CAPÍTULO 4
Capitulo revisado [✔️]
"Nada dói mais
do que lembrar as coisas
que já te quebraram."
~ desconhecido
**AMBER**
- Nãooooooo! - Me levanto assustada me debatendo entre as mãos que me seguram.
Uma onda de adrenalina disparou nas minhas veias quando percebi que aquelas mãos não eram minhas.
Forcei meus olhos a tentar enxergar qualquer evidência que o escuro estivesse escondendo do indivíduo ali.
Suor frio escoria pela minha testa quando, apenas alguns segundos depois, eu pude ver uma silhueta à quem aquelas mãos pertenciam.
Meu tio.
- Amber, Amber!!- ele praticamente gritava enquanto segurava os meus punhos, que ainda se debatiam entorno de suas mãos.
A adrenalina tinha me deixado alheia ao som, só comecei a ouvir sua voz quando relaxei meus punhos, e tentei acalmar minha respiração.
Eu o encare, com mais facilidade agora, conseguindo enxergar o suficiente no escuro para ver seus olhos cansados e ao mesmo tempo, assustados.
Eu fiz de novo. Eu não consegui controlar hoje, e o acordei.
Arrependimento tocou minha consciência, quando percebi que fiz ele ver o tamanho do trauma que ainda tenho, de novo.
Eu cedi e mostrei meu lado venerável para ele, outra vez.
Odeio ser fraca assim. Odeio deixar que meus sonhos me drenem assim. Odeio que ele me veja fraca assim.
Depois que eu e minha mãe fugimos do meu tio aquela primeira vez que eu o vi, ele demorou mais sete anos para me encontrar novamente, e quando finalmente me achou, eu estava presa a um reformatório corrupto. E naquela época eu, com certeza, parecia muito mais com um animal selvagem do que como uma menina de 15 anos.
Eu me lembro de quando o reencontrei. 7 anos depois.
Sete anos depois e eu o reconheci no momento em que pus meus pés na sala de visitação. Eu vi o alívio nos seus olhos ao me ver, viva.
Mas, agora tudo o que eu via neles era culpa. Culpa por não conseguir me encontrar antes, culpa por não ter me tirar de lá antes dos meus traumas ficassem tão fortes assim.
Eu acabei de abrir uma ferida que ele com tanto esforço tentava fechar.
- Estou bem, estou bem - eu disse ofegante, ele largou meus pulsos delicadamente, logo depois.
Passei a mão por meus pulsos sentindo de ser tocada ali. Por sorte meu tio não percebeu, tudo o que menos quero é mais culpa em seus olhos.
Ele ainda ficou por um tempo sentado ali, ao meu lado na cama, como se quisesse garantir que eu ficaria bem. Tudo o que eu o ofereci foi um suspiro.
Me desculpe. É o que eu queria falar, mas não consegui.
Ele se afastou quando minha respiração voltou ao normal. Ele se ofereceu para me ajudar de alguma forma, mas eu neguei. Não têm nada que ele possa fazer agora.
Eu pedi com jeitinho para que ele voltasse para o quarto e tentasse dormir o resto da noite que ele conseguisse. Ele tinha trabalho amanhã e não podia se atrasar. A contragosto ele se foi, e assim que a porta se fechou, eu senti meu corpo relaxar um pouco.
Eu tenho me sentido tão cansada ultimamente, esses sonhos têm acabado comigo. Eles nunca param, já faz quase 8 meses e ainda parece que eu estou lá.
Mas parece que não importa se já se passaram 8 meses ou 1 ano, mesmo assim eu ainda os tenho todas as noites.
Na maior parte das vezes eu consigo mantê-los controlados. Consigo lidar com eles sem acordar meu tio, mas às vezes, às vezes, eu não tenho escolha, às vezes eles são dolorosos demais.
Me levanto do colchão e sigo pro banheiro, meu reflexo no espelho está tão ruim quanto eu imaginava.
Estou toda suada e as olheiras das noites mal dormidas só pioram, os sonhos também.
Não sei se tenho mesmo uma explicação pra eles, talvez seja estresse pós-traumático ou apenas pesadelos bem ruins, eu realmente não sei.
Tento manter esse pensamento longe enquanto entro no chuveiro esperando a água fria entrar em choque térmico com a minha pele e levar minhas mágoas embora junto com ela.
◇◇◇
A cozinha estava silenciosa quando entrei. E meu tio ainda estava por aqui.
Ele usava uma camisa branca social que estava com as mangas arregaçadas até o meio dos braços, e um pouco mais distante, acima do balcão estava a parte de cima do seu terno preto. Seus cabelos castanhos estavam em um penteado que deixava as pontas um pouco para cima, e ele calçava um sapato social.
Meu tio tem 27 anos, eu acho que ele é bastante. Com apenas 27 anos ele já é um advogado excelente e com uma carreira muito boa, além de ser muito esperto, ele acabou a faculdade um ano mais cedo do que todos da sua turma. Hoje ele trabalha na sede de uma empresa multinacional que fica aqui na cidade.
- Bom dia - ele disse ainda de costas para mim, preparando nosso café da manhã no balcão da cozinha.
Se meu tio está fazendo café, isso só pode significar que um coisa ruim está por vim.
Normalmente ele já saiu de casa quando eu acordo, por isso sempre acabo tomando um café na cafeteria aqui perto. Mas hoje não só ele está aqui, como também está preparando um café para nós dois, isso é quase como um código dizendo que ele quer conversar sobre o que aconteceu hoje mais cedo. Ele sempre quer conversar sobre isso.
Eu preciso de uma bebida.
- Bom dia - eu respondo me aproximando do balcão começando a montar um sanduiche igual o que ele está fazendo.
E por alguns minutos conseguimos permanecer em um silêncio confortável, mas ele veio a dizer:
- Nós podemos falar sobre isso? - ele disse parando de fazer o sanduiche dando um longo suspiro antes de olhar para mim.
- Não - respondi, terminando de montar meu sanduiche e o comendo.
- Amber... - ele começou, mas eu já revirava os olhos. Larguei meu sanduiche no prato e me virei o encarando.
- Não. Eu estou bem, nós estamos bem, estamos recomeçando, um novo lugar, nova casa, nova vida. - eu respondi, empurrando o prato no balcão com um pouco de raiva.
Eu não quero ser uma babaca, mas sempre que ele insiste nesse assunto, nessa conversa, minha pior versão vem átona.
- Apenas finja que nada aconteceu. Você sabe qual é o nosso acordo, você me dá espaço para eu resolver meus problemas, e em troca, eu não atrapalho a sua vida. - eu argumento, e vejo seu rosto se entristecer assim que minha frase é dita, e isso com certeza, não era o que eu queria estar fazendo em uma quinta de manhã.
Não quero trazer esse assunto átona. Ele sempre fica mais recluso quando eu cito nosso acordo. Já estou farta de citá-lo como argumento em qualquer discussão que tenho com meu tio.
Esse acordo nada mais é do algo que criei nas primeiras vezes que ele descobriu sobre meus sonhos. Não é nada muito elaborado, eu apenas pedi que ele confiasse em mim para resolver meus problemas sozinha. Só que ele tem que me dar espaço para eu enfrentá-los.
Ele sabe que eu escondo muitas coisas dele, sejam elas do reformatório ou depois dele, ele sempre soube. Mas depois de um tempo parou de me exigir a verdade, agora ele exige soluções. Soluções essas, das quais eu não tenho.
- Acordo esse que você fez! Acha mesmo que eu quero te dar espaço, quando vejo que você precisa de alguém? Ou que eu gosto de acordar com seus gritos no meio da noite? - ele esbravejou largando os utensílios de cozinha que segurava nas mãos, diretamente no balcão, fazendo um barulho enorme - Acha mesmo que eu gosto de presenciar tudo isso e não poder fazer nada, porque você, você, não deixa? - ele esbravejou se afastando do balcão, passando a mão nos cabelos, claramente irritado.
Eu amo meu tio, mas sinceramente, acho que ele gosta de lidar com coisas que estão propensas a levá-lo a loucura.
Ele tem 27 anos, devia passar noites fora bebendo, conhecendo pessoas interessantes, viajando, coisas desse tipo, dinheiro não é um problema para ele, como trabalha de advogado a muito tempo, ele já tem um salário bastante alto, ele devia estar aproveitando a vida. E não se sentir preso a uma menina de 17 anos problemática e traumatizada, como eu.
- Eu estou lidando com isso - foi o que falei.
E estava, de alguma, eu estava tentando lidar com tudo isso. Onde está a porra das bebidas dessa casa?
- Está lidando com isso? - ele questionou em um tom sarcástico se virando para mim - E como, exatamente, você está fazendo isso? Por que já faz mais de 8 meses que eu te tirei daquele lugar e você ainda continua assim.
Um soco. Um soco doeria menos do que esses "você continua assim".
Eu não pedi para ser assim, eu não pedi para ficar com uma mãe que se importou mais em levar um homem que pagaria as contas para dentro de casa, ao invés de se preocupar com o que esse homem poderia fazer com sua filha, uma criança, enquanto ela não estivesse olhando. Não pedi para ter as cicatrizes que carrego nas minhas costas, não pedi para ser jogada naquele reformatório.
Não pedi nada disso.
Mas é claro que eu não podia simplesmente falar isso para ele, já que ele não sabe nem da metade dessas coisas.
- Você não me tirou de lá! - eu esbravejei dessa vez, lutando contra para segurar as lágrimas que surgiram nos meus olhos.
Seu rosto mudou de expressão de repente. Ele não aprecia mais bravo, aprecia preocupado. Ele abriu a boca prestes a argumentar sobre, mas eu o impedi antes mesmo que o som saísse dela.
- Será que você não percebeu? Eu ainda estou lá! - eu praticamente gritei, desistindo de guardar algumas lágrimas - Toda noite, toda vez que eu fecho meus olhos, eu volto para lá.
Porém dessa vez as lágrimas não eram apenas pelos segredos que eu guardava dele e que nunca poderia contar, essas lágrimas que se escorriam pelo meu rosto eram de aceitação. Aceitação porque eu nunca disse essas frases em voz alta.
Eu sempre soube que não tinha saído de Saint Monica inteira, eu sempre soube que parte de mim sempre estará naquele lugar, mas eu nunca tinha admitido, nem para mim.
- Você não me tirou de lá tio, apenas me buscou no portão. Pode fazer oito meses que eu saí e lá, mas eu fiquei lá muito mais que isso.
- Não jogue isso para mim Amber, eu movi céus e montanhas para tirar você de lá. - ele finalmente retrucou. Se aproximando de mim. Mantendo uma distância bastante segura entre nós.
Eu não posso dizer que ele estava errado. Ele realmente fez quase o impossível para me tirar de lá, mas apenas quando faltavam poucos meses pra eu sair. Eu passei por boa parte daquilo sozinha. E ainda assim eu saí. Eu me tirei de lá, e eu me tirei de lá sozinha.
- Acha que não quero que melhore, Amber? Meu maior sonho é que você possa ter uma noite de sono, uma noite tranquila. É por isso que acho que falar com um psicólogo é bom para você.
- Eu não vou falar com ninguém, você aceitando isso ou não. - eu disse dando as costas para meu tio enquanto pegava minha bolsa e saia pela porta da frente de casa
◇◇◇
Não sei bem para onde estava indo, mas sei que não parei um minuto enquanto estive na rua.
Meus pensamentos também não me ajudavam, tudo o que eu conseguia pensar era que, essa foi mais uma noite mal dormida para a lista.
Odiei o jeito como a conversa com meu tio acabou, odiei o jeito como o tratei. Odiei tudo naquela conversa. Mas não sei se algum dia vou conseguir dar o que ele quer. Ele me quer em paz, mas ele não faz ideia do turbilhão de coisas que eu preciso resolver para ter essa paz.
Para falar a verdade eu acho que isso é mais por mim mesma. Não sei se algum dia vou conseguir rever tudo o que passei e aceitar isso. Não sei se vou conseguir me olhar no espelho um dia de manhã e me sentir feliz por apenas existir.
Porque hoje eu acordei, mas não sei se algum dia vou conseguir dormir sem pensar se vou acordar gritando no meio da noite, não sei se um dia vou sentir esse apreço por dormir.
◇◇◇
Andei por muito tempo sem saber pra onde exatamente estava indo.
Os ventos frios abraçando meu rosto e meus braços gelados. O frio parecia ser de mentira, eu não sentia nada, estava habitualmente normal, sem tremores, sem formigamento, ou pequenas queimaduras no rosto pelo vento gelado da manhã, mesmos usando roupas tão simples. Uma simples calça jeans e uma regata.
Decide parar em um certo ponto do trajeto desconhecido que fazia, me vi parada na frente da cafeteria de sempre. Com poucas luzes acessas, talvez eles nem tivessem aberto ainda, mesmo assim fiquei por um bocado de tempo admirando a placa luminosa em cima da porta de entrada.
- Por acaso passar frio é algum tipo de hobbie seu? - disse uma voz em um tom grave atrás de mim, me virei devagar a encontrar o portador da pequena voz que atravessava o silencio matinal da rua. O Garoto do café.
Ele levantou uma sobrancelha ao me encarar direito, ele vestia um moletom amarelo, e uma toca preta cobrindo parte seus cabelos provavelmente bagunçados, em seu rosto, marcas do vento gelado começavam a aparecer, nas bochechas e no nariz, que ganhavam um tom avermelhado.
Ele pareceu assustado ao me encontrar em tal estado já que nem esperou eu responder sua gozação, apenas me empurrar para dentro da cafeteria resmungando.
Ele retirou as chaves dos bolsos e praticamente arrancou porta com os empurrões que deu depois de girar as chaves na fechadura, o garoto nem me deixou falar antes de me puxar até o balcão da cafeteria vazia.
- Você por acaso é idiota? Está fazendo uns 3° graus lá fora.
Ele resmungou entrando em uma portinha atrás do balcão do lado da janelinha que me dava visão de parte da cozinha, barulho de caixas e materiais tomaram conta do espaço atrás da porta, ele voltou em seguida trazendo um moletom verde em suas mãos. E sem aviso nenhum, ele tacou o enorme moletom na minha cara, voltando para trás do balcão.
Eu retirei o mesmo da minha cabeça e me sentei em uma das cadeiras altas rentes ao balcão, o deixando lá em cima, fiz uma careta brava para o garoto que agora estava sentado em cima da bancada da parede me encarando.
- E o que eu deveria fazer com isso? - perguntei colocando a mão sobre o blusão, ele fez uma cara debochada.
- Pode jogá-lo na frigideira e fazer uma omelete ou pode usá-lo como uma capa e sair voando por ai, eu realmente não me importo - ele deferiu de volta, uma careta de tédio surgiu em mim, ele apenas me ignorou e virando de costas voltando a sua atenção as maquinas de café.
- Não estou com frio. - desdenho dando o ombro.
- Tem problemas de audição? Ainda está fazendo 3 graus lá fora - ele praguejou se voltando sua atenção a mim, ele jogou o pano que passava na máquina em seus ombros fungando, e se não estivesse tão inconformado comigo, talvez e admitisse que ele estava bem sexy assim. Meu deus o que eu to pensando? deve ser o frio.
- Sua tremedeira está atrapalhando minha concentração. Coloque o moletom, por favor - ele disse forçando um falso sorriso enquanto parou na minha frente cruzando os braços, só então percebi o tremor interno que começou percorrer meu corpo.
Acho que fiquei tão imersa dentro da minha própria mente que eu não liguei para o resto do meu corpo, meus braços estavam se arrepiando e o tremor interno começava a se manifestar em meu queixo.
- Odiaria ouvir meu tio reclamar porque deixei uma cliente morrer de hipotermia. - o rapaz ironizou.
A raiva que eu senti foi a única coisa que me fez colocar aquele moletom enorme, se eu não colocasse aquilo agora ele ficaria me importunando até eu o colocasse. O moletom ficou na metade da minha coxa, quase no joelho, ou seja, praticamente um vestido, com um perfume bem forte estava bem presente na gola do mesmo.
- Você sempre é um babaca assim com seus clientes? - perguntei, arrumando meus cabelos, me sentando novamente na cadeira.
Os braços do moletom passavam os meus que quando os coloquei em cima do balcão. Ele é quase o triplo do meu tamanho.
Decide que não vou ficar me remoendo em um mar de auto depreciação, se tem algo que me anima é ironizar, debochar e tirar sarro de pessoas. OK, não é sempre, eu diria que é apenas um hobbie meu. E percebi que se queria me animar, estar aqui com o garoto na minha frente era a oportunidade perfeita.
- Só com os idiotas que tentam morrer de hipotermia na frente da minha loja. - seus lábios se puxaram em um sorriso maldoso e piscou para mim, babaca.
Um café repousou na minha frente, o direcionei meu olhar, como se questionasse, mas ele se manteve inexpressivo.
- Eu não estava tentando morrer de hipotermia. - retruquei dando gole no café, café puro, forte. É o que eu preciso para me manter acordada. Ainda que uma bebida resolvesse melhor o problema.
- É claro que não, é apenas um hobbie seu certo? - ironizou o garoto, o que me fez revirar os olhos enquanto levava a caneca de café aos meus lábios de novo - Certo, então o que a trouxe a minha cafeteria em uma manhã fria tão cedo? - ele continuou
- Cai da cama - menti rapidamente.
Não hesitei dessa vez. Isso deve ser bom. Estou me empenhando em guardar o máximo de informações apenas para mim.
Como nos velhos tempos.
O pensamento me fez querer rir.
Velhos tempos, quando era apenas eu e um italiano inquieto contra... bom contra muita gente.
Por onde será que ele anda?
- Deve ter sido um belo tombo - comentou segurando a risada, o encarei séria. Um silencio se estabeleceu ali, um confortável.
Então percebi que aquele silêncio era porque o garoto sabia que aquela resposta não era a verdade absoluta da sua pergunta, eu o encarei como se acentuasse a afirmação silenciosa, ele apenas deu de ombros sorrindo e voltou a limpar a bancada.
E ficamos apenas nos dois ali em silêncio.
◇◇◇
Já estava na Phillipez a algumas horas e nesse meio tempo já tive duas aulas totalmente entediantes, minha maior dificuldade não é na matéria, eu consigo acompanhar tudo o que é dito nas aulas.
A parte realmente ruim foi a apresentação, aquelas que os alunos novos têm que ficar de pé e se apresentar para turma. Totalmente desnecessário. E eu realmente não gosto de chamar atenção desnecessária assim, todos aqueles olhares em mim, enfim não gostei nem um pouco daquilo.
Quando o sinal tocou fui umas das primeiras a sair da sala, caindo direto no labirinto de corredores que a Phillipez oferecia. Depois de entrar em dois corredores errados, finalmente encontrei o corredor com o meu armário.
Fiz questão de arrancar os livros de química da minha bolsa e tacá-los naquele pequeno espacinho. Aproveitei e tirei o moletom do garoto do café e coloquei lá dentro também.
Uma coisa boa na Phillipez é que ela tem muitos climatizadores de ar, que deixam o ar em temperatura ambiente. Sem falar que as pessoas estavam me olhando estranho hoje, não sei se era pela pelo blusão ou não, mas mesmo assim o guardei lá.
Eu tentava achar mais espaço no armário para meus inúmeros livros que aos poucos eu colocava de volta para dentro do meu armário, que convenientemente não está querendo fechar, que ótimo.
Tentei empurrar a portinha do armário com mais força, mas isso só fez com que os livros voarem ao chão.
Bufei irritada me agachando pra pegar os meus livros um por um, porque dinheiro não se joga fora, e aqueles livros poderiam muito bem me pagar um mês de almoço no restaurante mais caro da cidade.
Me agachei e peguei quase todos de uma vez só, apenas uns dois livros que ainda ficaram no chão foram, eu achei um jeito de guarda esses livros no armário.
Quando voltei para pegar aqueles dois livros que tinha ficado no chão, uma mão os pegou antes de mim e os tirou do chão. Eu me levantei subindo meu olhar pela pessoa a quem aquela mão pertencia.
- Obrigad.... - minha voz morreu assim que meus olhos se encontraram com os dele.
Processei muitas coisas ao mesmo tempo.
Os olhos castanhos caramelados, a cicatriz em baixo do olho esquedo, o rosto assustado que me encararou de volta.
Aqueles olhos, aquela cicatriz, tudo parecia tão familiares aquele menino assustado que foi trazido para mim, uma certa vez a tanto tempo. Aqueles olhos que se pareciam com o do meu amigo, Jesus.
Dei um passo para trás espantada com o que meus olhos viam, eu devia estar sonhando.
O garoto a minha frente também se afastou, seu rosto parecia estar totalmente petrificado. Se isso não for uma incrível conhecidencia, se for ele, eu não sei o que pode ser. Uma peça do universo, talvez?
Mas era ele, tinha que ser.
Estreitei melhor minha visão para ter certeza de que aquilo não era uma miragem, ou minha mente me pregando uma peça ou apenas uma pessoa muito parecida com ele.
- A-Amber? - ele sussurrou ou era apenas sua voz que estava tão surpresa quanto sua mente que nem teve força para sair.
Sua voz, era ele, era sua voz, era seu rosto, o rosto do meu amigo.
Arregalei meus olhos. Não respondi. Não pude. Era ele. Depois de meses ainda era ele.
Eram os seus olhos, seus cabelos castanhos claros, seus pequenos cachos formados de sempre. Era ele, era Jesus.
Suas covinhas do lado da boca apareceram assim que ele abriu um sorriso. E que saudade desse sorriso. Que saudade dele.
Estava tão surpresa quanto ele, eu abri e fechei minha boca tantas vezes na esperança de que algo saísse, mas nada saiu.
Vendo que eu estava tão surpresa quanto ele, Jesus se dirigiu a mim e eu fiz o mesmo em resposta, neste momento os dois livros já foram soltos ao chão de novo e nós estávamos um aos braços do outro.
Um abraço tão forte que poderia até ter me esmagado se eu também não estivesse apertado na mesma intensidade. Encaixei meu rosto na curva do seu pescoço e me aconcheguei mais a ele. Acho nunca vou admitir isso a ele, mas o abraçar de novo trouxe uma nostalgia tão boa para mim. Eu não sei explicar, é como se eu finalmente pudesse respirar.
Ele está bem. Ele está aqui.
Eu perdi as contas de quantas noites eu passei acordada com medo de dormir e ter um pesadelo com ele machucado, ou de quantas vezes me questionei se ele estava bem, se estava ferido, se estava feliz... Jesus sempre esteve lá nos meus piores dias, me reconfortando, como um verdadeiro amigo. Eu demorei para me acostumar com sua ausência depois do reformatório. Eu demorei muito para parar de procurá-lo a noite depois de um sonho ruim.
Senti ele me levantar no chão e me rodopiar pelos ares, eu gargalhei. Uma das poucas coisas que fiz nesses meses. Ele me rodopiou até que eu gritar para me pôr no chão.
- Jesus, me põe no chão! - disse rindo, ele me pois no chão com cuidado, encontrei aqueles seus olhos risonhos e destemidos, seu olhar se suavizou, ele relaxou o corpo que antes estava tenso.
- Oi, Amber - ele disse esboçando um sorriso de orelha a orelha.
Minha garganta se fechou até doer, era real, ele estava ali. Ouvir sua voz agora, até meses atrás não passava de um sonho, e hoje ele estava aqui a menos de um metro de mim.
Me aproximei e o com delicadeza toquei a ciatriz em baixo de seu olho, apenas para ter certeza de que aquilo era real.
- Senti sua falta também, Bambola.
**********
Votem e comentem apra o próximo capítulo
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