× capítulo 05 ×
Hongjoong levou todo o tempo da conversa, que não foi curta, para aceitar que sua identidade tinha sido descoberta, que ele estava exposto a uma pessoa que ele nem conhecia. Por um lado isso era bom porque isso era Mist provando que ele realmente era bom no que fazia. Por outro, porém, isso deixava Hongjoong vulnerável.
Mist não parecia estar disposto a ameaçá-lo, ele fez questão de dizer várias vezes que não era esse o intuito dele ao descobrir sua identidade, mas isso não impediu Hongjoong de manter a guarda alta.
Os dois conversaram por um longo tempo até finalmente chegar a um acordo que agradasse os dois lados: um, o pagamento seria dividido igualmente, independentemente de quantas pessoas acabassem envolvidas no contrato; dois, nenhuma informação sobre o trabalho deveria ser mantida em segredo entre eles e, três, nenhuma informação pessoal deveria ser compartilhada sem que todos os envolvidos concordassem. Parecia justo, mas Hongjoong sabia que trabalhar por debaixo dos panos oferecia pouca, ou nenhuma, segurança. Eles viviam assumindo riscos e torcendo para ter apostado as fichas no cavalo certo.
Depois do que pareceram horas, Mist se espreguiçou quando eles finalmente chegaram a um meio-termo.
— Algo mais? — perguntou depois que os dois se encararam por alguns segundos, sem mais nada a dizer. — Então vamos.
Mist se levantou de seu banco e começou a seguir para a saída depois de acenar para Siyeon e pegar os dois capacetes que descansavam sobre o balcão. Hongjoong revirou os olhos com a atitude, achando mal educado da parte dele sair sem se despedir, mesmo que os dois não fossem amigos. Até Mist olhar para ele e, ao perceber que estava andando sozinho, e arquear a sobrancelha.
— Você não vem?
Ele não estava sendo mal educado, ele só não achava que eles tinham que se despedir.
— Ir aonde?
— Você não quer uma garantia de que eu sou confiável? Isso sou eu te dando uma chance de descobrir algo que ninguém nunca teve a oportunidade.
Hongjoong queria negar, se afastar o quanto antes, mas sabia que não podia se dar ao luxo. Ele tinha muito a perder por não saber tanto sobre o rapaz quanto ele parecia saber sobre ele. Então, não disse nada antes de começar a seguir Mist para fora do bar que já se tornara familiar depois de estar ali várias vezes procurando pelo homem que agora o acompanhava.
O ar frio da noite alcançou sua pele enquanto ele seguia Mist até o beco atrás do Dreamcatcher, onde uma moto estava estacionada contra a parede do bar. Mist estendeu um dos capacetes para ele e só então Hongjoong entendeu o que ele precisava fazer.
— Eu não vou subir nessa coisa, principalmente se o motorista for você.
Mist revirou os olhos enquanto montava na moto com confiança e familiaridade. Hongjoong quis acertar um soco em seu rosto por ter pensado que ele ficou ainda mais atraente fazendo isso.
— Não vejo nenhuma outra solução. Você não sabe pra onde ter que ir e eu não vou te passar o endereço assim tão fácil. Então, ou você vem comigo, ou confia que sua identidade tá segura comigo. Nós dois sabemos que você não vai fazer isso.
Hongjoong quis socar a cara dele dessa vez por estar certo.
Aceitando o capacete, Ele montou na moto da forma que viu Mist fazendo e colocando as mãos sobre a cintura dele para se manter seguro durante qualquer que fosse o trajeto que eles acabariam fazendo, tentando manter o máximo de distância entre eles.
— Se eu fosse você eu me seguraria mais forte — disse Mist em tom de aviso.
— Só liga esse troço pra acabar logo com isso.
Sem dizer mais nada, Mist ligou a moto e deu apenas um tranco para frente, fazendo Hongjoong se assustar e segurar na cintura dele como se sua vida dependesse disso. Nesse caso, realmente dependia.
Hongjoong percebeu que Mist tentava segurar a risada.
— Eu avisei pra segurar mais forte!
Antes que Hongjoong pudesse responder, no entanto, Mist deu partida na moto e os dois saíram pelas ruas de Seoul, Hongjoong sem fazer a menor ideia de qual era seu destino, mas segurando o rapaz a sua frente como se suas mãos estivessem coladas na cintura alheia.
⸻ 〤 ⸻
O tempo parecia distorcido para Hongjoong na garupa da moto, considerando que pareceu passar muito mais devagar do que o trajeto sugeria. Ele conhecia aquele lugar, era um complexo residencial não muito longe de onde ele mesmo morava, porém com acomodações melhores.
Mist parou próximo a um beco e disse a Hongjoong que descesse e esperasse por ele antes de estacionar a moto um espaço disponível entre um prédio e outro, escondida de qualquer pessoa que não estivesse procurando.
Antes que Hongjoong pudesse fazer qualquer coisa, no entanto, Mist o pegou pelo ombro e o pressionou contra a parede.
— Eu só vou falar uma vez: o que, quem, você tá prestes a ver é algo que ninguém sabe, que eu protegi com tudo que eu podia e que eu tô disposto a fazer tudo e mais um pouco para continuar protegendo — disse, apertando-o contra a parede. — Ninguém sabe sobre ele e, se alguém descobrir, você vai ser o primeiro suspeito e eu te prometo... Não... Eu te juro que eu sou capaz de te caçar no inferno se precisar. Estamos entendidos?
Hongjoong fez força com o ombro para se soltar, se afastando da parede e tirando a poeira de suas roupas.
— Uma mão lava a outra. Guarde o meu segredo que eu guardo o seu.
Sem dizer mais nada, Mist começou a se afastar e Hongjoong o seguiu até um dos prédios em frente ao beco onde a moto estava estacionada. O prédio não tinha porteiro e os dois seguiram pelas escadas e um corredor com dois pares de portas de cada lado até um porta sem fechadura, onde Mist levantou a manga de seu casaco até o antebraço e encostou o pulso onde ele imaginava que uma fechadura estaria. A porta abriu e Hongjoong ficou se perguntando como ele fez isso, mas estava com o orgulho ferido o suficiente para engolir a própria curiosidade.
— Bem vindo de volta! Você ficou fora por duas horas e treze minutos. A previsão do tempo indica uma grande probabilidade de chuva para esta noite. Deseja um lembrete para carregar um guarda chuva em sua próxima saída?
Hongjoong tentou disfarçar o pulo de susto quando a voz metalizada soou do absoluto nada, mas soube que falhou quando Mist prendeu uma risada. Procurando pela fonte da voz, Hongjoong encontrou uma forma esférica feita de metal, seu painel mostrava dois olhos em formato de sorriso e, depois de superar o susto inicial, Hongjoong teve que admitir que o robozinho era até adorável.
— Não é necessário, Bola de Neve, mas fique de olho na pessoa que entrou comigo — ordenou à bola branca, que mudou a expressão do painel de azul e acolhedora para uma vermelha e desconfiada.
Hongjoong se perguntou como alguém teria medo de um robozinho chamado Bola de Neve.
— Você voltou, hyung — disse uma voz grave, vindo de algum lugar além da entrada onde os dois estavam. — Ah, você trouxe ele mesmo. Depois do seu aviso amigável eu achei que ia deixar o corpo dele no beco pra alguém achar.
Mist seguiu pelo pequeno corredor que os separava do resto do apartamento e Hongjoong finalmente avistou o dono da voz, um rapaz que parecia ter uma idade próxima à dele, cabelos platinados e um fone grande que cobria boa parte de seu perfil. O rapaz estava à frente de um setup tão impressionante que mesmo ele, que só sabia o suficiente de tecnologia para se virar com seus contratos, tinha que reconhecer a grandiosidade.
— Não é um bom lugar pra deixar um corpo, principalmente o corpo de uma pessoa que foi vista comigo antes de morrer. Muito perto de casa.
O fato de Mist saber esse tipo de informação era muito mais preocupante do que o robozinho com cara de bravo. O rapaz se afastou do computador, virando sua cadeira para olhar para Hongjoong que adentrava o cômodo depois de Mist.
— Agradeço o cuidado, hyung, mas não precisava ameaçar o moço por minha causa — falou e Mist arqueou uma sobrancelha — ou precisava sim, você é que sabe — concluiu, erguendo as mãos em sinal de rendição. — Enfim, eu sou Yeosang.
— Aurora.
— Ah, não precisa esconder sua identidade de mim, Kim Hongjoong — Hongjoong quase engasgou com a saliva ao ter sua identidade jogada na sua cara pela segunda vez no mesmo dia. — E fui eu que descobri essa informação. Foi mal, eu não queria ter que chegar nesse nível, mas tanto eu quanto Seonghwa hyung achamos que era melhor prevenir do que remediar e fomos com uma carta na manga pra encontrar com você. Não é nada pessoal, é só que é assim que as coisas funcionam — deu de ombros.
Hongjoong ficou boquiaberto com tantas informações jogadas em seu colo de uma vez.
— Quem é Seonghwa?
— Eu — respondeu Mist, Seonghwa, se sentando no sofá encostado na parede, do lado oposto do setup de Yeosang. — Mist é composto por duas pessoas, não uma.
— E ele é mais velho que você também, vale ressaltar — acrescentou Yeosang.
— Como você sabe quantos anos eu tenho?
Yeosang lhe lançou um olhar entediado.
— Se eu descobri quem você é, é mais seguro pra você simplesmente presumir que eu já sei todo o resto também.
Hongjoong tentou entender no que se meteu, mas desistiu depois da quinta falha.
— Sabe, ele tá falando sério — disse Seonghwa — Yeosang é o melhor hacker que eu já conheci, ele descobre coisas que a maioria das pessoas paga muito dinheiro pra manter escondida.
— Eu me ofereço pra proteger os seus dados melhor se você manter sua palavra e o roubo for bem sucedido — ofereceu Yeosang com um sorriso quase amigável — como pedido de desculpas pela invasão de privacidade.
Hongjoong que não ia recusar a ajuda de um hacker para fazer algo que era da especialidade dele e ele claramente falhou tentando fazer por conta própria.
— Se Mist, quer dizer, Seonghwa me trouxe pra conhecer você, quer dizer que você vai estar fazendo parte da equipe também?
— Sim. — Hongjoong não podia reclamar, ele estava à procura de um hacker mesmo e parece que um tinha acabado de aparecer no momento certo sem que ele fizesse nenhum esforço. Era quase bom demais para ser verdade. — Quem mais faz parte da equipe além de nós e você?
— Só um caçador de recompensas que já fez alguns trabalhos comigo no passado.
Seonghwa ficou mais confortável no sofá.
— Qual o codinome dele? — perguntou.
Hongjoong cogitou não responder porque não queria colocar Mingi na mesma situação que ele, sabendo que as informações dele também não tinham o melhor tipo de proteção contra hackers. Se Hongjoong foi descoberto, Mingi também seria.
— Não se preocupe, eu não vou procurar além das informações que ele mesmo compartilhou — disse Yeosang, como se pudesse ler os pensamentos dele. — Eu falei sério quando disse que sinto muito. Nem eu, nem Seonghwa hyung gostamos de tomar esse rumo, mas dessa vez foi necessário. Não vamos procurar por nenhuma informação além do que ele tá disposto a dar.
Yeosang parecia honesto, mas Hongjoong olhou para Seonghwa, procurando por algo que indicasse que eles estavam mentindo. Para sua surpresa, Seonghwa também parecia sincero ao concordar com o que Yeosang dizia.
— Princess. O codinome dele é Princess.
— Pode sentar, se quiser. O hyung pegou birra com você, então não vai oferecer, mas pra sua sorte o apartamento é de nós dois — disse com tom zombeteiro que fez Seonghwa revirar os olhos, mesmo que se afastasse mais para o canto do sofá, abrindo espaço para Hongjoong sentar, se quisesse.
Hongjoong se sentou na ponta mais afastada enquanto Yeosang se voltava para seu computador novamente, começando a digitar com uma velocidade que ele duvidaria ser possível se não estivesse vendo bem na sua frente.
— Então, quais são os próximos passos? — Seonghwa perguntou, quebrando silêncio desconfortável.
— Bom, as informações que nós temos estão entre nenhuma e muito pouco — Hongjoong comentou —, então acho que o ideal para começar é tentar descobrir pelo o que e onde estamos procurando.
— É um bom começo — Yeosang concordou. — O que você sabe, Hongjoong-ssi?
— Hyung serve — corrigiu rapidamente, mas Yeosang negou com a cabeça.
— Seonghwa hyung é ciumento e ele já não gosta de você — respondeu ele e Hongjoong não soube dizer se ele estava falando sério ou brincando. — Sendo assim, o que você sabe, Hongjoong-ssi?
Hongjoong deu de ombros, ele não se importava muito com a forma que era chamado, embora a explicação de Yeosang não fizesse sentido para ele.
— Não muito. O que eu sei é que o que precisamos roubar, algum objeto chamado Cromer, está guardado em um cofre escondido na Galeria Central de Seoul. O contratante não deu nenhum detalhe além disso.
— Certo, então vamos começar pelo local em si — disse Seonghwa, cruzando as pernas enquanto pensava. — Sangie, dá uma procurada nas informações sobre essa galeria. Vamos ver o quanto a gente consegue descobrir por meios legais.
Yeosang assentiu e começou a trabalhar, silencioso enquanto trabalhava.
— Não achei muita coisa, só que a Galeria de Seoul existe desde antes da Idade da Pétala e está atualmente sob os cuidados da Starship.
Seonghwa arqueou uma das sobrancelhas.
— Uma das grandes empresas envolvida com uma galeria de arte? Muito esquisito.
Hongjoong tinha que concordar com a estranheza. As grandes empresas estavam envolvidas no desenvolvimento tecnológico e, embora a Starship não fosse a maior na busca por tratamentos melhores e mais eficazes, ainda era grande o suficiente para fazer barulho. O que podia parecer bom na superfície, mas era, na verdade, só uma desculpa para poder encarecer os tratamentos ainda mais. Desde que a Idade da Pétala começou e a corrida para descobrir quem ofereceria o melhor tratamento e, consequentemente, lucraria mais, os demais setores deixaram de se desenvolver, principalmente a arte, que se tornou um luxo maior do que a maioria das pessoas não podia ter acesso, sempre trabalhando ou pensando em como conseguir mais um emprego. A Doença da Pétala criou um ciclo em que todos estavam sempre trabalhando ou procurando formas de conseguir mais empregos para suprir tudo que a doença levava, seja esse tudo bens ou vidas.
— Veja se consegue descobrir alguma coisa sobre o tal do Cromer — pediu Hongjoong e Yeosang se pôs de volta ao trabalho.
— Nada. Não aparece nada pelos canais tradicionais. Eu teria que fazer uma pesquisa mais profunda em canais ilegais pra ver se eu descubro alguma coisa.
Seonghwa se esticou para ver a tela melhor e Hongjoong fez o mesmo.
— Você consegue achar a planta da galeria pra gente? — Seonghwa questionou depois de pensar um pouco.
— Eu até encontrei uma, mas ela tá desatualizada há uns 5 anos e eu tenho quase certeza de que ouvi alguma coisa sobre uma reforma há uns 2 anos atrás — disse Yeosang afastando alguns fios platinados que o rabo de cavalo não prendia do rosto. — Eles devem ter uma atualizada nos dados da galeria ou da empresa, mas eu preciso de mais tempo pra conseguir invadir.
Hongjoong voltou a se sentar no sofá.
— Quanto tempo?
Yeosang se virou para eles novamente.
— Não sei, depende do nível de segurança deles. Algumas horas, na melhor das hipóteses, alguns dias, na pior.
Os três se puseram a pensar.
— Que tal se a gente der a reunião de hoje como encerrada e marcar uma próxima pra quando tivermos a planta em mãos? — Hongjoong sugeriu depois de algum tempo. — Daí a gente consegue tentar criar um plano melhor, ver se tem mais alguém que a gente precisa, e eu consigo trazer Princess comigo.
Para sua surpresa, Seonghwa concordou.
— Acho uma boa. Melhor do que ficar aqui quebrando a cabeça sem chegar a lugar nenhum.
— Tudo bem então — Yeosang confirmou. — Eu te mando uma mensagem quando conseguir a planta.
— Você tem meu número?
Yeosang apenas olhou para ele com a sobrancelha arqueada.
— Sabe de uma coisa? Sua ingenuidade é fofa. — Yeosang era o primeiro hacker com quem Hongjoong trabalhava diretamente, não era culpa dele que ele ainda não tinha se acostumado. — Vamos, eu te levo até a saída, Hongjoong-ssi.
Hongjoong sabia reconhecer uma dispensa quando ouvia uma, então se levantou.
— Sangie, você tem certeza? — perguntou Seonghwa, a testa levemente franzida, como se estranhasse a decisão do amigo.
Yeosang revirou os olhos.
— Relaxa hyung, ele não vai me fazer nada e Bola de Neve tá de olho, ele vai te avisar se alguma coisa estiver errada, tudo bem? — consolou Yeosang, levando uma mão para apertar o ombro de Seonghwa, que ainda parecia apreensivo, mas não relutou quando Hongjoong e Yeosang saíram do pequeno apartamento. — Queria pedir desculpas pelo chega-pra-lá que o hyung te deu no beco, Hongjoong-ssi. Não é nada pessoal, ele só é meio super-protetor, às vezes.
— Você viu aquilo?
Yeosang assentiu.
— Eu tenho câmeras espalhadas pela área e algumas mais longe.
Hongjoong não podia dizer que estava bem com o que aconteceu, mas vendo que Seonghwa estava apenas tentando proteger um amigo, ele não podia dizer que faria de uma forma diferente.
— Não se preocupe, é passado.
— Que bom, Hongjoong-ssi porque algo me diz que eu vou gostar muito de trabalhar com você — Yeosang respondeu quando os dois chegaram à entrada do prédio.
Embora tudo estivesse muito incerto e ele mal entendesse no que estava se metendo, Hongjoong também achava que adoraria trabalhar com alguém como ele.
⸻ 〤 ⸻
Seonghwa lavava as mãos para começar a preparar o jantar quando Yeosang voltou depois de levar Hongjoong até a saída, se permitindo respirar um pouco mais aliviado depois de seu retorno.
— Você sabe que não precisava ameaçar o coitado, não sabe, hyung? — perguntou Yeosang segurando uma risadinha.
Seonghwa deu de ombros.
— Eu só tava avisando sobre o terreno que ele tava pisando, o que eu tava arriscando pra trazer ele aqui. Espero que ele tenha entendido o recado.
— Quem vê até pensa. Você não faz mal nem a uma abelha se puder evitar, hyung. — Seonghwa não respondeu. — Mas sabe... — começou com um sorriso travesso no rosto — ele até que é agradável aos olhos.
— E?
— Você podia tentar alguma coisa com ele depois que a gente acabar isso tudo. Ou durante, pode ser também. No seu tempo — provocou.
Seonghwa quase riu.
— Otimista da sua parte achar que ele estaria interessado em ter qualquer coisa comigo depois de eu ter praticamente chantageado a me aceitar na bendita equipe e ameaçado ele — retrucou com sarcasmo. — Tem nem perigo, Yeosang, você devia estar agradecendo aos céus que a gente conseguiu se manter civilizado.
Yeosang revirou os olhos.
— O que é uma chantagem e uma ameaça nesse mundo? Daqui uns dois dias ele nem vai lembrar e você vai estar prensando ele na parede por outro motivo.
— Ainda bem que sonhar é de graça, né? Agora vê se vai trabalhar que a gente não é rico.
Yeosang riu, mas obedeceu, deixando Seonghwa sozinho para trás enquanto se concentrava no jantar.
⸻ 〤 ⸻
Passados dois dias desde a reunião com Hongjoong, Yeosang conseguiu a planta da galeria e eles marcaram mais um encontro para discutir os próximos passos e apresentar Princess para os demais. Seonghwa não podia dizer que estava animado para ter mais uma pessoa que não conhecia e não confiava em sua casa, mas Yeosang precisava do próprio equipamento, então ele apenas fez as pazes com o fato de que essa seria sua vida por um tempo. A reunião estava marcada para a noite, depois que Seonghwa chegasse do estúdio.
O dia passou rápido, com um cliente apenas, e logo Seonghwa já estava entrando em seu apartamento.
— Chegou, hyung?
— Não, tô lá ainda — brincou, antes de deixar um afago carinhoso nos fios platinados. — Nem sinal deles?
— Por enquanto não. Eu coloquei Bola de Neve em alerta nas câmeras, ele vai me avisar quando eles chegarem — Yeosang respondeu, deixando que Seonghwa continuasse mexendo em seu cabelo, evitando a parte coberta pelo headset.
— Tudo bem. Eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Qualquer coisa, grita.
Yeosang sorriu.
— Relaxa, hyung.
Deixando-o para trás, Seonghwa tomou seu banho apressado, voltando para a sala e encontrando Hongjoong e um rapaz sentados no sofá em silêncio. Como ninguém falava, a chegada de Seonghwa atraiu a atenção de todos e ele imediatamente se deu conta de seu cabelo molhado e das roupas velhas que vestia. Não que ele se importasse.
— Oi?
Seonghwa quebrou a tensão do momento, indo até a pequena janela perto da cozinha e estendendo sua toalha antes de retornar.
— Hm, oi — disse o rapaz. — Eu sou Mingi.
Seonghwa se surpreendeu com Mingi oferecendo seu nome por conta própria, considerando que ele era o único entre eles que ainda mantinha esse privilégio.
Mingi era diferente e Seonghwa não fazia ideia do que levou um homem como ele a ser apelidado de Princess, considerando suas feições fortes e voz extremamente grave. Ele vestia roupas pesadas e Seonghwa não pode deixar de notar a forma como Hongjoong parecia menos tenso tendo o homem ao seu lado.
— Seonghwa — se apresentou em retorno, erguendo a mão para complementar o cumprimento.
— Então — Yeosang começou enquanto Seonghwa se encostava na parede ao lado da cadeira dele, querendo se manter entre Yeosang e os dois estranhos —, eu levei dois dias, mas finalmente consegui invadir o sistema da galeria pra pegar a planta e o que eu encontrei foi que existem duas plantas: uma pública, basicamente todos os lugares que a gente pode entrar sem levantar suspeitas se a gente fizer direito, e uma secreta escondida por alguns programas que eu eu não vou me dar ao trabalho de explicar. Essa secreta mostra alguns pontos que não estão detalhados na planta pública. Por exemplo, — Yeosang colocou as duas plantas ampliadas na tela de seu computador — na planta pública, esse ponto é tido como um depósito — apontou para um dos cômodos na planta, entre uma cafeteria e uma das exposições —, porém na planta secreta ele é tido como uma sala de reuniões. Se procurarmos, vamos encontrar vários pontos desse tipo. A gente só precisa descobrir em qual deles o Cromer tá e com quanto de segurança a gente tem que se preocupar.
Quando Yeosang acabou de falar, se virando para os demais novamente, Seonghwa, Hongjoong e Mingi trocaram olhares.
— Você não conseguiu invadir as câmeras? — Seonghwa perguntou, mesmo que já imaginasse a resposta.
— Não, tá bem protegido, mas devo conseguir se eu continuar tentando.
Hongjoong ficou pensativo.
— Nós podemos descobrir quais são os tipos de mecanismos de segurança eles têm para as obras mais caras e começar a trabalhar a partir daí.
— Não é uma má ideia, mas a gente precisaria entrar e eu não sei se é inteligente ter a nossa cara nos registros deles tão cedo, a gente não sabe o quanto de descrição a gente vai precisar do futuro — Seonghwa discordou.
— Por isso mesmo, se a gente precisa se manter debaixo dos panos vai ser melhor se qualquer registro nosso for de datas mais distantes do roubo em si, fica mais difícil de encontrar uma relação — retrucou Hongjoong.
Mingi pigarreou levemente então, tirando a atenção de Seonghwa e Hongjoong um do outro.
— Eu meio que já fiz isso — contou. — A maioria das medidas de segurança que eu percebi são portas mecânicas, eu acho que são tipo que fecham depois de um certo horário. Acho que o Cromer pode ter uma dessas e, mesmo que não tenha, a entrada principal eu vi que tem uma parecida. Ou seja, de um jeito ou de outro, a gente vai ter que lidar com isso.
Isso deixou os outros três pensativos.
— Bom, eu não posso fazer nada em portas mecânicas, eu só mexo com eletrônicos — Yeosang falou.
— A gente pode procurar por um mecânico — sugeriu Hongjoong —, alguém que tope se enfiar em um plano desses.
Seonghwa não perdeu tempo.
— Eu conheço alguém — disse com um aceno de cabeça.
Yeosang arqueou uma sobrancelha.
— Jongho?
— Jongho — confirmou. — Ele é o meu mecânico, cuida da minha moto e eu sei que ele faz alguns trabalhos de legalidade duvidosa.
Mingi levou uma das mãos ao queixo, pensativo.
— Você acha que ele é confiável pra um plano desses? Ao que parece, o plano depende dele pra dar certo.
— Acho que sim, Jongho é mais centrado do que a maioria das pessoas que eu conheço, se ele não conseguir fazer, não sei quem consegue — Seonghwa respondeu, dando de ombros.
Hongjoong ficou relutante.
— Não sei, me parece meio arriscado.
Seonghwa precisou se segurar para não revirar os olhos. Não tinha uma parte desse roubo que não fosse arriscada, que diferença faria uma a mais?
— Bom, a gente não tem outra opção. É ele ou ninguém.
— Jongho me parece confiável na medida do possível — Yeosang complementou. — E eu não tô vendo nenhuma fila de mecânicos querendo se jogar de cabeça em um plano que pode custar suas carreiras e sua liberdade.
Mingi assentiu e Hongjoong olhou para ele quase como se tivesse sido traído.
— Eu não tô aqui pra contar a seu favor nos números, Hongjoong. Eu quero que esse roubo aconteça e pra isso acontecer eu acho que a ideia deles é melhor. Supera. Você pode falar com o seu mecânico?
Seonghwa concordou com a cabeça.
— Amanhã mesmo eu já converso com ele e vejo o que eu consigo.
Hongjoong aceitou a contragosto.
— A gente faz outra reunião quando você tiver uma resposta do mecânico.
Mingi e Hongjoong se levantaram e se despediram de Seonghwa e Yeosang antes de saírem, Mingi levando os dedos indicador e médio até a têmpora quando Seonghwa os levou até a porta e Hongjoong com um aceno desanimado. Ninguém os levou até a saída do prédio dessa vez e Seonghwa não podia ficar mais feliz por Yeosang ter ficado onde estava.
───── continua...
Notas da autora
Oi, meus amores, volteeei!
Temos aqui os seongjoong andando de moto agarradinhos (contra a vontade do Hongjoong, mas isso a gente deixa baixo kkkkkkkkkkkk) e o grupo tá crescendo . O que vocês acham que vem por aí?
Espero que estejam gostando e até a semana que vem ❤️.
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