× capítulo 13 ×
Seonghwa viu a tensão se construindo conforme os dias passavam.
Discussões bobas surgiam aqui e ali, brigas desnecessárias que não aconteceriam se não estivessem todos em seus limites. As coisas escalavam rápido, mas eram rapidamente resolvidas conforme eles aprendiam a lidar um com o outro enquanto dividiam um teto. Eles foram descobrindo o jeito de cada um, como se adequar e lidar com as manias e hábitos. Exatamente pela convivência próxima que Seonghwa percebeu as coisas que estavam fora do normal e uma delas o preocupava mais do que as outras.
San, ele percebeu, estava cada vez mais ansioso conforme o dia do roubo se aproximava, se distraindo facilmente enquanto olhava para o nada, comendo pouco e com olheiras crescentes sob os olhos. Seonghwa reconhecia uma pessoa definhando com os próprios pensamentos quando via uma, ele mesmo era vítima da própria cabeça com as várias possibilidade de seus planos darem errado.
O tatuador fazia o que podia, fazendo companhia a ele quando as coisas pareciam realmente ruins, pedindo favores mesmo quando ele mesmo podia fazê-los para mantê-lo em movimento o suficiente para que o cansaço proporcionasse uma noite de sono melhor e até o levando com ele para o estúdio de vez em quando para poder sair da oficina e mudar os ares. Algumas coisas davam mais certo que outras, mas nenhuma parecia ser totalmente eficaz.
O olhar de Seonghwa se mantinha no ladrão enquanto os outros estavam imersos em conversas e risadas, San estava perdido em pensamentos enquanto mexia o jantar de um lado para o outro no prato, sem perceber que era observado por olhos preocupados.
Seus olhos se moveram para Wooyoung, que conversava com Yeosang, mas olhava para San com o canto do olho, quase como se quisesse ter certeza de que ele ainda estava pelo menos no mesmo plano que eles, antes de voltar a prestar atenção no hacker.
Seonghwa pegou carne do próprio prato e colocou no de San à sua frente, que o olhou com uma expressão de dúvida.
— Coma, daqui a pouco você some e o vento leva — brincou para acobertar a preocupação e se sentiu mais do que satisfeito quando o ladrão sorriu e começou a comer.
Seonghwa viu o olhar agradecido que Wooyoung lançou em sua direção e acenou com a cabeça, sabendo que ninguém ficaria sem apoio enquanto estivesse em sua presença.
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Seonghwa estava se arrumando quando mais uma briga estourou entre eles, a voz grave de Mingi e a voz estridente de Wooyoung soavam na cozinha enquanto o tatuador se arrumava no quarto, saindo apressado para encontrar os dois onde a discussão esquentou e tentar apaziguar as coisas.
A voz do ladrão ficava cada vez mais clara conforme ele se aproximava,
— Controla esse seu temperamento, ninguém aqui tem culpa que a sua função não 'tá saindo como você planejou.
Seonghwa sentiu seu coração despedaçar com a cena que encontrou. Mingi e Wooyoung estavam de frente um para o outro, em pé e lançando insultos de um lado para o outro, mas o que realmente fez com que ele travasse foi San encostado na parede, tentando se fazer o menor possível enquanto a briga se desenrolava ao lado dele, suas mãos tremiam e o tatuador tinha quase certeza de que seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — chamou a atenção dos dois enquanto seguia até San, que quase se jogou sobre ele, enfiando o rosto em seu pescoço. — O que deu em vocês?
Só então Mingi e Wooyoung perceberam o estado de San, tremendo e lutando para respirar, enquanto Seonghwa passava a mão por seu cabelo e o acalmava como podia.
— San, San, desculpa. Eu... eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Desculpa — disse Wooyoung, se apressando para ficar ao lado do amigo que começava a se acalmar nos braços de Seonghwa.
Mingi, no outro canto da cozinha, parecia arrasado por ver o que a briga causou.
Seonghwa respirou fundo e ficou ali, com San em seu abraço, tentando controlar a situação até que os três envolvidos no conflito estivessem sentados e com a voz em volume normal.
— O que aconteceu? Nenhum de vocês dois é assim, vocês não saem gritando um com o outro pela casa.
Para ser sincero, Seonghwa não achava que já tivesse visto Mingi se exaltar de qualquer forma além de uma negação com a cabeça.
— A culpa foi minha — disse o caçador de recompensas, encarando a mesa de seu lugar. — Eu não tô conseguindo fazer o que preciso, tô dormindo pouco e acabei explodindo com o San quando ele derrubou café em mim. Wooyoung só estava defendendo ele e quando a gente percebeu a coisa já tinha saído de controle.
San, sentado ao lado de Seonghwa com a cabeça enfiada em seu pescoço, se encolheu e o tatuador o envolveu, finalmente entendendo a situação. Uma das primeiras coisas que ele percebeu sobre a relação dos dois desde que os conheceu, meses antes, foi que eles eram extremamente grudados e protetores um com o outro, Wooyoung principalmente, Seonghwa mesmo já fora vítima do temperamento dele algumas vezes quando era San quem estava na linha de fogo e o tatuador não podia dizer que ele estava errado.
Wooyoung suspirou.
— Desculpa, Sannie, eu não queria te deixar mal, desculpa.
— Desculpa, San e Wooyoung também, eu perdi o fio da meada — Mingi falou, olhando para os dedos entrelaçados sobre a mesa.
San afastou a cabeça levemente e olhou para os outros dois, sentados lado a lado, e pediu acenou com a cabeça.
Seonghwa sabia que San não gostava de ficar desse jeito e sabia que Mingi e Wooyoung precisariam de tempo para acertar as coisas entre eles.
— Sannie — o tatuador chamou, pegando o rosto dele com cuidado para que ele olhasse em seus olhos. — Você quer ir para o estúdio comigo hoje?
San, pego de surpresa pela pergunta, demorou um pouco para pensar, mas logo assentiu.
— Vou me arrumar — avisou em uma voz mais baixa que o de costume.
San saiu da cozinha em direção ao quarto de Jongho.
— Eu vou sair com ele para se distrair e vocês dois se virem para controlar o temperamento. Todo mundo já está no limite, nenhum de nós está com cabeça para lidar com brigas, principalmente o San.
Seonghwa não deu tempo a eles para falar nada antes de se afastar para terminar de se arrumar, pensando nas três últimas tatuagens que tinha para fazer antes de manter o estúdio fechado por tempo indeterminado.
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Sinceramente, Hongjoong não sabia como ainda se encontrava de pé depois de passar o dia inteiro de um lado para o outro com os preparativos do plano enquanto Yeosang o ajudava a juntar recursos. Sentados na mesa da pequena cozinha de Jongho, Hongjoong se concentrava em passar as informações que descobriu depois de passar dias observando a galeria enquanto Yeosang digitava e complementava os mapas que eles conseguiram ao longo do tempo que eles se esforçaram para juntar. Nenhum dos dois estava preparado para quando Seonghwa chegou, tentando não chamar a atenção conforme se aproximava da pia, enchendo um copo de água e se encostando, finalmente permitindo que eles vissem seus olhos cheios de lágrimas e seu rosto cansado.
Yeosang foi o primeiro a reagir, se levantando e deixando o notebook sobre a mesa enquanto se aproximava de Seonghwa, o puxando para um abraço que o tatuador logo retribuiu, enfiando o rosto no pescoço do amigo enquanto respirava fundo.
— O foi, hyung? O que aconteceu? — perguntou, passando os dedos pelos fios negros e longos.
Seonghwa não respondeu por alguns segundos e Hongjoong os observava preocupado, se segurando para não puxá-lo para seus braços.
— Chegou mais uma carta e o prazo ficou mais apertado. Eu não sei se vai dar tempo, eu acho que vou perder o estúdio — o tatuador respondeu, com a voz abafada na camiseta folgada de Yeosang e Hongjoong sentiu seu coração apertar ainda mais ao vê-lo tão vulnerável.
— Shiii, hyung, a gente vai dar um jeito.
Hongjoong se aproximou dos dois e colocou um braço em volta da cintura de Seonghwa, que se inclinou em favor do toque, aceitando o conforto que o caçador de recompensas oferecia.
Eles passaram mais algum tempo abraçados, deixando que Seonghwa se acalmasse, guiando os três de volta para a mesa e se sentando ao lado de Hongjoong, que manteve o braço em volta dele.
O silêncio permaneceu por mais um tempo enquanto Yeosang fazia carinho nas mechas longas dele.
— Eu quero contar para os outros — Seonghwa falou. — Eu acho... acho que eles merecem saber e eu quero que eles saibam.
Yeosang deixou um beijo na testa dele.
— Se é o que você quer, hyung, então a gente conta.
— A gente vai fazer o que puder, 'tá? — Hongjoong disse, ainda mantendo Seonghwa perto, que sorriu pequeno e se permitiu ser consolado.
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Seonghwa respirou fundo quando, pela primeira vez desde que tinham decidido por uma data para fazer o roubo, o grupo se reuniu na cozinha pequena por um motivo que não era discutir sobre planos e ideias. O tatuador tinha Yeosang de um lado e Hongjoong do outro, ambos dispostos a oferecer todo e qualquer conforto que ele precisasse enquanto sentia a ansiedade e o medo de despejar sua vulnerabilidade sobre aquelas pessoas pela primeira vez desde que se permitiu se aproximar e conhecê-los melhor.
Suas mãos tremiam levemente e, enquanto Hongjoong tinha uma mão em suas costas, o hacker as segurava sob a mesa quando ele se pôs a falar, explicando tudo desde o início. Sobre como a perda da mãe resultou na perda do pai e como a madrinha o salvou e sobre como ele a perdeu também quando ela deixou apenas o estúdio e uma tatuagem feita por suas mãos quando ela faleceu. Contou sobre a primeira carta que o intimou sobre a perda de seu estúdio, e sobre todas as que vieram depois dela. Pela primeira vez, Seonghwa se permitiu mostrar seu lado vulnerável para aqueles meninos que ele aprendeu a apreciar depois de tanto tempo ao lado deles, permitiu que eles soubessem que ele tinha algo a perder e ser consolado por isso quando San imediatamente se levantou de seu lugar e se jogou sobre o tatuador, que soltou as mãos de Yeosang para recebê-lo em um abraço enquanto tanto Mingi quanto Jongho o asseguravam de que eles se apressariam, que fariam as coisas darem certo.
E Seonghwa chorou pela primeira vez na frente deles porque era a primeira vez que ele não precisava passar por nada daquilo só com Yeosang e Siyeon, porque pela primeira vez eles tinham mais pessoas a quem recorrer.
San se afastou e Wooyoung imediatamente tomou seu lugar, enfiando o rosto no pescoço do tatuador e escondendo sua tatuagem enquanto Jongho se aproximou de Yeosang e o embalou em um abraço também.
— Nunca mais vocês vão passar por nada disso sozinhos — disse o ladrão com a voz abafada pela roupa de Seonghwa. — Nós vamos dar um jeito nem que Yeosang tenha que forjar que sua dívida foi paga.
Seonghwa riu e deixou um beijo na bochecha de Wooyoung, fazendo com que ele saísse do abraço com um sorriso surpreso e grande no rosto.
— Puts, se eu soubesse que só precisava me oferecer para cometer um crime para ganhar beijo, eu teria feito antes — brincou Hongjoong, fazendo todos, inclusive o tatuador, rirem.
Seonghwa pensou por alguns segundos antes de decidir que era aquilo que queria e segurou o caçador de recompensas pelo queixo enquanto ele ainda estava rindo, aproximando seus rostos antes de deixar um beijo demorado na bochecha dele, fazendo os outros gritarem e assobiar tão intensamente que ele se perguntou se alguém na rua seria capaz de ouvir.
Seonghwa fingiu não ver o rubor no rosto de Hongjoong enquanto ele tentava esconder o sorriso.
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O vento gélido entrava pela pequena janela aberta enquanto os sete se apertavam na cozinha pequena para tomar o café da manhã simples que Wooyoung e Seonghwa prepararam enquanto Hongjoong observava os amigos — e um algo a mais que ele não sabia definir — interagindo entre si, a família que se formou de onde nenhum deles esperava. Horas se passaram e ele ainda lembrava do aperto e da aflição em seu peito enquanto Seonghwa contava aos outros sobre o risco de perder seu estúdio.
A mobilização foi visível e unânime: todos se apressaram para que qualquer que fosse a sua parte ela estivesse pronta o quanto antes. E assim eles acabaram naquela situação: tomando o último café da manhã juntos antes dar início ao plano que eles tanto trabalharam para alcançar, antes de finalmente chegar ao momento da verdade. Golden, ainda mantendo sua identidade escondida de todos menos Seonghwa, também colaborava para o caos divertido com sua voz e Hongjoong demorou a perceber que ela não estava manipulada como de costume, talvez um último esforço de estar presente com eles o máximo que conseguia sem precisar se pôr em risco.
Vozes animadas, risadas e o cheiro de comida enchia a cozinha enquanto eles se permitiam esquecer pelo menos naquelas últimas horas que tinham coisas sérias a fazer e Hongjoong se permitiu alguns minutos para observar Seonghwa andando pelo espaço com destreza, sem esbarrar em nada nem ninguém, enquanto conversava e ria, seu cabelo preto meio preso em um pequeno rabo de cavalo que permitia ao caçador de recompensas admirar o rosto bonito sem barreiras enquanto ele fingia estar entretido com sua caneca de café forte, normalmente aguado para economizar pó. O tatuador deve ter percebido o olhar que o seguia de um lado a outro pela cozinha porque logo seus olhos se encontraram com os de Hongjoong e sorriu, um sorriso só para ele enquanto conversava com Mingi no canto mais afastado do cômodo. O caçador quase engasgou com o café e Seonghwa riu, voltando sua atenção totalmente para o que quer que estivesse escutando.
Hongjoong sentia seu coração bater forte no peito e a cada batida uma decisão se confirmava: se eles saíssem vivos desse plano, ele pediria Seonghwa em namoro.
───── continua...
Notas da autora
Mais um pra conta e estamos caminhando para o ato final da fic. Espero que estejam gostando de tudo até aqui.
Como o twitter realmente foi de arrasta, eu migrei para o bluesky e tô precisando de moots lá, eu tô lá também como parkemmoyya, mas podem me achar com o link na minha bio.
Enfim, mais um capítulo postado, vejo vocês semana que vem ❤️❤️
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