Entre todas as pessoas que o Jimin conhecia, ele nunca, jamais, em nenhuma circunstância, escolheria o Jungkook para fazer parte da sua banda. Não por achar que ele não tocava ou cantava bem, pois disso ele já sabia a resposta, que era absurdamente positiva... Mas, era questão de afinidade. Ter que conviver com alguém que não gosta é uma das coisas mais difíceis.

Além do mais, mesmo sem querer, tendo alguém tão talentoso perto de si, o faria ter inveja de todas as falas e atos. Era impossível, principalmente com seu subconsciente sempre cochichando em seu ouvido.

Seu coração estava exageradamente descompassado, suas mãos suavam e ele não parava de batucar seu converse, agora de cor azul, na sala de teatro da escola. Ele começou a imaginar sons de suspense tocando no ar, assim que uma nova pessoa entrava lá. Ele torcia para que o garoto que tanto pensava, não aparecesse, para que pudesse ficar ao menos um pouquinho aliviado.

Outro desejo impossível, já que, assim que levantou seus olhos mais uma vez, viu ele e seus amigos entrando juntos. As mechas vermelhas do mais novo foram vistas de longe, assim como o barulho insuportável de suas correntes, que fizeram eco na mente do Jimin.

Completamente irritante.

O de cabelos escuros preferia saber que algo ruim estava por vir do que não saber o que esperar. Ele ficou ansioso, e novamente pediu, à quem estivesse ouvindo, que o outro não viesse falar consigo.

Na espera dos seus amigos, que sempre demoravam para chegar, ele continuou fazendo música com seus tênis. Já passara das seis da noite e nem mesmo o diretor havia chegado. No entanto, Jimin não iria embora antes de saber se estava ou não dentro da banda da escola.

Não que ele estivesse desesperado por isso, mas, era comum sentir frio na barriga e dormência em suas pernas. Afinal, se ele entrasse mesmo, todos reconheceriam o quão bom baterista ele havia se tornado, mesmo que fosse bem melhor na guitarra.

Sua mãe disse que o instrumento que tanto gostava era o favorito de muitas outras pessoas daquela escola, então escolher ele entre tantos outros guitarristas seria uma porcentagem bem menor.

Após mais alguns minutos, Taehyung chegou, junto a sua melhor amiga, que mascava um chiclete, fazendo uma bolha vez ou outra. A roupa era congênere com a do dia anterior, tendo apenas as cores diferentes. O mais alto, assim que viu o amigo, acenou, abrindo mais um grande sorriso.

O baterista estava feliz por eles chegarem, porém, não demonstrou isso, assim como o outro, que veio correndo ao seu encontro e o ofereceu um caloroso abraço.

—Eu vi o diretor estacionar seu carro neste instante, então você já pode parar de balançar sua perna. —a garota avisou, encostando uma das mãos com as unhas banhadas em preto, no joelho do seu amigo.

—Você viu o olhar do JJ? —Jimin se referiu ao garoto que estava um pouco a frente de si, sem ter tirado os olhos dele desde quando ele se sentou. —Ele parece muito confiante. —constatou, entreolhando seus amigos e o de mechas vermelhas. Ele cruzou seus braços, se ajeitando na cadeira, fechando sua expressão para, logo após, revirar seus olhos.

Hwasa deu uma leve risada, seguida do seu amigo que imitou a posição do outro. E assim eles ficaram, resmungando entre conversas frívolas de outros adolescentes, até o diretor e o professor de música chegarem.

O homem mais velho carregava uma prancheta de cor amarela, assim como seus boat. Pode-se escutar o tilintar do seu crachá, batendo de contra ao objeto anteriormente citado. Ele sorriu miúdo, assim que ficou de frente para todos os jovens ali presentes.

Assim que deu simples informações e um longo discurso sobre todos serem talentosos, ele finalmente começou a dizer os nomes escritos no papel. Jimin olhava para cada um que escutava seu nome saindo da boca do superior, e sua animação se dissipava cada vez mais. Ele até se surpreendeu ao perceber que o diretor havia passado do J, sendo assim, nem mesmo o Jungkook havia entrado.

—Por fim, Wheein. —terminou, dando uma olhadela para o professor, que soltou uma risada um pouco alta, cruzando suas pernas enquanto pegava uma outra prancheta em sua mochila.

A garota loira se levantou de supetão, fazendo careta para o seu irmão, este que também havia entrado. Ele semicerrou seu olhar, massageando sua nuca, repleta de mechas roxas. Antes que pudesse discutir com a irmã, o professor de música soltou um pigarro, voltando a ter a atenção de todos.

—Aqueles cujo nome foi citado, pode se retirar. Muito obrigada pela participação, vejo vocês na minha aula, caso queiram continuar treinando. Posso gravar vídeos com minha nova câmera! —sorriu largo, ao dizer a última frase, se entusiasmando ao lembrar do seu novo aparelho.

Os jovens se entreolharam, sem entender ao certo o que havia acabado de acontecer. Todos aqueles que não foram listados estavam na banda!

Namjoon bufou alto, batendo seus coturnos no chão, saindo apressadamente dali, sem se despedir dos seus amigos, deixando sua irmã para trás, mas, ela logo o seguiu, já lhe oferecendo um abraço por trás.

Conforme as pessoas foram saindo, Jimin percebeu que todos os seus pedidos foram mesmo em vão, ao perceber as mechas vermelhas cintilantes que voaram com a brisa do velho ventilador.

—Você é o garoto mais azarado que eu já conheci!—Taehyung sussurrou, se levantando assim que escutou seu nome. —Ao menos, nós três estaremos juntos.

—Acho melhor você se afastar, eu posso acabar te contaminando com toda essa aura sinistra que carrego. —Jimin zombou, fazendo cócegas no outro, mas, parou assim que Hwasa puxou os dois para perto de si.

—Eu não vejo problemas em ficar com eles, a rixa que vocês têm não é da minha conta, não tenho nada haver com isso... Então, se quiser sair, Jimin, que pena, porque eu vou ficar. —avisou de repente, ainda segurando o garoto pelo seu cinto cheio de bolinhas prateadas.

O de cabelos escuros fez uma caretinha e um biquinho fofo, fazendo a garota soltar uma risada abafada, mas logo se afastou e foi se sentar junto aos outros. Jimin olhou para o seu outro amigo, com uma expressão indignada, que logo se multiplicou, ao vê-lo também se levantar.

Ele se deitou na poltrona, voltando à posição inicial, tentando colocar suas ideias no lugar. Seu subconsciente dizia coisas demais, como: sair logo da banda e montar uma sozinho; fazer algo para que os seus inimigos saíam; brigar com o diretor e professor de música; oferecer sua vaga para a Wheein, já que ela era a única que ele gostava naquele grupo... e diversas outras soluções ruins.

Em meio a resmungos e avisos do professor, que foram todos ignorados, JJ finalmente foi ao seu encontro, já que ele era o único que não havia se juntando aos outros. O garoto mais novo cutucou o Jimin, ao perceber que ele fingiu não escutá-lo.

—Yoongi está emburrado também, a diferença dos dois é que você fica muito fofo. —disse de repente, o entregando um sorrisinho. Porém, ele logo arregalou seus olhos, ao ver que o outro lhe olhou com uma expressão espantada.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, se olhando extremamente constrangidos. JJ bateu levemente em sua testa, finalmente se sentando ao lado do outro. Ele cruzou uma das pernas, se ajeitando para enfim voltar a falar.

—A votação para o nome da banda está quase finalizada, precisamos apenas do seu voto. Isso... é claro... se você quiser continuar conosco. —Jungkook disse, enquanto desamarrava seus cadarços, para, logo após, voltar a amarrar.

—Quais são as opções? —Jimin perguntou, sem mostrar interesse, se ajeitando também, já que suas costas já estavam doendo.

—The reds. —disparou risonho, voltando a olhar para o mais velho, mas, bem menor que si.

—Só? —perguntou, novamente indignado. Ao ver o garoto assentir, ele negou com a cabeça, fechando seus olhos com força. —Não tem meu voto, odiei.

—Ah é, então você tem uma ideia melhor? —disparou, se irritando com as expressões debochadas do outro.

—É claro. Vamos achar os Newelvis! —gritou, dando um leve empurrão no ombro do garoto a sua frente, que voltou a arregalar seus olhinhos.

—Ahn? —Yoongi apareceu de repente, junto aos outros dois integrantes da banda, que também olhavam boquiabertos para o garoto que teve um ideia tão idiota. —'Tá mais para Oldelvis. —soltou uma leve piada, fazendo àqueles que entenderam rirem também.

O Park encarou o Jungkook, o vendo com os olhinhos arregalados como antes. O garoto simplesmente não entendia como um cara tão alto e medianamente forte, conseguia fazer expressões tão fofas. Ele viu seu subconsciente franzir o cenho, cruzando seus braços.

—É simples. Além de viver um enredo muito divertido, nós não precisaremos formar essa banda. —começou a explicar, resmungando quando o Taehyung mexeu em seu cabelo. Ele sentiu uma leve falta do seu boné. —Parem de me olhar assim, eu fico com vergonha! —gritou constrangido, percebendo que todos voltaram a rir, menos o mais novo, que continuava perplexo.

—Mas, eu realmente queria cantar e ser um novo integrante de algo que é bem mais divertido, sem dúvidas! —Tae contrapôs, fazendo seu amigo ficar ainda mais frustrado.

Assim que todos concordaram, ele revirou seus olhos, dando um leve empurrão no Jungkook usando seu ombro. Ele o encarou com uma expressão significativa, tentando fazer com que o outro concordasse consigo.

—Você quer apresentar comigo, JJ?

—Não! —negou de supetão, voltando a realidade, para voltar o seu olhar aos pequeninos do Jimin, que se fecharam completamente com o grande sorriso que ele mostrou. Um sorriso vitorioso e diabólico.

Mesmo que, no fundo, bem no fundo mesmo, ele tenha ficado chateado pelo fato do mais novo ter dito "não" tão rapidamente. Poxa, Jimin sabia que eles não eram amigos, mas, deixou seu coração um pouco mexido.

—Então você também topa participar dessa bobagem, JJ? —seu melhor amigo perguntou, estando tão surpreso quanto antes. —Achei que minha história seria mais interessante, como descobrindo que tenho poderes. Mas, estou aqui com adolescentes malucos que tomam decisões estúpidas. —revirou seus olhos, rindo, incrédulo.

—Eu não concordei com nada! —Hwasa e Taehyung disseram em uníssono, levantando ambas as mãos.

—Você não precisa participar, no entanto, não vou formar uma banda com vocês. Se eu achar os Newelvis, não vai dar certo, mesmo que queiram me deixar de fora e ficarem famosos sozinhos. —resmungou, fazendo expressões gozadoras, cruzando seus braços assim como o aspirante a Vantheris, que ditava tudo que ele tinha que dizer.

—Eu tenho certeza que algo vai dar errado e vocês dois vão ficar ferrados. Se for intrigante mesmo, quero que meu nome fique gravado nesse enredo! —Yoongi disse, de repente, fazendo todos ficarem confusos com sua mudança de opinião.

—Quantas personalidades você tem? Fala sério! —Hwasa esbravejou, bufando logo em seguida.

—Se todos concordarem eu vou também. A ideia é boba e, provavelmente, não vamos achar nenhum dos integrantes, mas, não custa tentar. —Taehyung também se animou, vendo que todos já estavam conversando entre sorrisos. —Afinal, eu já estou ficando entediado com uma vida tão monótona como essa.

Jimin comemorou junto ao seu subconsciente, fazendo um toque rápido de vitória, sem que os outros percebessem que ele, na verdade, bateu o vento.

Newelvis era a antiga banda da escola Anjin. Eles estavam no último ano, assim como a maioria dos novos integrantes. Eles eram bem famosos no colégio e fora também, por serem todos muito bonitos e criarem suas próprias músicas, todas com letras românticas.

Eles já tinham feito dois discos e apresentado em alguns bares. Todos os adoravam e sempre desejaram estar no lugar deles. Mas, por um motivo ainda desconhecido, eles sumiram, de repente, acabando com bons shows, sem dar explicações até mesmo para os próprios pais.

Conforme o tempo foi se passando, o caso deles foi guardado em gaveta trancada. Ninguém da cidade comentava mais sobre os Newelvis, mesmo que eles realmente fizessem falta, principalmente para os donos de restaurante, pois era o que segurava os clientes, os fazendo sempre voltar e comer até mesmo as porções não muito boas.

Após dois anos, o diretor finalmente decidiu recrutar novos jovens artistas, para que os cidadãos voltassem a falar bem da sua escola.

No entanto... ele não esperava que os adolescentes escolhidos iriam formar um jogo bobo de detetive, usando limitados conhecimentos para, de acordo com eles, fazer o trabalho dos péssimos profissionais da polícia.

—Então nosso nome vai ser The red, né? —Jungkook perguntou acanhado, depois de um tempo, levantando seu dedo até metade do tronco, como se pedisse a vez para falar.

—Eu vou pensar em um nome melhor. —Jimin o cortou, abaixando seu braço, voltando a atenção para os outros amigos, que conversavam sobre um plano de abertura da investigação.

Em meio àquele falatório, Jungkook viajou sobre o local, percebendo que o professor e diretor não estavam mais ali. De acordo com o que escutou, eles teriam que sair dali até às oito da noite, não podendo demorar mais do que isso para não atrapalhar os possíveis planos do inspetor.

O garoto batucou seus coturnos, fazendo música assim como o mais baixo do grupo, à alguns minutos atrás. Ele amarrou parte do seu cabelo com uma pulseira de couro, mostrando o novo corte que fez naquela manhã: um undercut. Sua jaqueta do mesmo material que seu acessório, fez um belo contraste com sua camiseta do The Cure.

Seus olhos percorreram novamente pelo local, encontrando agora o olhar felino do Jimin. Ele franziu o cenho, confuso, logo desviando sua atenção, fingindo escutar seu amigo. O Park logo saiu dos seus devaneios também, recebendo mais um sermão do seu subconsciente por ter encarado o inimigo por tanto tempo.

—Eu não vou matar aula, então tem que ser depois da escola. —Yoongi descordou do Taehyung rapidamente, ao escutá-lo mudar o rumo que montou em sua cabeça.

—Nem as aulas extras? Você só vai estar livre cinco da tarde! —afirmou perplexo, fazendo as contas rapidamente.

—Você sai às quatro, não tem muita diferença!

—Uma hora é pouco para você? Dá para fazer muitas coisas! —continuou usando um alto tom de voz, sem prestar atenção nas outras pessoas a sua volta.

—Eu também tenho aula extra. —Jimin entrou na conversa.

Ele passou a participar das aulas de literatura apenas para apreciar a Iu, dona dos sorrisos mais belos e do perfume de morango que ficava impregnado nos livros que ela lia.

—Na verdade, tanto faz a hora. O bom mesmo é que eu finalmente vou sair de casa sem ser para locais onde minha mãe me obriga a ir. É horrível ser jovem e ter a sensação de que o tempo está acabando e ainda não ter feito nada ou não ter sido ninguém na vida. —Park completou seus pensamentos, percebendo que falou literalmente tudo que havia pensando naquele momento. Ele tampou sua boca, dando uma leve risadinha para disfarçar o constrangimento.

—Nós seremos detetives do rock! —Taehyung gritou entusiasmado, fazendo as correntes da sua calça baterem de contra as mãos do JJ, que estavam apoiadas em sua própria cintura. O garoto deu um pulinho de surpresa, indignado por ter se assustado com aquele simples contato pela segunda vez.

—Enfim, temos que ir. —Hwasa finalizou o bate-papo, segurando seus amigos pelo braço, pronta para sair dali. —Vejo vocês na segunda-feira! —fez uma leve reverência com a cabeça, sorrindo quando os outro dois garotos acenaram para si, mesmo que tenha sido de forma extremamente sutil.

Talvez, no estender da noite, todos eles mudassem de ideia e esquecessem aquele plano bobo de achar pessoas que sumiram a tanto tempo atrás.

Mas, infelizmente, não foi isso que aconteceu...

JUNGKOOK

Se eu pudesse escolher frango frito para ser a única comida existente no mundo, eu não hesitaria nem por um segundo!!!

Agradeço ao meu pai por me conhecer super bem e trazer um delicioso jantar para uma deliciosa noite. As estrelas estavam tão belas quanto o canto das árvores. O Yoongi já me pediu para parar de usar a personificação, mas, eu adoro contos e não consigo tirar um vício de tantos anos.

Namjoon havia trago várias barrinhas de chocolate com caramelo, mas, eu tinha certeza que ele acabaria comendo todas. No entanto, tendo isso em mente, eu corri até a sua mochila e peguei três, escondendo no bolso da minha calça.

Eu adorava quando meus amigos vinham à minha casa. Não para mostrá-los como ela era bonita, porque, dentre todas as coisas que ela podia ser, essa era a única que não tinha chances de entrar na lista. Eu apenas gostava da companhia deles, de escutar músicas e assistir filmes de comédia, já que meu pai sempre chegava cansado do trabalho e não tinha muito tempo para mim...

Não que eu seja um garoto carente!

Mesmo que ele diga isso todas as noites, eu sempre fico desconfiado, já que trabalhar como guarda de shopping não gasta tantas energias. Ao menos, eu acho que não gaste...

Duvido que ele aguentaria ser um adolescente em plenos anos 80, porque as matérias ficam cada vez mais difíceis conforme os anos se passam, principalmente pela rápida mente do ser humano em estudar coisas tão complexas em tão pouco tempo. Acho injusto fazer com que os jovens tenham tantas aulas. Ficar praticamente oito horas estudando é uma tortura!

—Não caia nessa, pai. A Hwasa não olhou dessa forma para ele. Você sabe, pessoas apaixonadas sempre veem coisas além da realidade. —cortei a fala do meu amigo, assim que vi a expressão divertida do Sang-in, pronto para dar mais dicas de romance. Não queria ter que escutar tantas bobagens, ao menos, não em uma noite tão aconchegante quanto aquela.

—Você não sabe de nada! Nunca ficou apaixonado, então não tem direito de entrar no meio dessa conversa. Coma seu frango ai, JJ. —contrapôs, resmungando logo em seguida, arrastando a caixinha para perto de mim. —Como eu estava dizendo, tio Sang. —deu uma última olhadela para mim, como se me desafiasse.

Eu apenas dei uma risadinha, voltando a colocar mais frango na boca, sem me importar com o assunto entediante que flutuava sobre a mesa.

Namjoon adorava o meu pai, e eles bem que se pareciam, tanto na aparência quanto nos gostos em geral. Ambos tinham um porte másculo, eram bem altos e possuíam um sorriso largo, além de sempre usarem o mesmo corte de cabelo. Agora estavam de mullet. Pena que meu amigo era loiro, senão eu diria que eles eram gêmeos...

Então, sabendo da afinidade que tinham e o bom convívio que formaram ao longo do tempo, eu os deixei conversar sobre aquelas tolices no jantar inteiro, e não reclamei nem um segundinho. Vê-los felizes me deixou feliz, assim como as estrelas, que decoravam a paisagem da janela aberta da cozinha.

Uma noite deliciosa, assim como as barrinhas de chocolate com caramelo...  

JIMIN

Não existe outro Jimin mais azarado que eu!!!

O que um grupo de jovens que terminaram o ensino médio iriam querer fazer em plena segunda-feira? Estudar para entrar em algum curso, alguma faculdade? Claro que não!

Eu diria que, na verdade, eles são moleques, que ficam irritando um pobre garoto com um rostinho bonitinho e muito inteligente.

Sou eu, caso tenha dúvida.

Talvez, não na parte do inteligente... e nem do bonitinho...

Mas, eu tive que voltar na minha casa —que, felizmente, ou infelizmente, era bem pertinho da rua deles— apenas para colocar um band-aid na bochecha, que tinha desenhos de dinossauros!

Por que minha mãe tem que comprar ataduras com desenhos? Poxa, eu sempre perco minha pose de jovem maduro...

Enfim, voltando ao assunto principal, eu não aguento mais esses moleques me enchendo o saco. Até parece que eles não têm dinheiro, vivem pegando minha pouca mesada. Fala sério... as casas deles são enormes.

Não terei como comprar meu cappuccino, ou seja, meu dia vai ser péssimo.

—Acordou com o pé esquerdo, Minnie? —Taehyung perguntou assim que cheguei em meu armário.

—Eu odeio quando me chama assim. —confessei, mesmo sabendo que ele continuaria trocando meu nome. Talvez eu devesse o chamar de inimigo também.

Taehyung é o tipo de garoto que faz você ficar irritado, mas, ao mesmo tempo, querer rir. Às vezes eu digo que o odeio, no entanto, é apenas uma forma impulsiva. Eu diria, uma forma impulsiva do Vantheris. A verdade é que eu o amo muito, incondicionalmente, e sou grato por ele ter se tornado meu amigo.

—Não vejo a hora de conversar com os MS's. —gritou entusiasmado, fechando seu armário logo em seguida. Ele estava muito bonito, usando uma camiseta listrada marrom e cinza, com um desenho pequeno de patinha de cachorro. 

Desde sábado ele estava falando sobre isso. O primeiro plano para a investigação era falar com aqueles caras, que, coincidentemente, eram os moleques. A Hwasa havia dito que eles eram amigos da antiga banda, então assim, talvez, conseguíssemos algumas informações.

Eu até pensei que os policiais não tivessem conversando com eles. Adolescentes têm algumas vantagens.

No entanto, eu não iria, claro. Não queria ter que ficar escondido atrás do grande cabelo da minha amiga, principalmente na frente do Jungkook. O que ele pensaria de mim me vendo acanhado perto de dois jovens esquisitos??

Esse é o azar de que eu estava falando.

Dois garotos que não intimidam ninguém decidiram começar com chantagens para cima de mim, ainda com meus dez anos de idade. Nutri ódio e medo, então, até hoje, sou feito de saco de pancadas e palco para piadas. Infelizmente, meu destino anda me derrubando já faz um tempo.

Então eu ficaria sozinho depois da aula, mesmo que eu tivesse sugerido sair para locais diferentes, já que eu só ia à escola. Minha mãe não me deixa nem convidar meus amigos para passar o tempo lá em casa.

Ela é bem legal, mas, às vezes me irrita.

—Espero que você me conte tudo em detalhes, vou ficar esperando na janela do meu quarto, é melhor aparecer! —ordenei, fazendo um biquinho, achando que estava mesmo pressionando com estilo, só que... ele apenas riu de mim. É este o amigo que eu tenho.

—Assim que eu sair eu vou te contar, prometo. —disse depois de um tempo, quando já estávamos entrando na sala.

Péssimo dia, vou ter todas as aulas com o maldito Jungkook.

—Dono de belos olhos, de cabelos macios e cheirosinhos e um belo estilo de roupa. Mas, um traidor nato. —meu subconsciente apareceu de repente, me fazendo dar um leve sobressalto, ajeitando minha mochila para disfarçar o susto.

Ele reclama quando elogio o nosso inimigo, porém, olha todos os pontos que ele jogou para cima de mim! Estamos no mesmo barco, sempre. Não sei como ele diz que eu sou a pior versão do Jimin.

Me sentei no meu lugar, —que novamente foi obra do meu azar, já era bem atrás do cara que eu tanto odiava— e vi o Jungkook me encarar de relance, como se esperasse eu dizer alguma coisa.

Que cara mais esquisito.

Mesmo o julgando mentalmente, eu me aproximei do seu cabelo, dando um leve impulso para frente, para inalar o cheiro das suas mechas escuras misturadas em um vermelho escarlate. Desta vez, eu não pude negar, ele usava a fragrância mais agradável de todas! Parecia chocolate... misturado com algo ainda duvidoso.

Ele voltou a me olhar, então me apressei a sentar corretamente, bem afastado de si, franzindo o cenho logo em seguida, tentando esconder meus atos passados.

Agora me restava esperar todas aquelas aulas chatas, extremamente tediosas, sentindo aquele forte aroma, e tendo que escutar o aspirante a Vantheris reclamar que sou covarde por não estar indo ver os MS's.

Talvez eu realmente seja, mas, ter que usar mais band-aid de dinossauros não é a melhor opção! Já ouvi milhares de risadinhas, e tive que ficar a aula inteira com a mão em minha bochecha.

Queria tanto um doraemon para me ajudar nessas situações difíceis que lido sozinho, todos os dias...

{...}

Lee Sang-in (secretário da Moon-young em Tudo Bem Não Ser Normal) – pai do Jungkook

doraemon: gato robótico de um mangá que possui este mesmo nome. tinha a função de ajudar um jovem distraído a lidar com situações complicadas.

apenas isso, até logo! :)