Capítulo 13 - A Coroação
Henry Narrando - Naquela noite.
Havia ouro, vermelho e preto desde o teto ao piso.
Uma música medonha começou a ser tocada em um órgão num canto. Os olhares estavam em mim, e o meu olhar estava naquela velha coroa.
Ignorei as câmeras e os indivíduos presentes ali. Eram muitos diante de mim.
Dei os primeiros passos. Escutava a capa preta que eu usava se arrastar pelo chão deixando um rastro em fogo negro para trás.
As luzes já tinham sido minimizadas. Os olhares estavam em mim, eram mais do que eu podia contar. Eu sabia que eu não podia olhar para ela, ela que estava lá no começo, bela, mantendo as aparências, tentando se manter firme ali. Eu não podia arriscar mais sua exposição ali.
No altar, vejo Lyra num canto me esperando de acordo com a tradição ao qual dizia que o guardião real devia estar presente e perto de seu protegido, Louis em outro canto me encarando, e o enviado segurando a antiga coroa com suas duas mãos. Seus olhos estão fixos em mim, eles me esperam.
No caminho, servos meus e plebeus dos outros quatro impérios se curvam a mim com o corpo, enquanto os convidados reais apenas abaixam ligeiramente a cabeça de modo respeitoso.
Sinto a excitação me tomar mais a cada passo, afinal, a coroa é só um símbolo, mas representa todos os lumbrianos, sejam eles senhores, sejam eles animais, e representam todas as sombras, sendo essas almas poderosas e impiedosas, almas que procuram vingança, e até mesmo almas que apenas já se perderam em sua loucura e procuram o mal de quem se colocar a sua frente.
O homem no altar continua a acompanhar meus passos junto a Aureatus. Subo o primeiro degrau e o encaro. Estou quase diante dele.
Suspiro e sinto o ar frio da noite me tomar como se eu estivesse a céu aberto.
Subo mais um degrau e o encaro firmemente.
Ele assente com a cabeça dando um pequeno sorriso quando finalmente me ponho parado a sua frente.
A música cessa. O silêncio é quase absoluto, apenas se ouve o leve rastro de fogo negro atrás de mim em pleno tapete vermelho.
- Esta noite, - Começou o enviado. - um menino se torna um homem, um dos cinco mais poderosos. Como enviado daquela que trouxe os primeiros cinco a este mundo e lhes agraciou com estas terras abençoadas até os dias atuais, inicio o juramento real.
Minha respiração se tornou mais intensa, procurei me manter calmo diante de tal situação. Eu sabia o que vinha a seguir e já tinha aceitado meu destino, bastava fazê lo.
- Príncipe Henry, ao se tornar rei, terá de ouvir as vozes que a ti sempre procuração, seja por justiça, seja por conselho, seja por misericórdia, seja pela mudança. Os senhores são guardiães destas terras, e os lumbrianos, são de Lumbras. Desses você deve cuidar para que assim continue. Cuidará dessas terras desde a parte mais frágil, onde a vida é mais delicada, até a parte em tormenta, onde se encontram aqueles que já deviam ter seguido seu caminho, mas se encontram nesse mundo por motivos obscuros. - Suas palavras eram tão firmes quanto seu olhar em mim há pouco tempo. O que saía de sua boca me tocava de modo pesado, jogando se em minhas costas, trazendo me sentimentos como o medo, o receio, perigo. Sua voz se tornou mais baixa por um momento: - Ponha se diante de todos e se ajoelhe uma última vez.
Fiz o que pediu, me virando de costas para o homem e me colocando de joelhos para todos ali. Tentei não olhá la em momento algum desde então.
Eu não sabia ao certo o que acontecia ao longo de toda a cerimônia, não era dito por aqueles que me orientaram para estar ali. Ouvi apenas que devia manter a calma, que o que eu veria era algo que apenas os reis podiam ter a honra de ver e sentir.
O fogo que me seguia e se arrastava pelo comprimento do salão soprou de modo diferente, chamando a atenção de todos, incluindo a minha.
O sopro fez sua calda diminuir e esse se juntar mais e mais diante de mim. A chama foi ficando maior. Uma forma sobre humana se colocou ali. Maior que qualquer um naquele salão, ele agora era fogo negro e breu.
Seus olhos eram apenas dois orifícios vagos, vazios, sem vida. Não tinha uma boca, um nariz ou cabelo. Era frio o sentimento que emanava. Era trevas.
Vi London logo entre os primeiros convidados colocar a mão na boca. Estava surpresa como muitos ali.
O ser estava de pé a poucos passos diante de mim. Não havia expressão no que parecia ser seu rosto. Ele encarou o enviado por uns cinco segundos, e então sua cabeça se curvou ligeiramente para me encarar ali no chão.
- Como rei, - Disse a forma com suas vozes roucas. - não terá apenas de viver com as sombras como os outros, também as sentirá nas noites mais frias, nos momentos mais dolorosos. Ouvirá seus sussurros, ou seus gritos - Ele fez uma pausa rápida. - Vezes quando estiver a dormir, vezes quando estiver feliz - Havia prazer em suas vozes quando pronunciava tais palavras. - E sempre quando estiver triste. Quando sentimentos negativos o tomarem, será tudo mais intenso, como uma tortura silenciosa interna. Se fraquejar, será devorado. - Murmúrios tomaram o salão nesse exato momento.
Vi rostos assustados por onde quer que eu olhasse. Notei que as câmeras pareciam desligadas também.
- Como a alma mais poderosa de seu reino, ao aceitar este preço que negocia sua alma, em troca terá o poder que todos os reis antes de ti tiveram a honra de ter. Um poder apenas seu, para o que desejar, para proteger o que lhe mais é sagrado. E é claro, terá as forças mais obscuras em suas mãos, às suas ordens.
- E ao fim do seu último dia de vida, sua alma será libertada do juramento desta noite que se tornará inválido quando der seu último suspiro nesta terra. Sua alma deixará tudo aquilo que a liga às trevas, como é com a de todos os lumbrianos, e poderá partir em paz. - Terminou o enviado. - Diante de tais palavras, você é capaz de aceita las em sua vida junto com esta coroa?
O silêncio já tinha voltado ao absurdo pelo espaço. Todos os olhares estavam em mim, mesmo aqueles que eu não podia ver, eu podia sentir.
Eu estava diante da decisão mais difícil da minha vida. Eu sabia que, eu a aceitando, tudo mudaria. Um senhor vive mil anos se nada se colocar como ameaça diante de sua vida. Eu tinha vinte naquela noite. Seriam 980 anos com os as sombras me seguindo, rondando, sussurrando, gritando, e ainda teria que cuidar para ser forte o tempo todo.
Quando as palavras a seguir saíram da minha boca, além de aceitar tudo o que tinha ouvido, eu aceitei e assim dei começo aos tempos mais difíceis que Aureatus iria enfrentar.
- Eu aceito.
E aquilo foi o suficiente para que eu vesse aquela forma horrenda me encarar por um instante e então se ajoelhar lentamente para mim.
Eu senti o peso, o pesa da coroa acima de mim ainda em seu caminho para ficar o alto de minha cabeça.
A forma havia abaixado a cabeça, estava ali, diante do altar me reverenciando, se rendendo a mim como seu superior. Mas ela não era a única coisa medonha presente ali. Haviam outras, outras sombras que deixaram de se esconder entre os senhores presentes, entre os objetos, para então correrem até mim. Sim, elas vieram a mim de uma forma bruta, em massa, voavam acima de minha cabeça, e "entravam" no objeto que quase me tocava naquela região. Um brilho esbranquiçado vinha daquela coroa, era um choque a visão que todos ali tinham de tanta luz se chocar com tanto breu. Não se ouvia nada, mas era o mesmo que se sentia quando se via imagens numa televisão em mudo, era como imaginar aquele som gritante.
Então, eu finalmente a senti. E com ela, toda a magnificência que era a força das trevas. Minha alma parecia ser acorrentada, minha visão se perdeu nesse momento, sendo tomada pelo breu.
Eu sentia o poder em cada milímetro do meu corpo, do meu ser, se adaptando a mim, me abraçando e queimando, gritando e sussurrando. Se tornando parte de mim.
Tentei manter a maior calma possível, minha respiração era pesada. Eu sabia que haviam muitos me assistindo naquele momento, não deveria mostrar sentimentos que me fizessem parecer inferior. Respirei fundo e esperei.
Pude sentir até o sangue correr em minhas veias por um segundo, meus pensamentos parecerem mais racionais, mais controlados. Minha mente estava muito mais claea
Era uma sensação que começou de modo que causava dor em mim, e terminava com prazer.
Minha visão voltou, e logo nos segundos a seguir, a luz também voltou a iluminar o salão e dar vida as câmeras que antes filmavam a cerimônia.
Eu dei um meio sorriso.
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Eu sei que demorei pra postar, mas esse cap, como podem ver, foi algo que procurei planejar muito bem. Faltou só colocar o nome do Henry todo ali, mas depois eu arrumo.
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