o leão não ter orelhas visíveis, e não podemos esquecer que os lobos uivam. Por esses motivos pequenos, identifiquei de primeira que essa criatura fugitiva era um lobinho.

— Por que a porta de vocês está aberta...? — perguntei como se aquele senhor risada fosse me responder, mas ele apenas começou a saltitar mais algumas vezes de um lado para o outro, querendo nitidamente chamar minha atenção.

Reagindo desacreditado e apontando para mim mesmo, eu comecei a me aproximar dele.

— Por que você não é quietinho igual os seus amigos? Estão todos na água. O que há com você? — lhe confrontei, o vendo girar algumas vezes igual um cão feliz. — Que gracinha, eu te peguei no flagra fugindo! Ninguém foge, somente você. Irônico, não?

E novamente, ele soltou um uivo mas dessa vez super prolongado. Chamando atenção, logo vai aparecer alguém pra me expulsar daqui. Lobo covarde!

— Quem você está chamando? Se me expulsarem daqui, você vai ver só. — fiz essa falsa ameaça, apontando para ele como uma lição de moral. E de fato era uma lição! — Foi você quem me chamou pra cá! Lembre disso quando me expulsarem, lembre disso. Ninguém debocha dos outros e sai correndo... — ele estava rindo de mim. — Lobo mau, lobo mau!

— Vejo que conheceu o Risadinha.

— MEU DEUS! — juro, eu tenho a plena certeza que quase fui dessa para melhor (ou pior). Meu coração quase saiu pela boca quando escutei essa voz desconhecida e grossa soar atrás de mim, me fazendo até pôr a mão no peito e me aproximar mais do lobo mau.

Na entrada do alojamento dos lobos-marinhos estava encostado um homem moreno de braços cruzados e observando atentamente aquela cena. Isso fez eu me questionar desde quando ele estava ali vendo, digamos que minha conversa com o lobo mau era um tanto privada. Quer dizer, somente os outros amigos dele podiam ver, já estavam aqui afinal.

Não sei se pelo fato de ter sido pego de surpresa, mas meus olhos prenderam naquele moço e eu fiquei um tanto sem jeito, lhe encarando de volta. O homem em questão tinha alguns traços asiáticos no rosto assim como eu, provavelmente tinha alguma descendência. Seus cabelos castanhos e bagunçados me faziam ter certeza que a mistura que formava ele, eu passava longe de saber, mas foi muito bem feita (não quero elogiar os outros de graça, mas é um fato).

O moço parecia segurar um pequeno sorriso, apenas para ouvir minha breve explicação. Ele estava trajado com algo que eu quase deixei de reconhecer pelo casaco escuro por cima: a roupa de mergulhador. E em sua mão direita, carregava um pequeno balde.

— E-eu... Espera aí. Risadinha? — primeiro vamos falar disso, né querido? Precisei até virar para olhar a criatura marinha por um momento, e ela assentiu. Sim, assentiu para mim. Ele sabia que estávamos falando dele. — Foi você quem o nomeou assim? E aliás, era você quem ele estava chamando ou ele só tem essa personalidade de natureza mesmo?

— Por que? — o homem com o rosto queimado, seja pelos tempos de calor ou de frio intenso do local, deixou o que segurava no chão e foi se aproximando subitamente com seus pés descalços nesse clima (coragem). — Acha que ele combina com algo melhor?

Nossa, tem razão. O lobinho mau definitivamente não combina com um nome melhor.

Finalmente abaixo minha guarda e suspiro ao não estar mais movido pela surpresa, ajustando minha postura. Acabo abraçando meu próprio corpo para o que aparentava ser a tão esperada tempestade de neve retornando conforme as horas iam passando naquela cidade.

— Desculpa entrar aqui sem permissão. Eu literalmente segui o... Risadinha. — chamei aquele engraçadinho pelo seu próprio nome pela primeira vez. Vai ser fácil. — O vi solto por aí, e aqui estava aberto. Eu fui atraído pra cá por ele, essa é a verdade.

O homem finalmente soltou uma risada breve, assentindo algumas vezes.

— Era o objetivo dele, com toda certeza. — eu já sabia. — Risadinha sai às vezes, mas sempre retorna. Por isso deixo aberto quando vou pegar algo que esqueci. — ele explica, cautelosamente.

— Entendi...

— Você não estava com medo dele. Inclusive o seguiu até aqui com os outros. — repentinamente, o moço apontou tal fato um tanto impressionado. Eu apenas dei os ombros e concordei timidamente. — Nunca te vi antes por aqui e hoje não é dia de visitas agendadas. O que em faz pensar que você deve ser o novo biólogo marinho que tanto falaram que viria. — concluiu.

— Você é um... homem esperto. — tentando ficar mais confortável, eu acabei falando. — Sim. Sou Jimin. Jimin Parker, e eu vim para a minha pesquisa sobre as baleias. — contei abertamente o motivo supremo da minha vinda.

Com um sorrisinho fraco, ele concordou parecendo até um pouco surpreso positivamente com o que contei.

— Isso é ótimo. Temos muitas orcas e jubarte em tratamentos... — ele acabou me contando, ganhando meu interesse. — As vezes a Ocean Care consegue a proteção de alguns animais explorados em aquários incompententes, e são transferidas pra cá para se tratarem com a gente.

— Wow... isso é incrível. Me conta mais, por favor. — foi impossível conter um sorriso, e ele sorriu junto com meu pedido e continuou:

— É... digamos que muitos animais são transferidos pra cá quando profissionais como vocês ganham causas de proteção. — ele rapidamente olhou para outro canto como uma breve distração, mas logo retornou a falar fixando em meus olhos: — Charlie deve ter muito a te contar sobre isso. Ela é bem competente e ganha muitas dessas brigas, ganhou uma boa parceira. Aliás, meu nome é Jungkook. Jungkook Jeon. — e estendeu a palma de sua mão em minha direção.

— Então você que é o louco do Jeon. — apontei tal lembrança que me foi dita mais cedo antes de finalmente apertar sua mão calejada e maior que a minha.

A sua expressão e risada de canto me fez perceber que ele sabia de onde tinha vindo aquele apelido.

— Minha reputação pelo visto não foi uma das melhores pra chegar assim até você, graças à Charlie. — fingiu lamentar-se, quando estava muito nítido que ele não estava se importando mesmo de ser plantado de louco.

— Não quero te julgar antes de te conhecer, mas se você era o cara que estava mergulhando seis da manhã em pleno clima como esse quando cheguei hoje, talvez eu tenha que concordar com ela. — demonstrei uma expressão de lamento assim como ele tinha feito.

Ele riu. Um belo de um sorriso, devo dizer. O que foi? Eu sei elogiar as pessoas quando é preciso, está bem? Não confunda as coisas.

Com as mãos posicionadas na cintura e analisando meu rosto expressivo, ele me respondeu:

— Que culpa eu tenho se o oceano me chama em plena manhã, Jimin Parker?

— Quero te julgar, mas não posso. Passei minha primeira noite no país dentro de um barco, no meio do mar e com uma frente fria terrível. E sim, foi por opção. — levantei as mãos em sinal de rendição, e ele assentiu impressionado.

— Você tem minha loucura, mas da sua maneira. Tem a obrigação de me defender por aí sobre as coisas que faço.

Eu gosto do fato dessa conversa estar extremamente confortável em tão pouco tempo. Por um segundo, eu até esqueço que ele me flagrou dando lição do moral no tal Risadinha. Falando nele, olhei para o lado rapidamente e o observei junto aos outros lobos-marinhos. Ajustei meus óculos no rosto indignado quando o vi empurrando um amiguinho na pequena piscina que imitava o mar, e começou com suas risadinhas que faziam jus ao seu nome.

— Ele é sempre assim? — precisei questionar negando com a cabeça, porque tenho certeza que para onde olhei e para a cena que vi, ele deveria ter me acompanhado para entender do que se tratava.

— Ele é uma figura. Tem dias que é pior. — ele fitava o animal junto comigo, como um pai orgulhoso.

E observando a forma que ele olhava para os lobos, mordi meus próprios lábios quase ressecados novamente, e me dei ao ar da dúvida que logo expus.

— Desculpa, acabei nem perguntando... Você por acaso é cuidador dos animais, certo?

Ele assentiu, simpático.

— Sou uma das pessoas que essas peças deveriam ser gratas. Limpá-los e educá-los não é fácil. — ele brincou, mas apesar da brincadeira, parecia estar zero insatisfeito com o que fazia. Pelo menos é a impressão que eu tenho.

— Você faz as tarefas de mãe. Deve ser mesmo muito difícil. — apontei, lhe vendo concordar sobre. — Seu cargo é bem... admirável. — precisei dizer. Ele basicamente fazia os serviços braçais quando se trata do cuidado com esses animais marinhos, deve exigir muita dedicação e amor com essas criaturas lindas. Ninguém faz esse tipo de coisa sem paixão na veia.

— Obrigado pelo reconhecimento, mas olha pra você... Devo dizer que o que você faz é muito mais admirável. Ajuda muito eles. — ele foi muito doce quando disse isso, de verdade. Nem consegui conter um sorrisinho sútil. — Se não fosse pela sua posição, eu jamais teria oportunidade de cuidar deles da forma que merecem até se sentirem prontos pra finalmente voltarem de onde vieram.

Nossa, Jungkook... que fofo! Você realmente ama cuidar deles, e eu nem preciso te conhecer de longa data pra ter certeza disso.

Em resposta, eu apenas estendi minha mão. Fazendo ele entreolhar entre minha palma e meu rosto, confuso. Logo expliquei:

— Nossos cargos e trabalhos se complementam pra fazer uma grande diferença na vida deles. Ficamos quites assim?

Será que ele me achou legal, algo assim? Ele acabou dando uma risada que pareceu muito isso. E depois de entreolhar mais algumas vezes, ele finalmente correspondeu ao que eu propus.

— Ficamos. Achei perfeito. — e novamente, sua palma grande cobre a minha em um cumprimento confortável. Contato esse que depois de uns bons segundos, eu logo quebrei por ter ficado meio sem jeito, afinal, sem querer prolonguei mais do que deveria. Jungkook coçou a nuca, e simplesmente foi até o balde que trouxe, caminhando até a beira da piscina dos lobos. Nem por isso deixou o assunto morrer: — Então, já tem onde ficar ou ainda vai ser refém de hotéis? Se quiser, posso te indicar uns lugares melhorzinhos e não muito caro.

— Oh, valeu pela preocupação. Mas já tenho um cantinho pra mim. — o observei tirar um peixe de dentro do recipiente e simplesmente jogar para os lobos (isso me lembrou um ditado engraçado). Claro que aqueles famintos quase se mataram pra pegar, no final, sendo o enxerido do Risadinha à pegar o alimento. — Peguei um apartamento simples, mas parecendo bem aconchegante e próximo. Não queria um lugar muito longe, segundo Lena, é só a três ruas daqui.

E ele continuava a jogar mais peixes para aquela galera faminta. Era um pouco terapêutico vê-lo cuidar dos animais, até para mirar ele tinha o cuidado de mirar certinho nos que ainda não comeram. Especialmente para longe do Risadinha.

— Parece bom. — ele respondeu. — Espero que curta Auckland, Jimin. Aqui é um ótimo lugar, vai ter muito conteúdo para as suas pesquisas, tenho certeza. E precisando de mim... Pode me procurar sempre que precisar. — abriu os braços receptivo, e logo lançou mais um peixe.

Sorri espontaneamente.

— Obrigado por ser tão receptivo, Jungkook.

— Que isso... Não agradeça. — deixou o balde agora vazio de canto e ligou a mangueira, começando a lavar suas próprias mãos tranquilamente. — Posso ser seu guia qualquer hora dessas. Não é querendo me gabar, não. Outros profissionais podem sim te apresentar tudo, mas eu sou sua melhor opção. — apontou para si mesmo, com uma falsa modéstia que achei engraçada.

— Então eu agradeço por ter achado a "melhor opção" logo de primeira.

— Sorte à sua me encontrar, e sorte a minha ser provavelmente o primeiro cuidador à te conhecer. — ele tirou o casaco e o deixou de canto, apenas pra conseguir lavar sua mão da melhor maneira. Não sei como ele não estava tremendo com aquela roupa colada de mergulho, sinceramente.

Por que ele era tão... tão... Não sei explicar.

Simpático?

Interessante?

Um poucos dessas coisas. Ah, quer saber? Esquece.

— Bom, não quero mais te atrapalhar. — conclui, ao perceber que ele provavelmente tinha coisas pra fazer e provavelmente a proposta de guia não era sobre agora. Antes de me ver invadindo o alojamento dos lobos, ele devia ter em mente as coisas que faria. Assim como Charlie, não quero atrapalhar ele dos afazeres normais. — Foi muito bom te conhecer, e eu vou cobrar esse seu serviço de guia, viu? Pode ter certeza. — fui andando subitamente até a entrada daquele alojamento.

Ele estava enrolando a grande mangueira quando me ouviu e assentiu brevemente, lançando uma piscadinha em minha direção.

— AI! Calma, tô bem, tô bem!

Por que eu tinha que bater no que parecia ser os brinquedos de piscina dos bichos? E por que Jungkook estava rindo de mim ao invés de ficar com pena? Se bem que pena seria pior, né? Pode rir. Ajustei meu óculos no rosto porque quase caiu, seria um desastre.

— Tá bem mesmo?

— Mais que nunca, e juro que não sou desastrado, tá bem? Na verdade, eu sou a pessoa mais atenta do mundo. Não me interprete por um tombo, pode ser?

— Você é engraçado, Jimin.

Eu não queria ser engraçado, em nenhum momento. Eu queria parecer o cara mais profissional do mundo para literalmente todos que...

— E parece ser um grande profissional também. Mais que nunca, sei que a Ocean Care tem sorte de ter trazido você pra cá.

Oh...

— Obrigado... mais uma vez. — vou sair daqui antes que eu tombe outra vez, não é a imagem que quero passar. Eu realmente não sou de ficar tombando nas coisas, está bem? Só pra avisar. Sou centrado. Mas antes de eu sair daqui, algo me veio em mente: — Você... estava nadando naquele horário porque chega cedo aqui? Temos horários à cumprir? Como funciona?

— Normalmente chegamos aqui pelas oito, oito e meia no máximo. — me explicou, começando a abrir a parte de trás de seu traje, mas sem tirar ainda. — É que eu moro praticamente aqui.

Certo, aquilo me chocou.

— Sério?!

Ele assentiu, e explicou:

— Eu tenho um barco, um dos automóveis estacionados de onde você veio essa manhã. Moro nele, a aquisição material que mais me orgulho. — gente... — E as poucas vezes que não durmo nele, é porque tenho um quarto pequeno aqui. Digamos que a Ocean Care já me acolhe há um booom tempo. A maioria das vezes sou eu quem fecho o local junto com os guardas noturnos. — com as mãos na cintura, ele contou simpático.

Estou um pouco surpreso. Ele vive aqui literalmente. E quando não está aqui, mora literalmente colado no local, só a uma ponte de distância.

— Você... me deixou chocado agora. Que interessante. — admiti, dando um último sorriso antes de me retirar: — Até mais, Jungkook. A gente se vê.

E assim, me retirei. Agora que tomei um ar puro e conheci alguns dos bichos, irei passar o resto do dia pedindo atualizações das burocracias ambientais para Charlie. E depois, finalmente descansar a minha segunda noite em Nova Zelândia no conforto do meu pequeno apê, que estou ansioso para me aconchegar.

De qualquer forma, estou feliz de ter conhecido uma pequena porcentagem do que é esse lugar através de Lena, Charlie e Jungkook. Espero conhecer muito mais pessoas, e entender cada vez mais o propósito do local.

Quero fazer a diferença em tudo, mas não posso jamais esquecer do meu principalmente objetivo: compreender o porquê fui mandado pra cá para criar pesquisas sobre baleias. E não ficarei adiando isso nem mais um segundo, amanhã tenho muito à procurar. E não vou descansar enquanto não compreender.

Auckland, faço parte de você agora. Me mostre tudo o que você precisa me mostrar, estou preparado.

[N/A]:

Jimin Parker
Biólogo Marinho.



Jungkook Jeon
Cuidador de animais marinhos (Ocean Care).



Elena Glauber
Gerente (Ocean Care).



Charlotte Russett
Bióloga Marinha.



Risadinha.
Animal habitante de Ocean Care, adestrado
e com vício em risadinhas.

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