05. sobre as entrelinhas
— Eu não estou entendendo nada.
— Óbvio que não está, burro desse jeito.
— Você entendeu alguma coisa então, Jimin? — Yoongi esbravejou, empurrando a mão do garoto, puxando o pequeno caderno para perto de si.
— Eu entendi sim! Me dá isso aqui que eu te explico. — pegou de volta, colocando ambas as mãos por cima das folhas amareladas. Ele pressionou seus lábios, relendo as frases daquela página, tentando decifrar as palavras que estavam gravadas em letras extremamente pequenas, puxadas para o lado de forma exagerada, dificultando a compreensão.
Os neurônios do Jimin — tais que ele tanto falava que eram bons — estavam em completo caos, pegando fogo em todas as suas gavetas imaginárias, gritando em meio a correria do desespero. Ele queria parecer inteligente, mas aquilo estava fora do seu controle.
Taehyung estava no canto da mesa, vendo algumas fotos enquanto comia balinhas de morango, junto a Hwasa que apenas batucava uma caneta na mesa, mudando de posição, vez ou outra, na poltrona da biblioteca.
— Estou esperando. — Yoongi cochichou, se aproximando do outro, alavancando seu corpo um pouco para frente. O garoto lhe lançou um olhar irritadiço, repleto de fúria, pronto para iniciar uma briga ali mesmo.
— O que é isso tudo? — Wheein perguntou surpresa, se juntando, pela primeira vez, com todos os integrantes da nova banda.
O delineado que deixava seu olhar quente, passou por todos que estavam sentados, lhe encarando sem dizer uma única palavra. As mechas loiras iam de encontro ao sol e cintilavam aquela sala um pouco escura.
A garota estava linda, não só naquele dia, mas em todos os outros. Aliás, isso era a constatação de cada um que estava ali. A saia de tenista, que a vestia tão bem, era de cor azul bebê, que dava um incrível contraste com a camiseta xadrez, que estava dentro da tal vestimenta citada anteriormente. Eram roupas simples, no entanto, sua beleza as davam cores extravagantes, misturando-se com o seu belo e convidativo sorriso. Assim como a Iu, ela carregava suspiros de pessoas apaixonadas, por onde passava.
— Nam, por que você não me disse que seus amigos eram tão interessantes? — perguntou mais uma vez, olhando perplexa para o irmão, mostrando uma animação repentina. No entanto, ele apenas revirou seus olhos, sentando-se ao lado dos amigos, vendo a outra fazer o mesmo, apesar de não ter recebido um convite para se juntar aos tais.
— Ainda bem que você chegou! O Jimin está aqui já tem milhões de horas, dizendo que entendeu tudo! — Yoongi tomou a atenção, puxando o Jungkook para perto de si.
— Mas eu entendi! Prestem atenção aqui. — chamou todos com sua mão, colocando o caderno no meio da mesa, vendo-os se aproximarem, juntando os olhares, encostando as testas umas nas outras. — Esse martelo aqui...
— É da Kaori, que coincidência. — Jungkook cortou sua fala, revirando seus olhos logo em seguida, já voltando ao seu lugar, abrindo sua mochila para pegar um pirulito.
— Para sua informação, é uma coincidência enorme, já que esse nem é o caderno do Felix. É do Hyunjin. Aliás, o outro tem esses martelos gravados em uma caneta tão vermelha como as mechas do seu cabelo, e está em quase todas as páginas. — cruzou seus braços, vendo todas as outras pessoas ali presentes, voltarem a se sentar também. Ele bufou, escutando a risadinha do seu subconsciente. — Se você acha que não é algo importante, você é burro. — arqueou uma das suas sobrancelhas, atiçando a paciência do outro, logo de manhã.
Yoongi soltou um pigarro, seguido de uma risada baixinha, também estando com seus braços cruzados, encarando qualquer outra coisa sem que tivesse que colocar o Jimin em seu campo de visão. Talvez ele odiasse o garoto mais do que o Jungkook, sendo que o outro nunca havia feito algo tão exageradamente ruim consigo.
— Quem é Kaori? — Namjoon perguntou confuso, fazendo uma expressão exagerada de confusão.
— Que bom que perguntou! — Jimin sorriu genuinamente, prontíssimo para explicar tudo que sabia.
Além de ser um dos mangás que ele mais gostava, ele iria parecer inteligente também, acabando com todo o achismo do Jungkook. Aquele olhar confiante, cheio de desdém, lhe deixava enraivecido. Ele tinha certeza que aquele martelo tinha um enigma enorme acompanhado a ele.
— Kaori é uma das protagonistas do mangá chamado City Hunter. Muito bom, por sinal. — constatou baixinho, logo voltando sua atenção para o assunto principal. — Ela se tornou assistente do Ryo, o que tem a atenção principal, no entanto, a relação deles não era tão uau. Digo... Ela lhe atacava com grandes... giganormes martelos, quando ele assediava garotas. Como sempre, certíssima. — deu sua opinião no meio da fala, novamente, passeando com seu olhar pelos outros participantes da investigação, que lhe olhavam atentamente.
Menos a Wheein. Ela estava mordendo, levemente, sua caneta azul, estando com o cenho franzido enquanto encarava um dos cadernos. Erika também olhava o que a outra tanto analisava, mas não parecia estar dando importância.
— É muito interessante, só que isso não tem nada haver com a gente. Não há relação nenhuma com absolutamente nada. — Jungkook capturou a fala do outro, mais uma vez, naquele curto espaço de tempo. Jimin revirou seus olhos, pronto para gritar, mesmo estando em uma biblioteca.
O garoto até podia escutar a voz do bibliotecário lhe xingando com palavras formais demais para serem levadas a sério.
— Oh JJ, deixa de ser burro. — fez barulhinhos indecifráveis com a boca, ainda estando em pé e de braços cruzados.
— Para de chamar as pessoas de burras, Minnie. — Taehyung entrou, pela primeira vez naquele dia, no meio da conversa, estando, magicamente, do lado do amigo. Ele lhe deu dois tapinhas nas costas, e depois bagunçou os seus cabelos.
— Ah, claro, perdão. Tenho que ter empatia com idiotas.
— Eu não disse nada! — Yoongi gritou, já pronto para se levantar, mas se esquivou rapidamente do ataque sentido de longe. Mesmo estando muito distante, ele pode ver a grande régua de madeira bem entre seus olhos, vendo também, por cima dela, o olhar furioso do bibliotecário.
— Justamente! Ninguém descobre o que está entre o suspense daquelas palavras. Só que, quando eu tento falar alguma coisa, super-hiper-mega relevante, aquele rato-toupeira-pelado ali fica papeando bobagens!! — se exasperou, juntando sua fala aos gestos feitos com suas mãos.
— Por que será? — retrucou, ainda sentado, tirando o doce da boca para irritar o baixinho.
— Já disse: você é um idiota, burro e imbecil.
— Você quem é burro! Não conhece nem os sinônimos das palavras, fica sempre repetindo as mesmas coisas. — Yoongi voltou a falar, defendendo o amigo.
Taehyung massageou suas têmporas, sentindo um forte déjà vu. Ele estava exausto com aquela rotina de brigas, parecia, realmente, que estava lidando com crianças. Sendo que, todos os que estavam ali — em exceção da Hwasa — eram do último ano do ensino médio.
— Se o martelo da Kaori aparece tantas vezes no caderno do Felix e até mesmo no do Hyunjin, certamente não deve ter sido em vão. — também se juntou ao debate cheio de fúria, mas, ele falou com extrema calma, tentando amenizar o clima fervente. — Pensem comigo: a referência é sobre assédio e estava na casa de um dos integrantes da banda.
— Então, talvez eles tenham fugido pois o Felix sofria algo do tipo! — Jimin tomou a vez, dando um pulinho animado, fechando sua mão em um punho, fazendo um toquezinho rápido com o Taehyung.
Jungkook encarou seus amigos, arregalando levemente os olhos, por perceber que aquilo fazia sentido. Ele estava chocado que o Jimin, justamente o garoto em que ele achava que seria o que não ajudaria em nada, tomou partido de algo que antes não era válido — ao menos, não para si —, e conseguiu formular algo instigante com base nisso, junto ao Taehyung.
Como os garotos não avisaram seus pais, talvez realmente tenha relação com o que eles estavam falando. Algumas coisas ainda não faziam sentido, no entanto, aquela "descoberta" seria de grande ajuda, e abriria muitas portas para inspeção.
O Jungkook sorriu miúdo, incrédulo, voltando a colocar o pirulito na boca, cruzando seus braços mais uma vez, encarando o Jimin que, finalmente, voltou a sentar, esperando por mais descobertas. Com um empurrão sutil, o caderno voltou para suas mãos, mas, antes de voltar a ler, o Park fez uma careta vitoriosa para o outro.
Enquanto isso, Wheein continuava folheando um outro, desta vez, batendo a caneta na mesa, bem devagar, para não fazer muito barulho. Seus olhos acastanhados vagavam pelas letras dançantes, escutando as músicas que as contagiavam, em sua cabeça. Aquele tal de Felix escreveu boas letras românticas e, mesmo sem saber o ritmo, a garota cantava-as em sua mente, batucando também os seus tênis brancos com um cadarço de seda azul.
Enfim, ela chegou ao ápice, arregalando seus olhos, sentindo seu corpo se arrepiar inteiramente. Suas mãos foram de encontro a garota ao seu lado, que logo lhe lançou uma expressão confusa. As orbes se encontravam em extremo caos, pois ela não sabia como começar a se explicar e a Hwasa não fazia ideia do motivo da sua grande animação.
A mais velha deu uma rápida olhadela no caderno que ela deixou sobre a mesa, voltando a encará-la, esperando explicações. Até porque, na página que havia visto, tinha apenas números, muito números e mais números.
— O meu clube... — sussurrou, antes de se ajeitar na cadeira e se virar, novamente para a frente. Ela bateu levemente na mesa, chamando a atenção dos outros, abrindo um sorrisinho divertindo enquanto se preparava para iniciar a sua breve exposição dos fatos descobertos a poucos segundos atrás. — Há um grupo de administradores aqui na cidade, chamado NosSo, onde é organizado os projetos sociais, como doações e reforma de ambientes públicos. Nas férias de verão, eles recrutaram novos ajudantes e isso incluiu a mim e ao meu irmão. Mas, ele não quis ficar. — deu de ombros, vendo o outro, no final da mesa, revirar seus olhos.
— O que isso tem haver com esses números? — Hwasa perguntou, ainda com sua mente em desordem.
— Antes de nos inserirmos nas ideias de inovação, eles contaram a história dessa cidade. Não que fosse algo tão importante para poder entrar na equipe, era mais por curiosidade abrangente. — encarou suas mãos, vendo as cores cintilantes gravadas nas tais, se focando nelas para não esquecer das informações que sabia. Com todos lhe olhando, ela poderia, facilmente, perder a concentração. — Então, eles falaram sobre os Ducibus.
— Que porra é Ducibus? — Jimin perguntou atônito, interrompendo a garota, franzindo o cenho.
— Olha a boca suja! — Hwasa lhe deu um leve chute em sua perna, por baixo da mesa, fazendo ele lhe olhar com uma expressão emburrada, fingindo ter se machucado.
— Significa líderes, em latim. Basicamente, são as pessoas de alto patamar aqui na nossa cidade, aqueles que têm grande importância, como o prefeito, policiais e algumas pessoas que fazem favores, legais ou não para ganhar títulos relevantes. — completou, respondendo ao Park, que abriu levemente os lábios, mostrando seu entendimento.
Ela se aproximou um pouco mais, mostrando a página para todos. Eles lhe olharam curiosos, mantendo um silêncio diligente, sendo possível escutar apenas o doce batendo de contra os dentes do Jungkook e, logo após, um resmungo do Jimin, que foi seguido por mais um, desta vez, do Yoongi, que lhe olhou raivoso, já pronto para brigar novamente, caso ele irritasse seu amigo.
— Esses números são o nome desse grupo, como podem ver, o três está ao contrário, justamente para ficar ainda mais parecido com a palavra. — continuou, apontando para o número do qual falava, escutando todos murmurarem confirmações de compreensão ao que dizia.
Tais algarismos, 0431845, rodeavam os pensamentos do Jimin, enquanto ele tentava encaixar cada um com uma letra da palavra, confirmando se aquilo, realmente, fazia sentido.
— Enfim, eles fizeram isso para nomear alguns locais da cidade, legalmente denominados como seus. — prosseguiu a explicação, quase finalizando o compartilhamento dos seus conhecimentos. — Sendo assim, algumas ruas, além do nome literal, também tem o nome numeral, sempre começando por estes que formam a palavra ducibus.
— São números muito grandes? Certeza que eles fazem uma tatuagem para não esquecer. — Taehyung comentou, um pouco avoado, descansando sua cabeça em sua mão.
— Não, não são grandes. — riu, ficando um pouco desnorteada por segundos que passaram rápido demais para serem percebidos. Aquele garoto era muito bonito, como nunca tinha reparado nele antes? Pensou, atônita. — Os primeiros sete são fáceis de lembrar, é só pensar naqueles reais que lembram cada letra. Depois é seguido por um zero, que significa vazio, ou seja, entre os líderes não há nada, sendo assim, o poder deles está mais distante do que as pessoas imaginam. Basicamente, podemos dizer que eles são "os inalcançáveis". — voltou a encarar suas unhas, escutando, mais uma vez, os murmúrios de captação de esclarecimentos dos demais garotos que estavam junto a si. — Depois disso, há mais um número que é para identificar cada rua. Mas, eu não sei quais são, e, mesmo que esteja escrito neste caderno, nós não saberíamos a qual local elas indicam.
— Não há no mapa da cidade? — Namjoon perguntou, já pronto para se levantar e procurar o tal objeto citado.
— Não, lá está o nome literal... — a loira resmungou, voltando a se sentar corretamente, visto que não tinha mais nada a dizer.
Suas informações foram extremamente necessárias. Eles ainda estariam presos naquilo, mas iriam arranjar uma forma de descobrir onde era cada rua de todos aqueles diversos conjuntos de números escritos em um caderno cheio de rabiscos grotescos. Talvez, em alguma outra página, tivesse aquela informação, como: o nome do local ao lado do número que lhe pertencia. Apesar de ser uma suposição boba demais, uma vez que enigmas não seriam fáceis assim.
Agora tudo não estava mais entregue em suas mãos. Eles não tinham mais bons caminhos para seguir, apenas teriam uma função, que era conversar com os pais dos integrantes. Fora isso, eles não tinham mais nada que lhe fizessem sair do lugar e seguir com a investigação. Portanto, a banda estava torcendo para que recebessem mais pistas com os responsáveis dos antigos rockstars.
JUNGKOOK
Mais uma vez, o Namjoon estava dormindo em minha casa.
Aliás, ele nunca vai voltar para a dele não?
Não que eu queira que ele vá embora, eu adoro a companhia dele. Só que, todo dia já é demais, até porque nós ficamos muito tempo juntos na escola, pois o estudo é integral. Então, como ele não cansa de mim?
E para completar essa noite, Yoongi também veio para minha casa, ou seja, mais uma vez que não vou poder dormir na minha caminha, sozinho.
Meu pai tem uma mania agonizante de, sempre que meus amigos vêm aqui, ele praticamente obriga que todos durmam na sala, juntando os colchões que temos. Só que, em minha percepção, eu poderia ficar quietinho no meu quarto, outro dormiria no sofá e o último no colchão de visitas, em qualquer canto que quisesse.
Mas não, meu pai é fascinado em "festa do pijama" e faz até pipoca doce quando os dois estão aqui.
Resultado disso tudo?
Todos ficaram sabendo que, na última página de um dos livros que peguei na biblioteca, estava uma carta "romântica" que, certamente, não foi destinada a mim. Principalmente porque foi deixada em um local improvável de chegar nas mãos certas, pois lá é um lugar grande e que passa dezenas de alunos, diariamente. Então, não há chances de ser para mim.
Afinal, por que a pessoa iria querer paquerar alguém por meio de um livro? É dubitável, as frases amorosas jamais chegariam no destino desejado. Estou provando isso nesse exato momento, eu estou interrompendo o relacionamento de alguém.
"Você estava deslumbrante na semana passada, assim como hoje, assim como todos os dias. Eu até mesmo percebi que todo o universo é favorável a você. O clima sempre combina com o brilho dos seus cabelos e as cores se mesclam com as incríveis e triviais roupas que usa.
Boas histórias de amor sempre começam com suspense, então, não me revelarei tão cedo, mas espero que saiba que eu gosto muito de você.
Confie nas palavras, elas não são frívolas ou direcionadas a outro alguém, eu calculei o destino e ele está simpatizando com nosso enredo.
Me escreva no próximo volume do livro, caso queira me dar uma chance para provar minha sincera paixão"
Li as palavras pinceladas fortemente com um lápis de cor preta, escuro como o céu naquela noite. E era como a pessoa dizia, o clima parecia ser favorável ao momento... Se fosse realmente para mim, eu já estaria apaixonado, ainda mais por ter deixado uma balinha de café entre as páginas...
Mas eu, de maneira alguma, iria continuar aquela conversa com alguém que ao menos conheço.
Não é certo dizer com cem por cento de certeza que aquelas frases não foram para mim. Talvez fossem, até porque, eu não me considero um garoto feio ou sem graça. Talvez pudesse, realmente, ser uma admiradora secreta ou algo do tipo.
No entanto, a maior parte dos meus pensamentos negam os anteriores, então eu apenas devolveria os volumes do livro sem danificar nenhuma página.
Se a nossa história vai ser mesmo repleta de cenas de ação, suspense e adrenalina no olhar, temos que entrar inteiramente nisso. Sendo assim, eu não tenho tempo para distrações, eu serei o garoto que ajudará na realização de todos os planos, mas também serei aquele que estará pronto para fazer bons shows caso o roteiro central não dê certo.
Irei reler todos os cadernos do Felix e treinar o contrabaixo todos os dias.
Só que, olhando para os meus amigos, que riam junto ao meu pai enquanto comiam uma pipoca mais doce do que o recomendado, eu queria mesmo fazer parte das entrelinhas, queria curtir a adolescência, aproveitando de tudo que posso, ao invés de dar espaço apenas para incertezas.
Não importa se a mensagem é para mim ou não. No fim, isso poderá formar um bom romance ou uma situação constrangedora, mergulhado em um terrível fracasso, mas que trará boas risadas.
Por fim, lá estava eu, colocando todos os livros que estavam em minha casa na prateleira empoeirada. Minhas mãos tremiam em ansiedade, sendo que, algumas horas atrás, eu duvidava de todas as hipóteses positivas.
Ao menos eu poderia dar a desculpa de que eu saí para pegar o cupom de desconto na hamburgueria que meu pai tanto gosta, para não ter que admitir para o Yoongi que eu confiei em suas palavras e fiz o que ele pediu.
JIMIN
Não acredito.
Talvez isso possa ser uma perseguição. Não é possível que o destino queira me colocar em todas as cenas do Jungkook.
Sabe o que eu estou pensando agora? Que ele é um ser sobrenatural, denominado como Karma, Azar... ou é só um perseguidor mesmo.
Encarando seus olhos ferinos agora, eu pude ter certeza que ele não seria um garoto bonzinho, então eu logo apressei meus passos, vendo ele, segundos depois, começar a fazer o mesmo. O que foi um ato injusto, já que, por conta de ser um pouco maior que eu, ele tinha mais vantagens de chegar primeiro.
Portanto, eu corri, arrastando meus tênis sobre a estrada de pedrinhas, levando algumas junto a mim, que dançavam sobre meus pés, inundadas com a adrenalina que escorria sobre meu corpo em chamas, cheio de stress.
Meus olhos se fecharam por alguns segundos, e eu senti todos os pelos da minha nuca se arrepiarem. Enfim, deixei que curiosidade tomasse partido daquela situação. Desta vez, meus olhos se arregalaram, mas franzi o cenho logo após, descendo meu campo de visão para minha mão, que estava sobreposta sobre a do Jungkook.
Não acredito!
— Você correu uma maratona? Por que seu coração está tão acelerado? Sabia que eu sinto isso também? — o aspirante a Vantheris cochichou, mas tais palavras caíram em orelhas surdas.
O olhar quente do JJ não me deixou tomar um outro rumo, fazendo que minha atenção ficasse apenas destinada a si, como se tudo ao redor ficasse escuro, sem nenhuma saída aparente no momento.
— Tira a mão. — pediu, um tempo depois, porém eu neguei com a cabeça, percebendo leves rugas formarem na testa do garoto à minha frente, me desafiando com palavras ainda não ditas.
— Eu cheguei primeiro — fui rápido em contrapor seus pensamentos, nervoso ao extremo, receoso com o fato dele estar sentindo o suor de preocupação que tomava a extensão da minha mão.
— Se isso fosse verdade, você quem estaria tocando no cupom. Tira logo essa mão. — neguei novamente, vendo o rosto do garoto tomar uma coloração rubra, assim como minhas mãos, que já estavam formigando, transmitindo uma nítida agonia.
— Minha mãe quer muito esse desconto, é a hamburgueria favorita dela. — justifiquei, sem tirar minha atenção das suas expressões, que mudavam constantemente.
— Meu pai também. A Hsu é jornalista, ela ganha bem mais, então não precisa disso.
Ajeitei minha postura, chegando um pouco mais perto de si, vendo seus olhos pequeninos se arregalarem, demonstrando seu nervosismo. A cor azul dos meus sapatos tocaram com a escuridão dos seus coturnos e eu pude sentir seu corpo estremecer.
— O Sang-in é guarda de segurança, tenho certeza que a renda mensal é bem maior do que uma jornalista que depende de boas matérias para ter um salário bom. — o vi estreitar sua expressão, procurando por novas palavras para que pudesse retrucar as minhas. Quando eu ia lhe mostrar um sorriso de canto, sem pudor algum, ele abriu a boca novamente, desanimando a vitória que eu nem mesmo pude sentir.
— Vamos dividir. — sugeriu risonho, também se atrevendo a chegar mais perto de mim. Senti ele mexer sua mão, como se estivesse segurando o cupom com extrema força, então fiz o mesmo com a tal, prendendo o garoto junto a mim.
Eu realmente não sei como todo o meu plano foi por água abaixo em tão pouco tempo. Tudo por conta do Jeon Jungkook!
Privei o entretenimento da minha mãe com a televisão que tínhamos em casa. Ela deixou de ver o que tanto queria para esperar seu filho querido ver a propaganda do restaurante mais gorduroso e famoso da nossa cidade. Eles avisaram a hora que colocariam o cupom pelas ruas e deram dicas do local. Como eu sou um bom detetive, logo soube que era na pracinha ao lado da prefeitura. No entanto, outra pessoa conseguiu raciocinar junto a mim e acertou a charada ligeiramente.
Eu ainda acho injusto. Se eu fosse um pouco maior, com certeza estaria com as mãos tocando o pequeno papel decorado, com uma imagem de um delicioso combo de sanduíche e batata frita, junto a duas latinhas de refrigerante, com direito a uma casquinha de sorvete, caso pagasse um pequeno acréscimo. Eu já tinha imaginado o sabor de todas aquelas comidas.
Mas lá estava eu, de mãos dadas com um garoto insuportavelmente maior que eu, e com uma esperteza no mesmo nível que meus neurônios.
— Jimin, faça o seguinte. — o meu subconsciente chamou minha atenção, fazendo eu encarar um ponto não tão distante, atrás do garoto. — Dê um chute nas extremidades do Jungkook, e então passe a mão pelo cupom. Saia rapidamente daí e trabalhe com suas pernas minúsculas para usar a promoção o mais rápido possível! — ditou animado, encenando o que disse com suas próprias mãos, nem mesmo se importando com o simples insulto que havia feito com a nossa altura.
Eu até faria isso, só que...
— JJ! — gritei assim que senti meu corpo inteiro se arrepiar, recebendo todas as informações que guardei pela manhã, associando com o que tínhamos em volta.
Tudo se encaixou quando meus olhos foram de encontro a um homem já de idade, com o cabelo grisalho, escorado na porta de um carro luxuoso, lançando sorrisos significativos para a moça que estava a sua frente, mexendo em seu próprio cabelo enquanto mastigava algo.
— Essa rua é a número um, aquela em que não tem o zero na frente. — cochichei, voltando a encarar suas orbes curiosas, vendo as pálpebras subirem lentamente, mostrando o seu entendimento.
Ele virou sua cabeça para o lado, captando o local em que eu estava encarando segundos atrás. Sua atenção voltou a mim, sorrindo largo logo em seguida, para, um pouco depois, comprimir seus lábios, impedindo sua animação com palavras.
— Meu número da sorte é este, sendo assim, eu sei o significado dele. — afirmei, segurando sua mão com mais força, fazendo ele ajustar sua postura. Pude ver uma constelação inteira pintando seus olhos, deixando seu ânimo nítido aos meus sentidos. — Vem comigo. — recomendei, vendo o garoto enfim ficar de pé corretamente, ainda com sua mão sobre a minha. Ele então entrelaçou seus dedos aos meus, impedindo que o cupom caísse.
Prendi o ar por alguns segundos, sentindo energias fortes percorrerem todo o meu corpo. Mas, não ousei pensar em absolutamente nada, apenas foquei em meus passos, seguindo para longe daquela rua, deixando para trás os dois personagens que nos ajudaram tanto naquela investigação.
— O número um é ligado ao papel de líder, justamente o nome desse grupo. — comecei a falar, enquanto estávamos na fila da lanchonete, sentindo o cheiro delicioso da gordura se misturando com bons molhos picantes. — Por isso que não há zero depois dos números dos Ducibus, pois as pessoas que são denominadas por esse numeral, são eles! — cochichei animado, dando um pulinho leve, que certamente deve ter passado despercebido pelas outras pessoas.
O garoto ao meu lado voltou a mostrar seus dentinhos fofos, deixando toda a nossa aura animada, contagiando minhas constatações, me fazendo continuar o falatório, sem demora:
— Você deve saber, aquele homem com a moça jovem é o vice presidente da cidade. — expliquei, enquanto dava mais alguns passos, seguindo a fila. — Certamente ele deve pagar para que ela fique ao seu lado, e talvez ela seja até menor de idade. Mas, sendo ilegal ou não, isso não faz diferença. — vi o garoto enrugar sua expressão, mostrando que seu raciocínio não prosseguiu com minhas palavras. — É como a Wheein disse, JJ. Eles estão acima e é quase impossível os alcançar. Portanto, absolutamente nada os abala. Mesmo usando cartas ruins, eles sempre vencem o jogo. — terminei o que tinha a dizer, e minha fala sintonizou com a chegada da nossa vez para fazer o pedido de comida.
Assim que terminados de escolher os sabores e de pedir sanduíches a mais, pagando com o dinheiro extra que carregamos, nós nos sentamos em uma mesa ao fundo, apenas esperando pela entrega.
Enquanto o Jungkook anotava algo em seu caderninho — tal qual eu pude perceber que sempre está com ele — eu parei para analisar toda a situação que se estendeu por esta noite.
Ignorando todos os pensamentos ruins do meu subconsciente, eu pude analisar uma cena e tirar vantagens disso, jogando descobertas em meio ao vazio que estava sobre a nossa pasta imaginária da investigação. Talvez não fossem constatações excepcionais, mas a minha reflexão poderia estar correta e eu estaria, mais uma vez, sendo um ótimo detetive falso.
— Se o que você disse estiver certo, nós poderemos saber quais são as outras ruas, vendo o significado dos últimos números e associando aos locais que podem ter ligação, tomando uma perspectiva diferente. — o garoto à minha frente completou meus argumentos, fechando o caderno, mostrando-me um sorriso ladino, repleto de euforia.
— Algo me diz que os Newelvis são filiados aos Ducibus ou conheciam alguém que era, então, descobrindo algo sobre este grupo pode nos levar à banda! — acrescentei, alavancando meu corpo para frente fazendo um toquezinho rápido com o JJ.
{...}
se ainda tem dúvida, eu tenho uma mente infantil o bastante para escolher o nome "ducibus" por soar engraçado e ser uma forma de zoar os caras sem precisar de esforços :O
enfim kk aguardo vocês no próximo capítulo!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top