Capítulo 46
A casa toda estava agitada, empregados corriam de um lado para o outro enquanto Heitor, Laura, Susana, Chiara, Duda e Amália tomavam café da manhã.
-- Os dois não vão descer? - Perguntou Amália.
-- Eles não podem. - Respondeu Heitor.
-- Por quê?
-- No dia da coroação ninguém pode ver o futuro rei ou rainha. - Explicou Laura - Somente os seguranças. Por isso tomaram café no quarto.
-- Que loucura! - Acrescentou Duda - Não entendo o motivo disso.
-- É uma tradição. É como o noivo que não pode ver a noiva no dia do casamento. Ninguém quebra essa tradição. Eles ficam isolados até irem para o local onde será a coroação.
Laura mal tinha terminado a frase e Micaela entrou na sala.
-- Bom dia! - Cumprimentou.
-- Micaela! - Bradou Heitor - O que está fazendo aqui?
-- Vim buscar algo para comer!
-- Já não levaram algo para você?
-- Sim, mas ainda estou com fome.
-- Volte para o quarto, Micaela - Ordenou Laura se levantando e empurrando a filha para fora.
-- Mas, mãe...
-- Nada de, "mas". Volte para junto de Nicolas e fique lá até que possa sair.
Enquanto Micaela andava pelo corredor para voltar ao quarto, os empregados que a encontravam viravam de costas rapidamente para não vê-la.
-- Droga de tradição idiota! - Resmungava ela.
Três horas depois eles estavam a caminho da cede do Parlamento. Quando chegaram às portas do antigo prédio tudo estava completamente vazio. Nada de jornalistas, nada de fotos, nada de gritaria.
-- Eles levam essas tradições bem a sério! - Comentou Micaela.
-- Levam mesmo. - Respondeu Nicolas.
Entraram e encontraram os organizadores da cerimônia. Uma moça alta e loira que a toda hora lançava olhares para Nicolas, e um rapaz de cavanhaque e meio afeminado.
Foram levados ao salão onde a cerimônia aconteceria, ficaram parados atrás da porta fechada, esperando para serem anunciados.
Enquanto esperavam, Micaela observou Nicolas. Ele estava vestido do mesmo jeito que havia aparecido na faculdade no primeiro dia. O paletó azul marinho que parecia de um militar com alguns detalhes em dourado e vermelho na gola, no bolso ao lado esquerdo pequenas correntes se prendiam no detalhe também dourado. A calça preta.... E aquelas botas.
-- Você está ridículo.
-- Como assim?
-- Está usando essas botas de novo.
Então Nicolas se abaixou e tirou as botas, ficando apenas com as meias nos pés.
-- Prefere que eu entre assim? - Perguntou debochado.
-- Não. Coloca isso de volta. - Admitiu Micaela a contragosto.
Nicolas riu da esposa e enquanto calçava as botas novamente, retomou:
-- O que posso fazer? Eu tenho que usar!
-- Aliás, quem escolheu essas roupas? Esse vestido está ridículo em mim.
Disse Micaela se analisando. Estava com um vestido cor azul Jeans, alguns bordados desciam do pescoço e iam até o abdômen. Nas mangas os mesmos bordados estavam presentes e alguns "desfiados" podiam ser vistos ali. O sapato de salto era dourado com pequenos brilhantes.
-- São os costumes, alteza! - Respondeu a loira bruscamente e arrumando o bolso de Nicolas acrescentou - Com licença, majestade.
Micaela apenas observou a mulher com os olhos semicerrados. Ela ainda continuou:
-- Agora, senhor, pode tirar as mãos dos bolsos e deixa-las abaixadas, por favor? - Assim que Nicolas obedeceu, ela se referiu a Micaela - E a senhora por colocar as mãos assim.
A moça colocara uma mão em cima da outra, formando uma concha.
-- Está mesmo falando sério? Eu tenho que entrar assim?
--Mas claro que deve entrar assim, alteza. É a tradição! E eu jamais brincaria com algo tão sério.
-- Isso é ridículo.
-- Não sou eu quem faço as tradições. - Respondeu a moça lhe dando as costas.
"Coisinha abusada!" pensou Micaela.
-- Está quase na hora. - Disse o simpático moço.
Micaela sorriu para ele e assentiu. Por que aquela oxigenada não podia ser como aquele moço bonzinho? Além disso ela estava olhando toda hora para Nicolas. Isso já começava a irritá-la.
Logo eles se posicionaram melhor, se concentraram e esperaram. Mal podia acreditar! Quantas coisas vividas até chegarem ali. E agora seriam coroados rei e rainha de uma nação inteira. E isso os assustava um pouco. Ainda eram jovens demais, ela com vinte e ele com vinte e três anos. Esperavam ter sabedoria o suficiente para governar.
Então uma voz soou dentro do salão anunciando:
-- Vossa Majestade, Nicolas Lambertini e vossa Alteza, Micaela Belmok.
Quando as portas se abriram aproximadamente cinquenta pessoas os esperavam de pé. Eles se encararam por um segundo e em seguida deram início à caminhada pelo longo corredor.
Ao chegarem em frente a uma espécie de altar, se ajoelharam nas escadas, um arcebispo ungiu suas cabeças com óleo enquanto dizia:
-- Esse óleo é sinal que estão prontos para o governo deste país. Que Deus os abençoe.
Se levantaram e um bispo se aproximou com a bíblia na mão para que Nicolas fizesse o juramento. Este colocou a mão direita sobre ela e com a esquerda levantada proferiu os seguintes votos:
-- Prometo solenemente, diante de Deus e das testemunhas aqui presentes, governar este país com justiça e sabedoria. Para que meu povo seja levado à glória de uma vida plena e próspera. Que eu seja instrumento de base e fortaleza para este país e seu povo que agora testemunha tamanha cerimônia. Prometo ouvi-los e fazer o meu melhor para proporcionar a igualdade que tanto se almeja. Declaro abertamente o amor pela pátria e assumo de agora em diante o compromisso de protege-a e honrá-la. Que assim seja a partir do nascer do sol deste dia, até ele se pôr em meu último dia de vida.
Em seguida Micaela fez o mesmo procedimento, repetindo as mesmas palavras. Foram conduzidos até duas cadeiras viradas de frente para os espectadores. Depois os guardas se apresentaram e fizeram seu juramento de lealdade à coroa, logo após alguns convidados prestavam sua homenagem oferecendo alguns presentes.
Por fim fez-se a coroação. Ficaram de pé diante do arcebispo e as cadeiras foram retiradas.
-- Ajoelhem-se, por favor. - Pediu o arcebispo.
Micaela sabia o que aquele gesto significava. Significava que para um rei ou uma rainha serem dignos de suas coroas, eles teriam que se abaixar, serem acessíveis aos súditos. E ela fora até embaixo. Até o chão.
A frente dos dois se posicionaram dois cardeais com as respectivas coroas. E enquanto elas eram baixadas sobre suas cabeças o arcebispo dizia:
-- Pelo poder concedido a mim pela igreja, eu os nomeio rei e rainha de Vienere Montanaris.
Eles levantaram as cabeças e encaram os convidados que os saudavam com um:
-- Vida longa ao rei e à rainha!
Por fim se levantaram e assumiram o lugar nos tronos ali dispostos, enquanto o arcebispo falava pela última vez:
-- Lhes apresento vossas majestades o rei Nicolas e rainha Micaela.
Mais uma vez eles se encararam e Nicolas apertou a mão da esposa. Mal podiam crer que agora estavam no mesmo lugar que um dia seus pais estiveram.
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