Capítulo 5

O fim de semana chegou e Alex acabou por chamar Micaela para ir em uma boate, ela sem pensar duas vezes aceitou. O problema foi que Nicolas acabou por saber e achou que poderia tirar alguma satisfação.

-- Você não é nada meu! Para de insistir nisso!

-- Eu não acredito que vai sair justo com ele!

-- Por quê? Está com ciúme?

-- Ciúme, eu? – Ele riu desdenhoso – Claro que não!

-- Então por que está se importando tanto?

-- Ele não é boa gente, Micaela. É perigoso.

-- E acha que conhece ele melhor do que eu?

-- Não.... Mas eu tenho intuição....

-- Ah, e acha mesmo que vou acreditar na sua intuição?

-- Deveria!

-- Nicolas, por cinco anos. Cinco anos! Eu me mantive fiel, sendo que nem sabia que ainda tínhamos algo, e agora que deixei de pensar daquela maneira e conheci uma pessoa legal, você aparece a acha que pode interferir na minha vida?

-- Se manteve fiel porque quis, eu aproveitei o quanto pude! – Respondeu ele sem pensar.

Aquilo a atingiu em cheiro. Bem no peito. Não porque sentia algo por ele, mas por ele ser tão direto.

-- Continue aproveitando, então, e vê se me esquece!

Ela lhe deu as costas e saiu andando em direção ao táxi que havia chamado. Chegando ao local, encontrou Alex a esperando na porta. Ele usava calça jeans e a camisa de flanela vermelha e preta realçava os músculos do bíceps expostos.

Entraram e por alguns instantes ficaram desconfortáveis, sem saber o que fazer direito. Logo encontraram o bar e começaram a beber. Micaela não se importava com o tanto de álcool que entrava no seu organismo, apenas queria esquecer o furacão que havia se tornado sua vida. Somente aquela noite. Apenas uma noite!

Começaram a conversar sobre os mais variados assuntos e Alex se provou um excelente ouvinte. Demonstrou suas opiniões também, claro. E além de tudo, beijava muito bem.

Foram para a pista de dança e lá ficaram até a madrugada adentrar e Micaela perder a noção do tempo. Ela perdera também a noção do quanto havia bebido, só sabia que era muito porque estava zonza e a voz engrolada.

-- Por que não vamos em um lugar mais tranquilo? – Perguntou Alex ao pé do ouvido.

Ela estava tão entorpecida que apenas concordou com a cabeça e se deixou ser arrastada para fora.

Chegaram a um beco pouco iluminado nos fundos, ela só notou o local quando já estava lá e Alex já a prensava contra a parede com intenções nada saudáveis.

Ele a beijava de modo afobado, enquanto abaixava a mão para poder tirar sua camiseta. Micaela virou o rosto e tentou se desvencilhar dizendo:

-- Alex, não! Para com izzo.

-- Qual é? Eu sei que está querendo.

-- Não. Para! Me zolta!

-- Você sai comigo, e agora quer me dispensar? – Disse ele a prendendo mais e encaixando os dedos no passador do cinto na calça dela.

-- Vozê confundiu az coizaz.... – Respondeu ela o empurrando.

Mesmo com toda a resistência de Micaela, Alex não desistiu das investidas, ficava cada vez mais insistente e agressivo.

Ela tentou se livrar dele, levantou o joelho e tentou acertar sua virilha, não acertou onde queria de fato, mas chegou bem perto o que fez com que ele a soltasse. Entorpecida ela tentou cambalear para fora do beco, mas Alex se recuperou e rapidamente a alcançou, estava tão furioso que a puxou bruscamente e bateu sua cabeça contra a parede.

Micaela ficou ali no chão, mais zonza e com uma terrível dor de cabeça. Alex a agarrou pelos cotovelos, a levantou e puxou sua camiseta enquanto ela gritava:

-- Para! Me zolta!

Ela tentou acerta-lo com um soco, mas subitamente ele saiu de cima dela. Ouvia-se sons abafados de algo se chocando. Micaela levantou a cabeça e vislumbrou uma silhueta de um segundo homem que socava Alex com fúria.

-- Ela disse para parar! – Gritava o homem – Gosta de bater em mulheres, não é? Bata em mim agora, seu covarde!

Na penumbra da madrugada não dava para ver com clareza quem é que estava ali, mas ela não precisava de muito para adivinhar. O corpo grande de ombros largos denunciava quem era o homem e, além disso, a voz já se tornara muito familiar.

Nicolas!

Como ele a achara?

Ele socou Alex umas outras cinco vezes antes de jogá-lo na parede e com o antebraço apertar seu pescoço e dizer:

-- Se chegar perto dela outra vez, se ousar sequer olhar para ela, eu vou quebrar cada osso do seu corpo. Entendeu?

O outro rapaz que parecia bem assustado apenas assentiu. Com isso Nicolas o levou para fora do beco e o jogou no meio da rua, depois voltou e começou a examinar Micaela.

-- Ele te machucou? – Perguntou segurando seu rosto entre as mãos.

-- Não muito. – Ela respondeu.

Só então ele notou que o lado direito da cabeça dela, perto da têmpora, sangrava. A raiva de Nicolas aumentou e ele pensou que talvez tivesse sido melhor ele só notar o ferimento naquele momento, caso contrário iria cumprir com o que disse ao cretino.

-- Desgraçado! – Esbravejou.

Começou então a tirar o paletó e ao notar isso Micaela se apavorou e começou a gritar com a voz enrolada:

-- Ei! O que eztá fazendo? Por que eztá tirando a roupa? Coloca de volta!

-- Calma, só vou dar o paletó para você. Sua camiseta está rasgada.

Ela olhou para baixo e com o olhar ofendido se voltou para Nicolas.

-- Vozê eztá olhando meu zutiã!

-- Não, não estou olhando. Vamos embora.

Ele a conduziu calmamente para fora do beco e com todo cuidado a colocou dentro do carro. Ela exalava cheiro de bebida e estava entorpecida demais para sequer falar.

Ficou calada o caminho inteiro, encostada no ombro de Nicolas e nem ao menos notou que ele a havia levado para o hotel, não para casa. Na verdade, ele acreditava que naquele momento ela não possuía senso de direção alguma. Onde fosse levada, ela iria sem discutir.

Subiram para o quarto e enquanto ele a deixava tomar banho pediu que chamassem um médico, todo cuidado era pouco.

Ela saiu do banho enrolada num roupão, o cheiro havia saído, mas ela ainda continuava bêbada.

-- Cadê minhaz roupaz? – Perguntou.

-- Mandei jogar fora. – Respondeu ele encarando-a.

-- E o que vou fazer agora, gênio? Ficar com ezza toalha?

-- É um roupão. E pode usar uma das minhas camisas, você é pequena acho que vai cobrir bastante.

Ele lhe entregou uma camisa social azul, e enquanto ela entrava no banheiro novamente, ele abria a porta para o médico que acabava de chegar.

Ela saiu do banheiro e se sentou na cama, para ser examinada. Deu um pouco de trabalho quando o médico começara a limpar o ferimento na cabeça. Micaela afirmava que ele havia sido enviado do inferno para castiga-la por sua desobediência, e que aquele remédio que causava ardor era apenas o começo de sua tortura.

Quando Nicolas finalmente conseguiu convencê-la de que não era nada daquilo, o médico terminou tudo rapidamente. Recomendou algo quente para beber e gelo para colocar no ponto roxo que se formara perto do olho.

Depois que o médico foi embora ainda demorou alguns minutos para que o chocolate quente que Nicolas havia pedido chegasse.

Ele se sentou de frente para ela na cama e lhe entregou a xícara, ainda segurando um pouco para que não caísse, depois com todo cuidado soltou e observou se ela não iria deixar nada derramar.

-- Ele é um cretino! – Apontou ela.

-- Eu lhe avisei, Micaela.

-- Izzo! Joga maiz um pouco zeu zenzo para pezzoaz na minha cara!

-- Me desculpe. Esse não é o momento para discussões.

-- Não! Vozê eztava completamente certo. Corretízzimo. O grande Nicolaz sempre está certo.... – Disse ela abrindo os braços sem lembrar da xícara.

O líquido quente voou do recipiente e acabou caindo na camisa de Nicolas que rapidamente se levantou e arrancou a camisa, gritando:

-- Quente, quente, quente....

Micaela até que tentou pedir desculpas, mas diante da visão que tinha de Nicolas sem camisa, as palavras simplesmente não saíam.

Os músculos dele eram como ferro. Sólido. Denso. A barriga com todos os seis gomos trabalhados a perfeição, os pelos ralos pareciam sedosos ao toque, a pele dourada realçava a beleza de tudo aquilo. Uma trilha de pelos negros desciam até o cós da calça, passando pela cintura estreita. Ele era o verdadeiro exemplar do corpo masculino, com os ombros largos e o quadril estreito.

Ela simplesmente não resistiu, ficou encarando boquiaberta, desejando tocar aquele "tanquinho", enquanto ele limpava, com a mesma camisa, a pele molhada pelo líquido e resmungava:

-- Podia pelo menos ter mais cuidado! Eu sei que não está em posse de sua coordenação motora, mas.... – Ele olhou para ela e a viu paralisada – Está tudo bem?

-- Eztá tudo ótimo!

-- De repente ficou.... Estranha.

-- E de repente ficou interezzante. – Sussurrou ela.

-- Como é?

-- Hã?

Ele começou a procurar por outra camisa no quarto enquanto ela o acompanhava com os olhos.

-- Agora a pouco estava me xingando. – Apontou ele – E agora está aí me olhando como se nunca me tivesse visto.

-- Dezze jeito eu não vi mezmo.

Ele parou de frente para ela, com uma camisa limpa nas mãos, inclinou a cabeça para o lado e disse:

-- Micaela, estou preocupado com sua cabecinha. Não está falando coisa com coisa, acho que bateu forte demais.

-- Tãããããaoooo foooorrttee!

Ele franziu o cenho, mas não teve tempo de responder, pois Marcos, seu mordomo, abriu a porta de comunicação entre os quartos e disse:

-- Senhor, a outra empresa deseja renegociar.

Nicolas deu as costas para Micaela e mais uma vez ela observou aqueles músculos bem definidos sob a pele dourada. Além de uma enorme cicatriz que descia desde o ombro esquerdo e atravessava as costas até chegar um pouco acima do cós da calça.

Se ela não estivesse tão entorpecida teria perguntado como ele conseguira aquilo, pois tinha certeza que há cinco anos aquela cicatriz não existia.

-- Sério que eles já estão acordados discutindo isso?

-- Bom, o fuso horário é diferente daqui, senhor.

-- Sem chance! – Respondeu Nicolas – Já está tudo definido.

-- Muito definido! – Resmungou Micaela.

-- Ela está bem, senhor? Precisa de algo?

-- Não, deixa que eu cuido dela.

Quando o mordomo fechou a porta Nicolas colocou a camisa limpa que encontrara e fechou, depois se sentou novamente na cama de frente para Micaela.

-- Ah! Adeuz gominhoz! Eram tão bonitoz!

-- Micaela, quanto bebeu?

-- Acha que eu iria contar?

-- Por que fez isso?

-- Porque eu queria ezquecer, Nicolaz!

-- Esquecer o quê?

-- Vozê! Vozê mexeu comigo.

-- Eu? – Perguntou ele surpreso.

-- Pozzo falar uma coisa? – Indagou ela se aproximando mais.

-- Pode....

-- Vozê é muito goztozo!

Ele jogou a cabeça para trás e riu alto. Voltou o olhar para ela e perguntou:

-- Eu sou o quê?

-- Vozê ouviu! – Ela se afastou – Não vou repetir, já perdi muito da minha dignidade hoje.

-- Você não está nada bem. Melhor dormir.

Quando ela apenas piscou lentamente, ele se aproximou e tocou o local onde o arroxeado se formara.

-- Como ele pode fazer isso?

-- Nem vem, Dom Juan. Eu não vou cair no zeu charme de prínzipe, alteza.

Apesar de sua rejeição ela também se aproximou dele. Estavam tão perto que os narizes quase se tocavam, pois ele havia abaixado a cabeça para observá-la. Micaela encarava aquelas írises castanhas que agora estavam mais escuras pela dilatação da pupila. Pareciam pegar fogo, e ali tinham sentimentos que ela não sabia decifrar. Se libertou do transe que a prendia e inclinou a cabeça para o lado, sem perceber foi chegando cada vez mais perto, até encaixar a cabeça em seu pescoço e ali inspirou o cheiro amadeirado e o calor que emanavam do corpo dele.

-- Eu não estava tentando te seduzir, Micaela, só estou preocupado com você. Se arriscou apenas por desobediência. E se eu não tivesse ido atrás de você? E se eu não chegasse a tempo? Já imaginou o que poderia ter acontecido? Sei que é perfeitamente capaz de se defender, mas no estado em que está, duvido muito que tivesse alguma chance contra ele. Acho que ele te embebedou de propósito, porque estava mais sóbrio que você, disso tenho certeza.

Ela não se moveu e continuou ali em seu pescoço, tampouco respondeu, apenas respirou fundo.

-- Micaela?... Está me ouvindo?

Nicolas girou a cabeça lentamente, colocou as mãos nas costas dela e chacoalhou.... Ainda sem resposta.

Segurou seus ombros e a trouxe para frente, constatando o óbvio. Ela dormira.

Então ele a pegou no colo, acomodou-a na cama e cobriu. Ficou por um bom tempo observando-a dormir e começou a se perguntar o que despertara nele todo aquele sentimento de proteção. Porque naquele momento no beco, percebeu que enfrentaria o mundo todo para mantê-la segura.

Será que sentira isso recentemente? Ou era algo que já carregara consigo durante todos aqueles anos sem ela?

Logo, deixou os pensamentos de lado e caiu no sono ali mesmo na poltrona ao lado da cama.

Micaela acordou aos pulos com o celular tocando. O sol entrava pela janela e a cegava com a luz forte, a cabeça rodava e latejava, como se alguma coisa a apertasse, o estômago reclamava e ameaçava colocar tudo para fora.

Jogou as cobertas para o lado e se levantou correndo em direção ao banheiro, no meio do caminho parou e notou que estava usando uma camisa grande, olhou em volta e viu Nicolas parado atrás de si, com os braços cruzados.

-- Vai a algum lugar?

-- Eu.... hã.... Como eu...?

-- Não lembra?

-- De algumas coisas.

-- Por exemplo...?

-- Do beco. De você. De um médico. Um chocolate.... – Ela lembrava do abdome dele, só resolveu ocultar esse detalhe e guardar apenas para si – Acho que só.

Ele pareceu decepcionado por um momento, mas depois seu rosto assumiu uma forma inexpressiva e ele respondeu:

-- Pedi que Marcos comprasse roupas novas nova para você, já que a outra rasgou.... E eu mandei jogar fora.

-- Rasgou? Como consegui isso?

-- Não foi você, foi o des..... Foi aquele rapaz.

-- Ai não acredito! Eu não fiz nada vergonhoso.... Fiz?

-- Não, não fez.

-- Ah, que bom. Porque se fizesse.... – Ela não continuou a fala. Uma ânsia subiu e ela teve de correr para jogar tudo que estava no estômago dentro da privada e não no carpete do quarto.

Nicolas encostou no batente da porta e irônico perguntou:

-- Quer mais um pouco de bebida?

Quando ela se recuperou virou-se para ele e respondeu:

-- Não tem graça alguma!

-- Eu acho que tem.

-- Porque não é você!

-- Sinto muito lhe informar, só se meteu nesse problema por sua própria conta.

-- Me ajudou apenas para me dar sermão?

-- Não. Ajudei porque precisava. O sermão vem de brinde!

-- Eu não....

Sim, ela precisava sim de ajuda, por isso não terminou de falar.

Seu celular começou a tocar novamente e ela tentou correr para atende-lo, mas Nicolas foi mais rápido e pegou primeiro. Atendeu e por um momento permaneceu calado, apenas escutando a voz estridente do outro lado da linha. Por fim, respondeu:

-- Não é a Micaela, dona Chiara. Sou eu, o Nicolas.... Sim, ela passou a noite aqui no hotel.... Não, não aconteceu nada.... Ela está bem.... Pode deixar eu a levo aí.... Não por isso, tchau! – Ele se virou para Micaela e disse – Ela parece sua mãe!

-- De certo modo ela é. Está furiosa, não está?

-- Está.

-- Eu já desconfiava.

-- Só está preocupada com você. Assim como fiquei.

Quando ela apenas o encarou, mas não respondeu, ele apontou para o ferimento, continuando:

-- Está doendo muito?

-- Um pouco. – Respondeu ela tocando a testa.

Ele se aproximou e tocou o mesmo local, acariciando e varrendo para longe toda a tensão que ela sentia.

Logo Marcos chegou com as roupas  para Micaela. Em poucos minutos ela estava em casa, e antes de sair do carro ela se virou para Nicolas, só não esperava que ele estivesse tão perto dela. Ela pode sentir a respiração dele em seu rosto e o calor que emanava de seu corpo novamente. Por alguns segundos ficou sem ação e se sentiu atraída por aquela boca.

Por fim se forçou a dizer:

-- Eu queria dizer.... É.... Eu.... Obrigada, Nicolas. Obrigada mesmo, eu não sei o que....

-- Não foi nada. – Interrompeu ele – Era meu dever.

"Claro! Dever." Pensou ela.

Estava saindo do carro quando se deu conta de que não usava o colar que seus pais haviam lhe dado. Entrou em desespero e indagou:

-- Nicolas, você guardou o colar que estava comigo?

-- Que colar?

-- Um com uma pedra de ônix. Eu estava com ele ontem.

-- Não, você não estava com nenhum colar.

-- Ah, não acredito! – Disse ela com enorme tristeza – Era a única lembrança dos meus pais. Fazia eu me sentir perto deles! Sou uma completa idiota!

-- Era muito valioso?

-- Financeiramente não. Mas sentimentalmente....

-- Eu sinto muito.

-- Preciso ir! Mais uma vez.... Obrigada.

-- Disponha.

Ela saiu do carro e correu para casa. Não esperou nem mesmo Chiara lhe passar um sermão, se deitou na cama e chorou. Chorou pela burrada que havia cometido, pelo colar perdido e por Nicolas.... Não sabia porque, mas chorara por ele também.

De tarde ela se levantou e desceu. Passando pela sala adentrou a cozinha onde as outras três mulheres tomavam um café à mesa. Os três pares de olhos se voltaram para ela, dois curiosos e um furioso. Chiara. Era de se esperar. Mas seu olhar de fúria logo se dissipou ao ver os hematomas de Micaela, Chiara se levantou e foi na direção dela. 

-- Meu Deus! O que aconteceu? O que ele te fez?

-- Não foi o Nicolas, Chiara. Ele só me ajudou.

-- E como está se sentindo? Quer que eu te leve no hospital? Isso está horrível!

-- Eu já fui atendida, não se preocupe. Eu estou bem.

Vendo que Micaela estava realmente bem, Chiara retomou a postura nervosa.

-- Como você simplesmente vai para o quarto de hotel com Nicolas e não me fala nada? Não me ligou, não me avisou e não atendeu o celular. Quer me deixar louca? Além disso, chegou e sequer nos deu explicações. Onde está sua consideração?

-- Me desculpa, Chiara. Eu.... Foi uma noite péssima....

-- Isso não é desculpa. Sei que já é maior de idade, mas ainda sim me sinto responsável por você. Eu prometi para sua mãe cuidar de você.

-- Eu errei admito. E prometo que isso não vai se repetir. Eu juro. Fui tão idiota! Me perdoem.

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela sem que ela tivesse forças para detê-las.

-- O que aconteceu? Não iria sair com o Alex? Por que ele deixou que fizessem isso com você? Se envolveu em confusão?

-- Não, não foi confusão.... Quer dizer.... Um pouco. Eu saí com o Alex, mas aí ele.... Ele.... Eu sou uma estúpida.

-- O que ele fez, Micaela?

-- Ele tentou.... Eu não quis.... Mas aí.... – O nervosismo tomava conta dela novamente e as palavras saíam desconexas – Então o Nicolas apareceu....

Chiara não precisou de mais palavras para entender o que havia acontecido, abraçou Micaela forte, oferecendo o ombro para ela chorar.

-- Você quer prestar queixa na delegacia? – Perguntou por fim.

-- Não sei. Eu só quero ficar em casa um pouco e tentar esquecer o que aconteceu. E para piorar tudo ainda perdi o colar que meus pais de deram. A minha sorte foi Nicolas aparecer e me levar para o hotel.

-- Rolou alguma coisa? – Perguntou Amália.

-- Não seja inconveniente, Amália. – Repreendeu a mãe.

-- Não, não rolou nada. Nicolas é só um bom amigo. Se não se importam, eu só vim pegar algo para comer e já estou voltando para o quarto.

Ela passou o resto do dia no quarto, se sentia culpada e por um momento sozinha. Apesar do calor da amizade das meninas e sentimento materno de Chiara, Micaela não conseguia se sentir confortável. Não naquele dia.

Ela queria a sua casa de verdade, queria sua família, queria o colo da sua mãe. O abraço de seu pai e os conselhos de seu primo Thomas. A quem ela mais considerava um irmão. E como será que ele estava? Por mais que falasse toda semana com ele, não era o suficiente para matar a saudade. Queria acompanhar a recuperação dele pessoalmente, ambos estavam passando por momentos complicados e o apoio um ao outro seria essencial. Assim como foi a vida toda. O que não daria para voltar para casa apenas naquele momento!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top