× capítulo 20 ×
As noites às vezes eram longas demais e passar a noite acordado no sofá velho da oficina fazia parecer ainda pior, porém Seonghwa se obrigou a fazê-lo para fazer companhia a Yeosang enquanto o assistia procurar por todos os sites possíveis por uma pegada cibernética do cliente. Os outros estavam dormindo espalhados pela casa, com exceção de Hongjoong que dormia com a cabeça nas coxas dele enquanto os outros dois se entupiam de café enquanto trabalhavam noite adentro.
Nada o preparou para quando Yeosang pulou na própria cadeira e comemorou.
Yeosang olhou para ele com um sorriso de orelha a orelha.
— Eu descobri quem é nosso cliente — respondeu. — Acho melhor reunir todo mundo.
Seonghwa não precisou de mais orientações para sair de seu lugar e ir buscar os demais que dormiam espalhados pela casa.
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A preocupação e o choque pesavam no ambiente quando Yeosang revelou que o próprio Pilwon foi a pessoa que os contratou para roubar o Cromer, as engrenagens girando na cabeça de cada um para decidir o que fazer com a informação descoberta.
— Eu acho que a gente pode usar isso contra ele, enviar pra polícia, para as outras empresas, espalhar as coisas ruins que ele fez e acabar com ele — disse Hongjoong depois de pensar um pouco.
— E que a gente faz depois disso? — Jongho perguntou, curioso.
Seonghwa foi rápido em responder.
— Guarda e usa. A gente pode catalogar, ver o que dá para usar contra o Pilwon e o que dá pra fazer com o resto. Ver se alguma coisa dá lucro.
Seonghwa tentou não entrar em desespero ao pensar na incerteza de seu estúdio, como ele não tinha como pagar pela dívida.
— Na verdade — Wooyoung começou —, eu tenho uma ideia melhor.
Todos olharam para ele.
— Acho que a gente pode fingir entregar o que ele quer e receber o pagamento e só depois colocar a polícia na cola dele.
Yeosang olhou para ele como se Wooyoung fosse a pessoa mais inteligente que ele já conheceu.
— Wooyoung, você é um gênio! — exclamou. — Hyung, eu já sei como a gente vai dar um jeito nisso.
Hongjoong arqueou a sobrancelha.
— Estamos ouvindo.
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Hongjoong tentava respirar fundo para controlar a ansiedade enquanto avançava pelos mesmos corredores de quando encontrou com Pilwon pela primeira vez, sem saber de quem se tratava. A cópia do Cromer feita por Yeosang descansava no bolso interno de seu blazer e ele se obrigou a caminhar com calma até alcançar o mesmo lugar onde eles se encontraram pela primeira vez.
Tudo continuava exatamente igual à primeira vez e Pilwon estava na mesma posição do primeiro encontro, o terno caro e a bebida na mesma posição. A mesma máscara para esconder a identidade.
— Eu disse que o meu jeito de falar não tem nada a ver com quão bom eu sou no meu trabalho — disse, jogando o Cromer falso na mesa na frente de Pilwon, que riu.
— Bom. Muito bom. Demorou, mas deve valer a pena — Pilwon respondeu, pegando o Cromer e um notebook que Hongjoong nem percebeu que estava por perto. — Se estiver tudo certo, seu pagamento deve cair em breve.
Pilwon não olhou para ele enquanto colocava o Cromer no notebook para analisar o conteúdo. Hongjoong precisou se esforçar para se manter relaxado enquanto ele olhava vídeo por vídeo e documentos, tudo que ele sabia que estaria lá. Depois de alguns minutos, Pilwon deixou o notebook de lado e pegou o celular.
— Caiu o pagamento, hyung — Yeosang avisou. — Sai logo daí.
Hongjoong tentou se manter impassível com a notícia e a necessidade de sair do prédio.
— O pagamento foi devidamente feito.
Hongjoong não se despediu antes de desaparecer pelo mesmo lugar que entrou, deixando Pilwon para descobrir mais tarde que o Cromer falso estava programado para excluir os vídeos assim que Yeosang desse o sinal.
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Hongjoong sentiu seu ombro repuxar onde estava ferido enquanto entrava na oficina de Jongho, retornando de sua reunião com Pilwon, respirando aliviado ao lembrar que pelo menos essa parte do plano estava concluída.
Seonghwa o esperava sentado à mesa da cozinha e Hongjoong não conseguiu segurar o sorriso, se aproximando para deixar um beijo nos fios negros, que atraiu a atenção dele.
— Bom ver você de volta — disse. — Tudo certo?
Hongjoong fingiu que não sabia que Seonghwa permaneceu ao lado de Yeosang, assistindo, durante toda a reunião.
— Tudo — respondeu, abraçando-o. — Quer sair um pouco?
Seonghwa se virou na cadeira para encará-lo antes de sorrir.
— Claro.
E assim eles se encontravam na mesma ponte em que eles se mostraram vulneráveis pela primeira vez, onde uma conexão começou a se formar, não mais de mãos dadas, mas Hongjoong abraçava Seonghwa pela cintura enquanto o guiava pela ponte deserta, a noite tranquila.
O vento frio permitia a proximidade confortável e bem vinda e ele se permitiu aproveitar o calor do corpo ao lado do seu enquanto podia.
— E seu estúdio? — perguntou Hongjoong, embora hesitasse em saber a resposta.
Seonghwa suspirou.
— Ainda em risco, o prazo tá acabando.
— Nós vamos dar um jeito, de forma definitiva dessa vez.
Yeosang já tinha confirmado o pagamento e estava no processo de pagar as dívidas que pediam o estúdio como garantia, inclusive, foi decidido de forma unânime que o pagamento só deveria ser dividido entre eles quando as dívidas de Seonghwa estivessem pagas.
Seonghwa fez com que os dois parassem e puxou Hongjoong para perto, deixando um selinho nos lábios dele.
— Obrigado por tudo, eu vou agradecer os outros também, mas queria agradecer você primeiro — disse, deixando mais um beijo na boca dele, enquanto Hongjoong tentava reagir. — Sabe, eu me enfiei nessa loucura por pura necessidade, mas se eu pudesse escolher, eu não mudaria nada.
Hongjoong sorriu e levou as mãos até a cintura de Seonghwa, puxando-o para perto antes de juntar suas bocas em um beijo profundo, cheio de carinho e algo brotando que ele sabia que poderia vir a se tornar amor.
— Vamos voltar, a gente tem que preparar a queda de Choi Pilwon.
Seonghwa sorriu contra seus lábios e Hongjoong tentou não se sentir atraído demais.
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Eles levaram uma semana para assistir e ler tudo que a Starship mantinha escondido no Cromer, decidindo o que deveria ser levado para a polícia, o que eles podiam usar para benefício próprio e o que deveria ser mantido escondido. Yeosang já tinha ativado o vírus na noite do dia da reunião. Centenas de ligações ignoradas faziam morada no celular de Hongjoong enquanto Pilwon tentava desesperadamente entrar em contato.
Eles caíram em uma rotina mais uma vez, com Seonghwa e Jongho trabalhando durante o dia enquanto os demais permaneciam imersos nos arquivos do Cromer.
Yunho se tornou uma peça indispensável no grupo, ajudando Hongjoong e Seonghwa a controlar a energia caótica nos momentos sérios e se juntando ao caos quando as coisas estavam tranquilas.
Ainda havia atritos e a oficina ainda era um lugar pequeno para oito homens adultos, mas eles aprenderam a lidar com tudo isso. Agora os conflitos eram rapidamente resolvidos e eles se acostumaram a dormir com pelo menos mais uma ou duas pessoas ao lado, na maioria das vezes abraçados e compartilhando calor nas noites de invernos que ficavam mais frias com o passar de cada dia.
Se Seonghwa fosse sincero, ele não sabia o que significaria para eles quando o fim de Pilwon finalmente chegasse, o que isso geraria na pequena família que eles estavam virando ao longo do tempo. Os oito estavam tão apegados que ele já se pegou coçando a garganta como Mingi costumava fazer e em algum momento se acostumou com os abraços e beijos repentinos de Wooyoung. Assim como eles perceberam um a um que as coisas entre ele e Hongjoong já não eram mais apenas na base da amizade e as piadas foram ficando cada vez mais comuns quando um se sentava ao lado do outro, entrelaçando seus dedos de forma quase automática, ou quando se despediam com beijos rápidos e selinhos quando Seonghwa saía para trabalhar.
Até Yeosang, que não aceitava demonstrações físicas de afeto de ninguém além de Seonghwa, e Jongho, que não aceitava demonstrações físicas de afeto e ponto, passaram a ficar mais confortáveis, permitindo abraçá-los ou deitar a cabeça nos ombros uns dos outros durante reuniões e refeições.
Entre os pagamentos de Seonghwa e Yeosang eles manejaram para pagar as dívidas que colocavam o estúdio em risco e, embora eles tenham ficado com quase nada para usar para benefício próprio, eles seriam capazes de mantê-lo.
As coisas estavam ótimas e Seonghwa não sabia o que aconteceria com eles quando esse ciclo se encerrasse, quando mais nada agisse como motivação para que eles ficassem juntos.
Quando a preocupação ficou grande demais para lidar, ele foi ao Dreamcatcher encontrar com Siyeon e ouvir minutos e minutos de sermão por ter passado tanto tempo afastado. Sermão esse que ficou ainda maior quando Seonghwa contou sobre a prisão deles e tudo que veio depois. Depois que ela finalmente lavou a alma ao colocar tudo para fora, a conversa fluiu e ele chegou à conclusão de que precisava conversar com os outros e chegar a uma conclusão sobre o que seria deles porque a ansiedade de não saber já estava começando a afetar seu sono e Hongjoong, que era o mais frequente a dividir o colchão com ele desde que seu ombro se recuperou o suficiente para que Seonghwa não ficasse receoso de machucá-lo enquanto dormia, já tinha começado a perceber as olheiras se formando e a feição mais cansada que o de costume. Eles se despediram com um abraço e uma promessa de que ele levaria os outros ao bar o quanto antes para que ela pudesse ver com os próprios olhos que todos estavam bem.
No dia seguinte, quando finalmente voltou do estúdio depois de fazer duas tatuagens, todos já estavam reunidos ao redor da mesa da cozinha, o lugar não formalizado onde aconteciam as reuniões, esperando por ele.
— Acabamos de ver todos os arquivos — comunicou Hongjoong. — E decidimos o que vai ser usado contra Pilwon, o que vai ser usado a nosso favor e o que não deve ser compartilhado.
Seonghwa chegou a ver alguns dos arquivos, ler alguns prontuários para explicar alguns termos técnicos que os outros não entendiam, mas não conseguiu ir além disso, deixando que os demais tomassem conta desse assunto enquanto ele trabalhava.
— E então? — perguntou, arqueando a sobrancelha enquanto se sentava ao lado de seu capitão, que logo procurou a mão dele com a sua, um hábito a essa altura do campeonato.
— As imagens de San serão enviadas para a polícia — contou.
Seonghwa olhou para San, procurando qualquer sinal de que aquilo era algo que ele não queria, e, ainda que tivesse uma expressão levemente hesitante, ele assentiu.
— Se isso for fazer com que Pilwon seja preso e pague por tudo que fez, então é um mal necessário. Antes eu, que já estou longe do alcance dele, do que outros.
Porque havia mais vítimas, eles descobriram.
Depois que San foi deixado para morrer com a perna amputada e nenhuma opção de tratamento, Pilwon e a Starship venderam uma ilusão para centenas de pessoas desesperadas o suficiente para se tornar cobaias de um tratamento que não mostrava sinal nenhum de eficácia. Alguns tentaram se livrar da prisão e condições análogas a tortura que foram submetidos para que a empresa chegasse a algum lugar, mas não deu certo e boa parte deles morreu tentando ou sob a influência da Doença da Pétala com os sintomas acelerados pelo tratamento falho.
A maioria das vítimas não veria a justiça sendo feita, mas eles fariam o pudessem mesmo assim. Porque não importava que eles se tornaram criminosos, que seu senso de moral não fosse o mesmo que o de todo mundo, nenhum deles gostava de pensar no que aquelas pessoas foram forçadas a passar pelo simples desespero causado pelas circunstâncias. O desespero de ver os corpos caindo ao redor como peças de dominó, de pensar que seus entes queridos poderiam ser próximos. Eles estavam vivendo em um mundo em que a falta de opções levavam as pessoas a concordar com todo tipo de coisa, e elas mereciam que a justiça fosse feita por elas.
— Então? Qual é o plano?
Yeosang sorriu maldoso antes de começar a explicar como aconteceria a queda de Choi Pilwon que foi cuidadosamente planejada.
⸻ 〤 ⸻
Seonghwa estava no estúdio quando ouviu no rádio a primeira notícia sobre a prisão de Pilwon, o noticiário falando sobre cada uma das atrocidades reveladas com gravações e documentos internos da Starship por uma fonte anônima.
Ao voltar do estúdio, foi recebido com abraços e sorrisos calorosos, comemorações porque Pilwon finalmente não era mais um problema, ele seria julgado e com a quantidade de provas que eles enviaram, não tinha a menor chance que a defesa pudesse fazer algo para ajudar. Ele estava sem saída e a queda da Starship estava cada vez mais próxima.
Eles lucraram vendendo informações encontradas no Cromer para outras empresas porque ainda que a Starship tivesse causado muita dor, eles conseguiram descobrir uma coisa ou outra que poderia ajudar a de fato descobrir um tratamento mais eficaz e acessível para a população.
Seonghwa acompanhou o grupo ao Dreamcatcher para comemorar e o assunto no bar era o mesmo que no resto da Coreia.
Siyeon os recebeu com sorrisos largos e uma rodada de bebidas por conta da casa.
Seonghwa passou a noite sentado ao balcão, no mesmo lugar que estava quando Hongjoong se aproximou pela primeira vez, enquanto o caçador de recompensas passou o tempo em pé entre suas pernas e com os braços circundando sua cintura, o rosto enfiado em seus pescoço enquanto os outros se espalharam pelo bar. Wooyoung e Yunho dançavam na pista enquanto San, Mingi, Jongho e Yeosang conversavam sentados em uma mesa.
E Seonghwa se permitiu sonhar com uma vida em que aquele era o seu normal, sem medo de perder nenhum deles para a incerteza.
───── continua...
Notas da autora
Bom, meus amores, chegamos ao último capítulo e eu nem acredito nisso.
O próximo vai ser o epílogo e daí acabamos de vez.
Me digam o que acharam da jornada até aqui.
No epílogo eu faço os agradecimentos e comento sobre os projetos futoros.
Então pela última vez nessa fanfic, até a semana que vem ❤️❤️
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