Seonghwa não estava acostumado com as coisas indo bem, mas ali estava ele morando com pessoas que se importavam de verdade com ele, com um amor para chamar de seu e com um fluxo constante de trabalho graças ao trabalho em equipe que os deixou conhecidos em vários nichos do submundo de Seoul. Ele levou algum tempo para entender que realmente tinha conquistado tudo aquilo, porém não conseguia mais se ver em nenhuma situação diferente daquela.

Fazia alguns meses desde que o Cromer foi roubado e toda a vida dele virou de cabeça para baixo depois de quase perder o que sua madrinha deixou para trás e conhecer pessoas incríveis. O começo foi difícil e eles bateram cabeça em todo tipo de coisa: desde qual era a melhor forma de roubar o banco central até onde guardar os copos, mas eventualmente eles chegaram a um terreno neutro e aprenderam onde os limites de cada um estavam.

Morando em uma casa grande o suficiente para que oito pessoas vivessem confortavelmente, era incrível o quão rápido as brigas se resolviam quando não se estava confinado a um apartamento minúsculo que mal cabia o dono da casa, quem dirá mais sete. O apartamento de Jongho os serviu bem enquanto precisaram dele, mas era bom ter espaço para dormir, cozinhar e trabalhar bem. Era uma casa com quatro quartos, Hongjoong e Seonghwa dividiam o maior com uma cama de casal, Wooyoung e San ficaram com o único quarto do primeiro andar para diminuir a quantidade de escadas que San precisava subir, Yeosang — por mais que ele quisesse uma cama no escritório em que seu setup estava — dividia o segundo quarto do segundo andar com Jongho, deixando Yunho e Mingi com o último.

Seonghwa não se lembrava da última vez que se sentiu tão feliz por tanto tempo. O relacionamento com Hongjoong não tinha como estar indo melhor, eles tinham todo tipo de trabalho que precisava de diferentes combinações dos oito e Jongho e Seonghwa usavam a oficina e o estúdio como disfarce para o dinheiro que entrava, caso Yeosang não conseguisse cobrir seus rastros.

Além disso, eles tinham tornado permanente a tatuagem temporária que fizeram durante o roubo do Cromer e alguns já até planejavam as próximas tatuagens que queriam que Seonghwa fizesse para eles.

Em um dos dias em que as coisas estavam mais calmas que o normal, sem nenhum trabalho os obrigando a viver na beira de um precipício, surgiu-se uma curiosidade para saber mais sobre como o mundo era antes de tudo ruir com a Doença da Pétala. Sua madrinha costumava contar histórias para Seonghwa sobre um mundo muito diferente do que o que ele conheceu, cheio de vida e com todo tipo de frutas, algumas que as pessoas plantavam em casa e comiam quando queriam.

Com a ajuda de Yeosang eles chegaram a algo que as pessoas chamavam de feriados: comemorações e homenagens a certos acontecimentos ou pessoas que faziam com que as pessoas se reunissem e comemorassem ou apenas passassem tempo juntas. Assim eles descobriram o natal, algo que parecia tão irreal na realidade em que eles nasceram. Pessoas deixavam de trabalhar e estudar, se reuniam com seus amigos e familiares e passavam a noite juntos para comemorar a mesma coisa em todas as partes do globo. Quão incrível isso devia ser!

Wooyoung e San foram os primeiros a sugerir que eles tentassem algo parecido e não foi necessário muito mais que isso para convencer os demais. Eles se planejaram: pegaram mais trabalhos e trabalhos que pagavam bem, separaram um pouco a mais de dinheiro a cada mês e, quando a data finalmente estava se aproximando, compraram comida e decorações que eles nunca tinham se permitido porque não era algo que nenhum deles pudesse pagar.

Pessoas mais ricas ainda tinham um pouco do resquício do que um dia foi o natal, Seonghwa percebeu. Durante um certo período as lojas e restaurantes da parte mais bem endinheirada de Seoul sempre apareciam decorados com vermelho e verde, árvores artificiais posicionadas dentro dos estabelecimentos com decorações coloridas, velhos brancos com barba branca e roupas vermelhas surgiam e ele só sabia disso porque sempre acabava pegando algum tipo de trabalho nessas áreas próximo a essa época do ano, porém nunca entendeu o que era comemorado até aquele momento em que se sentaram para conhecer o que estava praticamente perdido.

Eles se dividiram como costumavam fazer: enquanto Seonghwa e Wooyoung ficaram responsáveis pela comida, outros procuraram por decoração enquanto o resto se ocupou com os poucos trabalhos que eles tinham pego para o final do ano, finalmente podendo se dar ao luxo de desacelerar depois de uma vida inteira trabalhando em potência máxima apenas para sobreviver.

As pesquisas diziam que cada país tinha seus costumes e hábitos para comemorar o natal e eles decidiram tentar o máximo de coisa que conseguissem. A decisão resultou em muita bagunça na cozinha e todo tipo de confusão com ingredientes e modo de preparo, mas eles deram um jeito depois de passar um dia na cozinha.

Eles ajudaram Siyeon durante a semana para que ela conseguisse fechar o Dreamcatcher e se juntar a eles em sua pequena comemoração. A decoração não era muito mais do que algumas faixas vermelhas e verdes espalhadas pela casa grande e uma árvore de natal improvisada com um pequeno bonsai que eles encontraram, decorado com alguns leds do setup de Yeosang, mas era o suficiente, eles não precisavam de nada extravagante.

No final da tarde do dia 24, eles se espalharam para se vestir com as melhores roupas que tinham, com exceção de Jongho e Wooyoung que foram de carro buscar Yujin e Haerin que também passaria a noite com eles. Tanto as crianças quanto Siyeon já estiveram na casa que os oito dividiam, mas nunca ao mesmo tempo, embora Seonghwa tenha se dado ao trabalho de apresentar todos eles, sabendo que não faria mal a Haerin ter alguma referência feminina e alguém de confiança que pudesse entendê-la melhor do que a maioria deles poderia em algumas questões. As duas se tornaram próximas, enquanto Yujin adorava passar tempo com ele no estúdio, chegando a ajudá-lo da forma que podia em troca de alguns trocados que Seonghwa conseguia oferecê-lo.

Eles se arrumaram espalhados em seus respectivos quartos e Seonghwa não conseguiu disfarçar o efeito que um Hongjoong bem arrumado lhe causara. Seu cabelo não estava mais preto como quando o conheceu e mechas castanhas claro caíam em seu rosto como uma cascata. Ele vestia um macacão de couro preto com mangas longas e acinturado, marcando sua cintura que veio a se tornar uma das partes que Seonghwa mais gostava de deixar suas mãos, um par de coturnos pretos lhe cobria os pés e ele tinha se dado ao trabalho de dobrar as mangas para deixar exposta a tatuagem de rosa dos ventos que todos eles tinham. Tudo era uma combinação para que Seonghwa não tivesse olhos para mais ninguém e Hongjoong não se assustou quando sentiu as mãos dele rodeando sua cintura por trás, acostumado com o toque casual.

— Hm? Gostou tanto assim? — perguntou ele ao sentir os beijos que Seonghwa deixava em seu pescoço, rindo com as cócegas que o cabelo longo dele causaram quando ele assentiu. — Me deixa ver você, eu tenho certeza de que você vai conseguir me surpreender mais uma vez.

Seonghwa o virou em seus braços, recebendo uma reação imediata dele assim que ele absorveu tudo que via.

— Puta merda, Hwa! Se você queria me matar eu te garanto que um tiro seria mais rápido — Hongjoong disse fechando os olhos como se a visão doesse. — Como pode o homem mais lindo do mundo estar comigo? Eu não tenho essa sorte toda!

Seonghwa riu, deixando um beijo na bochecha de seu namorado. Ele precisou de muita coragem e autoconfiança — e talvez alguns chacoalhões de Yeosang — para usar a roupa que escolheu: um vestido. O tecido marrom era parecido com couro, mas mais maleável e se ajustando melhor ao seu corpo, e parecia envelhecido, dando um ar de elegância que fez com que Seonghwa o escolhesse. Ele não se sentia confiante o suficiente para usar só o vestido, então incrementou com uma calça de mesma cor e tecido. Para finalizar, ele escolheu uma bota de salto de cor parecida que combinasse com toda a composição e um colar simples.

Ao se olhar no espelho, Seonghwa não conseguia pensar em algum momento que tenha se sentido tão bem consigo mesmo.

Hongjoong trocou as posições de suas mãos, levando as dele até a cintura de Seonghwa, perto do cinto, e o puxando para um beijo apaixonado que durou o máximo que seu fôlego permitiu.

— Não vou conseguir deixar minhas mãos longe de você hoje, sinta-se avisado com antecedência — falou ele sem afastar muito seus rostos.

— Você não vai ouvir reclamações de mim — Seonghwa respondeu com uma pequena risada enquanto borboletas davam todo tipo de cambalhotas em seu estômago —, mas agora a gente precisa ir antes que um deles venha nos procurar.

Com um último selinho, Hongjoong se afastou o suficiente apenas para passar um braço pela cintura de Seonghwa, o puxando em direção à saída do quarto.

Quando eles desceram as escadas, a maioria deles já estava reunida, incluindo Yujin e Haerin. O som do salto de Seonghwa atraiu atenção e ele sentiu suas bochechas esquentarem com os olhares que recebeu.

— Nossa, hyung, você é facilmente uma das pessoas mais bonitas que eu já vi na vida e Hongjoong hyung ainda deu um jeito de ficar tão bonito quanto você. Parabéns! Isso que é um casalzão da porra — comentou San enquanto eles terminavam de descer as escadas.

— Obrigado pelo elogio, San, mas cuidado com a linguagem, tem criança na sala — Seonghwa repreendeu arqueando a sobrancelha. — Todos vocês ficaram lindos.

Desde que eles se conheceram, aquela era a primeira vez que eles tinham a chance de se arrumar apenas porque queriam e Seonghwa tinha muito orgulho em ter amigos cuja beleza alcançava o mesmo patamar que suas personalidades.

San escolheu um conjunto completo de terno xadrez que muito lhe realçava, com exceção do colete cinza que a parte de cima do terno cobria. Wooyoung optou por uma roupa toda branca: uma calça de alfaiataria, uma camiseta simples sem estampa e um blazer cheio de pérolas. Yeosang decidiu por um blazer azul marinho com bordados e botões em dourado sem nada por baixo, enquanto a calça de mesma cor se mantinha sem detalhes. Mingi escolheu peças de roupas pretas — camisa de botões com três deles abertos e calça —para dar mais destaque ao sobretudo vermelho sangue que ganhou de Hongjoong. Jongho seguiu a mesma ideia, mas no lugar do sobretudo, ele escolheu uma jaqueta azul mais claro que o que Yeosang estava usando. Yunho também decidiu usar alfaiataria como San, mas apenas o colete por cima de uma camisa branca e a calça, ambos listados na vertical, o que realmente chamava a atenção, no entanto, eram os anéis que eram feitos de uma forma que cobria o dedo inteiro e ele usou um no dedo indicador e um no dedo médio. Yujin estava mais despojado com um terno e uma camisa social branca com uma bermuda cinza, quase uma calça social cortada. Haerin estava com um vestido roxo fosco com mangas longas e esvoaçantes enquanto seu cabelo caía sobre os ombros. Siyeon, por fim, estava com um vestido prata colado com um decote em V, seu cabelo preso em um coque com algumas mechas soltas na frente e uma maquiagem forte e cheia de presença.

Todos eles estavam em suas melhores formas para comemorar algo que até alguns meses atrás eles nem sabiam o que era, mas Seonghwa estava feliz de poder aproveitar esses pequenos momentos com eles.

Com a ajuda de Wooyoung, Seonghwa conseguiu montar uma mesa do lado de fora com toda a comida que tinham preparado e todo o grupo se sentou para comer com conversas animadas e histórias que lhes arrancaram gargalhadas. Em nenhum momento a mão de Hongjoong deixou a dele e ele percebeu quando seu namorado lhe chamou a atenção, acenando para dentro de casa. Seonghwa assentiu e os dois se levantaram, seguindo para dentro o mais silenciosamente que conseguiram, deixando o grupo animado para trás.

Hongjoong entrelaçou seus dedos e o guiou até a varanda no segundo andar, onde o colocou apoiado com as costas contra a balaustrada antes de colocar as mãos na laterais de suas coxas, dando impulso para que Seonghwa se sentasse e assim ele fez, recebendo Hongjoong entre suas coxas enquanto passava os braços por seu pescoço.

— Você foi uma das melhores coisas que me aconteceu, Hwa. Não sei onde eu estaria hoje se não tivesse te conhecido, se todos nós não tivéssemos nos conhecido.

Seonghwa sorriu, largo como passou a fazer desde que sua família cresceu e as dificuldades diminuíram.

— Eu sei que não estaria tão feliz como sou hoje com a forma que nossa vida 'tá se construindo e só por isso tudo que eu passei até aqui valeu a pena.

Quando Hongjoong o beijou, Seonghwa teve a certeza de que todas as estrelas e vidas se alinharam para que eles fossem parar exatamente ali: dois fora da lei com sua família recém construída e milhões de possibilidades à sua frente.

NOTAS DA AUTORA

SURPRESA!!!! 

Heeeeeeeey, meus amores, esperam que estejam bem desde que essa fanfic acabou.  Trouxe esse extra de surpresa pra vocês porque eu estava me sentindo órfã dessa minha fic e há muito tempo que eu tenho planos de trazer extras para minhas fanfics já concluídas, o que acontece é que essa for a primeira que eu acabei de fato.

Terminar (e começar também, na verdade kkkkkkkk) esse extra foi uma luta porque entre faculdade, projetos em que eu participo como ficwriter e outras fanfics em que eu estou trabalhando no momento foi quase impossível escrever esse aqui, mas no fim tudo deu certo.

Eu vou tentar trazer capítulos extras como esse quando for possível, então sintam-se à vontade para manter essa fanfic na bioblioteca ou me seguir para receber as notificações de quando esse tipo de capítulo for postado (não prometo constância, mas quero trazer quando der).

Convido vocês também a conhecer minha fanfic em postagem atualmente. Chama "Shine My Shooting Star", é uma sanhwa que tem como foco a relação de Seonghwa com a sobrinha quando ele se torna responsável pela guarda dela depois da morte de sua irmão. Se sanhwa não for um shipp que te agrada, eu indico que dê uma chance mesmo assim porque, embora tenha romance, não é esse o foco.

Por enquanto é isso, espero que tenham gostado do presente de natal que eu preparei ❤️❤️. 

Desejo tudo de bom pra vocês, meus amores, e um feliz nata 🎄 !!