Marnie Narrando - 04 de junho. Segunda-feira

Era cerca de quatro da tarde. Havia uma vassoura em minha mão e uma pá na outra.

Entrei no quarto de London e afastei as cortinas, que me fizeram espirrar com o pó e as janelas.

Olhei o espaço a minha volta. A sensação do vazio me tomou.

Aquele quarto teve dias melhores.

Deixei a pá e a vassoura num canto e arregacei as mangas da blusa que usava.

Várias folhas de papel branco estavam espalhadas no chão, todas riscadas. Eram os desenhos de London. Ela nunca fora muito organizada com suas coisas. Nem dava muito valor para o dom que tinha. Um a um, fui pegando os papéis e os empilhando numa mão.

- Uau. - Falei quando vi um rosto muito familiar num dos papéis. - Eu sou assim? Fiquei bonita. - Disse me admirando.

Coloquei todos os papéis em cima da escrivaninha do quarto, colocando a folha com o desenho do meu rosto em cima. Iria guardá-lo depois.

Ainda tinha muito o que arrumar naquele quarto, como a cama bagunçada, o pó nos móveis, algumas roupas que Aurora não tinha levado e continuavam pelo chão, entre outras coisas.

Decidi começar pelo pó, porém, livros empoeirados no criado mudo me surpreenderam ao toque.

Em um momento, minha consciência estava naquele quarto, em outro, diante dos meus olhos, havia um casal sorridente. Ele colocou a aliança no dedo dela e eles se abraçaram, beijaram-se e sorriram com toda a alegria que podiam sentir naquela situação.

Eu os encarei surpresa. Na minha frente estavam London e Henry. Mas o que eu fazia ali vendo os dois?

Cheguei a sorrir para o casal, feliz com o que via. Meu sorriso durou pouco, tão pouco.

Eu não sei dizer como, ao certo, mas fui puxada por algo para trás. A imagem dos dois a minha frente se tornou turva, embaçada até o breu ser a única coisa que sobrou.

Logo eu vi uma nova imagem. Em um vestido repleto de ouro, uma coroa pesada na cabeça e jóias das mais belas, estava ela. Sentada em seu trono, uma verdadeira rainha, com seu olhar distante, triste.

E lá estava eu novamente naquele quarto sujo.

  Coloquei a mão acima do seio esquerdo, sentindo assim meu coração bater forte.

- Que não seja isso. - Sussurrei para o quarto vazio.

                          ~*~

- Quem é você? - Perguntou-me um guarda se colocando a frente do outro na entrada do palácio.

- Meu nome é Marnie. Eu preciso ver o rei. - Avisei.

- O rei tem coisas importantes para fazer agora. Marque um dia para falar com vossa majestade. - O guarda disse com sua voz grossa.

Eu encarei bem aqueles olhos vermelhos e então disse:

- Tenho certeza de que não preciso marcar hora com o rei. Diga a ele o meu nome, e ele me receberá.

O homem a minha frente deu um passo em minha direção. A barba ruiva e a altura o deixavam com uma presença mais durona, mas aquilo não funcionava comigo. Eu não tinha medo dele.

- Você não ouviu o que eu disse? - Perguntou. - Como se atreve a achar que o rei deve perder tempo com uma camponesa de Momenta? Você é mensageira real de sua rainha, por acaso?

Eu o fuzilei com os olhos, ele estava zombando de mim.

- Não, ela não é. - Uma voz feminina disse atrás de mim.

Virei-me e encontrei Lyra caminhando em minha direção. Além do vestido preto curto com uma renda que era aberta da cintura até o chão e se arrastava pela grama, a adaga que ela brincava numa mão e o batom escuro que usava a deixavam tão poderosa quanto a noite.

- Lyra. - Sussurrei.

Lyra parou ao meu lado e encarou o guarda.

- Ela é mais importante que um mensageiro qualquer, e sabe por quê?  - Ela sorriu para o guarda como quem sorria para algo inferior. - Porque ela é amiga do rei. E você deve respeito a essa moça.

Os olhos do homem se arregalaram. Ele me encarou surpreso.

- Eu... s-sinto muito... Eu...

- Saia do caminho. - A voz de Lyra saiu seca.

Rapidamente, o homem nos deu passagem.

O portão foi puxado para cima, e logo estávamos dentro dos limites reais de Lumbras.

- Obrigada, Lyra. Eu vim para...

- De nada. - Ela disse doce. - Mas peço que não me diga o motivo. - Sussurrou. - Estou em posição de guardiã real de Henry no momento, e você de uma convidada inesperada. - Lembrou-me. - Fora que as paredes aqui, parecem ouvir tudo. - E fez um gesto com a mão quando a ergueu e com o dedo indicador levantado, ela a girou.

Assenti com a cabeça.

- Mas então, como você está? - Ela me perguntou quando entramos no castelo pelas portas frontais.

- Estou preocupada. - Respondi.

Ela me encarou pelo canto do olho entendendo naquele momento, que o motivo de eu estar ali era sério.

- Eu também. - Admitiu. - Mas vai ficar tudo bem.

- Espero que sim. - Sussurrei.

Senti calor quando passamos por uma tocha acesa dentro do corredor fechado de pedra.

Logo estávamos em um espaço mais aberto, com corredores iluminados não só por candelabros acesos, mas também por enormes vitrais.

- Esse lugar é muito bonito. - Eu falei quando encarei o teto preto cheio de arcos brancos.

- Sim, uma obra de arte esculpida a mão em sua grande maioria. - Informou Lyra. - Ah, oi Miranda.

Eu olhei para frente quando a ouvi citar tal nome e encontrei uma garota de cabelos avermelhados vindo em nossa direção com um pequeno sorriso. Eu já a tinha visto na coroação de Henry. Ela estava ao lado do irmão mais novo do rei.

- Boa noite, senhoritas. - Disse Miranda me encarando com um pequeno sorriso.

- Boa noite. - Eu disse em mesmo tom.

Ela assentiu com a cabeça aceitando minhas palavras e dirigiu os olhos a Lyra.

- Eu preciso conversar com você depois sobre algo que está me deixando intrigada.

- Tudo bem. Eu vou levar Marnie ao rei e já lhe encontro. - Lyra respondeu parecendo preocupada com o que vinha.

Miranda assentiu.

- Com licença. - E se retirou.

Um segundo depois, logo depois de piscar os olhos uma vez, eu a vi. Era uma visão da moça diante de um trono onde uma certa rainha estava sentada. Ambas sorriam uma para outra.

Eu encarei Miranda se afastar quando a visão me deixou.

- Que estranho. - Sussurrei.

- O quê? - Lyra perguntou-me.

Eu a encarei sem saber o que dizer.

- Ah, eu... Apenas estranhei Jun ainda não ter me ligado me perguntando sobre onde fui parar. - E ri para disfarçar.

Lyra riu também.

- Homens... - Ela disse revirando os olhos.

- Pois é. - Eu sorri.

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Dei início a minha monografia já (no meu caso, é um TCC individual). Tive que sumir.

Já avisei em tudo qualquer lugar e vou avisar aqui também pra caso quem queira saber, saiba.
O livro Adotada Por Vampiros sai em Abril. A editora me informou hoje mesmo.
Estarei passando para os seguidores o processo de como irão indo as coisas até lá pra que sintam-se mais perto como eu e que se torne mais memorável ainda quando o livro sair. ♥