Capítulo 36


Uma semana havia se passado e como estava resolvendo assuntos do casamento, Nicolas não lembrara de convidar um antigo amigo, agora parado em seu escritório, olhando pela janela falava com ele ao telefone enquanto Micaela adentrava a sala e esperava o noivo encerrar a chamada.

-- Pois é, eu consegui.... Sim, será dentro de uma semana, me perdoe não ligar antes, mas é que tanta coisa aconteceu.... Obrigado por entender. E a garota que havia me dito?.... Como não está com ela? – Ele escutava tudo com muita atenção enquanto uma expressão de perplexidade tomava seu rosto – Eu não posso crer! Acho que até nisso nos entendemos.... Não consegue vir de nenhuma forma?.... Ah eu sinto muito! Dê minhas sinceras condolências a ela.... Seria uma ótima ideia! Podem ficar instalados aqui em casa.... Incomodar? De maneira alguma. Temos que pôr muitos assuntos em dia, meu amigo, e creio que essa será a oportunidade certa.... Nos vemos em breve então. Tchau!

Ele desligou o telefone e Micaela foi logo perguntando:

-- Quem era?

-- Um amigo meu do colégio interno. – Respondeu ele se virando para ela.

-- Achei que não tivesse amigos lá. Nunca me falou sobre esse! Como ele se chama?

-- Não falei? Devo ter me esquecido. O Christophe era o único que me aceitava lá, provavelmente o único também que não queria me bater! De qualquer forma eu havia me esquecido de avisa-lo sobre o casamento e resolvi ligar agora.

-- E ele vem?

-- Não poderá. Parece que a noiva dele perdeu alguém muito próximo e ainda estão de luto.

-- Nossa! Eu sinto muito. Mas quem sabe ele poderá vir outro dia.

-- Foi isso que ele me disse. Deve vir para cá para resolver alguns assuntos diplomáticos logo depois do nosso casamento. Creio que ele trará a noiva. Tem algum problema?

-- De modo algum! Vai ser ótimo conhece-los. E o bom é que estamos todos entre casais.

-- Sim. – Respondeu ele se sentando na cadeira de couro – Mas por incrível que pareça ele vive uma situação muito parecida com a nossa.

-- Como assim?

-- Ambos estão sendo forçados a se casarem.

-- Eu não creio! Achei que éramos os únicos que viviam a situação do século passado. Mas eles pelo menos se gostam?

-- Eu não sei. Não tive tempo de conversar sobre isso. Espero esclarecer a situação assim que eles chegarem.

-- Bom, vão ter bastante tempo para isso.

-- Sim, agora se me permite – Disse ele já se levantando – tenho que resolver algumas questões na empresa, então vou precisar sair. Se importa de ficar só?

-- É claro que não. Com essa casa da maneira que está é muito improvável que eu fique sozinha.

-- Pois bem. Até mais.

-- Até.

Ele depositou um beijo rápido em Micaela e saiu.

A toda hora inúmeras pessoas procuravam por Micaela para experimentar o vestido, os doces, as bebidas, os salgados, verificar os enfeites, as músicas, convidados.... Ela já estava ficando maluca. Não sentia necessidade de ter tanta coisa, mas não poderia negar que seria o casamento da história dos dois países. Não é todo dia que se faz um casamento real. Embora ela ainda não tivesse se acostumado com a ideia.

Sendo assim, ela se refugiou na biblioteca e ficou a tarde toda lendo. Um pouco mais tarde Nicolas chegou e se jogou na poltrona de couro marrom. Ela se levantou e se posicionou atrás dele, fazendo massagem nos ombros.

-- Dia difícil? – Perguntou.

-- Nem me fale. Aqueles sócios sabem ser chatos quando querem. – Respondeu ele jogando a cabeça para trás e fechando os olhos – E você? Não deveria estar resolvendo as coisas do casamento?

-- Eu deveria. Mas também mereço um minuto de sossego, não acha?

-- Sim, eu concordo. Estão te perturbando muito?

-- Nem me fale! Estou entupida de comida. "Prove isso", "Prove aquilo".

Nicolas riu e respondeu:

-- Logo você recusando comida?

-- Eu também tenho fundo sabia?

-- Está aí um fato surpreendente sobre você.

-- Muito engraçado, senhor Lambertini. E falando em casamento.... Você vai fazer essa barba, não é? – Perguntou ela passando os dedos pelo maxilar de Nicolas.

Ele abriu os olhos rapidamente e fez uma careta de contragosto.

-- Como assim?

-- Como assim? Ela me espeta, Nicolas. E isso está horrível.

-- Não está, não. É um símbolo da minha masculinidade!

-- Eu acho que o símbolo da sua masculinidade é outra!

-- Senhorita Belmok, não creio que está insultando minha barba.

-- Não estou insultando, só estou te pedindo para tira-la. Eu não vou me casar com você assim. – Respondeu ela de forma brincalhona.

Nicolas se levantou rapidamente e virou de frente para Micaela. Algo queimava no olhar dele.... Era divertimento. Ele gostara do desafio. Devagar ele contornou a poltrona e se aproximou de Micaela, com uma sobrancelha erguida e um sorriso de deboche nos lábios.

-- Então, quer dizer que não se casa comigo?

-- Não. Com essa barba, não.

-- Então, acho que terei que te dar uma lição. – Disse ele diminuindo a distância entre eles, enquanto Micaela recuava um pouco.

-- Nicolas.... Foi brincadeira.... O que está pensando em fazer?

-- Já disse.... Te dar uma lição.

-- Nicolas.... Não!

Tão rápido quanto um felino ele a agarrou e começou a esfregar o rosto no dela enquanto ela gargalhava e gritava:

-- Não!.... Nicolas, para! Está me machucando!

-- Repete o que disse sobre minha barba!

-- Não.... Está me arranhando! Nicolas!

Os dois se divertiam e gargalhavam, mas Micaela se recusava a repetir o que dissera e ele se recusava a parar com aquilo. No entanto a porta foi aberta de supetão e Susana surgiu gritando:

-- Nicolas, pare!

O choque foi tanto que Nicolas acabou soltando Micaela que caiu no chão.

-- Meu Deus! – Disse ele – Amor, você está bem?

-- Não sei onde enfiar a cara, mas estou bem. – Respondeu ela se levantando.

-- Você está bem, querida? – Perguntou Susana se aproximando – Ele te machucou?

-- Não. Ele não me machucou, nós só estávamos.... Hã.... Quer dizer...

-- Era brincadeira, mãe.

-- Brincadeira? As pessoas que estavam passando no corredor acharam que você estava agredindo, Micaela.

-- Agredindo? Por Deus! Eu jamais seria capaz disso. O que essa gente pensa?

-- Eu que pergunto o que você pensa. Não imaginou que aqui estaria cheio de pessoas?

-- Me desculpe, não imaginei.

-- Crianças, por favor, tenham mais um pouco de modos.

-- Nos desculpe. – Disse Micaela.

-- Senhorita Belmok. – Disse uma moça ruiva aparecendo na porta e interrompendo a conversa – Poderia comparecer até a cozinha? As amostras de bolo chegaram, precisamos que experimente.

-- Eu já estou indo.

Se dando por satisfeita a moça se retirou e Micaela suspirou cansada.

-- Quando vão parar de me chamar de Senhorita Belmok?

-- Quando se casar com meu filho. – Respondeu Susana – Então vão começar a te chamarem de Senhora Lambertini.

-- Isso é muito consolador. Com licença. – Respondeu ela irônica.

Micaela foi para a cozinha não muito animada com a ideia de se entupir de bolo.

Deu de frente com algumas pessoas que passavam por ali e a encaravam espantados. E ela imaginava o porquê, provavelmente seu rosto estava vermelho e os cabelos despenteados. Então ela os encarou decidida e disse:

-- Ele não estava me agredindo!

Depois partiu para a cozinha o mais rapidamente possível.   

Depois de toda aquela comida, Micaela não poderia ver mais nada a sua frente. Nunca pensara que um dia pudesse sentir isso, mas não aguentava mais comer. Se continuasse daquele jeito seria bem capaz de não caber no vestido no dia do casamento.

Poderia até imaginar como estavam suas artérias depois daquele dia.

Voltou para a biblioteca e encontrou Nicolas olhando pela janela, e ao perceber que ela estava ali ele se virou e a olhou com um sorriso no rosto.

-- Estava te esperando. – Disse. Depois pegou o controle de alguma coisa, apertou um botão e uma música começou a soar no local, precisamente uma valsa. Ele estendeu a mão para ela e completou – Venha.

-- Como assim "venha"? – Perguntou ela receosa.

-- Temos que ensaiar a valsa.

-- Que valsa, Nicolas?

-- Dos noivos, ora!

-- Ninguém me falou que ia ter isso!

-- Porque você nunca escuta ninguém, Micaela.

-- Ah, não, Nicolas. Eu não sei dançar, e só vamos passar vergonha, eu....

-- Deixa disso. – Ele a pegou pela mão e a trouxe para perto – Não é tão difícil.

-- É sim....

-- Apenas me deixe conduzir.

Ele começou a se movimentar a levando junto, mas Micaela não conseguia seguir o ritmo, sempre ia para o lado errado, e vez ou outra pisava no pé de Nicolas.

-- Não olhe para seus pés. Olhe para mim. – Pediu ele.

Ela tentou fazer o que ele disse, mas a dificuldade era maior, e então ela pisou outra vez no pé dele. Dessa vez com mais força.

-- Ai!

-- Esquece, Nicolas. – Disse ela se desvencilhando dele – Isso não vai dar certo, eu já te disse que não consigo. Isso só vai te machucar. Eu não quero mais.

-- Mas você dançou no seu aniversário de quinze anos!

-- Sim, mas pergunta para meu pai o jeito que ficou o pé dele depois, e quantas semanas tivemos que ensaiar.

-- É só você me deixar, conduzir, Micaela.

-- Não adianta! Eu não consigo, Nicolas, não sirvo para essas coisas eu....

-- Ei! – Disse ele se aproximando dela olhando em seus olhos – Se você continuar pensando assim, não irá conseguir mesmo. Tente apenas mais uma vez.

Enquanto falava, Nicolas a segurava pela cintura com a mão direita, com a esquerda segurou a mão direita dela e as elevou, depois colocou a mão esquerda dela em seu ombro. Exatamente na posição em que deveriam dançar. E Micaela sequer se deu conta disso, pois estava tão concentrada nos olhos dele que não percebeu. Aproveitando da distração dela, Nicolas pediu:

-- Me conte mais sobre seu aniversário de quinze anos.

-- Você estava lá, Nicolas. Até dançou a valsa com alguém. Aliás, como sabia dançar?

-- Sim, mas eu quero ouvir sua versão. E eu tive que aprender a dançar quando meus pais foram convidados para um jantar de gala. Agora me conte.

Ele começou a se mover devagar enquanto ela falava distraída:

-- Bom, eu tive que ficar pelo menos umas quatro semanas ensaiando com meu pai. Não tenho o menor dom para isso. O pior era que eu tinha que usar salto.

-- E atrapalhada como você é!

-- Exatamente, eu era um completo desastre, acho que até hoje sou. O coitado do meu pai ficou com calos nos dedos dos pés aquele dia. Os minutos que duraram a música foram os piores momentos da festa. Foi um pesadelo.

Nicolas gargalhou se divertindo com a situação e respondeu:

-- É porque você nunca deixa que seu parceiro te conduza. Tem que se deixar levar pela música, aproveitar o momento.

-- E acha mesmo que consigo fazer isso?

-- E por acaso que percebeu que é exatamente isso o que está fazendo agora?

Só então ela prestou mais atenção no que estava fazendo, estava girando pelo local e executando os passos com perfeição.

-- Nicolas....

-- Você está dançando!

-- Mas.... Como eu...?

-- Estava tão distraída conversando comigo que acabou deixando-me conduzir. E é só isso que terá que fazer. Claro que teremos que ensaiar mais.

-- Eu não acredito! – Disse ela com um sorriso no rosto.

-- Você conseguiu!

Os dois riram e pelo resto da semana ficaram ensaiando naquele horário. Micaela ainda tinha alguma dificuldade, e vez ou outra pisava no pé de Nicolas, mas melhorava a cada dia mais.

"Eiiiii, pessoas! O casamento desses dois está chegando!! O que será que vem pela frente?? Não se esqueçam de deixar as estrelinhas!!! Beijoooosss"

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