Capítulo 2
O sol estava começando a se esconder, daria até para vê-lo se pondo atrás das montanhas se os prédios da cidade permitissem. Geralmente Ed não via isso, acontece que naquele dia houve um imprevisto, o professor de matemática que daria a última aula passou mal durante o intervalo e acabou não dando tempo de arrumar um substituto, então foram liberados mais cedo.
Depois que virou uma esquina foi como se entrasse em um lugar diferente. A confusão de faróis e buzinas ficou para trás, a ruazinha se estendia até terminar em uma mata fechada e não se via ninguém ao redor, nem mesmo as crianças que vez ou outra jogavam bola por ali. Ele atravessou para o lado esquerdo e franziu o cenho ao perceber algo incomum, o carro de Hugo estava estacionado alguns metros à frente. Toda vez que aparecia por ali alguém o convidava para um café, mas quase sempre negava, principalmente se fosse uma sexta-feira. Ele se aproximou pelo vidro lateral conferindo o interior, mas estava vazio, então imaginou que finalmente Hugo tinha aceitado a tal xícara de café.
Mais alguns metros depois chegou em casa, seu pai só voltaria dali a uma hora então ele teria tempo para tomar banho e dar uma volta na praça se quisesse. Seus amigos com certeza estariam lá, ainda mais depois de saberem quais eram os cantores confirmados no evento.
Ed pegou as chaves e girou a maçaneta, mas travou na entrada antes mesmo de colocar o pé para o lado de dentro. Seus sapatos estavam sujos por causa da lama que escorria dos barrancos quando chovia, e essa terra é extremamente enjoada de se mexer. Caso se esquecesse e seu pai encontrasse aquela sujeira, iria ouvir em uma hora o que não ouviu desde o início do ano.
Mas Ed não retirou os sapatos para poder entrar, porque ele não entrou. Estava parado observando algo que nunca tinha acontecido antes, o policial Hugo estava em sua casa, mas seu pai nunca o tinha oferecido uma xícara de café, e nem adiantaria mais pois, mesmo que fizesse, o homem com a cabeça estourada no carpete da sala com certeza não levantaria dali para beber.
Seu coração acelerou, a mão que empurrou a porta continuava no mesmo lugar tamanho era o choque.
Um homem estava sentado em uma cadeira no meio da sala de estar. Ed supôs pela vestimenta que se tratasse de seu pai pois o rosto estava ensanguentado demais para reconhecer. Ele soltou a mochila ali mesmo na porta e entrou pelo corredor, mas recuou um passo quando uma figura sinistra surgiu de dentro da cozinha passando para o lado de seu pai. Era um homem, vestia um conjunto escuro e segurava uma faca suja de sangue em frente ao corpo. Ed engoliu em seco, a máscara de esqui impedia que ele conseguisse ver mais do que os olhos do sujeito.
— Quem…? — balbuciou sem saber o que dizer.
O homem não parecia interessado em atacá-lo, mas com certeza estaria pronto se fosse necessário. Ed deu mais um passo para trás quando escutou um som familiar e ao olhar para cima viu um segundo homem descendo os degraus da escada. O pânico o atingiu e seus pés se movimentaram antes mesmo que tivesse tempo de soltar a respiração. Ele disparou, pulou sobre a mochila e puxou a maçaneta. A sola dos sapatos deslizou na madeira da pequena varanda e seu corpo foi contra a grade de proteção quando sentiu um peso extra na cintura.
Sentia como se uma de suas costelas tivesse sido quebrada pelo impacto.
Ele deu uma cotovelada no rosto do criminoso, retirou a mão que circulava sua cintura e foi em direção ao asfalto, mas tudo que conseguiu foi uma pancada de seu queixo contra o assoalho. O sujeito de antes tinha agarrado seu pé, Ed girou o corpo e chutou a cabeça dele uma vez, depois repetiu, e então o outro apareceu o agarrando. Ele tentou gritar, mas os criminosos foram mais rápidos, o que tinha agarrado sua perna a entregou para o capanga e se lançou sobre ele tampando sua boca, depois o arrastaram para dentro da casa enquanto se debatia.
Eles o jogaram no sofá de frente para seu pai.
Um deles saiu e arrastou uma cadeira para se sentar.
— Eu tava conversando com seu pai…, mas do nada ele dormiu. Que falta de educação!
O outro capanga ficou no lado oposto da sala parado em frente ao corredor para fechar aquela saída.
— O que você quer?
— Vamo conversar sobre o último negócios do seu pai.
— Eu não sei nada disso. Só onde ele trabalha, mas não sei falar nem o que ele faz naquela empresa.
Eles se olharam, como se já esperassem uma resposta assim.
O homem fincou a faca na perna do pai de Ed e se ajeitou na cadeira.
— Onde está o dinheiro?
O sujeito estava mais relaxado no assento e não tinha mais a faca na mão, Ed então viu a oportunidade surgir. A janela estava aberta, provavelmente por onde tinham entrado.
— No banco — respondeu. Decidiu dar uma resposta favorável para evitar que ele pegasse a faca para intimidá-lo caso dissesse algo negativo. — Ele não traz pra casa. Pelo menos eu nunca vi.
O homem cruzou as mãos pensativo e Ed aproveitou a chance, ele se moveu de seu lugar dando um chute no peito do criminoso o fazendo cair e bater a cabeça contra a bancada da cozinha. O outro estava longe e não teve tempo de o alcançar. Ed derrubou uma mesinha pequena pelo caminho e mesmo sentindo uma fisgada no tornozelo não parou de correr em direção a janela da qual se atirou na sequência.
Eram mais de dois metros de altura, então usou os treinos das aulas de ginástica para ajustar a queda e não se machucar. Ele se embrenhou pela mata sem saber para onde exatamente estava indo, sua preocupação maior era ficar vivo e chegar até a polícia. Não demorou muito para ouvir o baque de mais dois pares de pés contra o chão seguido pelo barulho de capim pisoteado.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top