Capítulo 40 - Um relógio, um fantasma e um susto
Marnie Narrando - 13 de Março, segunda feira
Era tão cedo ainda. A aula mal havia começado e a lousa já estava lotada de palavras.
Havia um lápis em minha boca, mais especificamente o topo dele onde se encontrava uma borracha branca que eu mordia suavemente com os dentes da frente. Eu sei que parece um hábito estranho, mas eu fazia isso sempre que minha mente se perdia em pensamentos.
No dia anterior, tínhamos todos retornado a casa dos Clark bem tarde - ou muito cedo, dependendo de quem vê - umas dez da manhã para ser mais exata. Cansados, nos deitamos e acordamos apenas lá para as três da tarde. Lembro de London me batendo com seu travesseiro depois que eu me recusei a sair da cama.
As imagens passavam por minha cabeça tão claramente que nem parecia que eu estava naquela sala de aula em plena segunda. Com a borracha na boca ainda a mordendo, eu pulei as cenas do dia anterior para a parte mais importante.
Lá estava Senhora Clark junto com o seu esposo se juntando à nós na mesa para o almoço que mais podia se dizer café da tarde devido ao horário. Ela se sentou de frente para London que estava sentada ao meu lado e Oliver Clark se sentou de frente para mim.
Era engraçado como ela olhava para London a cada dois minutos tentando ser o mais discreta possível durante o ato. Acho que se isso ocorresse em outras ocasiões eu não teria percebido, mas como eu ainda tinha em mente a mulher do dia anterior com um olhar suspeito diante de minha amiga, agora eu me encontrava atenta a tudo e todos.
- É uma pena não poderem ficar mais tempo, gostaria de conhecê los melhor. Meu Cris fala muito bem de vocês. - Disse ela sorridente.
Todos sorriram de volta.
- Ah, é só fazer mais disso aqui que eu apareço sempre. - Disse Jun apontando para seu prato com um garfo.
Rimos.
- Realmente está muito bom. - Concordou London devorando sua comida.
A Senhora Clark sorriu e passou seus olhos sobre todos na mesa.
- Obrigada! - Ela disse. - Cozinhar é uma de minhas paixões, fico feliz que tenham gostado.
- Gostado? - Lily levantou uma sobrancelha. - Isso aqui é dos deuses..
E rimos novamente.
Ela olhou para London mais uma vez.
Acho que acabei aumentando a força em algum momento enquanto me perdia com meus pensamentos, pois a borracha se soltou do lápis e se pôs sobre minha língua. Eu pus a mão sobre meus lábios e tirei o objeto dali discretamente.
- Droga. - Sussurrei baixo apenas para mim mesma. Havia uma borracha babada em minha mão. Suspirei.
Levantei de minha cadeira, atravessei a sala e joguei a borracha no lixo perto da entrada. Voltei a minha carteira e me sentei.
A professora agora estava na frente de sua mesa se apoiando e quase se sentando na beirada dessa.
- Como está escrito no texto, ao viajarem no tempo, vocês podem optar por se transportar por completo, ou seja, com seus corpos sendo assim possível que outros lhe vejam ou apenas suas mentes, se tornando o que chamamos de fantasmas. - Disse a professora. - Lembrando que o modo fantasma é mais seguro em termos de evitarem alguns conflitos que a presença de vocês poderia criar no tempo, porém deixa como uma grande consequência negativa o fato de que sua mente e seus sentidos se desligam quase que por completo do presente, os deixando assim vulneráveis à perigos. Então meu conselho é: quando forem viajar no tempo com esse modo, deixem seus corpos em um lugar seguro ou quando voltarem, podem ter sérios problemas.
Um clima tenso tomou conta da sala diante de suas palavras. Houve murmúrios.
- Nossa.. - Disse London se virando para mim. - Imagina voltar para o corpo e descobrir que você foi atacado e está morrendo..
- Não fique tão assustada. - Sussurrei. - Minha mãe faz essas viagens usando esse modo às vezes. Ela diz que com a prática, você pode aperfeiçoar esse lado deixando com que parte dos seus sentidos permaneçam com você em seu presente. Isso te possibilita sentir ainda que apenas um pouco alguma dor ou o cheiro de algo e até ouvir.
- Sério? - Sussurrou surpresa. - Uau.
Assenti com a cabeça concordando.
- Se quiserem, podemos dar um exemplo desse modo de viagem, que tal? - A professora perguntou a todos. - Preciso de um voluntário.. Jun. Venha. - Pediu.
Jun Kyung se levantou de sua carteira e se pos ao lado da professora. Ela tirou seu relógio que estava junto a uma corrente pendurado em seu pescoço e lhe deu.
- Você fará os dois modos, primeiro vamos para o que nos transportamos por completo.
- Passado ou futuro?
- O próprio presente. - Disse o surpreendendo. - Aperte o botão e o mantenha assim por alguns segundos enquanto fixa seus olhos no fim da classe entre as duas carteiras das últimas duas fileiras. É lá que você deve aparecer.
Jun Kyung fez o que ela pediu. A classe ficou em silêncio total nesse momento.
O garoto desapareceu por um segundo e reapareceu no seguinte no fundo da classe de costas para todos.
Ele se virou e encarou a professoa com um sorriso.
- Ótimo, ótimo. Nesse caso, ele tinha a visão do lugar que queria aparecer bem a sua frente, mas geralmente vocês só a terão em mente, então visualizem bem antes de tentar viajar no tempo ou poderão ter sérios problemas. Fotos podem ajudá los a evitar qualquer coisa. - E respirou fundo. - Agora vamos a próxima parte, o modo fantasma. Jun, você fará o mesmo que fez para o modo anterior, porém irá adicionar um pequeno detalhe: terá que imaginar a si mesmo lugar onde quer estar.
Jun Kyung uniu as sobrancelhas,
- Isso fará com que sua mente se desligue quase por completo de seu corpo e se separe dele para assim ser transportada. - Explicou enquanto colocava as mãos para trás do corpo. - Quero que visualize o espaço atrás de mim e se imagine nele. Estarei levantando alguns dedos em cada mão, deve vê los e depois me dizer qual o número de quantos estavam levantos em cada uma, okay?
Ele assentiu com a cabeça. E se preparou. Quando Jun pressionou o botão e esperou, seus olhos se dirigiram para frente logo em seguida se tornando brancos por completo.
- Ele acabou de entrar no modo. - Disse a professora. - Sua mente deve estar atrás de mim nesse momento.
Houve um silêncio total da classe. A curiosidade tomava à todos.
Ele não piscava, não se mexia e mal parecia respirar.
Foram se dez segundos. Seus olhos retornaram a sua cor acinzentada natural.
- Em sua mão esquerda haviam três dedos levantados e em sua direita, havia apenas um. - Disse ele encarando a professora.
Ela sorriu.
- Meus parabéns. - Disse ela. Ele sorriu de volta. - Eu até lhe esqueci de dizer como voltar para o seu corpo sem esperar o tempo acabar, mas vejo que não precisei. Como o fez?
- Eu.. apenas pensei que como á tinha feito o pedido, já podia voltar..
- Exatamente. Você se reconectou. E como vimos, sem dificuldade alguma. Mais uma vez, meus parabéns. - E lhe deu mais um sorriso.
Era possível ver o orgulho nos olhos de Jun nesse momento de si próprio. Todos o aplaudiram.
Terminada sua missão, Jun começou a atravessar a sala para entregar o relógio de volta a professora. Nós ainda o aplaudiamos naquele momento, estava um clima tão descontraído naquele momento que aposto ter sido quase que um choque para todos quando ele parou de repente, ficou sério e se ajoelhou.
- Jun! - Gritei me levantando junto com alguns outros alunos.
Seu corpo então caiu por completo no chão.
A professoa correu para ele e todos fizeram uma volta. Nós, os mais chegados a ele nos aproximamos também.
Caí de joelhos ao seu lado e balancei seu braço nervosa.
- Jun, o que foi? Fale comigo! - Gritei.
Seus olhos estatavam pretos, tão pretos como a noite, tão preto quanto o breu que se estendia sobre o vazio. Ele parecia sem vida
Quase vinte segundos mais tarde, seus olhos retornaram a sua cor original e então uma reação inesperada. Uma lágrima escorreu pelo canto direito do rosto.
- Céus. - Sussurrou. A voz mal saía.
- O que? O que foi? - Perguntei gritando.
- Jun, responda. - A professora pedia mais controladamente do que eu. - Você está bem?
Ele não disse nada. Seus olhos olhavam para o teto como se olhassem para o nada.
Eu segurava sua mão com força, estava muito nervosa.
Ele nada mais disse, nada mais fez. Apenas fechou os olhos e assim ficou.
- Chamem os enfermeiros, agora! - A professora disse alto.
------------------
Mano, eu tava imaginando altas viagens aqui com esse cap kkkkk
Ceis tão vendo q eu só to postando fim de semana né? Isso pq só to com tempo pra escrever nesses dias e olhe lá. Mas não falta muito trabalho e ainda terei um tempinho antes das provas então vai aparecer cap com mais frequência.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top