Capítulo 5 - Marnie


London Narrando - 01 de fevereiro

— Ei! — Alguém gritou me fazendo mexer na cama novamente. — Se não quiser chegar atrasada na sala logo no primeiro dia, aconselho a se levantar agora!

   Meus olhos estavam fechados, e eu não queria ter que abri-los.

— Levarei algum castigo se chegar atrasada? — Perguntei abrindo um deles e encarando minha colega de quarto apoiada na porta.

   Ela riu e deu de ombros.

- Eu sei lá, também sou aluna nova aqui... mas, olha, é melhor não descobrir a resposta para isso na marra.

— Mas que... — Comecei a reclamar olhando para o teto enquanto tomava coragem para levantar.

— A propósito, me chamo Marnie. — Disse com um sorriso muito simpático.

   Coloquei-me sentada e enquanto jogava o cabelo todo bagunçado para trás, falei:

— É um prazer, Marnie. Sou London, e só para você já ficar sabendo, não vamos ser colegas de quarto por muito tempo.

   Marnie uniu as sobrancelhas escuras.

— Ué, por quê não?

   Encarei o chão enquanto lhe respondia:

— Esse lugar... não é para mim.

— E o que quer dizer com isso? — Perguntou agora em tom baixo e calculado.

— É que essa coisa de poderes... esse mundo... Isso não é para mim. — Suspirei.

   Marnie nada disse por um segundo, parecendo me analisar com suas grandes e belas orbes.

— Há vezes em que se é preciso dar tempo ao tempo para só assim descobrir o que é melhor para nós. — Disse, então.

   Levantei uma sobrancelha e sorri de canto.

— Que trocadilho, não? — Falei me referindo a palavra tempo que ela tinha usado na frase e ao fato de que ambas supostamente seríamos futuras Senhoras do Tempo.

   Ela sorriu.

— Bem, enfim... Agora, o que se tem absoluta certeza é que precisamos chegar logo para o café ou ficaremos com fome até o almoço! — Lembrou-me.

  Abri um sorriso quase que involuntariamente.

— Certo. — Falei me levantando, jogando a blusa que usava na cama toda bagunçada e pegando uma de minhas malas.

  Coloquei o objeto em cima da cama, o abri, tinha muitas roupas dobradas em rolinhos ali.

— Nossa, você é acumuladora ou o quê? - Marnie questionou-me.

— Adoro uma roupa nova, admito. — Falei com um sorriso de canto enquanto tirava uma blusa cinza é uma calça jeans preta seguida por um casaco preto simples de algodão com um bolso de cada lado. — Bem, eu vou tomar um banho rápido e já desço. Pode ir na frente se quiser... — Falei notando que ela já estava arrumada com uma blusa de mangas curtas cor vermelho vivo, um short jeans branco desfiado e um tênis branco com bolinhas pretas todo fofo.

— Eu vou ficar te esperando na sala — E sem mais nada, saiu.

   Saí jogando minhas roupas no chão, — Pois eu era dessas que deixava tudo jogado e depois, quando finalmente houvessem pilhas de roupas e apenas uma ou duas peças limpas para usar, pensava em lavar o resto. — e fui para o banheiro.

   Havia uma banheira em um canto e um box com vidro transparente em volta um pouco ao lado.

— Quem resolveu fazer esse lugar, não se importou em gastar. — Falei olhando para cada parte do cômodo extremamente detalhado com peças sofisticadas e, é claro, dourado em tudo.

   Decidi então tomar banho no box mesmo, seria rápido, apenas para acordar e ter aquela sensação de leveza e frescor logo de manhã.

   Enrolei-me em uma toalha cinco minutos mais tarde e fui para o quarto novamente onde peguei algumas peças íntimas na mala, coloquei as roupas junto com o casaco.

   Soltei o cabelo que há pouco tempo, antes de ligar o chuveiro, tinha feito um coque sem elástico de cabelo algum, acabei por pentear esse com as mãos jogando as partes mais curtas repicadas para frente e arrumando as sobrancelhas com os dedos, pois estavam bagunçadas e eu odiava aquilo.

   Até pensei depois de pôr um par de sapatilhas pretas em passar uma camada ou duas de rímel, mas eu poderia fazer aquilo mais tarde, ainda estava muito cedo para por alguma maquiagem no rosto. Com esse pensamento em mente, apenas peguei meu celular e o coloquei num dos bolsos do casaco.

   Ao voltar para pequena sala do dormitório, não vi Marnie.

— Ela já foi? — Perguntei para o nada, baixinho.

  Ótimo, eu tinha certeza de que iria acabar me perdendo na imensidão daquele prédio, daquela escola toda.

   Assim que abri uma das portas da entrada e deixei o quarto, acabo por levar um susto, pois lá estava ela, encostada em uma parede, olhando para o vazio, parecendo perdida em pensamentos.

— Porra, Marnie! - Falei pondo a mão no peito e acabando por sentir meu coração batendo muito forte.

   Ela me encarou com uma sobrancelha erguida.

— Eu não te falei que ficaria te esperando? — Lembrou-me.

— Sim, mas você disse que iria lá dentro.

   Ela deu de ombros.

— Vamos logo. Acho que já estão servindo e eu estou morta de fome. — E, para enfatizar o que acabara de dizer, passou a mão direita sobre a barriga.

   Eu sorri e juntas seguimos para o elevador.

   Já dentro daquele cubículo que me dava uma certa agonia só de pensar que poderia parar do nada, esperamos em silêncio enquanto ela mexia em seu celular e eu no meu.

   Havia uma mensagem de Liam:

"E então, como está tudo aí? Está gostando? "

Eu sorri revirando os olhos.

" Liam, ainda é muito cedo para se dizer, eu nem sequer tive minha primeira aula... mais tarde te conto como foi.
Se eu lembrar, é claro. "

   Não esperei por uma resposta, apenas desliguei a luz da tela bloqueando o aparelho e o colocando de volta em meu bolso.

  O elevador abriu. Caminhamos por alguns corredores, passando perto da entrada que usei na noite passada para chegar até ali, chegando até duas portas geminadas brancas.

— Nossa. — Sussurrei quando abrimos uma delas.

— É a sua primeira vez mesmo nessa escola, não é? — Marnie perguntou. — Nunca veio aqui antes?

   Neguei com a cabeça.

— Eu fiquei sabendo que esse lugar existia há apenas alguns meses.

   Marnie me olhou claramente surpresa e deu um assobio que meio que dizia algo como "nossa".

   Eu não liguei para sua reação, estava muito ocupada estando impressionada com a beleza do cômodo gigantesco.

   Haviam detalhes em barroco em todos os cantos, tudo minimamente detalhado em alguma parte em ouro, que se confundiam algumas características do renascentismo. Mesas com quatro cadeiras brancas estavam espalhadas por todos os lados, quadros com desenhos realistas enfeitavam as paredes as minhas laterais, pois a parede da frente que era a mais comprida transformando o cômodo em algo grande e espaçoso, na verdade era apenas vidro do começo ao chão de uma ponta a outra. O conjunto de informações ali era muito harmonioso, transmitindo tranquilidade, desde o teto branco com uns cinco ou seis lustres repletos de pequenos pedacinhos de cristais, ao chão todo coberto por um carpete de um azul tão claro, mas tão claro que talvez, se olhassem muito rápido, poderiam confundir com a cor branca.

- Vem. - Marnie disse puxando pela mão para mais adentro. - Ali tem uma mesa vaga.

Apesar de haver muitos outros alunos ali, os sons de suas vozes eram bem controlados, não muito alto, o que possibilitava alguns ali a lerem seus livros como notei logo que cheguei.

   Sentamos em uma mesa num canto, meio que de frente para parte da parede de vidro, possibilitando olhar mais de perto a paisagem composta por mais alguns dos prédios da escola e por um belo sol ainda se levantando no céu azul.

   Foi olhando para os lados que notei a presença de homens servindo aos alunos, todos trajados em uniforme preto e branco com uma bandeja em uma das mãos.

— Isso aqui é uma daquelas escolas de riquinhos ou o quê?- Perguntei olhando para os lados. — Tem até mordomo.

   Um dos homens se pôs diante de nós e pôs dois copos grandes do que parecia ser vitamina de alguma coisa avermelhada.

— Apenas escolha entre croissant, frutas frescas e brownies - Marnie disse. — Rápido.

Fiquem sem muito pensar no momento e apenas respondi:

— Brownies.

- Boa escolha. — Disse jogando as costas para trás na cadeira e olhando para o homem em seguida — Quero o mesmo que ela.

   Ele apenas assentiu para ela deixando seu cabelo loiro cair em parte no canto da testa.

   Assim que ficamos apenas nós na mesa novamente, eu encarei Marnie.

— O que foi ? — Perguntou antes de tomar um gole de sua bebida. — Isso aqui está muito bom.

— Explique-me o motivo no qual somos servidas em vez de fazer isso nós mesmas. Não acha que é muito mimo?

  Marnie desfez o coque que tinha no alto da cabeça e jogou parte do cabelo comprido para frente começando a brincar com algumas mechas onduladas.

— London, entenda: isso tudo é para que lembremos desde novos que não temos que ser tratados como pouco jamais. Somos todos futuros Senhores e temos que ter orgulho disto. Eles querem que tenhamos em mente que não devemos ser menos que ninguém e tratados do melhor modo possível. Isso faz com que não desistamos do que temos e continuemos à procura de manter isso e muito mais.

— Okay, mas então porque há outros Senhores nos servindo? Eles fizeram algo errado?

— Esqueceu? Não há senhor algum nesse mundo, nem sequer um iniciado com cabelos loiros.

— Eu me esqueço disso às vezes. - Respondi tomando um gole da minha vitamina e lembrando do fato de que eu sempre vivi em outro mundo, então, por vezes, era difícil manter os dois universos em linhas paralelas.

— Apenas jamais se esqueça que não pode aceitar pouco da vida, tem que querer mais e mais, sempre correr em direção ao topo, pois os que seguram esta torre, aqueles lá em baixo... - E me encarou no fundo dos meus olhos ao terminar. — Esses são os que sofrem mais. E você não vai querer ser um deles.

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