Lobo Solitário

(Revisado)

  O vento batia em meus cabelos louros, bagunçando os mesmos. Galhos pequenos e folhas de tons escuros, tais como marrom e verde-escuro batiam em meu rosto e, aparentemente, eu estava no chão, já que minhas mãos estavam congelando em uma superfície plana.
  O frio era grande, mas não chegava a nevar. O formato dos galhos nas árvores me assustavam, pois o luar os deixava com um tom sombrio.
  Estava escuro e a única coisa que iluminava a noite era a Lua, sem estrelas e algumas luzes pouco longe dali.
  Eu estava em uma floresta. Não uma comum, mas sim aquelas de histórias de terror e coisas do tipo.
  Levantando-me com dificuldade, tento me manter de pé. Me sentia tonta, caindo para os lados. Eu tinha um corte no rosto, talvez feito pelo jeito que cai. Olhei em volta e tudo me dava calafrios, mas aparentemente era um sonho, porque até minhas roupas mudaram. Onde antes estava o uniforme da escola, agora está um vestido simples escuro e que ia até os meus joelhos, junto a uma meia-calça clara e fina, mas surpreendente quente e um sapato escuros com detalhes pretos. Colado ao vestido, um capuz de pelos escuro estava pendurado. Coloquei o capuz e comecei a caminhar até o que parecia ser uma casa enorme não muito longe de onde eu estava.

  - Nos caminhos da floresta... - Aquilo parecia mais um sussurro mas com várias vozes falando ao mesmo tempo - Caminhando por ela. Fique tranquila. - As vozes sussurram mais alto e meus braços se arrepiaram. Eu estava com medo. Com muito medo, para ser sincera - Caminhe pela floreta. Castelos são bonitos. Caminhe pela floresta.

  Apertei meus passos. Com o maxilar trincado e meus olhos fechados com força. Recitava trechos de orações que tinha mais facilidade de lembrar enquanto rajadas de ventos aumentavam.

  - Não pare de caminhar pela floresta. Não pare, minha senhora. Não pare! - Era semelhante a vozes de crianças. Várias delas e em tons diferentes. Alguns eram sussurros suplicantes, já outros pareciam estar cantando. Era assustador - O destino quer brincar, minha senhora. Agora vá, corra. Corra para longe da floresta. Não pare de caminhar pela floresta!

  Senti meu estômago se embrulhar e minhas pernas fraquejam um pouco. Meu coração estava acelerado enquanto meus lábios enrijeciam pelo frio. Olha em volta e a grande casa estava cada vez mais próxima. Mais alguns metros e eu chegaria lá, sã e salva. Uivos eram ouvidos a metros de distância. Engolindo em seco, corri como se minha vida dependesse disso e, de certa forma, talvez dependesse mesmo.
  Toquei no portão e a calmaria me invade. Eu estava bem, afinal. Os uivos havia cessado e estava tudo muito quieto. Quieto demais.
  Um lobo pula em minha frente de forma rápida, parando na varanda da casa, de modo em que as sombras estavam lhe tampando. A única coisa que vi foram seus olhos. Grandes olhos amarelos. Travei no lugar. Minhas pernas não respondiam mais aos meus comandos. Um buraco negro havia se fundido em meu estômago e meus olhos se encheram de lágrimas. Lágrimas de medo.
  O lobo se aproxima, saindo um pouco da escuridão. Seu pelo era cinza e, para minha surpresa, seus olhos mudaram para azul. Seu focinho estava manchado com sangue e seus dentes estavam expostos.
  Apesar de tudo, seu olhar era confuso. Claro, essa impressão foi quebrada quando ele rosnou para mim. E mostrou os dentes. Com sangue.

  - Calma, lobinho. Lobinho bonitinho. - Tentei acalmar o lobo. Não funcionou, claro. Serviu apenas para ele rosnar mais e se aproximar de mim. Com passos desajeitados e sentindo um medo que nunca havia sentido na vida, piso em falso.
Caindo de costas no chão, o vento bate forte em meu rosto, arrancando meu capuz. O lobo para e me encara claramente confuso. Eu podia ver as engrenagens de seu cerebro todo vapor. Ele estava voltando. Ele hesitou, mas por quê?
Piscando com força, esse sonho estava me assustando cada vez mais. O lobo havia sumido. Parecia que ele nunca estivera lá.

  - Algum problema? - Uma mulher de meia idade, na casa dos 45 á 50 e com os cabelos ruivos com poucos fios brancos abre a porta preocupada. - Ouvi barulhos, você está bem?
  - Lobo. - Foi o que eu disse. Não saberia explicar para ela o que aconteceu, pelo menos não hoje. Ela não acreditaria em mim. Quem acreditaria? Nem eu mesma estava acreditando do que havia acabado de acontecer. - Lobo.

  Ela olhou para os dois lados como se estivesse com medo. Vendo que não há mais ninguém, ajude-me a sair do chão e me trás para dentro de sua casa.

  - Como chegou até aqui? - Ela pergunta um pouco desconfiada. - Esta parte da floresta é distante do resto do Reino e o único caminho que se consegue chegar até aqui está bloqueado por ordens do general. - Ela me olha desconfiada e se afasta um pouco. Tinha que pensar rápido. Por que o general bloquearia a estrada?
  - Eu moro em uma humilde casa não muito longe daqui. - Comecei mentindo. Ela franze a testa, mas parece acreditar. Meu coração estava acelerado demais para pensar em algo melhor - Meu irmãozinho fugiu de casa e eu fui atrás dele. Eu o perdi, no caminho da floresta. - Limpei uma falsa lágrima e continuei com a voz rouca, o que, na minha opinião, convencia bastante - Cheguei até aqui, mas quando vi a casa, um lobo me encurralou e me atacou.

  Pelo menos os dois anos de teatro que minha mãe insistia tanto para fazer estavam valendo a pena.
  Ela me olhou com pena. Talvez eu não devesse ter mentido tanto, mas eu precisava urgentemente de um lugar para dormir, ainda mais agora com lobos a solta.

  - Qual é o seu nome, minha menina? - Ela pergunta com um sorriso gentil. A anfitriã apoiava suas mãos no sofá em que estava sentada e se senta também - Meu nome é Eleonora, Eleonora Gildor.
  - Meu nome é Sarah, Sra. Eleonora. - Isto não é um sonho, de fato, então eu preciso descobrir onde estou e em quem posso confiar. - É um prazer. - Digo trocando um aperto de mãos.

  Sra. Eleonora é uma boa pessoa. Depois de me encher de comida até eu pedir para parar dizendo que eu estava muito magra, ela me empresta roupas e me dispõe um bom banho.
  Ela falou muito da família também. Dos três filhos que tinha no Reino. Carlo, o mais velho era membro da Guarda Real, e ela disse isso com todo o orgulho do mundo. Também não deixou de fora que ele era incrivelmente forte e que ela sempre dizia, antes dele dormir, que ele seria maior e mais forte do que os gigantes.
  Rely, a do meio era inteligente como ninguém e sempre buscou por cada vez mais conhecimento. Já havia trabalhado em todas as livrarias do Reino e na biblioteca Real. Seguiu o conselho de sua mãe e se tornou uma cientista, já que, de acordo com sua mãe, ela acordava no meio da madrugada para escrever teorias sem sentido e preparava poções com letras ilegíveis, apenas para não serem copiadas.
  Perguntei a ela sobre o terceiro filho. Ela não responde logo a princípio, pois sua voz estava embriagada pelo choro.

  - Helena, minha doce Helena. - Sua voz estava carregada de tristeza, em um misto de choro - Ela era tão jovem e tão linda. Gostava dos animais. Era a mais divertida dos três, pois enquanto Rely passava dias e mais dias lendo, Carlo treinava uma luta de espadas com meu falecido marido, John, Helena estudava os itens da natureza ou cuidava dos animais. Ela era adorável, vivia pregando peças nos irmãos. Escondia as espadas e seus livros apenas para brincar de caça ao tessouro.
  - O que aconteceu com ela? - Perguntei um pouco receoso da reação da anfitriã. Secando algumas lágrimas rebeldes, seus olhos amendoados olham perdidos para a brasa do fogo.
  - O general da Guarda Real veio aqui uma vez. Pessoalmente. Bryan de Lucca veio atrás de Carlo e Rely, para trabalhar no Castelo. Quando saía, ele encontrou com Helena no começo. Ela estava no auge dos dezessete anos, Rely com dezoito e Carlo com dezenove. Ele se interessou nela logo de cara, afinal não era todo dia em que uma garota tão linda quanto Helena cruzava seu caminho. - Primeiro, achei que ela estava exagerando sobre a aparência da filha, mas ela se levanta e busca um retrato. Eleonora não devia passar dos trinta e tantos anos e com os cabelos ruivos mais lindos que já havia visto. Seus olhos, amendoados combinavam com seu vestido. Um homem, quem eu suponho ser seu falecido marido tinha os cabelos mais escuros do que petróleo e os olhos escuros, um tipo de castanho amendoado. Realmente eram todos muito bonitos. Um garoto de, no máximo doze anos de idade segurava uma espada. Uma garota que pousava para a foto com um livro em mãos também sorria. Ambos tinhas os cabelos castanho escuro e os olhos castanhos, as cópias fiéis do pai. No cantinho da foto, uma garota se destacava: Seus cabelos eram ruivos, como os da mãe e os olhos eram do castanho mais claro de todos.
  - O que houve com ela? E com o general? - Pergunto ainda com a foto em mãos. Eles realmente pareciam uma bela família. Minha aflição estava evidente em minha voz. Eleonora sorri, um pouco. Ela com certeza achou graça do meu desespero.

  Helena havia se apaixonado pelo general. De acordo com sua mãe, ele também. De um jeito estranho, mas ambos haviam assumido para esta família que estavam tenho um caso.
  Ela me conta também que isso custou a vida de seu falecido marido e de sua filha.

  - Você não deveria ouvir os desaforos de uma velha como eu, minha querida. - Se levantando e indo em direção a cozinha, a anfitriã liga o fogão de seis bocas e coloca a panela de pressão para funcionar. - Quantos anos tem, Sarah?
  - Dezessete, Sra. Eleonora. - Respondo sorrindo e me sentando a mesa para descascar as batatas.
  - Helena era apenas alguns anos mais velha. - Ela suspirou antes de levantar-se e caminhou em direção ao fogão para terminar a janta. - Eu vou mostrar onde você vai dormir, minha criança. Siga-me.

  Sra. Eleonora me guia até as longas escadarias. Já no segundo andar, um corredor bem iluminado mostra diversas portas, de cores diferentes.
Andamos até a penúltima porta. Era de cor bege e parecia com outras duas. Adentrando no quarto, vejo que era simples, mas bonito e delicado.
As paredes tinham um tom perolado, que combinavam perfeitamente com o chão de madeira escura. Havia uma sacada mediana e feixes de luz invadiam o quarto pelas pequenas e elegantes janelas. A cama era de solteiro e também havia um baú de madeira antigo, mas conservado.
  Havia uma lareira, um pequeno armário de madeira escura e alguns enfeites nas paredes do quarto inteiro. Uma televisão antiga e pequena, junto a um espelho que cobria uma parede inteiro. Uma pequena outra porta estava ao lado do espelho. De acordo com a anfitriã, se tratava da pequena suíte do quarto.

  - Meu quarto é o primeiro do corredor. - Ela informa olhando de forma perdida para as paredes do quarto e suspira cansada. Talvez ela não tivesse pisado neste cômodo, pois seu olhar afundava em saudades. - O jantar já vai ficar pronto. Meia hora, no máximo. Tome um banho e troque de roupa. O baú deve ter algo que goste. Não se atrase. - Ela diz fechando a porta apressadamente.
  - Estranho... - Murmuro pensando em sua reação ao entrar no quarto. - Muito estranho.

  Suspirei fundo também. Seja um sonho ou não, eu não queria continuar aqui. Queria ir para casa. Me peguei pensando em minha mãe, ela com certeza está preocupada.
  Talvez ela já devesse ter chamado a polícia, os bombeiros e, até mesmo o exército. Sorri também ao lembrar de como ela se importa comigo e de como faria tudo para me proteger, apesar de trabalhar tanto. Um dia, eu serei uma mãe tão boa quanto ela é.
  Caminhei até a outra extremidade do quarto, admirando os belos móveis. Ando até o pequeno armário que havia ali e encontro um pequeno monte de toalhas brancas. Pego uma e vou até a porta que dava acesso a suíte, empurro a maçaneta e o observo: Era um banheiro mediano, como qualquer outro. Havia uma pia, um box pequeno e um vaso. Observei mais a pia, mais precisamente o que havia em cima dela. Uma escova de dentes.
  Estranhei. Alguém devia ficar neste quarto, de vez em quando. Lembro-me derrepente do que a anfitriã havia dito e me apresso a tomar um rápido banho, com direito a lavar os cabelos.
  Quando tiro o vestido que não me pertence, sinto meus braços arderem. Haviam pequenos cortes e ralados por todo meu corpo. Com certeza os fiz quando fugia da floresta ou corria do lobo. Esqueço um pouco dos machucados que pareciam ser inofensivos, mas doloridos de lado e me apresso para tomar meu banho.
alguns minutos depois, saio de la com a toalha branca enrolada no corpo.
Vou até o baú e me surpreendo:
  Haviam muitas roupas ali, muito mais roupas do que um baú normalmente aguentaria guardar. Roupas íntimas, vestidos, calças e camisetas estavam lá. Como não queria abusar, peguei apenas um conjunto íntimo, uma camiseta branca de manga curta, pois parecia ser mais confortável do que qualquer um dos vestidos, uma calça de couro escura e um par de botas, também escuras, que achei mais no fundo do baú. Me vesti e prendo os cabelos em um rabo de cavalo, mesmo com eles ainda um pouco úmidos.
  No exato momento em que dou a última conferida nos machucados pelo espelho, Sra. Eleonora bate na porta e entra.

  - O jantar está pronto e eu... - Suas palavras morrer no momento em que seus olhos amendoados caíram sobre mim. Sorrindo um pouco de lado e com um tom mais doce do que o de costume, ela elogia minha preferência pela camiseta dizendo que era uma das favoritas da falecida filha - E não se atrase para o jantar, menina Sarah. - Antes de ir, ela me olha travessa dizendo - E você está muito linda. Qualquer homem deste reino dariam muito por você, bela menina.
  - Obrigada, Sra. Eleonora. - Agradeço um pouco tímida. Esse deve ser um grande elogio aqui.

  Descendo para a sala de jantar, comemos em silêncio. A mulher me explica que neste "Reino", devemos comer em silêncio. Não entendo o porque, mas não questiono. Logo depois de comer, Sra. Eleonora se despede me entregando uma escova de dentes e me dando boa noite, trancando-se em seu quarto.
  Vendo que não teria mais o que fazer, decidi me deitar também. Vou até o quarto, tiro minhas roupas e durmo apenas de camiseta, o que, na minha opinião, era muito mais confortável do que qualquer tipo de pijama ou camisola. Escovo meus dentes e volto para cama.
  Quando estou perto de me deixar, solto meus cabelos, mas deixo a fita que usei para prende-los cair no chão. Quando me abaixo para pegar, meus dedos batem acidentalmente na madeira, fazendo um barulho oco por baixo do tapete.

  - Oco? - Primeiro achei que estava imaginando coisas, mas logo sou vencida pela curiosidade. Tiro o tapete do lugar, me dando visão a uma fechadurazinha dourada já bem gasta. - Não cheguei tão longe para desistir.

  Respirando fundo para recuperar as forças e puxo a madeira com certa dificuldade, talvez pelo tempo que esteve la embaixo. Assim que o bloco de madeira cede, tenho visão a um lindo caderno encapado preto e com poucas letras e detalhes em vermelho e outro cadeado enferrujado. Deveria ser algum tipo de diário. Penso assim que o pego em mãos.

  "Propriedade de Helena Gildor. Não mexer!"

  Senti um aperto no coração. Não posso invadir o espaço dos outros.
"Ela não vai se importar tanto assim. Deve ser um caderninho antigo dela. Coisa boba."
  Tento argumentar comigo mesma. Depois de vários prós e contras sobre abrir ou não o caderno, a curiosidade me vence e, depois de prometer a alma de Helena orar muito para ela pedindo perdão, decidi abrir o diário.
  Consegui quebrar a fechadura com um enfeite de metal, que estava em cima da lareira. Levo longos minutos para conseguir ouvir um "click". Me sentindo o ser mais feliz do universo, solto o objeto de metal. Assim que ele entra em contato com o chão frio, ele "cospe" uma pequena chave dourada.
  - É brincadeira, não é? - Pergunto indignada. Comparo a chave com a fechadura e volto a me sentir a mais idiota. Cabia perfeitamente. - Ótimo.

  Com o livro aberto, descobri ser mesmo um diário. O nome de Helena estava em, pelo menos, vinte páginas com letras cursivas e que estavam me dando inveja.
  Conforme ia lendo, me surpreendo cada vez mais. Haviam coisas naquele diário que me deixavam intrigada e, ao mesmo tempo, assustada. Eram muita informações. Informações preciosas e que me deixavam levemente confusa.

  - Não acredito! - Exclamei levando as mãos ao rosto, cobrindo a boca. Não acreditava no que estava lendo. - Meu Deus! - Em determinado parágrafo, me assusto com a capacidade de Helena. Ela realmente não era o que dizia ser.

  Não tinha mais forças para continuar lendo. Minha cabeça estava explodindo de tantas informações. Agora, definitivamente, eu precisava dormir, rezar para que isso seja apenas um sonho, dentro de outro sonho.
  Com o diário escondido no mesmo lugar seguro, me agarro as cobertas. Amanhã o dia seria longo. Agora sei para onde ir e quem evitar.
  Quase pegando no sono, a frase de Helena continua em minha mente. Talvez uma das únicas coisas que eu jamais esqueceria.

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