Capítulo 01


Outro sonho... O mesmo sonho... Tudo repassava novamente em minha mente.

Despertei encharcada de suor, aquele sonho sempre me deixava assustada, me sentia intimidada por causa daqueles momentos, aqueles últimos momentos com minha mãe, já faz quatro anos que ela morreu, mas ainda sinto muito sua falta.

A casa está fazia sem ela, só eu minha irmã mais nova, Emma, e meu pai, Michael, vive hoje aqui, meus irmãos mais velhos, Vicent e Abigail, se casaram e ambos já tem suas famílias e casas, sem necessidade de depender mais de meu pai.

Na verdade nem um deles realmente dependeram dele, sempre tiveram que trabalhar para terem o seu alimento, meu pai nunca foi um homem muito bom com os filhos, talvez seja por isso que Vicent e Abigail procuraram se manter longe dele.

Não consegui mais dormir, a lembrança de ver minha mãe morrer em meus braços sempre me tira o sono, mas nunca tive medo, sempre me assustava, porém, nunca tive medo.

Me contorcia na cama, respirando com um pouco de dificuldade mas tentando me manter calma para não acordar Emma, que está logo ao meu lado, na cama ao lado, dormindo como se não houvesse nada a se preocupar, como se não faltasse comida na mesa, roupas para se vestir, mas era desse jeito que queria que ela continuasse, sem nenhuma preocupação, ela ainda é muito jovem para entender os reais problemas da vida.

Desde que o Capitólio tomou conta do governo do nosso país a situação dele se tornou um caos, fome, guerras e pouco trabalho para milhões de pessoas famintas, desesperadas e com medo do que podia acontecer, se elas estarão ali na manhã seguinte, se ainda haverá alimento sobre suas mesas para alimentar seus filhos.

Nosso país ainda se mantinha decente, visualmente, mas por dentro, realmente por dentro, estava em ruínas, e me atrevo a dizer que tudo isso aconteceu pela mudança de governo.

Desde de jovens somos obrigados a trabalhar em fábricas ou em casas de pessoas de Distritos com melhores condições de vida e que estão dispostas a dar uma parte do que tem, mesmo que seja pouca, para os seus criados, como pequena recompensa pelo trabalho feito.

Graças aos céus minha família tem onde morar e o que comer, mesmo sendo escasso o alimento.

Meu pai trabalha em uma fábrica de peças para automóveis, fazem peças para os automóveis e em seguida os envia pra as fábricas de produção de automóveis, seu ganho não é muito, mas é o suficiente para ele gastar em suas noites alcoólatras, onde ele chega altas horas em casa xingando e colocando a culpa da morte da minha mãe em cima de mim.

Ele não sabe o quanto eu sofro por isso, ele não sabe o quanto sofro por relembrar quase toda noite daquelas mesmas cenas, e saber que o verdadeiro culpado ainda está pelas ruas vivendo sua vida miseravelmente livre.

Fico indignada por saber que os Rangers não conseguiram capturar aquele bandido. Mas sei que eles fizeram o que pôde para contê-lo.

Qualquer pessoa de qualquer Distrito tinha permissão para trabalhar a partir dos desessente anos de idade, e eu acabara  de completar desessente, estava anciosa para poder conseguir meu próprio dinheiro, não depender mais das migalhas que sobravam dos ganhos de meu pai para comprar os mantimentos para mim e minha irmã, e futuramente conseguir um lugar para nós duas morar, sem precisar mais aceitar as humilhações dele.

Semana passada fui em busca de emprego, e felizmente encontrei, em uma casa de uma família no Distrito 13, a classe da família era alta, pelo menos o suficiente para me dar um bom salário e até alimento caso necessário.

A família era pequena, com uma filha chamada Dianne, ela tem a idade de Emma, 13 anos, o filho mais velho Joshua com 18, a mãe Vivian e o pai Edmundo.

Apenas conheci a mãe, uma mulher gentil de beleza extraordinária, ruiva de olhos verdes e pele clara, jovem para sua idade, 48 anos, que parecem não terem passado para ela.

Ela me contou tudo que era necessário saber, sobre os horários, de entrada, o de saída, de cada refeição, como era para arrumar a casa e me mostrou cada cômodo da mesma.

Para mim não seria difícil cuidar daquela casa, há anos venho treinado em minha própria casa, cuidando da minha irmã, do meu pai quando ele chegava bêbado, fazendo comida, lavando roupa... e depois a sra.Vivian disse que eu teria a ajuda de uma velha funcionária dela que está há anos na casa, e que só estava sendo contratada para poder ajudá-lá em seu trabalho, pois a senhora Celeste, nome da funcionária, não estava mais aguentando a sobre carga.

O trabalho também não era muito, felizmente não precisaria me esforçar muito, e sempre contaria com a ajuda da senhora Celeste.

Olho para o pequeno relógio que descansa no meu criado mudo e já são 6:00 da manhã, hora de acordar minha irmã para ela ir para o colégio, sua única obrigação por ser ainda criança, e acordar o meu pai para ir para a fábrica, fazer o café da manhã dos dois e vê se me sobra um tempo para tomar meu café e um banho.

— Emma, acorda minha linda, hora de ir para o colégio. — a cutuco e tento tirar seu cobertor de sobre seu pequeno e bonito corpo. — Você não quer chegar atrasada novamente ao colégio, quer?

— Ainda é cedo, acredito que mais uns minutinhos de soneca não fará mal a ninguém. — ela diz com a maior voz de sono e faz uma cara emburrada que é de amolecer qualquer coração.

— Sim minha linda, mas você perderá seu ônibus, e eu não poderei levá-lá novamente a pé para o colégio. Esqueceu que hoje é meu primeiro dia de trabalho? — falo sentando ao lado de sua cabeça continuando a sessão de cutucões.

— É mesmo! — ela fala dando um pulo, indo parar em pé no chão. — Mana, você poderia ter me lembrado antes. Já vou correndo para o banheiro tomar meu banho e escovar meus dentes. Não quero lhe render mais trabalho. — ela sorri e me dá um beijo na bochecha, e sai saltitando pelo quarto a fora.

Vou direto ao quarto do meu pai. Ele não gosta de ser acordado tarde, sempre quer chegar  pontualmente ao trabalho para não dar motivos para uma demissão.

— Pai, já está na hora do senhor acordar para ir trabalhar. — não ouço nada. — Pai? Está na hora do senh...

— Já estou indo. Não precisa falar duas vezes. — sua voz é firme como se ele já estivesse acordado há muito tempo, e apenas estivesse esperando o meu chamado.

— Ok.— respondo quase que de imediatamente. — Vou fazer o café e logo saio para o trabalho.

Quando falo "fazer o café" literalmente é fazer o café. Não tínhamos nada além de café, pão e um pouco de manteiga. Mesmo assim agradecíamos aos céus por ter o que colocar na mesa. Sabíamos que há famílias que nem pão duro tinha para comer durante a manhã.

Assim que terminei de fazer o café chamei meu pai e apressei minha irmã para ir logo comer. Fui até o banheiro e tomei um rápido e gostoso banho, frio, mas gostoso banho.

Escovei meus cabelos longos e castanhos cor de mel e peguei apenas duas mechas na lateral e fiz tranças e as uni atrás da nuca, deixando o resto do cabelo solto.

Vesti um vestido azul marinho, um pouco desbotado por conta do tempo, mas ele continuava sendo belo, apertado na cintura e mais solto na saia, calçei um par de sapatilhas rosas um pouco apertadas nas pontas. E me dei uma última olhada no espelho.

Vi uma adolescente de dezessete anos que tinha um cabelo longo que quase batia na cintura, um cabelo cor de mel ondulado vi um rosto tímido que escondia bastante coisa: sobre seu passado e sobre tudo que passa em sua mente.

Principalmente o seu grande sonho, um sonho que ela sabe que pode realizá-lo, mas que ela precisa de tempo, tempo para conseguir manter sua irmã caçula, tempo para colocar todas as coisas em seu devido lugar.

O sonho vingativo, mas que ela já o tinha antes, o sonho de ser uma Ranger. E poder um dia encontrar com o assassino de sua mãe.

Não quero matá-lo. — digo a mim mesma. Não sabendo se é verdade, se só quero perguntar a ele o porquê de matar uma senhora indefesa, o porquê de feri-la e espancá-la na frente da filha de apenas 13 anos.

Acordo para a realidade, a de que preciso logo ir trabalhar.

— Você já vai? —Emma diz olhando para mim como que se pedisse para eu a acompanhar até o colégio, dar-lhe um beijo e desejar um bom dia. — Não vai me levar até o colégio?

— Sim pequena. Eu já estou indo.— digo me ajoelhando no chão e abrindo os braços para abraçá- lá. — Mas no final do dia estarei de volta. Desculpe-me por não pôde-la acompanhar até o colégio, mas você me entende não é? Entende que estou fazendo isso para o nosso bem? — ela faz que sim com a cabeça e me da um beijo na bochecha.

— Ok, mas eu quero que você me conte tudo quando chegar. Exatamente tudo. — ela dá uma risada mostrando suas covinhas, rio também.

— Claro. Se eu não estiver morta de cansaço. — rio e acho que também aparecem minhas covinhas, apesar de nunca tê-las visto. Emma vive dizendo que eu tenho covinhas fofas. Rio pensando nisso também.

Dou-lhe um beijo na bochecha e me levanto. Olho para o meu pai que ainda está ali, não tinha ido ainda para o trabalho. Ele estava me observando com minha irmã, sem falar nada até então.

— Volta que horas? — sua voz é firme e serena como se eu estivesse indo a um local indevido.

— Não sei muito bem ainda. Vai depender do horário que terminar o serviço. Talvez...— paro para pensar. — Às sete, talvez antes das sete.

— Hum. — é só o que ele diz, um seco e pequeno "hum".

— Você ficará por tanto tempo assim trabalhando?! — sua voz quebra todo o silêncio do momento, papai também ficava até esse horário trabalhando, mas ela nunca se preocupou muito com isso.

E ela chegava às seis do colégio, ficava algumas horas com os vizinhos quando eu não estava em casa.

— Não se preocupe. Não é muito o trabalho, depois, eu poderei comer quando sentir fome e dormir caso sentir sono. — digo assim que ela pergunta.

— Não se dê o luxo de dormir enquanto está no trabalho. Eles te demitirão caso te pegam de corpo mole. — papai fala seco.

— Não se preocupe pai, não me darei esse luxo. — falo com um pouco de diferençain no final.

— Ok. Tenham um bom dia. — ele diz cruzando e fechando a porta.

— Vamos mocinha preciso te levar até a casa dos Robsons. — são os vizinhos que a leva até o colégio e cuidam dela quando nem eu nem meu pai estamos em casa. Eles tem um casal de filhos com quase a mesma idade dela.

— Ok.

Assim que deixo Emma na casa dos vizinhos vou praticamente correndo até o ponto de ônibus que leva até o Distrito 14 e de lá pego outro ônibus que me levará até o Distrito 13.

Os país de Victoria é dividido em 20 estados, cada estado tem quantidades diferentes de distritos, Current, não sei porque escolheram esse nome para esse estado, é dividido em 449 distritos e uma capital. Um estado muito grande, precisasse de muito tempo para percorrê-lo, eu não conheço todos os distritos, só para demonstrar sua grandiosidade.

Na verdade conheço apenas cinco, o meu que é o Distrito 15 o 13,o 14 o 20, e o 25 que é onde os Rangers vão para fazer seus treinamentos, fui lá graças ao colégio em uma excursão, incrível, não descreve nem um um pouco aquele distrito.

Tenho que chegar à casa dos Lazarus, a casa da família onde vou trabalhar, às oito, porque eles acordam geralmente nesse horário, mas é Celeste que faz o café da manhã, porém preciso assim que terminar o café arrumar os quartos, recolher a mesa, lavar a louça, e fazer outros afazeres depois, enquanto isso a senhora Celeste cuida da maior parte das refeições.

Como moro longe do Distrito 13, a senhora Vivian não me deixou muito rigoroso o horário de entrada.

Ela poderia contratar uma moça do Distrito 13 ou 14, mas aqueles distritos tiham pessoas com melhores condições que não precisariam de ser empregadas para conseguirem dinheiro.

Olho no meu pequeno relógio de pulso e vejo aqueles pequenos ponteiros indicando 7:30, ou seja, faltavam apenas trinta minutos para o café da manhã ser servido.

Graças aos céus já estou no Distrito 14 , na verdade no fim do Distrito 14, e em breve o ônibus me deixará no Distrito 13, esse ônibus nos deixa em frente ao nosso destino.

Faz uma semana que eu não venho até aqui e mal me lembro de como é a casa dos Lazarus. Olho pela janela e vejo a paisagem passar, pessoas, prédios e automóveis, todos em constante movimento, para eles o dia começou há horas, alguns estão voltando para casa, por conta do turno noturno, outros estão indo, como eu, ao trabalho.

Penso em como está meu pai nesse momento, se está trabalhando muito ou se está descansando, apesar de meu pai não se dar esse luxo.

Penso em minha irmã e o quanto de coisas novas está aprendendo, penso em meus irmãos, Vicent e Abigail, faz muito tempo que não os vejo, meu aniversário de desesseis foi o último momento que tive para abraçá-los e dizer o quanto eu os amava.

O ônibus para com uma freiada um tanto brusca, me acordando dos meus mais profundos devaneios. Já são 7:40, olho pela janela e vejo que aquele era o meu distrito final. O motorista levanta de seu assento e começa a falar.

— Desculpe pelo ocorrido, mas pela falta de tempo que tenho temo que não levarei todos aos seus fins. — um burburinho toma conta do ônibus, e o motorista levanta os braços pedindo para que todos façam silêncio. — Não se preocupem, estamos em um ponto que vocês podem estar pegando outro ônibus ou alguns podem ir a pé.

— O que aconteceu? — uma voz se levanta, tento olhar para trás para encontrar o dono daquela voz masculina. — Por que temos que sair de nossos assentos, se nós pagamos por essa viagem?! — outro burburinho e dessa vez com som de protesto e mais raiva.

— Desculpe. — o motorista se pronuncia. — Desculpe, mas estão ocorrendo protestos de rebeldes à frente, e temo que se continuarmos a viagem pode ocorrer um acidente. — a cara de espanto de todos é quase que imediata. — Alguns de vocês — ele continua. — poderão pegar alguns ônibus que se encontram ao noroeste outros conseguirão ir a pé aos seus destinos.

Ninguém mais se pronunciou, então o motorista volta ao assento e abre as portas do ônibus, uns dessem de imediato, outros ainda protestam pelo ocorrido "esses baderneiros" alguns dizem, "será que eles não tem o que fazer?!" outros bufam.

Desembarco assim que tenho a oportunidade, não tenho dinheiro o suficiente para pagar outro ônibus, ficaria sem dinheiro para a vinda, e também não era necessário, a casa dos Lazarus fica apenas alguns quarteirões daqui, e me lembro muito bem de como chegar lá.

Depois de três quarteirões virei a esquerda, a casa deles é uma das últimas da rua, uma rua de lindas casas e algumas mansões.

E lá está a casa, melhor, mansão, dos Lazarus, me esqueci de como ela foi bem arquitetada. Uma linda mansão de um amarelo tão vivo, que nunca vi na vida, um amarelo reluzente.

O telhado era branco, havia dois andares, o de baixo com a cozinha, sala de jantar, a sala de estar, um escritório, os quartos dos empregados e alguns banheiros. O de cima com os quartos da família, e dos hóspedes, uma biblioteca e um escritório particular pertencente ao sr. Edmundo, inclusive ele é general da guarda militar.

Cada quarto tinha seu próprio banheiro, uma suíte.
Todos esses detalhes me foram contados pela sra. Vivian.

O jardim é incrivelmente lindo, com flores amarelas e brancas, "há uma picina ao fundo" disse-me a sra. Vivian.

Ela me contou tudo em riquíssimos detalhes.
Olho para o relógio e são 8:05 estou cinco minutos atrasadaatrasada, preciso correr.

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