Capítulo 3 - Una Estrella


London Narrando

Voltei para o quarto rapidamente e comecei a tirar o vestido.

- Tem algo errado? - Perguntou Aurora me alcançando e parando na entrada.

- Sim. - Respondi deixando o vestido cair aos meus pés. - Eu mal cheguei aqui e já preciso de um pouco de ar. - Abri o armário e encontrei algumas roupas ali. Eu tinha quase certeza que as encontraria, pois depois de tudo do que acontecera na noite passada, Aurora pareceu me ter tudo calculado.

Peguei uma blusa de mangas longas, uma calça preta de couro que grudou no corpo, me fazendo pensar se eu conseguiria tirar depois, e um par de botas de mesma cor.

- Sabe que o Orion não vai ser o primeiro a fazer aquilo, né? - Ela perguntou.

A encarei pelo canto do olho.

- E você ainda quer que eu fique aqui e aguente isso e três mil outros eventos que vão vir a acontecer?

Aurora nada disse. Não tinha nem como ter algo a responder, afinal, não seria ela a ter que aguentar tudo aquilo.

- Eu não vou sumir, okay? - Assegurei. - Só vou sair pra dar uma volta. Afinal, eu também devo aproveitar minha casa como os outros, não? - E dei lhe um pequeno sorriso.

- Só... Tome cuidado. - Ela disse apreensiva. - "O lobo costuma cercar a casa do porquinho".

- Gostei do ditado, mas... - Dei uma olhada no espelho para ver se o cabelo estava em bom estado. - Os tempos mudaram. Agora são os porcos quem assustam o lobo. - E deixei o quarto passando por ela na porta.

Dei um suspiro ao chegar no corredor e perceber que Aurora não vinha atrás de mim. Continuei caminhando achando que tudo ficaria bem dali e tive que me deparar com Tamuz subindo as escadas despreocupadamente olhando seu celular.

Ele me viu uns três degraus depois que entrou em meu campo de visão. Dei lhe um pequeno sorriso e comecei a descer as escadas.

- Onde está indo? - Perguntou abaixando o celular e me encarando com os olhos curiosos.

- Vou dar uma volta. - Falei sem parar pra conversar.

- Uma volta? - Ele perguntou quando eu já chegava ao fim das escadas.

- Sim, sim. - E acelerei o passo.

- Deixe a ir. - Ouvi Aurora dizer ao aparecer em algum lugar nas escadas.

- Mas ela...

- Essa daí é uma cabeça dura. - A mulher disse. - Não adianta ficar teimando.

  Caminhei mais rápido para as portas. Tinha que sair antes que alguém pudesse mudar de ideia ali e tentar me impedir.

- London, espere. - Ouvi Tamuz chamar.

Mordi o lábio inferior e prendi a respiração. "Tarde demais, London".

- Aqui. - Disse ele tirando algo do bolso e me dando logo em seguida.

Uni as sobrancelhas. Era dinheiro.

- Pra que isso?

- Caso sinta fome. - E deu dois passos para trás. - Se cuide.

Fiquei em silêncio por um momento e depois, só consegui assentir com a cabeça.

- Até mais tarde. - Sussurrei antes de sair por uma das portas da frente.

Encarei o dinheiro em minha mão mais uma vez e encarei as portas fechadas atrás de mim tentando entender o que acontecera por último.
Tinha sido um gesto gentil de Tamuz aquele de se preocupar comigo. O único que faria algo do tipo comigo seria Liam que, aliás, era alguém que eu precisava ter uma conversa.

Coloquei o dinheiro no bolso e respirei fundo. Meus olhos encararam o que havia em minha frente. Eu me surpreendi com o que vi.

Dei alguns passos para frente tentando entender a visão que tinha a começar pela ponte. Era extensa, muito extensa. O solo era de pedras brancas brilhantes cobertas pelo que parecia ser uma fina camada de vidro transparente. Três ou mais caminhões passariam por ela ao mesmo tempo, para se ter tamanho da largura. Fiquei surpresa ao notar que não se tinham bordas ali, talvez alguém já tivesse caído no que fosse que tivesse lá embaixo.

Curiosa, comecei a atravessar a ponte, me aventurei a espiar o que havia de baixo dali e não gostei do que vi.

Havia água, muita água em movimento ali. E haviam cachoeiras que se criavam por espaços onde água saía d'entre* pedras. A vista era linda, porém a distância dali de cima até a água era bem grande. Afastei me dê imediato da borda e me mantive no centro do espaço o caminho todo.

Passado se uns dez minutos, chego ao final da ponte e tenho a visão do centro de Lúminas já mais clara.

Senhores aqui e ali, passavam, conversavam entre si, corriam apressados para alguma coisa, ou só descansavam em bancos de praças espalhados por perto.

Olhar para cada um ali, mesmo que por um breve momento, me fez notar que era como se o tempo não tivesse passado. Como se Lúminas sempre estivesse daquele modo. Ninguém diria que aquele Império tinha se levantado há apenas uma noite.

Assim como os prédios, havia um domo erguido com colunas e aberto dos lados com a vidraça de um azul claro que caracterizava o lugar. O domo era um restaurante com letras enormes formando um"una estrella" na entrada.

  Eu já ia passando reto ao lugar quando minha barriga me fez mudar de ideia com um barulhinho familiar.

  Suspirei.

Talvez Tamuz fosse um adivinha - ou só tinha reparado que eu não tinha tomado o café da manhã ainda.

  Agradecendo a mim mesma por ter lembrado de trocar de roupa antes de sair para não parecer uma doida com um vestido de festa às dez da manhã, entrei no espaço em silêncio.

Acredite ou não, o domo não tinha paredes, apenas as colunas o sustentavam. Duas camadas de cerca branca compridas, uma logo depois da outra com terra e plantas entre elas, era o que  tampava quem estivesse lá dentro já sentado.

O lugar não estava cheio, porém também não tinham poucos ali. Sentei me na primeira mesa vazia que encontrei. Tudo era vidro ali, fosse o acento, fosse a mesa ou o pequeno vaso com uma orquídea branca sobre ela.

  Eu não sabia se alguém que estivera no evento da noite passada estaria por ali. Não queria ser reconhecida. E esperava não ser. Afinal, já sustentava o título de única luminiana vista em toda a Aureatus no último mês. Ter o título trocado para a última descendente legítima do trono luminiano era um pouco... Chamativo demais.

Havia um cardápio ali na mesa. Ao abri lo, me deparei com a extensão lista de opções. E eu não conhecia uma sequer.

- Hm. - Comecei. - Interessante. - Meu sussurro transbordava sarcasmo. - Eu devo escolher com "minha mãe mandou eu escolher esse daqui" ou "fechar os olhos e escolher um número aleatório"?

- Gosto mais da primeira opção. - Alguém disse quase me fazendo dar um pulo da cadeira.

Na cadeira a minha frente havia um garoto de olhos verdes e cabelos de um belo azul Royal.

- Oi. - Falei assustada.

- Oi. - Ele disse sorrindo de um modo meigo. - Escutei sua pergunta e eu não estava fazendo nada, então quis ajudá la.

  Não pude deixar de sorrir com o que ouvi.

- A primeira opção, então? - Perguntei a ele.

- Você é do tipo que usa as vogais no fim, ou acrescenta o "ão" pra brincar com a sorte?

- Hm. - Fiquei pensativa. - Diria que paro no "u" mesmo.

- Então... - E encarou o cardápio em minhas mãos.

Suspirei e comecei a brincadeira. Haviam mais de dez escolhas para um café da manhã, dez para lanches, e mais de cinquenta para refeições completas. Decidi não contar com as refeições completas, ou eu tiraria as chances das outras duas colunas.

- ... Com a letra "u". A, É, I, O... - E parei com o dedo. - U. Vou querer a última opção do café da manhã. Esse "Tons de vermelho''. - Foi aí que notei. - Nossa, isso parece nome de livro erótico.

O garoto riu enquanto se levantava.

- Vou buscar para você. - Avisou indo para longe logo em seguida.

- Tá bem... - Sussurrei finalmente entendendo que o garoto era o garçom.

  Joguei as costas para trás na cadeira e respirei fundo. Em tanto tempo, eu nunca tinha sentido tanta paz.

  Olhei para cima, onde o teto de vidro deixava o espaço desenhado com sombras entre os raios de sol controlados que adentravam e assim iluminavam o espaço. Eram caracóis desenhados lá em cima, realmente muitos.

- Aqui está. - Ouvi alguém dizer é logo em seguida colocar algo a minha frente. Levei outro susto

- Já é o segundo susto que você me dá, sabia? - Falei colocando a mão no peito.

Ele sorriu alegremente.

- Peço perdão.

Encarei a taça diante de mim. Haviam frutas ali, maçã, morango e cereja. Tudo coberto com duas caldas, uma branca e uma marrom.

Enquanto eu cutucava o conteúdo na taça, o garoto tirou da bandeja dói pequenos pratos e os colocou na mesa.

- E esses são os acompanhamentos. - Avisou.

  Um prato tinha três sanduíches de bom tamanho do que parecia ser pão de forma, só que azul. O outro tinha dois potinhos, cada um com um molho, um de cor branca, e outro meio alaranjado.

- O que é isso? - Perguntei apontando para os dois pratos.

- Sanduíche de frutos do mar. - E então apontou para o segundo. - Molho barbecue e molho de alho.

Eu o encarei surpresa depois de suas palavras. Que café da manhã mais estranho.

- Vou buscar o suco. Laranja ou maracujá?

- Deixo você escolher. - Respondi.

Ele sorriu mais uma vez e se retirou.

Voltei minha atenção ao meu café da manhã.

E mais uma vez eu estranhei o que tinha diante de mim.

Dei de ombros dez segundos depois e comecei a comer um sanduíche. Eu só sei dizer que depois de dar a primeira mordida, me dei conta de quanta fome eu tinha.

- Seu suco. - O garoto disse se aproximando e então colocando um copo grande de suco na mesa.

- Hm. - Falei tentando engolir logo o que eu tinha na boca. - Você pode trazer mais desses... - E apontei para os sanduíches.

Nesse momento, o garoto me olhou de um modo estranho.

- O que foi?

- Nada. - Ele disse rapidamente e então sorriu novamente. - Eu já trago mais.

Continuei a comer o que restava assim que ele saiu. Terminei os sanduíches rapidamente e fui para as frutas na taça. Era leite condensado e caramelo as caldas ali.

O garoto voltou três minutos depois com um prato com mais sanduíches. Eu agradeci e comecei a comer logo em seguida.

Em menos de dez minutos, só o que restava me eram dois goles de suco que, aliás, era uma mistura de laranja com maracujá.

Respirei fundo, satisfeita.

Finalmente alguma coisa boa tinha acontecido no meu dia.

  Tirei o dinheiro que Tamuz tinha me dado do bolso, eram duas notas de cem Áureos.

Deixei uma em baixo do copo vazio de suco e me levantei afim de sair do local.

No caminho à saída, vi um homem de cabelo roxo entrar, era longo e preso por uma fita fina preta. Ele parecia olhar além de mim, o que era considerado normal já que eu não lembrava de te lo visto alguma vez na vida, mas foi no momento em que um passou pelo outro, que senti os pelos do meu corpo se eriçarem de imediato.

  Eu havia sentido frio. Muito frio mesmo que por um breve momento.

Apressei o passo para sair logo dali. Não me atrevi a olhar para trás.

Assim que deixei o lugar, notei que eu segurava a respiração. Meu coração batia forte.

  O último momento se repetiu na minha mente trazendo outro momento logo em seguida.

Virei me e procurei o homem dentro do estabelecimento. Não o encontrei.

Voltei a olhar para frente e me obriguei a caminhar para longe dali com uma certeza: eu conhecia aquele homem de algum lugar".

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Ceis vão ver que isso ficou gigante, eu não sabia como terminar (como sempre).

To muito animada para esse livro. Eu não sou muito de me empolgar com continuações mas essa Tamo indo bem. Essa semana tem outro ainda.

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