CAPÍTULO 5.5
Capitulo revisado [✔️]
"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca."
~ Oswaldo Montenegro
**AMBER**
Antes...
Nesse momento estou do lado de fora do meu quarto esperando a mais de 50 minutos, dois guardas desleixados estalarem os outros dois suportes de cama para os mais novos integrantes da minha gangue.
Minha gangue. Isso é uma loucura.
Eu devia estar com algum problema de desidratação seríssimo para propor a Jesus um aumento de integrantes do grupo agora. E ele devia ainda estar sofrendo da pancada que recebeu na cabeça a dias atrás para ter topado essa ideia.
Agora eu tenho três detentos seriamente machucados para cuidar.
Digamos que as coisas podem ter saído um pouco do controle assim que eu e Jesus informamos nosso interesse nos dois novos detentos, e o que eu quero dizer com "as coisas podem ter saído um pouco do controle" é que houve uma briga, uma briga enorme. O que resultou em Jesus com sangue em quase toda parte - que eu espero mesmo que não seja dele - e os gêmeos um pouco machucados - mesmo que boa parte deles já estivessem lá.
Os gêmeos Gonzalez, também conhecidos por "Figli del Diavolo" ou se preferir "Angeli Oscuri", na tradução mais literal seria equivalente a "filhos do Diabo" e " Anjos Negros". Ou seja, problema dobrado.
Mesmo tomando a atitude de aumentar o grupo momentaneamente, eu não fui ingênua. Não peguei o primeiro pedaço de carne que me ofereceram. Não, esses gêmeos... Eles não são como os outros novatos que chegam semanalmente no St. Monica. O que é óbvio já que são nomeados como os próprios filhos do diabo. Mas em defesa deles, qualquer pessoa com quem eu já estive tinha um codinome mais assustador do que realmente aparentava.
Na verdade, eu julgo que um detento ter um codinome pode ser uma pré-característica para chamar meu interesse.
- Finalmente - disse Jesus adentrando no quarto assim que os dois guardas colocaram os dois suportes de cama.
O quarto é muito pequeno para encaixar 4 camas juntas, por isso os guardas colocaram os dois outros suportes em cima das camas que já estavam aqui, formando duas beliches.
Esperei que os dois irmãos entrancem no quarto para fechar a porta, que nos esconderia do bando de curiosos que nos observavam no corredor.
Já ouvi diversas histórias sobre as aventuras dos Gonzalez, algumas realmente preocupantes. Porém independentemente de quantos favores as pessoas te devam você nunca deve confiar em tudo que e contam, até porque o único jeito que essas histórias chegam aqui é por meio dos guardas, que normalmente destorcem toda a história - ou os detentos vindos de outros reformatórios - que normalmente são tão emocionados que contam as histórias tudo errado.
Tudo o que sei com certeza sobre os dois é que esse é o terceiro reformatório que eles passam em quatro meses. Eles foram expulsos dos outros dois. Pelo que parece o garoto é uma máquina de dar socos, e a menina... Bom não gostaria de estar perto dela se ela estivesse com uma faca na mão. Realmente i figli del Diavolo.
- Sentem nas camas de baixo, preciso ver os machucados. - eu mencionei aos dois enquanto pegava o resto do kit de primeiros socorros que Jesus convenceu sua mãe a trazer. Bendita seja ela.
Os dois pareciam duas múmias andando até uma da cama de baixo. Jesus por outro lado já tinha se jogado na cama oposta. Ele estava se espreguiçando na cama igual um gato, todo cheio de sangue.
- Se sporchi di sangue il letto, sarai quello ci dormirà (Se você manchar a cama com sangue, você quem vai dormir nela). - eu ameacei o mesmo, que revirou os olhos antes de se sentar corretamente na cama.
Notei pelo canto dos olhos que os gêmeos ficaram mais alertas assim que terminei de falar com Jesus. Isso com certeza vai me dar mais dor de cabeça do que eu pensava.
Joguei um pano úmido para Jesus, que logo começou a passá-lo nos lugares onde estavam os machucados, os limpando. Enquanto isso peguei a caixinha e me aproximei dos irmãos, me ajoelhando no chão perto da cama. E então os encarei, examinando.
O garoto não parecia ser muito mais velho que eu ou Jesus, mesmo com o rosto machucado, diria que ele deve ter uns 16 anos, talvez. Ele também é muito mais alto do que eu, na verdade ele é do mesmo tamanho que Jesus, seus ombros são largos e os cabelos eram de um tom tão escuro de castanho que quase chegava a ser preto.
Seus cabelos são bem cumpridos, o que faz parte deles caírem nas laterais de seu rosto. E apesar das feições rígidas em seu rosto, ele tinha só um corte no canto direito do lábio inferior, um machucado que sangrava pouco nas laterais da testa, e por fim, uma mancha roxa esverdeada na lateral, um pouco mais acima da bochecha esquerda.
As mangas compridas de sua blusa estavam levantadas até a metade de seus braços ressaltando um braço não muito grande, mas musculoso. Seus braços, diferente de seu rosto, estavam cheios de sangue. Pelo menos não era o dele, pensei.
Por fim suas mãos. Não tinha percebido que estavam fechadas em punhos até olhar para elas, ele as fechava com tanta força que as pontas dos dedos já estavam brancas, como se estivesse se preparando para o segundo round. O que ele acha que eu vou fazer? Estripá-lo?
- Não importa o que você esteja planejando amico, não faça. - a voz calma de Jesus suou pelo lugar. O garoto então dirigiu um olhar nitidamente raivoso para Jesus, que sequer piscou - Ela não vai matá-lo, pelo menos não hoje. - ele puxou um sorrisinho irônico nos lábios o que fez o rapaz ficar ainda mais irritado.
O garoto e Jesus ainda trocaram alguns olhares por um tempo, olhares esses que eu não estava a fim de identificar. Mas, independente do que Jesus indicou nessa pequena troca, o garoto a minha frente, enfim, relaxou as mãos desfazendo os punhos. Pude examiná-las melhor antes de passar minha atenção para a garota.
A garota aparentava ser tão nova quanto o irmão, seus cabelos eram uma cachoeira de fios castanhos um pouco mais claros que os do irmão. Sua pele por outro lado, tinha um bronzeado muito mais acentuado do que o do garoto. A garot apesar de estar descabelada não parecia ter nenhum ferimento no rosto, mas seu abdômen... Eu não podia falar o mesmo.
Ela pressionava sua mão na parte inferior da sua barriga do lado esquerdo, uma considerável mancha vermelha se resignava lá. Eu já tinha visto a mancha, mas pensei que era apenas sangue seco ou um sangue que não era dela, mas pelo visto me enganei...
Levei minha mão a barra da sua camiseta, perto de onde a mancha estava, mas a garota por um impulso ou quem sabe medo, me impediu de chegar a tocar na barra da camiseta quando ficou as unhas profundamente no meu pulso. Me arrancando um pequeno gemido de dor.
Atrás de mim ouvir Jesus se aproximar com rapidez. Não era preciso eu olhar para trás para saber que ele parecia mais com um cão raivoso do que com uma pessoa. O irmão da garota, sentado ao lado dela, se levantou assim que Jesus começou a se mexer. Os dois bateram um de frente com o outro, eles se encaravam com as sobrancelhas abaixadas, enquanto os dois franziam a testa. É nítido o maxilar tensionado e os dois apontavam o queixo para frente, de forma desafiadora. Seus punhos se cerraram.
Mesmo com a as unhas da garota em meu pulso, eu levantei minha mão livre para Jesus, com a palma da mão aberta como em um sinal, um sinal para esperar e não fazer a besteira que ele estava preste a fazer. Que eles estavam prestes a fazer.
- É bom as duas donzelas baixarem os ânimos ou eu mesma farei questão de dar uma surra em vocês. - eu praticamente cuspi as palavras na direção dos dois.
Jesus ficou ainda mais ereto depois da minha fala, pude ver seu maxilar se tencionando inúmeras vezes enquanto ele ainda encarava o rapaz.
- Jesus! - dessa vez minhas palavras saíram como uma ordem. Torci para que nenhum dos três notassem o nojo que sentir assim que aquelas palavras.
Mas não acho que nenhum deles chegou a perceber nada, já que tanto Jesus quanto o gêmeo deram um leve tremor, que foi disfarçado por um simples gesto de trocar de peso de uma perna para outra. Mas ainda assim o tremor estava lá.
Bom, é bom que tenham medo. Jesus pareceu se lembrar de ouvir a razão e deu um passo para traz voltando a de sentar na caminha atrás de onde estava, voltando a passar o pano úmido que lhe dei em seus machucados. O gêmeo demorou-se, mas voltou a se sentar ao lado da irmã novamente.
Voltei meu olhar - nada satisfeito - a garota, que ainda tinha a unhas prensadas no meu punho. Olhei em seus olhos friamente, e pude sentir os dedos em volta do meu pulso se contraírem. dor. A garota estava sentindo dor, eu podia ver em seus olhos. Mas mesmo assim ela agarrava meu pulso com a última força que tinha.
Eu não me importava de ser tocada. Mesmo pelo meus histórico. É algo único, para falar a verdade, tinha certas pessoas que eu não negava o contato físico, porém haviam outras que eu evitava o máximo possível.
- Está bem - digo me aproximando mais do rosto da garota, agora conseguia ver com mais clareza o rosto dela e o quando suada e cansada ela estava, ela tencionou mais o maxilar, mas me deixou continuar - Você vai me deixar ver seu machucado, de preferência sem essas unhas gravadas no meu pulso - ela começou a nega freneticamente com a cabeça e tentou se aproximar mais do irmão, mas eu a impedi a segurando pelo pulso livre.
- Ah você vai sim boneca, porque se eu não limpar essa merda, você vai pegar uma infecção e vai morrer. - ela mais uma vez lutou para se afastar de mim, e eu novamente a trouxe para perto - Olha para você. Está pálida, sangrando e suando igual uma idiota! Pare de ser teimosa e deixe-me cuidar do machucado logo. - ela apertou mais meu pulso o que me fez dar um resmungo pela dor. Olhei para seu irmão que via tudo como se estivesse em um transe, seus olhos estavam brilhando com a cena, mas não era um brilho bom, definitivamente não era um brilho bom. Mas que merda?
- Você! - eu disse olhando para o gêmeo o trazendo para a realidade, ele parecia se desperta do transe em que estava e me encarou - Você quer que sua irmã morra? - ele se dispôs apenas a negar com a cabeça - Ótimo, então segure ela e não largue. - eu ordenei.
A menina começou a se debater em minhas mãos, enquanto seu irmão deferiu um olhar a Jesus, eles estão de brincadeira com a minha cara? - Agora! - eu gritei para o mesmo.
Ele segurou os braços da garota, o que consequentemente fez as unhas da garota se soltarem do meu pulso. Eu poderia ter gritado, mas não restava tempo para isso. Enquanto o garoto lutava para deixar a irmã parada, eu peguei a garrafinha com álcool na maleta de primeiros socorros e logo ergui a barra da blusa da garota, e merda... Aquilo iria doer, iria doer muito.
O corte era horrível apesar de não parecer ser muito fundo. O verdadeiro problema era a área onde ele estava. Ele começa um pouco abaixo da abertura da caixa torácica da garota e se estendia quase até a lateral direita da cintura. Esse local é um dos mais dolorosos para se dar pontos.
- Escute, ei garota - eu toquei em seu queixo fazendo-a me encarar, mesmo ela já estando á deriva pela perda de sangue - Escute, eu preciso dar pontos nesse corte ou então o sangramento nunca parará. Eu não vou mentir isso vai doer como o inferno e doera muito mais se você se mexer. Você entendeu isso? - eu questionei. A garota concordou ou pelo menos tentou fazer isso. Bom, isso aqui vai ser o inferno de qualquer jeito.
Eu respirei fundo, teria que ir com calma ou tudo daqui pra frente será um inferno. Peguei o álcool e joguei em cima da ferida, o que a fez xingar até a minha quarta geração de descendentes.
- Micaela! - seu irmão a repreendeu.
- Sua cadela mal amad... - o som fugiu de sua boca quando eu enfiei a agulha no começo do corte - Argh! Sua vadia sem coração! - ela gritou quando eu enfiei novamente a agulha em sua pele, puxando o fio com força enquanto a olhava diretamente nos olhos. Suas mãos se agarraram ao colchão com força, sua cabeça pendeu para trás, no ombro do seu irmão, quando continuei.
- Pode me chamar de cadela o quanto quiser, a dor não vai melhorar, não importa a altura de seu grito ou de seus xingamentos - espetei a agulha de novo e puxei o fio preso na agulha.
A garota então segurou a mão que ficava a agulha, mas dessa vez ela não fincou suas unhas em mim, não, ela apenas me puxou para perto, fazendo eu enxergar melhor o suor que escorria da sua pele, em seu rosto pálido.
- Me des-sculpe - ela engasgou ao falar, mas em nenhum momento desviou o olhar do meu. Por que sinto que vou gostar dessa garota?
Esse pensamento voou da minha cabeça assim que enfiei a agulha novamente no corte e ela ungiu de dor.
Um inferno, realmente...
◇◇◇
Finalmente tinha acabado os pontos da garota. Que recentemente descobrir que seu nome é Micaela.
Enfim, eu consegui terminar os pontos do corte dela mesmo depois das intermitentes horas de gritos soados no meu ouvido. É claro que apesar de só ter acabado de suturá-la agora, a menina parou de gritar de dor assim que desmaiou, sim desmaiou. O que na verdade foi até bom para ela, a garota não parava de gritar e estava claramente sentindo muita dor, tanto que esse foi um dos fatores de seu desmaio.
Porém o irmão dela não concordou comigo, muito pelo contrário na verdade. Assim que a menina desmaiou o garoto surtou, e quase veio para cima de mim.
A única coisa que impediu de me atacar foi Jesus, que o empurrou de supetão até o outro lado do quarto. Mas é claro que não ficaria por isso mesmo entre aqueles dois, não, seria fácil demais.
Depois de Jesus levar o gêmeo para longe de mim eu continuei meu trabalho antes que a menina acordasse e voltasse a gritar novamente. Mas o que aqueles dois fizeram enquanto isso? Começaram uma maldita briga. Sim isso mesmo, uma briga.
Uma briga que acarretou mais machucados para eu cuidar depois. Eu mesma tive que separar a briga na última hora, senão eles continuariam brigando pelo resto da tarde. Quando o garoto enfim se acalmou, eu comecei a cuidar dos machucados feitos no rosto.
Limpei o machucado feito no canto da sua testa com álcool, o que novamente fez com que gerações minhas fossem amaldiçoadas pelos inúmeros palavrões que saíram da sua boca, igual ocorreu com sua irmã. Depois disso tomei cuidado para passar um creme nos hematomas coloridos que ficaram em seu rosto - alguns fitos da briga no refeitório, outros por Jesus - E por fim, examinei seus braços, quando fui examinar o sangue que estavam no mesmo, reparei em alguma coisa com relevo, acima da pele nas partes internas de seus braços, aquilo... Aquilo eram cortes? Não pude ver o que eram com mais precisão, pois o garoto puxou seus braços com força assim que viu o que eu encarava.
- Está bem - eu disse me afastando do garoto, limpando minhas mãos - Agora é melhor você descansar, precisa ficar forte para os próximos dias que virão, pode ficar nesse beliche de baixo eu e Jesus dormimos na de cima. - eu falei me afastando do mesmo
- Obrigado - disse ele em um sussurro de voz
- De nada... - eu iria dizer seu nome mas tomei conhecimento que ainda não sabia.
- Jonas... Meu nome é Jonas.
◇◇◇
Ainda era de noite quando eu despertei. Porém dessa vez não foi nenhum pesadelo que me acordou, foi o barulho da tranca da porta que me fez acordar e sentar na cama.
As portas são trancadas automaticamente no momento em que toque de recolher é dado, então ouvir o barulho da tranca sendo destravava com certeza não significava nada de bom.
Quando finalmente me levantei, meu olhar foi diretamente para a porta, semiaberta. Rapidamente passei meu olhar pelo quarto alerta. Qualquer um poderia ter entrado aqui para fazer sabe lá o que. Mas por mais que eu forçasse meus olhos ao tentar enxergar através do breu, eu não vi ninguém lá.
Quando olhei para o resto do grupo que ainda dormia na escuridão notei uma pessoa a menos no quarto. Jonas.
Então por um momento apenas desliguei minha mente e analisei toda aquela situação.
Ele não está no quarto mesmo depois do toque de recolher. A porta está aberta, destrancada. O resultado dessa equação é bem simples para mim.
O garoto saiu do quarto, mas como?
Não é uma surpresa que os guardas de St. Monica aceitem subornos, não é uma novidade para ninguém que eles sejam são corruptos, e claro que Jonas não foi o único que conseguiu infringir o toque de recorrer e o travamento das portas. Mas independeste de quem consiga arranjar um jeito de sair a noite e dar um passeio pelos corredores de St. Monica, o custo desse passeio sempre é alto. O que me faz ficar mais curiosa sobre como o garoto pagou por ele.
Esgueirei minha cabeça pelo batente da porta enxergando um corredor totalmente vazio, sem o garoto ou qualquer guarda a mostra. Onde raios esse garoto foi se meter?
Onde eu iria se fosse um garoto estupido que acabou de entrar em um dos piores reformatórios do país e soubesse que fui jogado para a gangue de uma das piores pessoas de lá? Onde eu iria se estivesse preso a mais de 16 horas em uma cela pequena com as pessoas que costuraram parte da barriga da minha irmã?
A resposta veio na minha cabeça como um fleche de luz. No telhado.
◇◇◇
Assim que abri a porta do telhado consegui enxergar o garoto, Jonas, em pé na beira do parapeito. Me aproximei lentamente do garoto, enquanto ele encarava para baixo, para o chão.
- É perigoso andar na beira de um telhado em um lugar como este, não? - eu comentei com as mãos juntas atrás do meu corpo, me aproximando devagar.
O garoto sequer tremeu quando eu falei, ele não hesitou. Ele virou parte do rosto para mim, ainda mantendo seus pés de frente para o abismo do parapeito.
- Gosto da adrenalina - ele contou com um tom sombrio. Sua cabeça voltou-se para frente, observando aquele breu ensurdecedor e hipnotizante - Sabe a sensação da resistência vento esbarrando em mim, a possibilidade de que em um minuto de descuido tudo pode estar acabado. Gosto dessa sensação - ele começou a ficar nas pontas dos pés e depois a colocá-los inteiros no parapeito como apoio, e começou a fazer isso repetidamente.
- Aposto que sim - minha voz saiu tão áspera que causou enjoos a mim mesma, mas me forcei a continuar com a farsa - Mas eu realmente odiaria voltar para o quarto agora, para mais tarde, ser acordada pelos meus guardas, alegando que o detento que estava sobre minha responsabilidade, pulou do telhado e se fundiu ao chão, como um idiota. - eu caminhei até minhas pernas baterem na coluna do parapeito, onde o garoto estava mais acima - Eu realmente odiaria. Então a menos que queria me ver realmente brava, é melhor descer daí. - eu cruzei meus braços na frente do peito, o vento frio já começava a me fazer tremer.
O garoto virou um pouco sua cabeça para mim novamente, dessa vez ele me observou com um olhar que não vi em seus olhos antes, aquele olhar era estranhamente hipnotizante e frios, eles se cravaram nos meus como garras, frias e longas. Mas eles voltaram ao breu, cruzando os braços.
- Sabe eu ouvi muito sobre você. As pessoas nos outros reformatórios parecem gostar muito das narrativas de suas façanhas macabras. - ele olhou pra mim novamente dessa vez com uma das sobrancelhas levantadas e me olhou de cima a baixo, um pequeno se puxou no canto do seu lábio - Pensei que fosse mais alta.
- Ouh desculpe decepcioná-lo, nem sempre satisfaço as expectativas da maioria. - caçoei - Acho que esse é o ponto negativo de ter a fama que eu tenho, mas nunca ter posto os pés para fora de St. Monica, ninguém sabe realmente quem eu sou fora desses portões.
Jonas continuou olhando para o breu, e os movimentos que ele tinha parado de fazer com os pés voltaram a se repetir. Seu olhar para o breu estava vazio. Não um olhar perdido na escuridão da noite, mas sim um olhar totalmente vazio, um olhar que nem uma pessoa perdida em seus pensamentos mais sombrios tem. Um olhar que conheço que uma familiaridade que gostaria de esquecer.
Ele ainda se balançava na beira do parapeito. Eu precisava tirar ele de lá, precisava salvá-lo antes que...
- Sabe eu também já ouvir falar de vocês dois. Você e sua irmã. - eu falei tocando em seu braço, um pouco acima das marcas em seus braços, pelo menos assim eu atraio sua atenção - Três reformatórios em quatro meses? Impressionante. - ele puxou o braço como se sentisse repulsa de ser tocado.
- O quer que eu diga? - ele cerrou os olhos e cruzou os braços na altura do peito me encarando - Gosto de ficar em vários reformatórios. Gosto da experiência.
- Soube que as prisões na Síria são ótimas essa época do ano, se estiver a fim de elevar seu nível. - o sorriso maldoso compôs meu rosto.
Pensei que pelo menos o arrancaria uma risada, mas o silêncio... Ele prevaleceu.
- As histórias... - ele disse esperando as palavras morrerem no silêncio sombrio do céu acima de nós - São verdadeiras? É mesmo uma assassina?
- Depende do ponto de vista.
Toda aquela situação estava dando nos nervos. Eu estou tentado tirá-lo a todo custo desse telhado, estou tentando tirá-lo daqui igual uma garotinha foi tirada de um telhado a 3 anos atrás. Eu não ligo se minha máscara cair no momento, apenas quero tirá-lo daqui.
O jeito pareceu claro na minha cabeça.
- Você quer que eu te empurre? - eu finalmente disse. O garoto congelou.
- Como é? - ele se virou até mim, o corpo inteiro dessa vez. Seus olhos estavam espantosos, talvez pelo que eu disse ou talvez pelo modo como eu estava quando seus olhos se puseram em mim. Uma máscara.
- Você me ouviu, não pense que eu não sei o porquê você está aqui. Você escolheu o momento exato em que todos estariam dormindo para subir aqui e até subornou um guarda para isso. Impressionante. - eu conclui friamente.
Esperei pelo momento que ele se viraria para mim apenas para me olhar nos olhos antes de pular ou o momento em que ele apenas começasse a gritar comigo e tudo fosse pelos ares em qualquer uma das alternativas... Nada aconteceu e isso me deixou furiosa. Muito furiosa.
- Deixe-me te contar exatamente o que eu ouvi de você e sua irmã antes de virem para cá. As pessoas os chamam de figli del diavolo, basicamente, filhos do diabo. Você pode não achar, mas tem uma fama tão ruim quanto eu, Jonas. - eu andei até me sentar no parapeito do telhado a direita do rapaz, mesmo sentada naquele parapeito frio, me segurando para esquentar meu corpo eu o encarei
- Eu sei o que aconteceu nos seus antigos reformatórios, sei que ao total, mais de 10 pessoas foram para o hospital por sua causa. Você foi cruel e preciso em todos os golpes que acertou neles não foi? - levantei minha sobrancelha quando um sorriso repulsivo compôs minha cara, o rosto de Jonas se contraiu em algo que julgo ser tristeza ou arrependimento, eu não sei, não podei demostrar que me importo com isso agora - Ouh não se sinta mal, afinal tudo isso foi pela sua irmã, certo? - Jonas me olhou espantado - Mas ela também fez coisas horríveis para te proteger, não é mesmo?
- Como você... Como você sabe...
- Não importa - eu o interrompi - Vou lhe dizer exatamente a merda que você estava prestes a fazer. Você ia pular. Você veio aqui para isso, para ter um fim. Mas e sua irmã, Jonas? Aquela que você lutou tanto para manter em segurança. Ia abandoná-la assim? Você ia parar de lutar assim? - pude ver o brilho de seus olhos surgindo na pouca luz que tinha. Mas eu não podia parar agora, não sem tirá-lo de lá.
Contornei minha mão na parte superior de seu braço e o puxei rapidamente para mim antes que ele se afastasse de mim.
Jonas tropeçou e esbarrou em mim de modo desajeitado pelo puxão que lhe foi dado.
Jonas caiu de joelhos no telhado, soluçando. Mas apesar de tudo ele não estava chorando, não, ele estava lutando, lutando contra aquilo de certa forma.
- Vou lhe dizer isto apenas uma vez, Jonas. - eu me abaixei até que chegasse perto o suficiente de sua cabeça - Eu escolho com cuidado as pessoas com quem divido meu tempo, e eu apostei tudo em você, em sua irmã e em Jesus. O que acha que aconteceria comigo quando os demais detentos soubessem que você se matou? - podia estar sendo uma babaca agora, mas parecia ser o único jeito para fazê-lo se levantar, ele tinha que lutar contra isso.
- A morte de um detento não aumenta a popularidade de outro, pelo contrário ela o destrói. - coloquei minha mão nas suas costas suavemente, mas elas não vacilaram - E acredite Jonas, eu não cheguei tão longe para um sem noção jogar sua vida fora e carregar a minha junto.
- Eu não sei quais são seus motivos, e nem mesmo sei se os quero saber. Não espere que eu seja seu ombro amigo que vai te abraçar a noite. Você não vai achar isso aqui, não importa quem procure. O único que pode te ajudar é você mesmo. - minha mão serpenteou por suas costas até parar em seu braço onde dei um leve aperto.
Eu menti, queria sim saber os motivos para ele vir parar aqui, queria sabe sobre seus problemas, queria ser seu ombro e o abraçá-lo a noite, queria dizer que tudo vai ficar bem, queria fazer isso e mais mil e umas coisas, mas eu não podia fazer isso. Não podia demostrar nenhum sentimento de conforto por ele agora, mas podia reerguê-lo, e torcer muito, para que ele soubesse caminhar sozinho.
- Você vai se recompor, vai se erguer, e vai aprender a lidar com quais motivos os
forçaram a vir aqui hoje. Mas não desse jeito, não dessa forma.
- Achei que seria mais fácil. - ele suspirou, suas costas finalmente pareciam ter relaxado o suficiente sobre minha mão, para me fazer acreditar que se jogar pelo parapeito não parecia mais uma alternativa para ele naquele momento. Suas costas começaram a tremer, e só então tive a certeza de que ele estava chorando.
- Todos acham...
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