Capítulo 3
Chegando em casa, depois do serviço, Amália praticamente obrigou Micaela a se sentar no sofá e explicar tudo o que acontecera naquele dia. Chiara ficou confusa com a situação e também quis saber o motivo de todo aquele alvoroço. Era inevitável, Micaela tinha que contar. Não poderia continuar com a mentira, ou melhor dizendo.... Omissão. Era justo que elas soubessem, sendo assim, logo começou:
-- Chiara, eu e minha família não fomos totalmente honestos com você.
-- Como assim?
-- Dissemos que nosso país ia se unir com o país vizinho e que alguns parlamentares não haviam gostado disso, por isso minha vida foi ameaçada. E isso é verdade.... Mas omitimos um pequeno detalhe.... Para a união acontecer eu teria que me casar com o herdeiro do país vizinho.
-- Casar? Mas você só tinha quinze anos, era uma menina!
-- Sim, eu sei, mas era um noivado. Uma garantia de que um dia nos uniríamos. E eu não contei isso para vocês porque não sabia que ainda tinha um compromisso ou não. Na verdade, acho que não posso justificar. Me perdoem.
-- E agora seu noivo veio à sua procura? – Perguntou Duda que também se juntara à conversa.
-- Acho que ele veio negociar algo. Me encontrar foi consequência.
-- E acha que ele vai querer algo com você ainda?
-- Não sei, Amália. Por enquanto ele só exige explicações, afinal ele não sabia que eu estava aqui. Para ele eu estava morta. Não sei qual é o jogo dele.
-- Vocês se gostavam, Micaela? – Inquiriu Chiara séria.
Micaela pensou por alguns segundos, analisando aquela pergunta.
-- Eu não sei. A gente vivia brigando, mas era encrenca de adolescente. Eu gostava de Nicolas, mas.... Mas não o suficiente para querer algo com ele.
-- E isso mudou?
-- Não!
-- Então sabe o que fazer se ele tentar algo.
-- Me perdoem. Eu não deveria ter escondido isso.
-- Tudo bem. Só não omita nada de nós novamente, somos uma família e é para isso que estamos aqui.
Micaela concordou e elas logo esqueceram o assunto.
No dia seguinte lá estava Nicolas novamente, dessa vez estava em um terno azul escuro. Pelo menos não usava aquelas malditas botas e chamara menos atenção que no dia anterior. Sua postura, no entanto, não mudara. Estava encostado no carro preto e alto, os braços cruzados na altura do peito, o que o deixava com uma aparência ainda maior, os tornozelos também estavam cruzados, dando a ele um ar despojado.
Quando a viu sair uma hora mais tarde do que saíra no dia anterior e acompanhada de um cara alto, o estômago de Nicolas revirou. Aquele não era um bom sujeito, sempre tivera essa intuição para pessoas, e ela estava saindo com ele! Não estava com ciúmes, de maneira alguma, acabara de encontrá-la. O problema é que ela era sua noiva, droga! E estava saindo com outro!... Pensando bem.... Será que ainda possuía algo entre eles? Cinco anos os separaram e em momento algum tiveram contato, mas agora.... Agora a vira novamente e.... Estava confuso, não sabia se ainda tinham algum compromisso. Na verdade, não sabia nem porque ainda estava ali. Vendo-a se aproximar tratou de se encontrar com os dois, o rapaz ao notar que Nicolas ia em direção a eles, passou os braços ao redor dos ombros de Micaela como se sinalizasse que era melhor não tentar nada.
-- O que está fazendo aqui? – Perguntou ela.
-- Não vou sair daqui enquanto não conversarmos direito.
-- Ele está incomodando você, Mi? – Perguntou o rapaz.
-- Não estou incomodando. – Rebateu Nicolas ríspido – Quero apenas conversar.
-- Nós já conversamos. – Respondeu Micaela.
-- Aquilo não pode ser chamado de conversa!
-- Nicolas, eu estou atrasada. Preciso ir para o serviço.
-- Será que em algum dia vai poder me escutar?
-- Aí, amigo. – Se meteu o rapaz de novo – Não está percebendo que ela não quer nada com você?
Nicolas lhe lançou um olhar que poderia congelar até mesmo seus ossos. Aquele "cara" não deveria se meter onde não lhe convinha. Em um tom grave e ameaçador respondeu:
-- A conversa ainda não chegou a você.... Amigo!
-- Nicolas! – Repreendeu Micaela.
-- Tudo bem, Mi. Ele não me assusta.
Percebendo que não iria conseguir convence-la, Nicolas resolveu se retirar.... Por hora.
Não iria desistir tão fácil assim, era obstinado, e aquele "cara" só atrapalharia seu assunto com Micaela. Não que recuasse diante da possibilidade de ele ser o namorado dela, ou de ele ser abusado, apenas não gostava de discutir assuntos pessoais diante de pessoas desconhecidas e principalmente perigosas. Sim! Perigoso.... Era assim que aquele rapaz era, mas Micaela não percebia isso. Estava se arriscando.... Ou talvez.... Talvez fosse apenas impressão de Nicolas. Ela o conhecia e por certo saberia qual a índole do "cara'.
No terceiro dia, ele a esperou como sempre, encostado no carro. Dessa vez ela estava desacompanhada e ao avista-lo continuou o caminho por outro lado. Com algumas passadas largas ele a alcançou e se colocou à sua frente.
-- Um minuto. – Pediu – Apenas um minuto.
-- Mas afinal, o que quer saber?
-- Só quero uma explicação de tudo o que aconteceu!
-- Esse não é um assunto que eu goste de falar.
-- Mas quero saber. – Exigiu ele mais imponente.
-- Mas não vai! Isso me causou um grande mal, odeio lembrar os acontecimentos.
-- E você me deixa angus.... Nervoso com esse mistério todo.
-- Por que se importa tanto?
Aquela pergunta o pegou desprevenido, essa era uma questão que nem mesmo ele sabia. Por que se importava? Por que queria saber?
-- Eu.... Estou curioso. Sobre os motivos que te levaram a fazer tudo isso.
-- Não há porque você saber dos motivos. O que passou, passou. Deixe isso para trás e vá cuidar do que você tem que cuidar.
Dizendo isso ela o contornou e continuou a andar apressadamente. Nicolas iria deixa-la ir, ele iria esquecer o assunto e deixar tudo passar, afinal ele tinha que admitir que ela tinha razão. Aquilo não lhe dizia respeito. Mas seu orgulho falou mais alto que tudo, não estava acostumado com as pessoas o ignorando e deixando falar sozinho. Por isso rapidamente a alcançou novamente e agarrou seu braço.
-- Eu perdi a paciência! – Esbravejou ele.
-- O que isso? – Perguntou ela tentando se soltar.
-- Você vem comigo.
Dizendo isso Nicolas começou a arrastá-la para o carro sem o menor esforço, enquanto ela se debatia e puxava o braço sem êxito algum.
-- Não pode fazer isso! – Gritou ela.
-- Posso e estou fazendo.
-- Ficou maluco?
-- Nunca estive em maior posse de minha lucidez. Entre no carro. – Disse ele já a empurrando para dentro.
Se acomodando ao lado dela e trancando a porta, ele deu a ordem para o motorista seguir, apertou um botão qualquer e um painel subiu separando eles dos ocupantes da frente. Agora, isolados, Nicolas parecia mais solto, mais ameaçador, mais.... Irado.
-- Muito bem. – Começou – Pode se explicar.
-- -- Eu não vou explicar nada! – Gritou ela novamente – Não entendeu ainda? Não quero você aqui, não quero falar com você, não quero te ver!
-- Não me importa! Não vou te deixar em paz enquanto nada for esclarecido.
-- Você não tem nada que exigir. Vai atrás de quem quer você por perto. Por que simplesmente não segue seu caminho?
-- Porque não posso deixar nada para trás. Eu não consigo, eu preciso preencher o espaço da história....
-- Que história? Eu fui ameaçada e fugi, acabou!
-- Não, não acabou! Você poderia muito bem pedir asilo em casa, poderia muito bem pedir ajuda para nós ao invés de sair correndo como um cão assustado, deixando seus amigos e sua família para trás!
-- Minha família sabe que estou aqui, seu grande imbecil!
-- Sabe?
-- É claro!! Como é que não pensou nisso? Foram eles que me ajudaram! Ou acha que seria desnaturada o suficiente para fugir até mesmo deles?
Diante daquilo ele ficou sem palavras, era meio óbvio que a família sabia, ele só não imaginava que aquilo iria.... Doer. Achou que ele também, em certos aspectos, fazia parte da família. Eles cresceram juntos, ora!
Achou que ela o procuraria quando precisasse. Por mais que brigassem, que existisse implicância ele estaria ali, ele a ajudaria, ele era seu amigo.
-- Além disso, - Continuou ela – Sua casa era o primeiro lugar onde me procurariam. Vai me dizer que depois que sumi não foram "fazer uma visitinha" para vocês?
-- Na verdade.... Sim. – Respondeu ele pensativo.
-- Então. Eu não sou burra. Precisava ir para mais longe possível. Agora que já sabe o que quer me deixe ir embora. Pare esse carro.
-- Não. Você não explicou tudo.
-- Nicolas, estou avisando, me deixe ir embora ou vou denunciar você! O que está fazendo é crime.
-- É uma conversa!
-- É sequestro! Para o carro!
Apertando a mandíbula e a contragosto, Nicolas deu um murro no teto do carro sinalizando para o motorista parar. Assim que o carro estacionou Micaela abriu a porta, saltou rapidamente e seguiu seu caminho sem nem ao menos olhar para trás.
Aquela atitude de Nicolas a assustara, por mais orgulhoso que ele fosse, ele nunca agiria daquela maneira tão bruta. Muita coisa havia mudado naqueles cinco anos, inclusive o comportamento dele, talvez até mesmo seu próprio comportamento tivesse mudado.
Mas é claro que sim! Eram adolescentes anos atrás e agora.... Adultos e maduros. Bem.... Talvez apenas adultos.
Os dois seguintes dias ele não apareceu na faculdade, e ela pensava que ele talvez tivesse desistido. Na verdade, ela torcia para que tivesse sido isso.
****
Nicolas andava de um lado para o outro no quarto, agitado e com os pensamentos nas nuvens enquanto Marcos falava.
-- Na minha humilde opinião, o senhor a está abordando de maneira errada, não é assim que se trata uma dama.
-- Micaela não é uma dama. – Esbravejou ele – Nunca foi, e agora parece que está pior do que antes.
-- Eu acho que o senhor desperta o pior nela.
Nicolas parou de andar e observou seu mordomo com atenção. Aquele homem praticamente o criara, sempre fora muito competente, cuidava da casa, organizava os empregados e os eventos e nunca deixara faltar nada. E agora já com os cabelos brancos e um pouco magro não mudara em nada, continuava em sua excelência. O terno sempre muito bem alinhado, a cabeleira branca bem penteada e um sorriso enorme no rosto. Só tinha um único problema.... Seus comentários eram afiados e sarcásticos.
-- Nem vou responder a esse seu comentário. – Respondeu Nicolas por fim.
-- Como preferir, senhor.
-- O que devo fazer? Sempre que me aproximo ela vem com pedras nas mãos para me atacar!
-- Mude de tática.
-- Mudar como?
-- Trate uma mulher como se deve tratar uma mulher. O senhor é muito.... Bruto.
-- Eu, bruto?
-- Posso achar outro adjetivo se preferir.
-- Melhor não. Preciso que me ajude, então.
-- Com muito prazer, senhor.
Duas horas depois Nicolas estava parado em frente à faculdade novamente, com um buquê de flores na mão. Sentia-se ridículo, mas se era isso que teria de fazer para conquistar a confiança de Micaela....
Ao vê-la sair ele começou a caminhar em sua direção, e suspeitou do que viria a seguir quando a viu franzir o cenho com uma expressão de estranheza.
-- O que significa isso? – Perguntou ela quando ele lhe estendeu o buque.
-- Uma oferta de paz.
Ela olhou para o buque, para Nicolas e de volta para o buque com um olhar de desprezo e por fim se pôs a caminhar dizendo:
-- Não gosto de flores.
-- O quê? – Disse ele indo atrás dela – Que tipo de mulher não gosta de flores.
-- Do tipo Micaela.
-- Do que você gosta então?
-- De comida, Nicolas! Me dê comida!
-- Francamente! Qual o seu problema?
Ela parou abruptamente e se virou fazendo Nicolas quase se chocar com ela.
-- Qual o meu problema? Você me sequestra....
-- Foi apenas uma conversa.
-- Você me colocou a força dentro do carro, isso para mim é sequestro. E agora vem com essas flores, que eu nem sei que tipo são, achando que tudo vai ficar bem.
-- Para começo de conversa, são lírios...
-- E quem se importa? – Respondeu ela cruzando os braços.
-- E eu fui um completo idiota, por isso tenho que te pedir desculpas.
Ela o encarou desconfiada. Qual era o jogo dele? O que estava querendo? Nicolas nunca pedia desculpas sem querer algo em troca. Mas talvez ele tivesse mudado isso também, talvez ele realmente estivesse arrependido, por isso ela disse:
-- Está desculpado. Mas não me traga petúnias de novo.
-- São lírios.
-- Que seja.
Ela deu de ombros e começou a caminhar novamente.
-- Espera, aonde está indo?
-- Tenho que trabalhar, Nicolas.
-- Eu te levo.
-- Entrar no seu carro novamente? Nem em outra vida!
-- Não vai pegar as flores?
-- Pode ficar para você.
Ele então deixou de ir atrás dela, parou e ficou observando ela se afastar lentamente, imaginando porque ainda tentava falar com ela.
Deu meia volta e no caminho pensou em jogar os lírios em uma lata de lixo ali perto, mas resolveu que não iria desperdiçar dinheiro e deu o buque para uma menina de uns dez anos que passava.
Mas se Micaela pensava que aquele joguinho dela iria fazê-lo desistir, ela estava muito enganada, agora era questão de orgulho para ele, iria dobrá-la. Ah, iria!
** Olá, pessoas! Estão gostando da história? Eu espero que sim, pois ainda tem muita coisa e muita confusão desses dois pela frente. Não se esqueçam de votar na história, por favor, isso me ajuda muito. Seus comentários e sugestões são muito importantes também, por isso não hesite em comentar ou mandar uma mensagem. Muito obrigada e muitos beijos!**
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