× capítulo 03 ×

Sua bebida sem álcool trazida por Siyeon e paga por Aurora descansava sobre o balcão enquanto ele explicava o que o levou a procurar por Mist várias vezes. A necessidade de uma equipe e como eles precisavam desesperadamente de mais informações antes de decidir o que fazer, como prosseguir. O pagamento era realmente alto e poderia ser uma motivação para Seonghwa se ele não achasse toda a situação muito delicada. Uma coisa era usar as informações que tinha ou conseguir mais para chantagear uma pessoa ou outra, outra bem diferente era se colocar no radar ao roubar algo da maior galeria de artes de Seoul.

Então, Aurora... — a voz grave de Yeosang soou por seu fone enquanto Aurora falava e Seonghwa fez seu melhor para fingir prestar atenção, sabendo que Yeosang estava guardando a gravação para que eles pudessem assistir depois — ele não se destaca, mas os trabalhos que se propôs a fazer ele fez bem feito. Provavelmente seria tranquilo trabalhar com ele se esse contrato não fosse tão... abstrato.

Seonghwa concordava com ele, a falta de detalhes poderia ser perigosa porque era difícil saber as variáveis. Nenhum dos dois precisou falar nada para saber que estavam de acordo na decisão que estavam tomando.

— .... eu ainda não tenho uma equipe formada, só tenho mais uma pessoa na verdade, mas acho que se tiver você já é um passo à frente — Aurora falava como se tentasse convencer Seonghwa a comprar seu produto em uma loja e ele teve que esconder a expressão de pena que quase surgiu em seu rosto.

— Olha, Aurora, eu vejo o seu lado, mas não estou interessado. — O queixo de Aurora quase caiu do rosto ao perceber que Seonghwa estava recusando a oferta, como se só naquele momento a possibilidade tivesse passado por sua cabeça. — Não é nada pessoal, não tinha como ser, na verdade, eu nem te conheço. Esse plano, ou melhor, a ausência de um plano, é muito diferente de como eu costumo operar.

— Di...ferente?

— Sim — Seonghwa assentiu — eu gosto de ter o máximo de detalhes possíveis para saber onde eu tô me enfiando. Você nem sabe o que você tá roubando. — Aurora ficou em silêncio depois disso, talvez pensando em como convencê-lo a concordar. — É uma pena porque o pagamento realmente é chamativo, mas tem coisas que não valem a pena o risco que oferecem — deu de ombros. — Se tiver algum outro trabalho em que eu possa ajudar, mande um recado por Siyeon se eu não estiver aqui, ela vai saber como me encontrar.

Sem dizer mais nada, Seonghwa pegou seu capacete e se levantou do banco, se preparando para ir embora depois de acabar sua bebida, acenando para Siyeon. Antes que ele pudesse se afastar do balcão, no entanto, Aurora o segurou pelo pulso e ele se virou para ver o que ele queria.

— Meu número — disse, oferecendo um pedaço de papel —, me liga se mudar de idéia.

Seonghwa não achava que ele ou Yeosang fossem mudar de ideia, mas não custava aceitar.

Sem dizer mais nada, ele saiu do Dreamcatcher, deixando Aurora para trás enquanto ia atrás de sua moto onde costumava estacionar.

⸻ 〤 ⸻

Seonghwa já estava mais que pronto para dar o dia como encerrado enquanto tirava as luvas e a máscara descartável com um suspiro cansado, se espreguiçando antes de começar a arrumar as coisas para finalmente ir para casa.

Ele percebeu que seus planos foram ladeira abaixo quando um garoto entrou apressado em seu estúdio de repente, fazendo com que ele pulasse em seu lugar com o susto.

— S-socorro — falou, com a voz entrecortada, provavelmente pelo cansaço ou pelo desespero, talvez por ambos. — Eu preciso de ajuda.

Seonghwa se aproximou dele, olhando ao redor para ver se mais alguém planejava invadir seu estúdio nos próximos segundos antes de focar sua atenção no garoto. Ele parecia ter por volta dos 16 anos e seu rosto, redondo com olhos grandes, brilhava com o rastro das lágrimas que ele derramou e ainda derramava.

— Você precisa vir comigo — disse o garoto, pegando Seonghwa pelo pulso e o puxando até a porta do estúdio.

Seonghwa tentou resistir aos puxões do garoto.

— Ei, ei, ei. O que tá acontecendo? Por que você precisa de mim? Quem é você?

O garoto olhou para Seonghwa por sobre o ombro enquanto fazia mais força para puxá-lo.

— É você que cuida de pessoas machucadas, não é? — perguntou apressado. — Tem que ser você!

Fazia algum tempo que ninguém o procurava para aquele tipo de coisa nos últimos dias.

Quando sua madrinha deixou o estúdio para ele junto com seus ensinamentos sobre tatuagens, Seonghwa herdou também os rumores de que as pessoas podiam procurar por atendimento médico gratuito naquele estúdio de tatuagem. Para sua sorte, ele já a tinha visto tratar tantas pessoas que a frequência cultivou nele a curiosidade e a vontade de aprender a cuidar de outras pessoas e as coisas que aprendeu vieram a ser mais úteis do que qualquer um deles imaginava quando Seonghwa passou a tratar ferimentos não só de pessoas que apareciam pedindo por ajuda quanto os dele mesmo quando se machucava durante alguma de suas atividades não legalizadas.

— Tudo bem, calma, eu vou com você — assegurou, percebendo que o garoto não se acalmaria enquanto não tivesse certeza de que Seonghwa o acompanharia aonde quer que fosse.

O garoto pareceu aliviado, mas não muito, quando Seonghwa permitiu que ele o puxasse e começou a se esforçar de fato para acompanhá-lo em seu desespero, lágrimas ainda escorrendo, mas seu olhar demonstrando uma determinação que Seonghwa não pode deixar de admirar.

— Como é o seu nome?

O garoto olhou para Seonghwa novamente, mas não diminuiu o passo nem para responder.

— Yujin — disse em uma voz baixa e apressada enquanto guiava Seonghwa pelas ruas estreitas.

— O que aconteceu Yujin? Por que você precisa de mim?

— M-minha amiga.

Seonghwa já imaginava o que viria depois disso, mas procurou pela confirmação de qualquer forma.

— O que tem ela?

— E-ela se machucou, e eu... e-eu não sei como ajudar — respondeu e Seonghwa não precisava conhecer Yujin para reconhecer o fio de culpa que se prendia conforme ele falava.

Seonghwa se apressou a acompanhar o ritmo mais de perto, apertando o passo para que os dois avançassem mais rápido, sabendo que sua lentidão devia estar consumindo Yujin por dentro.

— Tudo bem, eu vou ver o que posso fazer.

Seonghwa não podia prometer nada, considerando que fazer promessas sobre feridas de outra pessoa, principalmente uma que ele sequer viu a situação ainda, era extremamente perigoso. Era uma promessa que ele não tinha garantia nenhuma de que conseguiria cumprir e ele preferia não criar expectativas que ele não tinha certeza se conseguiria alcançar.

Sem falar mais nada, Yuji o levou até um beco sem iluminação e, se Seonghwa não tivesse visto o desespero presente na expressão dele desde que invadiu seu estúdio, ele podia pensar que estava sendo levado para alguma armadilha ou golpe. A suspeita foi derrubada antes mesmo de se consolidar quando, conforme eles avançavam pelo beco escuro, Seonghwa avistou a silhueta de uma pessoa sentada no chão com as costas apoiadas na parede.

Ao se aproximar, a pessoa pareceu ser capaz de percebê-los e Yujin se apressou a se ajoelhar ao lado dela, segurando sua mão enquanto Seonghwa tentava entender a situação.

— Haerin, eu achei ele.

A menina, Haerin, desviou o olhar de Yujin com uma expressão apreensiva no rosto, quase medo, e Seonghwa tomou o cuidado de manter sua postura o menos ameaçadora que podia.

— Olá, Haerin, eu sou o Seonghwa. Yujin me disse que você precisava de ajuda — disse, apoiando um joelho no chão ao lado dos dois. — Eu não vou machucar nenhum de vocês.

O olhar de medo de Haerin não diminuiu, mas não havia muito que Seonghwa pudesse fazer. Palavras de afirmação eram só palavras quando se tratava de pessoas que não o conheciam e ele no lugar deles também não confiaria.

— Onde você tá machucada?

Haerin olhou para o amigo, que deu um aceno encorajador, antes de voltar a olhar para Seonghwa.

— M-minha perna e meu pulso — respondeu em um fio de voz, ainda hesitante, mas sabendo que não tinha outra opção.

— Tudo bem — Seonghwa falou gentilmente. — Eu preciso que vocês voltem comigo pro estúdio, eu não tenho o que eu preciso aqui pra tratar qualquer ferimento. — Yujin e Haerin se entreolharam e Seonghwa sabia reconhecer uma conversa silenciosa quando via uma, ele e Yeosang aprenderam a ter várias dessas ao longo dos anos. — Olha, não é como se vocês tivessem muita escolha, eu provavelmente sou a única esperança de vocês por aqui.

Os dois olharam para Seonghwa por um tempo, como se tentassem encontrar a armadilha escondida, procurando quando ia dar errado. Eventualmente, os dois assentiram e ele se levantou, seguido por Yujin.

— Você consegue andar? — Seonghwa perguntou depois de notar que Haerin não se levantou e ela negou com a cabeça.

Seonghwa mordeu o lábio inferior, tentando descobrir como lidar com a situação. Depois de algum tempo pensando com dois pares de olhos hesitantes o encarando, Seonghwa chegou a uma conclusão sobre o que fazer. Com passos lentos para deixar claro que não tem intenção de machucar nenhum dos dois, Seonghwa se aproximou da dupla e ajoelhou mais uma vez, de costas para Haerin.

— Yujin, ajude Haerin a subir nas minhas costas de um jeito que não piore qualquer machucado que ela já tenha. Eu vou carregar você até o estúdio, se não for um problema.

Seonghwa olhou para Haerin por sobre os ombros, que assentiu, e esperou enquanto Yujin a ajudava a subir em suas costas. Ela soltou alguns murmúrios, indicando sua dor e Yujin se desculpou em voz baixa, mas logo Seonghwa se encontrava de pé com Haerin em suas costas. Com as pernas dela penduradas de cada de seu corpo, Seonghwa notou sua calça molhada de sangue na altura entre a coxa e o joelho da perna direita, manchando sua camiseta.

Seonghwa não se importou enquanto eles avançavam pelas ruas, deixando o beco mal iluminado para trás.

— O que vocês estavam fazendo que resultou nisso?

Yujin olhou para ele, desviando sua atenção de Haerin por um minuto para responder.

— Nós fomos tentar roubar comida e roupas limpas de uma loja ali perto, mas o alarme tocou antes da gente conseguir sair — respondeu.

— Eu me assustei com o alarme e caí em uma prateleira de vidro — Haerin continuou por ele, a voz ainda baixa e ainda hesitante, mas com menos medo, como se ela estivesse começando a perceber que Seonghwa realmente não pretendia machucá-los. — Yujin teve que me carregar pra fora, mas ele não conseguiu me levar mais longe do que o beco.

— Eu tive que deixar ela sozinha pra procurar ajuda — Yujin concluiu com um olhar culpado.

Seonghwa entendeu a situação imediatamente.

— Você caiu em cima do seu pulso?

Haerin assentiu, apoiando a cabeça no ombro dele.

— E eu acho que um pedaço de vidro entrou na minha perna.

Seonghwa acenou com a cabeça para mostrar que a ouviu.

— Eu vou fazer o que eu puder.

Para sua sorte, o estúdio não era longe do beco em que Haerin estava e eles fizeram o caminho de volta rapidamente e Seonghwa entrou em seu estúdio com ela em suas costas e Yujin seguindo os dois. Ele colocou Haerin sobre o sofá e Yujin imediatamente sentou ao seu lado e segurou sua mão em um apoio silencioso enquanto Seonghwa andava pelo estúdio pegando seu kit de primeiros socorros e o celular para avisar Yeosang que ele se atrasaria.

— Eu vou lavar as mãos, rasga a calça em uma altura que seja o suficiente pra revelar todo o corte e um pouco acima, vamos torcer que não vá precisar de pontos — Seonghwa disse antes de se retirar do cômodo para dar aos dois a privacidade para discutir o que precisassem e fazer o que ele pediu enquanto ele lavava as mãos e prendia o cabelo em um rabo de cavalo pequeno, apenas para evitar que os fios ficassem caindo em seus olhos.

Quando ele voltou à sala de espera, Haerin já tinha a calça rasgada e sua cabeça descansava sobre o ombro de Yujin, que trabalhava para acalmá-la. Seonghwa sabia que depois que a adrenalina tinha ido provavelmente toda embora, Haerin devia estar com muita dor, ainda assim, nada entregava seu sofrimento além da forma como ela mordia o lábio inferior ou como ela apertava a mão de Yujin.

Seonghwa se aproximou e os dois desviaram o olhar para ele no momento que perceberam seu retorno. Com cuidado, Seonghwa se ajoelhou em frente à perna de Haerin que descansava para fora do sofá, colocando o kit ao seu lado no chão, e deu uma olhada no corte.

— Não parece que vai precisar de pontos — disse enquanto colocava as luvas para analisar melhor a situação e Yujin respirou aliviado. — Parece que foi superficial e simples e você deve ficar bem se tomar os cuidados certos — concluiu com um sorriso pequeno.

Seonghwa trabalhou rápido, limpando o corte enquanto Haerin apertava a mão de Yujin quando a dor ficava muito intensa e Seonghwa lançava um olhar de desculpas, ainda que ele não pudesse evitar. Com o corte limpo e devidamente enfaixado, Seonghwa passou a olhar o pulso luxado que já começava a mostrar sinais de inchaço e Haerin soltou um grunhido quando Seonghwa o tocou.

— Eu vou ter que colocar o osso de volta no lugar. Sinto muito, mas não tem um jeito fácil. Vai doer pra caramba — Seonghwa avisou. — Aperta a mão do Yujin, eu vou contar até três.

Haerin assentiu, os olhos cheios de medo, mas com determinação também e Seonghwa sentiu um tipo estranho de orgulho ao vê-la se manter de cabeça erguida mesmo na situação em que estava, ele já viu homens crescidos segurando o choro ao ter seus ferimentos tratados e Haerin — que parecia não ser mais velha que Yujin, os dois com idade próxima aos 16 anos provavelmente —, estava aguentando firme. Isso o entristecia na verdade porque ele sabia por experiência própria que ela provavelmente já passou por outras situações parecidas o suficiente com aquela para saber como lidar com a dor.

— Tudo bem. Pronta? — Haerin acenou com a cabeça, sem confiança. — Respira fundo — Seonghwa orientou. — Um, dois... — Antes de dizer três, Seonghwa fez força e devolveu o osso para o lugar enquanto Haerin abafou um grito. — Pronto, pronto.

Seonghwa lançou um olhar preocupado na direção dela enquanto deixava que Haerin recuperasse o fôlego.

Depois que de deixá-la respirar até a dor diminuir, Seonghwa explicou os cuidados necessários enquanto ela ainda descansava a cabeça sobre o ombro de Yujin, que acariciava seus cabelos bagunçados em um conforto silencioso.

— Você se machucou em algum lugar? — Seonghwa perguntou para Yujin quando acabou de tratar Haerin. Yujin negou com a cabeça. — Menos mal.

— Obrigada — Haerin disse repentinamente. — Você não precisava cuidar de mim, mas cuidou mesmo assim.

Seonghwa sorriu para ela antes de se levantar.

— Onde fica a loja que vocês tentaram roubar? — perguntou depois de um tempo.

Yujin ficou confuso com o questionamento repentino, mas respondeu mesmo assim.

— Perto do cruzamento, aquela grande que só gente rica entra.

— Vocês deram um jeito nas câmeras? — Tanto Yujin quanto Haerin arregalaram quando perceberam o erro, Seonghwa mal conseguiu segurar a risada com o olhar de desespero deles. — Calma, não se preocupem, eu vou cuidar disso.

Deixando os dois para trás, Seonghwa enviou uma mensagem para Yeosang sobre o que aconteceu e pediu que ele cuidasse das câmeras de segurança enquanto levava Yujin e Haerin em casa.

— Tudo certo, meu amigo vai cuidar das câmeras — Seonghwa avisou, vendo os dois respirarem aliviados. — Agora, onde vocês moram?

⸻ 〤 ⸻

O lugar onde Haerin e Yujin moravam não era longe de seu estúdio, mas os três ainda demoraram para chegar até lá porque estavam caminhando em passos reduzidos para que Haerin pudesse acompanhá-los em seu próprio ritmo. Durante a caminhada, Haerin e Yujin passaram a confiar mais em Seonghwa, fazendo perguntas sobre o que ele fazia e contando coisas sobre eles mesmos. Eles falaram sobre como viviam com outras crianças órfãs em um armazém abandonado enquanto dois ladrões passavam por lá de vez em quando para garantir que estava tudo bem, mas não podiam ajudar muito porque eles muitas vezes não conseguiam o suficiente nem para eles mesmos.

Yujin ia na frente, guiando o caminho enquanto Haerin ia no meio e Seonghwa por último para manter um olho nos dois e garantir que ela não estava se esforçando demais com sua perna ferida.

Ao chegar no que Seonghwa imaginava que fosse a rua do armazém abandonado que eles usavam de casa, um grupo pequeno de pessoas estava reunido na frente do pequeno prédio e Yujin olhou para Haerin com a testa franzida antes de acelerar o passo para se aproximar do grupo, deixando os outros dois momentaneamente para trás. Seonghwa percebeu o momento que a chegada de Yujin foi percebida pelo grupo, gerando uma pequena comoção, e percebeu que todo o grupo, com exceção de um garoto que parecia ser mais próximo da idade de Seonghwa que dos demais, era formado por pessoas que pareciam ter mais ou menos a idade de Yujin e Haerin.

Haerin tentou se apressar, sem sucesso, e Seonghwa, notando a urgência dela para se aproximar do grupo, se aproximou e passou o braço direito dela por sobre seus ombros, a ajudando a avançar enquanto ela lhe lançava um olhar agradecido. Pelo pouco que ele conheceu da garota nas poucas horas que passaram juntos, ela não parecia ser do tipo que pedia ajuda e Seonghwa não era o tipo de pessoa que se importava em oferecer se sentisse que a ajuda era merecida.

Com a aproximação dos dois, a atenção do grupo saiu de Yujin para Seonghwa e Haerin e ele observou as diferentes reações. Era um grupo de cerca de seis pessoas, além do garoto mais velho, provavelmente o grupo com quem Yujin e Haerin viviam. Alguns pareciam apreensivos, outros hesitantes, enquanto outros tinham olhares determinados em seus rostos, como se estivessem dispostos a esfolar Seonghwa diversas vezes se necessário para mantê-la segura.

O rapaz mais velho se apressou a encontrá-los no meio do caminho, se colocando à frente dos demais, como se para protegê-los de qualquer mal que Seonghwa pudesse oferecer, e gesticulou para que passasse Haerin para seus braços e ele olhou para ela, procurando por uma confirmação de que ela estava confortável com isso, e a ajudou a alcançar o rapaz quando recebeu um aceno em resposta.

— Quem é você? — perguntou, olhando para Seonghwa com desconfiança. — Eu deveria estar apontando uma arma pra você agora?

Seonghwa não tinha como saber se o rapaz realmente tinha uma arma ou não, tudo que ele sabia era que ele não tinha, então apenas levantou as mãos para o ar em sinal de rendição para uma batalha que ele nem queria começar e se preparou para começar a se defender, mas Yujin foi mais rápido que ele enquanto se aproximava.

— Não, Foxy! Ele nos ajudou.

O rapaz, Foxy, não olhou para Seonghwa enquanto examinava Haerin, seu olhar se demorando no corte enfaixado como se pudesse vê-lo através das bandagens.

— O que aconteceu? — perguntou, suavizando a voz ao falar com Haerin.

Ela se mexeu para ficar mais confortável nos braços do rapaz antes de responder.

— O roubo deu errado — suspirou, explicando brevemente o que aconteceu e como conseguiu o corte na perna e uma luxação no pulso. — Yujin pediu ajuda ao Seonghwa e ele cuidou de mim. Por isso a gente demorou pra voltar.

Foxy olhou para Seonghwa mais uma vez, ainda desconfiado.

— E você é o quê? Médico?

— Tatuador, na verdade — respondeu, recebendo uma expressão desacreditada do pequeno grupo e de Foxy. — É sério, mas eu sei uma coisa ou outra sobre medicina.

Foxy não parecia convencido que Seonghwa não estava ali para causar nenhum mal e ele não podia culpá-lo por manter a guarda alta, qualquer descuido quando se estava nesse tipo de vida podia resultar em tragédias para aqueles sob sua proteção e, no caso de Foxy, as pessoas que ele protegiam era adolescentes que mal tinha conseguido viver, se é que era possível chamar essa luta pela sobrevivência de viver. Seonghwa não tinha como mudar o que Foxy parecia pensar dele e nem tinha interesse em fazê-lo, eles corriam menos perigo se permanecessem desconfiados.

— Eu só vim trazer os dois, vocês podem continuar o que quer que estivessem fazendo — disse, começando a se afastar com passos para trás. — Vocês sabem os cuidados com o corte e o pulso, mas sabem onde me encontrar se der algum problema. Só mantenham o corte limpo pra evitar infecção e o pulso vai voltar ao normal daqui a alguns dias.

Com isso, Seonghwa se virou e seguiu seu caminho, escutando um agradecimento de Haerin e Yujin conforme se afastava e sorriu consigo mesmo enquanto se dirigia até o estúdio para fechá-lo de fato antes de finalmente ir embora.

⸻ 〤 ⸻

Seonghwa conseguia sentir o cansaço até em seus ossos enquanto subia as escadas até seu pequeno apartamento, seus olhos mal se mantendo abertos e a cada degrau parecia mais difícil raciocinar até lembrar que precisava subir o próximo. Sua porta velha e rangendo nunca pareceu tão bonita em sua visão quanto quando ele finalmente a abriu para dar de cara com Bola de Neve enquanto bocejava.

Já passava das duas horas da manhã, mas, sem Seonghwa para obrigá-lo a ir dormir, Yeosang ainda trabalhava em seu computador, só percebendo a chegada de Seonghwa quando Bola de Neve começou a anunciar o horário e o clima como era de costume.

— Chegou tarde, imagino que a situação com os dois adolescentes demorou mais do que o esperado, então?

Seonghwa assentiu, praticamente se jogando no sofá.

— Um corte na perna e um pulso luxado. As câmeras?

— Devidamente enganadas, ninguém vai saber o que aconteceu quando encontrarem a prateleira destruída — Yeosang respondeu sem tirar os olhos do computador antes de pular em sua cadeira, como se tivesse lembrado de algo. — Chegou uma carta pra você.

Seonghwa suspirou, cartas nunca eram indicativo de coisa boa.

Desde que o mundo avançou muito tecnologicamente e a Coréia do Sul se tornou o maior polo tecnológico depois de muito investir na procura por uma cura para a Doença da Pétala, tudo era feito digitalmente. Esses avanços vieram às custas das partes mais pobres do país com o governo da época desviando dinheiro dos subúrbios para investir nas empresas de pesquisa. Os investimentos mostraram resultados, ainda que de forma agridoce.

Depois de anos de pesquisa, foi descoberto um tratamento, mas ele se tornou caro quando chegou ao público em geral e boa parte da população vendia a vida e a alma para pagar pelos tratamentos de entes queridos que podiam nem sobreviver até que tivessem o suficiente para custear o tratamento, de forma que muitos preferiam se endividar ao invés de juntar o dinheiro para pagá-lo de uma vez. Seonghwa não era nascido quando a Doença da Pétala surgiu, nem quando o tratamento surgiu, mas sua madrinha era e ela fazia questão de contar a ele sobre um mundo que não era perfeito, mas permitia que as pessoas pudessem sonhar com a perspectiva de uma vida melhor. No mundo em que Seonghwa nasceu, o destino era trabalhar até morrer ou morrer de tanto trabalhar, ou quebrar a lei e torcer para ser bom o suficiente nisso para não ser pego e ter uma vida com o mínimo de dignidade.

Era estranho. Em uma sociedade em que tecnologias eram mais fáceis de se conseguir do que a refeição de cada dia, o governo era o único que continuava a se comunicar com seus cidadãos via carta e Seonghwa nunca entendeu porque as coisas eram desse jeito, não que ele tivesse tempo para se preocupar com nada disso, sobreviver e se manter fora do radar já era trabalhoso o suficiente.

Yeosang estendeu a carta para ele e Seonghwa pensou em simplesmente fingir que ela não existia, se prender à sua ignorância e continuar com sua pseudotranquilidade sem saber que tipo de problema bateria em sua porta, mas ele não podia porque ele não vivia só por ele e manter-se propositalmente despreocupado podia causar problemas para Yeosang também.

Então Seonghwa respirou fundo e abriu a carta, sentindo seu coração acelerar em seu peito conforme lia seu conteúdo e sentia o sono e o cansaço evaporando de seu corpo conforme as palavras iam fazendo sentido em sua cabeça.

Seonghwa sentiu-se fraco e impotente quando finalmente entendeu o que estava em jogo e o que acabaria perdendo se não honrasse com o que foi pedido dele.

───── continua...

Notas da autora

Opa, personagens novos 👀👀👀. Quem vocês acham que é e onde vocês acham que ele entra no enredo? Façam suas apostas.

Esse capítulo tá maiorzinho que os anteriores, mas é porque eu tinha bastante coisa para apresentar aqui.

Espero que tenham gostado e lembrando que eu tenho mais fanfics e oneshots no meu perfil.

Até semana que vem ❤️❤️❤️❤️.

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