04. o vermelho do caos | 1/2

Em plena luz escaldante do Sol, Jimin revirou seus olhos enquanto bufava em meio a passadas pesadas e ligeiras.

A cor vermelha que pintava seu moletom viajou por todo o seu corpo, deixando até mesmo as suas bochechas em tom escarlate. Ele pressionou seus lábios antes de destravar um grito agudo.

—Isso, Jimin, quebra seu skate. —Taehyung murmurou, vendo o amigo jogar o objeto anteriormente citado para bem longe de si. Pequenas faíscas foram vistas, e todos os desenhos mal feitos foram arrastados pelo chão.

—Quem você pensa que é? —o tom grosseiro foi escutado por todos que estavam presentes naquele local, mas o hálito de morango atingiu apenas o JJ.

—Eu te disse que eu não te contaria nada se me irritasse, e foi exatamente o que você fez nos primeiros horários inteiros! —as palavras rasgaram sua garganta, no entanto, ele não havia dito-as entre gritos, foi apenas por ter ficado calado por muito tempo.

—Eu não fiz nada! Você e o Yoongi compartilham os mesmos neurônios, inventando coisas que não existem! Eu prestei atenção em todas as aulas, fiz até anotações. —contrapôs, recordando ao garoto o que ele havia realmente feito nas horas anteriores.

Mas, o Jungkook apenas riu, sabendo que aquela constatação era falsa, já que o viu desenhar dinossauros em seu caderno. Além disso, o outro havia passado a maior parte do seu tempo mexendo em seu cabelo, passando as pequenas mãos pelas mechas coloridas, bagunçando o penteado que tanto demorou para fazer. Ele já não sabia mais se era por querer pintar suas madeixas também ou apenas para irritá-lo.

Então, o JJ decidiu que não contaria nada do que viram na noite anterior, guardando suas descobertas apenas para si e para os seus amigos, ocultando os fatos até mesmo para a Hwasa e para o Taehyung — mesmo que eles não tenham nada haver com seu descontentamento com o Jimin — e, mesmo que o garoto lhe chamasse de rato-toupeira-pelado, novamente, ele não mudaria de ideia.

—De qualquer forma, você disse ''eu nem queria mesmo'' quando eu neguei na primeira vez, então... —soltou mais uma risadinha que ecoou na mente do Park, o fazendo ficar ainda mais enfurecido.

Ele fechou seus olhos, brigando mentalmente com o seu subconsciente por tê-lo feito dizer tais palavras. É claro que ele iria querer saber, sua personalidade curiosa estava agoniada. E ela já havia aparecido várias vezes naquele dia.

O garoto finalmente descobriu a outra essência do produto de cabelo que o JJ usava, era chocolate com menta e, se pudesse, ficaria o dia inteiro sentindo aquela fragrância, pois o deixava calmo. Ele havia amado.

Além de que, com toda a coragem que juntou em toda a sua vida, ele tocou nas mechas vermelhas, sentindo suas mãos se afundarem na bela cor, esquentando até mesmo o seu coração. Era super macio e o Jimin ficou encantado. O cafuné foi longo e ambos gostaram mas nenhum deles afirmaria isso.

—Sabe o que vai acontecer se você não me contar? Seu RTP?! —proferiu a abreviação do animal que ele ainda não sabia como era a aparência. JJ voltou a lhe olhar, levantando suas sobrancelhas, o encorajando a dizer as palavras que ele já sabia que seriam bobas. — Ficaremos parados na investigação, porque eu sou o inteligente neste grupo. Aliás, Yoongi é um medroso e ele não ajuda em nada! —sentiu suas mãos formigarem, assim como todo o restante do seu corpo. Ele tinha que tirar seu moletom, a aura efervescia-o em um nível absurdo.

—Inteligente com todas aquelas notas abaixo da média? Vermelhas como você está agora. —disse, zombeteiro, cruzando seus braços, continuando com suas sobrancelhas sobrepostas.

—Sutil! —gritou novamente, se virando de supetão, procurando pelo seu skate. —Eu quem descobri sobre todas as estratégias de esconderijo para prováveis produtos ilegais sem a ajuda do seu amiguinho. Não sou muito inteligente mas sou super sagaz. Meus olhos podem ser pequenos, no entanto, eu consigo ver daqui a minha vitória. —subiu sobre seus diversos desenhos de dinossauros, com o tênis gravado em azul sendo arranhado pelo concreto assim que ele foi de encontro com o JJ.

—Eu ando de skate desde criança, Jimin, você não ganha de mim. —constatou, nem mesmo se importando com os olhares furiosos que o garoto lhe lançava.

—Tempo não quer dizer nada. —contradisse mais uma vez, sorrindo de ladino quando viu o Jungkook pegando seu skate. Ele jogou seu cabelo para trás, suspirando em plena satisfação, estando confiante de que iria ganhar. —Se eu dar uma volta por toda a pista antes de você, terá que me dizer tudo que descobriu ontem, em detalhes. —fez a aposta, sorrindo ao ver o outro garoto concordar com um menear de cabeça.

—Se você realmente fosse sagaz, iria procurar respostas no hotel, e não comigo. —cochichou, saindo em disparada sem que o Jimin pudesse ficar pronto.

Park rasgou o ar ao cessar sua risada, batendo seus dentes um nos outros, possesso de raiva. Ele deu uma rápida olhadela no Taehyung, vendo-o sentado de modo relaxado no pequeno banco, tomando um milk-shake de morango, batendo seus converse no chão, sem dar muita atenção para a corrida que formou, de repente.

Ele enfim se preparou para ir atrás do JJ, o vendo bem longe de si, andando levemente pela pista, dando curvas tranquilas e bonitas, desviando dos outros jovens que se divertiam.

Jimin aproveitou a adrenalina que envolvia suas veias para tirar proveito de todas as rampas ali existentes. Ele fez diferentes manobras de ollie, sempre mostrando o seu perfeito equilíbrio em meio a cor azul que dançava sobre o vento, seguindo seus passos, deixando os rastros da sua diversão.

Logo ele estava a frente do Jean, cobrindo o descontentamento do outro com suas risadas e a poeira quase inexistente deixada pelos seus sapatos. O garoto mais alto olhou em volta, procurando a maior rampa para que pudesse pegar vantagem, mas, antes que pudesse pensar, Jimin vinha em sua direção, rodopiando em sua volta, se arrastando por uma pequena rampa, fazendo um varial hell, tal manobra treinada em diversas noites tediosas naquele mesmo mês.

—Crianças se rebaixam para manobras fáceis. Aposto que você nunca quebrou nenhum osso, certo? Você não se arrisca, RTP. —Jimin começou a dizer, quando eles já estavam juntos novamente, ambos com o skate embaixo do braço.

—Eu acabei de comer. —JJ revirou seus olhos, dando uma desculpa falsa, já que ele havia tomado café da manhã em casa, então, ainda não estava com fome. Portanto, no intervalo, ele havia bebido apenas água. —Melhor de três? —sugeriu, jogando seu corpo para frente e estendendo sua mão, esperando o outro concordar com sua nova proposta.

—Nem pensar, o intervalo vai acabar daqui a pouco. —negou rapidamente, subindo em seu skate novamente para ir de encontro com seu melhor amigo, sendo seguido pelo outro garoto que andava preguiçosamente, com a cabeça baixa, aflito por ter perdido em uma competição tão boba.

21 de agosto de 1987

—Por que a Hwasa não veio? —Namjoon perguntou, disfarçando sua chateação, andando para lá e para cá no corredor do hotel.

—Já te falei, ela foi ajudar uma das suas irmãs na venda de bolos no cinema ao ar livre. Quantas vezes vou precisar dizer? —bufou, revirando seus olhos e cruzando os braços. Seu amigo deu de ombros, voltando a arrastar seus sapatos caros sobre o carpete escuro.

Ele só havia topado participar daquilo por conta da garota, mas, ela nunca estava quando o Nam ia. Era como se o destino estivesse a fazendo fugir de si, não fazia sentido. Aliás, sempre que ele vestia suas roupas favoritas e se arrumava bem, ela incrivelmente, ou terrivelmente, não ia à praça central da cidade — local onde a maioria dos jovens passavam o dia, especialmente o grupo do Jimin, tal qual incluía a Hwasa —. É como se ela soubesse quando o Namjoon iria lhe paquerar. 

Poxa, ele só queria uma chance.

—Eu sinceramente acho que seu lance inexistente com ela vai continuar inexistente. Pelo que eu sei, ela gosta de meni... —antes que ele pudesse terminar o que tinha para dizer, o seu amigo lhe cortou, levantando uma das mãos, fechando seus olhos, se negando a escutar aquilo.

—Você não sabe de nada. Nadinha mesmo. Nada, nada, nada. —repetiu várias vezes, sentindo um arrepio repentino por todo o seu corpo, só de pensar no fato de que a Hwasa realmente nunca ficaria consigo. Ele continuou negando com sua cabeça, tentando apagar todos os pensamentos negativos que invadiram sua mente.

Jungkook permaneceu em silêncio, mesmo querendo terminar sua fala. Ele não queria deixar seu amigo chateado, mas, ele tinha quase certeza de que os sonhos do outro não iriam se realizar. Pela sua ''popularidade'' ele sabia de tudo e um pouco mais. Não por ser fofoqueiro ou algo relacionado a isso, as pessoas apenas lhe contavam as novidades que descobriram, mesmo sem ele lhe perguntarem.

Era fato de que ele não poderia afirmar que a Hwasa gostava apenas de meninas, afinal, o que escutou eram boatos, somente. A garota não se assumiu, não disse abertamente para ninguém da escola — talvez, apenas para os seus amigos mais íntimos, porém, o JJ sabia que eles não espalhariam o segredo de uma amiga —. Então, talvez, bem talvez mesmo, o Namjoon tenha chance com ela. Só que, o Jungkook achava bem improvável, por isso tinha 99,9% de dar tudo errado.

Sendo assim, ele queria que o seu amigo mudasse de rumo, que escolhesse alguma outra pessoa para gostar, que abrisse seus olhos para outro alguém. O garoto não poderia ficar anos tentando ficar com a tal citada anteriormente... Tudo bem tentar e ter um pouco de esperança, mas ele deveria abrir portas para outras paqueras também.

Viver esperando apenas um amor sem garantia pode machucar muito e o JJ sabia muito bem disso.

—Boa noite. —um homem um pouco acima do peso passou pelos dois jovens, sorrindo miúdo, lançando um leve cumprimento em meio as suas passadas ligeiras até a porta do fim do corredor.

Namjoon o seguiu, retirando a chave de um apartamento, fingindo ir para algum quarto próximo da ''sala restrita''. Jungkook foi logo atrás de si, com um sorrisinho animado estampado em sua expressão curiosa, cruzando seus braços novamente.

Os sapatos pesados do garoto batiam contra o piso provecto, deixando pegadas de um detetive vermelho. Nam  deu um rodopio sutil, mudando sua escolha de porta. A chave que estava em mãos não abriria o quarto, afinal, aquela era a pertencente ao dormitório onde o Yoongi e os outros dois acompanhantes estavam, todavia, ele poderia disfarçar.

Eles tinham diversos planos, possivelmente até o Z, então eles não foram tardios em colocá-los em prática. Todos eles.

Jungkook encostou seu pé levemente na porta aberta do quarto, assim que o homem que os cumprimentou entrou no tal. Namjoon deu uma rápida olhadela pela fresta coberta por uma luz fraca de cor amarela. O garoto retirou a pequena placa com o número do quarto que estava, trocando-a com a do ''quarto-restrito'', colocando-a também, de cabeça para baixo.

Então, Jean finalmente abriu metade da porta, se colocando parcialmente para dentro.

—Perdão, mas... —começou a dizer, prendendo sua risadinha entre os lábios vermelhos, devido a mania de morder-los, por conta da sua leve ansiedade. Ele vagou seus olhos rapidamente pelo local, vendo que havia dois homens ali. 

Um deles estava sentado em uma poltrona xadrez, com um charuto entre os lábios, encarando o garoto, com um olhar confuso e um pouco angustiado. A sala era quente, ambas as janelas fechadas, com uma cortina azul tampando-as pela metade. Além do mais, o homem usava um terno de aparência barata, tonalizado com uma pigmentação cinzenta, como se fosse um preto que havia desbotado facilmente. Até os botões da manga estavam faltando. Ele parecia sentir calor, mesmo assim, estava amarrotado em roupas ferventes.

Já o outro, estava em pé, bem no meio do quarto, ajeitando o tapete marrom, assim como sua roupa. Ele parecia mais confortável, usando uma regata e uma calça social de tecido fino. Seus braços eram banhados por tatuagens, que iam até seu pescoço, também cobertos por uma cabeleira ensopada por gel de cabelo. Ele era bem mais magro e alto que o outro, mas tinha uma aparência mais velha.

—Quem é você? —o homem, provavelmente mais novo, perguntou preguiçoso, soltando mais fumaça pela boca. Eles podem morrer se continuarem com a janela aberta. Pensou Jungkook, antes de adentrar mais um pouco pelo cômodo.

—Este é o nosso quarto, não? —perguntou inocente, apontando para o Namjoon com a cabeça, que logo mostrou a chave que tinha em mãos.

—Mas este não é o quarto número seis. —o mais alto respondeu, atônito com o que estava acontecendo.

Não havia cama ali, apenas uma porta, provavelmente pertencente a um banheiro. Aquele quarto era bem menor que o que o Yoongi estava e, provavelmente, menor que todos os outros. Havia duas poltronas, uma TV no fundo do quarto, prateleiras com diversos livros sem título nas laterais e uma mesa no centro, com um jarro quase vazio e um pequeno prato raso de metal, posto em cima dele um charuto aceso, soltando fumaça pelos ares.

Nada interessante. Parecia ser apenas um escritório.

—Onde está aquele outro cara? Eu não o reparei direito mas, ele era bem mais gordinho que aquele ali, e não parece ter ninguém no banheiro... —Nam cochichou, vendo pela pequena brecha da porta somente o seu reflexo no espelho. Jungkook levantou suas sobrancelhas, lentamente, assim como um sorriso sapeca, que abriu portas para uma animação visível até para quem era ruim em ler expressões.

—Enigmas fáceis. —disse de repente, estalando os dedos em frente ao rosto do amigo. —Não podemos descer? —mudou o rumo da conversa, ainda com um sorriso nos lábios, se encostando no batente da porta.

—Sério que eles estão deixando entrar mais adolescentes? Vai ser o caos, estou lhe dizendo. —o que ainda estava sentado, constatou baixinho, cruzando suas pernas enquanto esperava o outro fazer todo o trabalho.

O mais alto chegou perto dos garotos de modo preguiçoso, mas, ainda com um olhar confuso. Namjoon engoliu em seco, pensando que talvez ele fosse lhes bater ou algo assim, já que, o seu porte era realmente de alguém que aparentava ser bom de briga. Ele não sabia nadinha sobre luta, nunca ao menos deu ou recebeu um soco, então tudo teria que ficar nas mãos do Jungkook e ele achava que o amigo também não se daria bem.

Eles estavam ferrados com certeza, então, com passos medrosos, cheios de receio, ele chegou um pouquinho para trás, pegando na maçaneta do outro quarto, se apoiando enquanto encarava o mais velho chegar cada vez mais perto deles.

JJ deu-lhe espaço, sereno como sempre, parecendo que sabia o que o lutador iria fazer, como se ele estivesse pronto para o que viria. Talvez o garoto saiba algumas técnicas de defesa, afinal, o pai dele é um guarda. Estava tudo bem.

Namjoon suspirou aliviado.

O homem apenas olhou a placa do quarto e viu que, realmente, estava marcada com o número seis. Ele meneou a cabeça rapidamente, resmungando palavras não entendidas por nenhum dos dois.

Jungkook sorriu vitorioso e em plena paz, por saber que aquele cara era um completo idiota. Ele não sabia o número do escritório em que talvez ficasse todos os dias? Além do mais, ele ao menos percebeu que no corredor havia dois locais com o mesmo número? Enigmas fáceis com personagens patéticos.

—Qual o nome de vocês? —perguntou, se sentando logo em seguida, pegando uma pequena prancheta.

Nam olhou para o outro com uma expressão de leve desespero. Se ele falasse os nomes reais eles certamente não iriam entrar e receberiam pancadas por fazer brincadeiras com caras lutadores. No entanto, o Jungkook não poderia escolher algum outro nome diferente pois não sabia quais estavam escritos naquela lista. E se as pessoas usassem codinomes?

—Sou o Hyunjin e ele é o Felix. —Jungkook continuou tomando a frente, dizendo o nome de alguns integrantes da banda Newelvis, tirando suas próprias conclusões de que eles estariam na lista e que aqueles caras não saberiam ou não se lembrariam da aparência dos antigos rockstars.

—São mesmo? —perguntou desconfiado, já colocando a prancheta de volta à mesa um pouco suja, também cruzando suas pernas, apoiando seu rosto fino na sua mão pesada com uma grande tatuagem por toda sua extensão.

O mais novo afirmou de supetão, encarando o outro novamente, esperando que ele concordasse também.

A aura sombria havia ganhado leveza. Ambos os garotos entraram no quarto, tendo que fechar a porta para, enfim, o que estava sentado desde o início, pudesse tranca-la. O ar ficou ainda mais quente, mas, aparentemente, a única pessoa que estava se importando com isso era o JJ.

Um incêndio poderia se iniciar naquele local minúsculo, de forma tão fácil e rápida que o detetive vermelho até sentiu um leve arrepio.

Com seus olhos curiosos, vagando novamente pela sala repleta de cores escuras como flores mortas, ele reparou na decoração. Era tão desleixada como a organização dos móveis. A cômoda tinha um vaso com uma planta artificial, tendo ao seu lado diversos copos vazios em uma bandeja de vidro, que dava reflexo ao pequeno lustre de cor amarela. Uma outra planta no fundo da sala minimizava todo o ar poluído, pois, aparentemente, aquela era verdadeira, dando uma cor viva e cintilante para aquele "escritório" horripilante.

Enquanto ele reparava em tudo que pudesse servir de ajuda na investigação, o homem mais alto já havia revirado a parte central do local, tirando parcialmente até mesmo o carpete. JJ arregalou seus olhos, sorrindo logo em seguida, se controlando para não dar pulinhos de animação.

Sua suposição estava certa, havia um porão ali. Mais uma luz de cor agonizante se misturou com a poeira que se afastava aos poucos do piso por conta de toda aquela movimentação. O ar fumegante se misturou com o vento gélido que saiu das extremidades do escritório, dando espaço para um lugar bem mais interessante.

Namjoon olhou para o seu amigo, que já estava agachado ao chão, esperando a fala dos mais velhos autorizando que ele descesse pela pequena escada de madeira. Ele negou com sua cabeça levemente, já pensando no pior.

E se eles estivessem entrando em uma cilada? Aqueles lutadores poderiam lhe levar para o fundo para que eles pudessem lhe matar sem deixar provas. Muito fácil, até porque aquela pequena porta estava totalmente camuflada em várias camadas, apenas um bom observador iria reparar no segredo que eles guardavam.

Ele não iria entrar, com certeza não. O seu amigo se afundava no perigo sem nem mesmo pensar duas vezes. Isso porque ele estava confiante de que era muito esperto, parecendo um ator de filme de faroeste — tal nomeação que o Jungkook deu a si próprio quando eles formavam os planos —, no entanto, o Nam estava discordando e segurando sua mão fortemente quando o garoto se movimentou agilmente.

—Felix, nós já viemos aqui. —cochichou, usando o nome falso, alertando o seu amigo para que ele continuasse no disfarce.

Vamos morrer aos cortes de facas afiadas, em meio a gritos medonhos e risadas sem piedade. Namjoon pensou, antes de seguir seu amigo, ainda segurando o pulso do tal, estando com seus olhos fechados, já esperando o pior.

Assim que um grito agudo foi destravado pelos seus lábios, ele foi interrompido pela reação do outro. Pelos seus ouvidos passou um suspiro surpreso e decepcionado, atrapalhando seu ato digno de um péssimo filme de terror.

—Abra seus olhos! —Jungkook reclamou, dando um leve tapa na nuca do mais velho, chamando sua atenção para que ele ficasse desapontado junto a si.

—Uma biblioteca? —perguntou, mais para si mesmo do que para o JJ, pois ele já havia constatado isso. Mas, não fazia sentido algum.

Na sala em que estavam também tinha prateleiras preenchidas com livros. Talvez todos os outros fossem falsos, já que não tinham títulos nas laterais, como o Jean já havia reparado. No entanto, aqueles eram obras reais, com capas bonitas, e até mesmo algumas séries completas.

Não era muito espaçoso, mas caberia todos os integrantes daquela investigação, até mesmo a Wheein, a Iu e o subconsciente do Jimin.

Havia duas poltronas em um canto afastado, perto de uma luminária com uma luz fraquinha, que mostrava nitidamente a dança incansável das partículas de poeira que vagavam por aquele lugar.

A portinha já havia sido fechada, porém, não tinha nada de interessante para ver ali. Não havia outras passagens e nem mesmo algum buraco que um humano pudesse passar. As paredes estavam gravadas em livros, e apenas livros!

Não era possível que esse fosse o segredo que aqueles lutadores guardavam. Não fazia sentido!

Até porque...

—Cadê aquele cara? Evaporou? —Jungkook perguntou assim que voltou a realidade, parando de reclamar mentalmente. Ele cruzou seus braços, vendo o mais velho apenas levantando suas sobrancelhas, fazendo uma expressão confusa, mostrando que da sua boca não sairia resposta alguma.

Ele realmente poderia ter desaparecido com aquele ar puído. Não havia nada misterioso ali. Atrás da escada ocupava apenas um ventilador velho que mais jogava poeira nos adolescentes ali presentes do que um ar refrescante. O chão era de madeira, não tinha nenhuma outra porta. As estantes estavam todas presas na parede, sem chance de ter uma outra sala.

—Eu estava tão animado! —resmungou novamente, massageando suas temporadas logo em seguida, vendo o outro batendo levemente em sua própria testa.

Ambos olharam para cima depois de alguns segundos destinados às suas reclamações de insatisfação, encarando agora o belo desenho que vagava pelo teto. As cores dançavam umas com as outras, representando uma cena de algum cavaleiro sozinho em um grande jardim, com uma espada manchada com a cor dourada, assim como as suas mãos, que seguravam o objeto reluzente.

—Meu pai adoraria pintar algo parecido com isso... É lindo. —Jungkook comentou depois de um tempo em silêncio, apenas apreciando a obra que pouquíssimas pessoas devem ter visto.

—Seu pai só desenha sua mãe, só ela. Não sei quantos quadros ele deve ter com o rosto dela. Sério, são muitos, eu fico espantando. —completou, passando pelos seus pensamentos a imagem do ateliê do Sang-in, se lembrando de toda a bagunça de sorrisos e tintas de cores vibrantes que invadiu seus olhos na primeira vez que entrou lá.

—É claro, ele só se inspira com coisas coisas bonitas. —deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos de trás da sua calça jeans. —Só que eu não entendo até hoje porque ele pintou um quadro usando sua imagem. Deve ser por você ter insistindo por longos meses... —soltou a última frase, encenando o assobio que nem mesmo se iniciou, pois todo o tipo de som que eles escutavam foi preenchido por sua risada contagiante como a de um bebê, assim que seu amigo soltou um suspiro longo.

—Eu não te aguento mais, Jungkook. —passou a mão pelo seu rosto, enquanto também negava com a cabeça, tentando ignorar a risada do outro para que não acabasse rindo também.

—Você me adora, Namjoon. —colocou ambas as mãos nos ombros do mais velho, dando alguns tapinhas, inclinando levemente a sua cabeça, fazendo um biquinho fofo com seus lábios ainda vermelhos, assim como todo o seu rosto, por ter ficado tanto tempo rindo do que ele mesmo disse.

Deixando mais algumas risadas frouxas pela sala iluminada com uma luz congênere a uma pequena parte do Sol, eles deram leves batidinhas na porta do porão, tendo o campo de visão sendo preenchido por dois homens curiosos encarando os dois.

—Já voltaram? —o talvez mais velho perguntou, sobrepondo suas sobrancelhas enquanto voltava a organizar todo o centro da sala, ajeitando o tapete da mesma forma que fez quando os falsos detetives entraram naquele local.

—Temos um ensaio daqui a pouco. —JJ respondeu, alimentando sua grande mentira.

Namjoon confirmou, passando a mão pesada pelas mangas da sua roupa, tentando limpar qualquer tipo de sujeira que tivesse cantado com sua roupa de marca.

—Como conseguiram a chave daqui? —o homem que já estava com um novo charuto em mãos, perguntou assim que os outros garotos estavam saindo da sala.

Jungkook olhou para o outro, estendendo seu braço levemente, insinuando para que ele quem respondesse dessa vez.

—Na verdade, essa é a chave do nosso quarto. Nós fizemos apenas uma brincadeirinha. —respondeu forçando uma risada, esta que foi acompanhada por sons sarcásticos e um revirar de olhos do amigo.

Antes que alguém dissesse mais alguma coisa, Nam se apressou em sair do local e fechar a porta, sem se importar em trocar as placas novamente.

Com sua expressão refletindo desespero, ele seguiu por todo o curto corredor, vendo a sombra do JJ, bem distante de si, pois o garoto havia parado para amarrar os cadarços do seu coturno escuro.

Não foram horas bem gastas, eles não descobriram nada que pudesse acrescentar na investigação. Apenas conferiram e chegaram à conclusão de que deveriam criar novos planos caso quisessem mesmo achar a antiga banda.

Desde o início eles sabiam que não seria fácil, no entanto, entrando em tantas ruas sem saída, os garotos já estavam desanimados e, sinceramente, o Jungkook não se importaria tanto se tivesse que se apresentar com seus inimigos. Aliás, ele sabia se concentrar naquilo que mais importava, então, um garoto baixinho e cabeça quente não iria lhe fazer errar um acorde musical.

De qualquer forma, se o Yoongi estava concordando com aquilo, ele também continuaria nessa. Afinal, ver uma bela pintura em um teto sombrio de porão era bem melhor do que sempre ficar vendo os mesmo filmes em uma velha TV que falhava ao reproduzir as cores.

22 de agosto de 1987

—Você reclamou o dia todo para receber essas informações? —Taehyung perguntou ao amigo, incrédulo, voltando a tomar seu milk-shake, soltando uma risadinha fraca quando viu o anteriormente citado colocar as pequenas mãos em seu próprio rosto, massageando suas têmporas.

Jungkook havia gasto todo o seu intervalo para os contar o que ele e o Namjoon descobriram no dia anterior, em todos os detalhes possíveis — tirando a parte em que ele falava com o outro sobre a Hwasa — para, no fim, receber expressões desapontadas? Ele realmente queria gritar de ódio, mesmo sabendo que o que ele havia dito não era algo tão intrigante.

Ele viu as mechas acastanhadas do Taehyung passearem por sua testa, tampando levemente os seus olhos, quando um vento parcialmente forte passou por eles, preenchendo a aura tórrida como o vermelho, que rodopiava cada um dos dois. Apenas um estava em paz, pois, era como sua amiga dizia: usar cropped ameniza todas as tensões físicas e mentais. Por isso era sua vestimenta principal em qualquer lugar que fosse.

—Aposto que eu iria descobrir bem mais que vocês. Deve ter passado algo despercebido, do jeito que vocês são sonsos... —Jimin soltou sua fala zombeteira no ar, fazendo o JJ fechar seus olhos imediatamente, irritadiço como a muito tempo não ficava antes.

—Ah é? Então por que você não volta lá? Descobre tudo sozinho, Jimin! Já que é tão esperto, não precisa da ajuda de ninguém, então se vira nesse caso. —se levantou, dando-lhe alfinetadas sem parar, fazendo um biquinho sem nem mesmo perceber.

—Eu vou mesmo! Você só está atrapalhando, como sempre! —também se levantou, colocando ambas as mãos em sua cintura, fazendo uma expressão confiante e coberta de raiva.

—E lá vamos nós... de novo. —Taehyung cochichou para si mesmo, reclamando em meio a uma nova briga que se formou, seguindo as duas crianças que teria que cuidar, carregando o skate de ambos, já que haviam os largado em qualquer canto do local.

Todos os alunos já estavam voltando para a aula, se divertindo em meio a risadas contagiantes enquanto aproveitavam os últimos momentos de intervalo. No entanto, os outros dois garotos não sabiam aproveitar da forma correta, eles apenas tropeçavam em meio às palavras rudes que jogavam em cima um do outro, fazendo o mais velho — de apenas alguns meses — carregar toda a bagagem de fúria. Mas, ao menos, o próximo horário não seria na mesma sala que eles.

Como uma investigação iria dar certo com aqueles garotos?

{...}

eu me divirto demais em fazer cenas de briguinhas como essa, eu fico rindo do que eu mesma escrevo (sério pq eu sou assim)

eu me empolguei nessa parte então tive que dividir em duas para não ficar tão cansativo, então, até o próximo!

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