CAPÍTULO BONUS

Nunca fui de acreditar na felicidade,

Mas hoje, eu sou o homem mais feliz do mundo.
~ Jesus Martins.

**JESUS**

Já era noite, e todos nós estávamos na casa de campo dos Gonzalez. Amber tinha chegado a algumas horas atrás e agora estava preparando o nosso jantar. Deus nos ajude a comer aquela comida.

Meu ombro ainda doí com o inferno, mas eu pensava na dor como um mal necessário. Pelo menos aquela garota tinha escapado, e isso me dava algum conforto, mas desde que eu tive aquela conversa com o Jonas na beira do lago, eu não consigo parar de pensar na Micaela.

Não que isso seja uma coisa ruim, ou que eu já não pensasse nela antes com frequência, mas antes eu me contentava em apenas pensar nela. Porque eu sabia que não era o cara certo para ela, mas desde que Jonas e a sua maldita boca disseram o contrário, tudo virou uma confusão. Isso foi maldade cara, ele me deixou mais confuso do que eu já estava. Aquele cretino.

A avistei na varanda, apoiada nas pilastras de metais da cerca. Os lisos cabelos negros dela desciam por suas costas com destreza. Ela encarava com atenção a vista na sua frente. Agora ela usava um vestido simples preto. O vestido se moldava ao corpo dela até a metade das coxas, e... uh acho melhor tirar meus olhos de lá.

Realmente linda.

Acho que fiquei uns 5 minutos encarando-a, tentando me decidir se deveria passar ou não pela porta da varanda. Meus pensamentos estavam me enlouquecendo. Por isso não pensei muito quando pus minha mão na maçaneta da porta e a puxei.

- Ei, gatinha.

Eu a chamei andando até ela. Ela se virou e revirou os olhos para mim. Não pude esconder o sorriso no meu rosto.

Ela se virou, apoiando os cotovelos na barra de proteção da grade e me encarou com os olhos brilhantes. Ela não devia ter feito isso, porque agora eu a achava muito mais sexy que o normal, principalmente com esse vestido preto de alça, que curiosamente se moldava com perfeição no corpo dela.

Eu dei um pequeno sorriso malvado - que disfarçou bem quando eu engoli em seco - quando reconheci aquele brilho em seus olhos. Ela estava mesmo tentando me provocar.

- Como está o ombro? - ela perguntou com casualidade, apesar de estar com as bochechas vermelhas de vergonha.

- Melhor que nunca. - eu parecia confiante dizendo isso enquanto caminhava na sua direção.

O que desfez minha confiança foi o sorrisinho que ela deu, quando desencostou da grade da varanda e estendeu a mão para frente do seu corpo e tocou no meu ombro, exatamente no meu machucado.

Eu não evitei gritar, e Micaela, aquela diabinha, gargalhou. Se eu não tivesse com tanta dor e raiva eu ficaria feliz de ouvi-la.

- Mentiroso.

Revirei os olhos e coloquei com cuidado a mão no meu ombro. Isso doeu mais que eu achava. Ela se virou novamente para a grade da varanda.

Ela ergueu o queixo, quase como se estivesse tentando ver mais da vista na nossa frente, o que parecia meio loucura porque ela encarava aquela vista como se realmente enxergasse cada detalhe daquele enorme quintal, mesmo estando escuro.

- Está vendo aquele balanço ali? - ela apontou de leve com o rosto para uma parte escura do gramado na nossa direita.

Eu não enxergava nem um palmo a nossa frente, mas concordei com a cabeça esperando ouvi-la falar mais sobre.

- Quando nosso pai nos tirou do Uruguai, passamos nossos primeiros meses juntos aqui. Mas eu não tinha o hábito de confiar muito em estranhos naquela época.

Mesmo que ela não estivesse olhando, eu sorri, porque eu posso imaginar muito bem uma mini Micaela emburrada e marrentinha fugindo do pai adotivo para ficar o dia todo em um balanço.

- Ou não me diga - eu caçoei fazendo ele revirar os olhos e abrir um leve sorriso do canto dos lábios.

- Eu ficava o dia todo naquele balanço. A vista dele é muito bonita. Foi a primeira paisagem que eu pintei quando descobri que eu tinha algum talento para arte.

Essa era mais uma coisa que eu adorava nela. Micaela era uma artista nata. Há um quarto nessa casa cheio de pinturas dela.

- Isso é muito legal - eu disse a encarando. Como eu estava encarando a escuridão do quintal, não tinha percebido que ela tinha cruzado os braços na frente do corpo com o vento frio que começou a soprar em nossa direção.

- Você está tremendo de frio. - eu apontei

- Não estou. - ela resistiu me olhando rapidamente com as sobrancelhas cerradas e depois voltou a encarar a vista.

Ela sempre cerra as sobrancelhas quando é teimosa. E por mais que eu ache fofo ver o semblante dela fechado assim, eu odeio quando ela é teimosa.

Tirei com cuidado minha jaqueta de moletom e passei por sua volta sem nenhum aviso. Quando a jaqueta já a contornava a puxei para mim, fazendo assim ela se virar na minha direção, assim pude terminar e colocá-la nela.

- Sua teimosia, por mais charmosa que seja, não vale um resfriado, gatinha. - eu disse olhando para seus enormes caramelados enquanto subia o zíper da jaqueta até o topo.

Cara, ver ela com minha jaqueta...

- Você está fazendo aquilo de novo. - ela comentou abaixando a cabeça e colocando as mãos na barra da minha camiseta.

- Aquilo o que, gatinha? - eu a questionei tocando seu queixo com meus dedos.

Ela ergueu seus olhos para mim novamente. E eu não sei descrever a sensação que senti ao vê-los brilhando com as bochechas avermelhadas os acompanhando.

Estou deixando-a com vergonha?
Bom, tomando ciência da nossa pequena distância, não a culpo de jeito nenhum.

- Está cuidando mais de mim do que de você - ela disse de forma sutil, o que me fez querer lhe dar uma mordida - E está tentando me agarrar.

Soltei uma gargalhada abrupta. De jeito nenhum eu esperava ver o lado atrevido dela agora.

- Só te dei minha blusa, mas eu sei que você gosta de sentir meu cheiro perto assim de você, gatinha - eu disse colocando parte do seu cabelo que caia sobre seu rosto atrás da orelha.

- Então - ela agarrou a minha mão, a mesma que tocou em seus cabelos, e a puxou, nos aproximando - Isso significa que você não quer me agarrar?

Ouh...

- Ah.. E-eu... - eu não evitei gaguejar. Eu não estava preparado para esse ato, ainda mais vindo dela.

A verdade é que por mais que eu e Micaela nos conhecêssemos a tanto tempo, nós... Quero dizer, eu... Eu nunca tomei uma atitude. Então nós nunca nos beijamos.

E só de pensar que finalmente podemos nos beijar.... eu fico hesitante, porque... Bom, o Billi.

- O que foi Jesus? O gato comeu sua língua? - o olhar sagaz que ela me deu, me deixou muito menos hesitante.

Nós dois estávamos próximos, eu queria ficar com ela, é obvio que eu queria, e agora eu sei que ela queria ficar comigo também, ou tinha quase certeza disso. Então por que, não?

Eu encarei seus enormes olhos cheios de expectativas. Eu tinha que fazer isso, eu podia. Jonas estava certo. Eu não posso deixar Billi arruinar isso. Eu não posso arruinar isso, não posso.

Essa garota é tudo para mim e olha que eu não sou um cara que admite isso facilmente.

Eu sou um cara que viu o pior lado do amor a vida inteira.

Eu achava que amar algo era uma coisa que só as pessoas que queriam se machucar sentiam.

Só que um dia, essa linda garota apareceu na minha frente e desmentiu tudo o que eu pensava saber. Ela chegou lá e virou o meu mundo dos avessos, ela abriu um buraco no meu coração e se manteve lá dentro todos esses anos, mesmo sem saber.

E, sim, teve momentos que eu me torturava por isso. Por querê-la de uma forma que eu sabia que não merecia. E isso foi sufocante, às vezes, doloroso e quase sempre muito desgastante, mas eu não consigo deixá-la.

Não consigo não parar de pensar nela, nem por um minuto sequer. Não consigo não pensar o quanto ela é linda cada vez que a vejo. E não consigo não imaginar nossas bocas juntas toda vez que penso em beijá-la.

Eu me apaixonei por essa garota dois anos atrás, e ainda estou apaixonado por ela hoje.

Eu amo tudo nessa garota. Eu amo a sua voz, doce e suave. Amo quando ela tenta ser atrevida comigo e depois fica vermelha de vergonha. Amo a sua teimosia e sua cara de zangada, amo como ela entende minhas piadas como ninguém, e amo até a sua gargalhada esquisita, que mesmo estranha, me faz rir como ninguém.

Essa é a menina que me faz rir mesmo quando estou triste, que me fez sentir pela primeira vez na vida, que talvez o amor não seja algo que só pessoas que querem se machucar sentem. Eu fico ansioso para vê-la, meu estomago doí e as vezes parece que eu vou vomitar.

Quando percebi no silêncio que deixei na nossa conversa, voltei minha atenção a ela. E vi o brilho no seu olhar diminuiu.

Merda eu esperei de mais.

Ela começou a se afastar ou pelo menos deu a entender isso. Mas eu a detive. Coloquei minha mão em seu braço e quando ela me encarou, simples assim eu a beijei.

Simplesmente a beijei.
E como eu imaginava, foi perfeito. Não, perfeito não, foi muito mais que isso. Foi como se a parte dela que estava naquele buraco no meu coração finalmente acordasse.

Uma onda de adrenalina gigantesca passou por nossos corpos, sendo tão que quase nos derrubou.

Eu não sei explicar o nosso beijo. Apenas sei que estamos conectados e que nossas mãos, línguas e bocas, tudo estava na sinfonia perfeita e inegável.

Nós nos afastamos minutos depois, surpresos e ofegantes. Os olhos dela me encaravam com desejo e confusão. E eu a olhava assim também.

Ainda estávamos próximos um do outro, e a minha mão estava no seu cabelo. Fiz uma pequena carícia nele.

- Então, isso responde a sua pergunta, gatinha?

Ela me encarou com gracejo no olhar e então sorriu.

E cara.... Eu amo o sorriso dela.

Nossa convivência no reformatório me mostrou que ela nunca sorria, nunca mesmo. Então eu me esforçava todas as noites pensado em mil piadas diferentes para contar para ela no dia seguinte, porque mesmo cansado e com sono eu amava ver o sorriso dela, porque ela tem aquele tipo de sorriso contagiante, daqueles que te faz sorrir também.

- Sim, responde sim - ela disse sorridente passando a mão pelo colarinho da minha camiseta e me puxando para mais um beijo.

E agora eu estou me sentindo o cara mais feliz e sortudo do mundo depois disso.

E agora eu tenho toda a razão em dizer que estou perdidamente apaixonado por essa garota. E agora sei que ela está apaixonada por mim também.

Alguns metros dali, atrás de uma janela....

- Viu, eu te disse que eles se gostavam! - Amber bateu no peito de Jonas comemorando a sua vitória.

Ela sabia a muito tempo os sentimentos que Jesus mantinha pela Micaela, e sempre investiu nos sentimentos deles dois.

- Eu não sou cego, Amber. Eu já sabia. - respondeu Jonas indiferente.

Os dois espionavam a Micaela e o Jesus de uma janela um pouco afastada da sacada onde os outros dois estavam.

- Você só ficou sabendo porque colocou ele contra a parede hoje, lá no lago!

O garoto queria questioná-la, até porque ele soube a muito tempo que Jesus já nutria algo por sua irmã, provavelmente no mesmo tempo em que Amber percebeu isso também. Mas a muito tempo o rapaz aprendeu que discutir com Amber não era uma missão para qualquer um.

- Eu quero meus 10 dólares. - Amber retrucou cruzando os braços olhando Jonas com seriedade.

Jonas se virou para ela, também cruzando os braços, e tinha um olhar sínico na cara.

- Não vou te pagar 10 dólares por Jesus ter finalmente beijado a minha irmã.

Amber o olhou condescendente.
- Nós apostamos, Jonas. - ele reconheceu o tom de voz dela - Você apostou que ela ia tomar a iniciativa primeiro, e eu apostei que o Jesus a beijaria primeiro, logo depois de passar por uma situação de quase morte.

Ela se exibia pela esperteza quase certeira na situação.

- Ele não quase morreu. - retrucou um Jonas rabugento que já caçava a carteira no bolso.

- Mas ele beijou ela primeiro. - ela estendeu a mão para ele - Pode me pagar!

Jonas fungou antes de tirar uma nota de 10 dólares da carteira e entregar na mão da garota. Que se vangloriou muito por isso.

- Tem uma coisa que preciso te contar. - Jonas interrompeu a rápida comemoração de Amber.

- Vamos apostar quando será a primeira transa deles? - ela questionou ainda alegre de sua comemoração.

- Não. - Jonas respondeu mais que sério.

- Mesmo se apostarmos quem goza primeiro? - ela continuou a brincadeira, claramente em tom de gozação com o rapaz.

Jonas sabia disso, e por isso riu ao dizer;
- Você é péssima.

A garota riu também.

- Vamos diga o que tem pra falar.

Jonas respirou fundo, sabendo que, após dizer o que estava prestes a dizer, toda a graça e clima agradável entre eles estaria acabado.

Então ele disse em um suspiro só.
- Os caras que atiraram em Jesus, hoje no beco, eles eram da gangue de Marcus. Estavam com nós no reformatório.

O sorriso no rosto de Amber morreu.

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FINALMENTEEEEEEEEE!

Temos o nosso primeiro casal da trama formado galera, uhuuuu!

Quem se apaixonou vendo o Jesus boiolinha pela Micaela ai?

Espero que tenham gostado, comentado e curtido muito.

Até a próxima semana babys...

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