Capítulo 27

"Desculpe, sabe, se tento insistir
Me torno insuportável, eu sou
Mas te amo, te amo, te amo
É engraçado, tudo bem, é antiquado, mas te amo

Olho pra ti fixamente e tremo
À ideia de te ter ao meu lado
E me sentir somente teu
E estou aqui e falo emocionado
E sou um atrapalhado!
E sou um atrapalhado!"

Imbranato - Tiziano Ferro

Micaela ficou sozinha com seus pensamentos, como queria. Não se permitiu chorar novamente, afinal sequer tinha mais lágrimas. Estava em dúvida se acreditava no que Nicolas dizia ou não. Ele viera até ali e lhe explicara o que aconteceu, mas poderia estar inventando uma história qualquer para encobrir o que havia feito, ou poderia mesmo ter dito a verdade, mas a questão era que contar tudo o que acontecera não apagaria o fato de que ele subornou alguém para protege-la. Julgara tanto o próprio pai e no fim das contas fizera o mesmo.

Foi por um bom motivo, mas ela sabia se virar e não cabia a ele se meter em seus problemas.

Logo ela deixou os pensamentos de lado e caiu em um sono profundo, esquecendo tudo o que vivera naquele dia.

Os dias passaram e Nicolas sequer apareceu, não buscava Micaela na faculdade e muito menos no serviço. Tudo que fazia era mandar mensagens a ela. Não fazia isso por remorso ou mágoa, mas sim por conhecer muito bem a noiva e saber que quando ela ficava chateada ou nervosa da maneira que ficara antes, ela precisava de tempo e espaço. De nada adiantaria pressiona-la ou ficar insistindo, isso só serviria para afasta-la mais. E se a recompensa de ficar distante fosse Micaela voltar para ele e o perdoar, ele esperaria o tempo que fosse por ela.

E tal atitude acabou surtindo efeito, numa noite ela ligou para ele dizendo:

-- Será que podemos conversar?

-- Claro. Onde quer me encontrar?

-- Não estou a fim de sair. Pode vir até em casa?

-- Já estou indo.

Mais que rapidamente ele trocou a roupa e chamou o motorista, antes de sair do quarto, porém, Marcos lhe entregou uma caixa cheia de bombons e lhe lançou um sorriso de cumplicidade.

-- Quando teve tempo de comprar isso, Marcos?

-- No fundo eu sabia que tudo iria acabar bem, senhor. Agora vá, não a deixe esperando.

-- Obrigado!

-- Não por isso.

Nicolas saiu apressado e eufórico, como um garotinho que esperava ansiosamente pelo dia do passeio no parque. Era evidente que ele era louco por Micaela.

Pouco tempo depois ele estava sentado nos degraus da escada de Chiara, conversando com Micaela.

-- Eu pensei muito por esses dias. – Disse ela.

-- E o que concluiu?

-- Você me magoou. Mentiu, omitiu, não confiou em mim.

-- Eu sei o que fiz, mas...

-- Ainda não terminei, Nicolas. Não posso negar.... Fiquei muito entristecida com tudo que aconteceu. Pela sua atitude e impulsividade. Não pode se meter em tudo que faço ou nos riscos que corro. Não pode me proteger de tudo. Eu já sou adulta, preciso aprender a lidar e amadurecer com meus erros. E maturidade é algo que eu já tenho adquirido há um bom tempo. Eu tive que aprender, Nicolas.... Tive que aprender a ser forte e aceitar que nem tudo é como eu quero que seja. Por isso, eu só quero te pedir que não se meta mais quando eu não pedir a sua ajuda.

-- Eu entendo. Admito que errei e que fui impulsivo. Mas espero que entenda o meu lado também. Em muitas situações eu me vi de mãos atadas não podendo fazer nada para ajudar as pessoas a quem eu amo e me senti inútil. Então quando vi que poderia fazer algo por você eu não hesitei e nem medi esforços para isso. Isso não justifica minha precipitação, mas quero que saiba que tudo que fiz e que faço, todas as minhas atitudes são unicamente por amar você.... Eu amo você, Micaela.

Olhos dela se encheram de água. Ouvi-lo falar tão claramente que a amava, fez seu coração se aquecer e bater mais forte. Como ela era louca por aquele homem. E ele sempre esteve ali na sua frente, mas ela nunca fora capaz de ver o que ele significava para ela. A raiva já não se apoderava de seu coração, no lugar dela veia a compreensão e o amor que ela sentia por ele.

-- Eu também te amo. – Respondeu por fim.

Nicolas lhe lançou um sorriso de garoto travesso que ficara satisfeito com o que acabara de aprontar, e que se safara da confusão. Ele sabia que tinha esse efeito sobre ela.

-- Marcos me contou tudo. – Continuou Micaela.

-- Como assim?

-- Ele me ligou ontem. Disse que já não aguentava mais te ver na agonia que estava e me contou tudo o que aconteceu. Na verdade, confirmou sua história.

-- E acredita mais na palavra dele do que na minha? – Perguntou Nicolas com uma ofensa fingida.

Micaela riu e respondeu:

-- Não que eu não acreditasse em você.... Confesso que fiquei na dúvida. Mas precisava de um tempo para mim. E ver a lealdade de Marcos com você.... Me diz muita coisa sobre o seu caráter.

-- Então foi por isso que ele comprou a caixa de bombons! O desgraçado me enganou direitinho!

-- Marcos, é incrível!

-- Então.... Quer dizer que estou perdoado?

-- Sim, mas terá que me prometer uma coisa, senhor Lambertini.

-- O que quiser.

-- Não se intrometa mais em meus assuntos.

Nicolas colocou a mão esquerda sobre o peito e ergueu a direita, dizendo:

-- Eu prometo. Palavra de escoteiro.

-- Ótimo, e agora.... Só mais uma coisa.

-- Sou todo ouvidos.

-- Eu fiquei sabendo o que fez com o jornal.

-- Ah, não! – Respondeu ele bufando.

-- Ah, sim! Não foi justo Nicolas.

-- Não foi justo? Eles estavam falando de nós. E nossa vida não tem que ser exposta para outros.

--  Já parou para pensar que as vezes eles nem mesmo gostam disso, mas não têm muita escolha? Me diz, Nicolas, você não toparia qualquer coisa para sustentar sua familia se não fosse herdeiro de um reino e de uma enorme empresa? Eles só estão levando o pão para casa! Ao menos lhes dê mais uma chance.

Nicolas engoliu em seco, mas manteve a postura.

-- Para voltarem a fazer o que faziam? Para arruinarem vidas? Sem chance. Eu já me decidi, Micaela.

-- Talvez você pudesse tornar o jornal um lugar sério.

-- Como assim?

-- Sem dúvida alguma eles devem ter alguma faculdade, mais precisamente jornalismo ou algo relacionado. Por que não os contratar para dar notícias importantes? Relacionado sobre o país, a cidade....

-- Isso já existe nessa cidade. O que acha que vai fazer a população comprar mais o jornal deles do que os outros?

-- O seu nome!

-- Meu nome?

-- Sim. Nicolas, você é o dono do jornal! Qual é a vantagem de carregar esse nome se não pode usa-lo para vender mais? Pense bem, você tem uma nova aquisição. Tem novos lucros, e o prédio não vai ficar obsoleto. Além disso, é uma oportunidade para eles mudarem de vida e deixarem de ser fofoqueiros, por consequência não perdem seus empregos. Todos saem ganhado.

-- Pode ter razão. Não tinha pensado nisso.

-- Eu sempre tenho razão.

Nicolas riu com o tamanho do ego de Micaela e respondeu:

-- Tudo bem. Eu vou procurar o editor e conversar com ele.

-- Você é incrível!

-- Eu sei disso!

-- Mas mudando de assunto.... - Disse ela - Já sabe quem mandou fazer aquilo com você?

-- Sim. Foi meu segurança.

-- Como?! Mas.... Isso é contraditório.

-- Pois é, mas ele fez. Só não descobri quem pediu que ele fizesse isso. Ele sumiu de repente.

-- Mas.... Sem dar explicações?

-- Nada. Vou tentar continuar procurando respostas, quem sabe eu acho alguma.... E além disso, tenho uma baixinha bem brava do meu lado que se eu precisar sabe usar uma barra de ferro.

-- Sempre às ordens, alteza! - Respondeu Micaela rindo.

Eles riram e deram início a outros assuntos, mandando para longe toda a tensão da conversa. Logo abriram a caixa de bombons e devoraram rapidamente, para depois ficarem olhando o céu estrelado sobre suas cabeças.

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