CAPÍTULO 4.5
Capitulo revisado [✔️]
"Força é a sorte de poucos, coragem, perseverança e
atitude é o dom que os fracos usam para vencer os fortes."
~ Franthiescoly Santiak
**JESUS**
Antes...
O dia já amanhecia quando decidi que tinha que levantar da cama.
Não é como se eu tivesse conseguido dormir noite passada, apenas tirei um cochilei pela manhã, um pouco antes do céu clarear.
Fiquei a noite toda acordado esperando para ver se Amber acordaria gritando essa noite ou não. Ela não acordou. Acho que isso é uma coisa boa, já que desde a primeira noite que eu cheguei aqui ela nunca parou de ter pesadelos.
Pesadelos que ela tem com o padrasto.
Eu tentei não pensar no que aquele monstro pode ter feito de tão ruim, para ela ter pesadelos com isso até hoje. Eu juro que eu tentei. Mas falhei.
Eu pensei muito nisso, na verdade, eu pensei em tudo o que Amber me contou ontem. Faz pouco mais de um dia que ela me contou sobre seus sonhos. Estamos a mais de um mês juntos, e esse foi todo o tempo que ela demorou para confiar o suficiente em mim e me contar sobre seus sonhos.
Tentei evitar ao máximo os pensamentos a respeito do que seu padrasto fazia com ela. Eu sabia que se insistisse muito nisso, com certeza, me irritaria o suficiente para socar a parede até quebrar minhas mãos. E um cão raivoso como eu, com a mão toda machucada, é tudo que ela menos precisa agora.
Não tenho como saber se foi proposital ou não, mas ela me contou um pouco da vida dela ontem, me contou sobre sua mãe, sobre suas mudanças constantes e sobre seu padrasto. Depois daquela conversa não trocamos nenhuma palavra sobre aquele assunto. Na verdade, aquela foi a última vez que nos falamos. Depois que acordamos na manhã seguinte ficamos praticamente o dia todo em silêncio. Literalmente.
Pela manhã, ainda estávamos meio sonolentos por passar boa parte da noite acordados, então dormimos até o horário do almoço, onde tudo ocorreu bem, por mais incrível que pareça, e durante o resto da tarde ficamos em silêncio no quarto, mas juntos, pelos menos.
Algumas vezes, um de nós arriscava encarar o outro, por um breve momento, apenas por instinto, e sempre caiamos na risada quando fazíamos isso ao mesmo tempo.
Eu não posso negar que tinha e ainda tenho inúmeras perguntas sobre ela que gostaria de saber a resposta, mas eu não quero a impor nada. Não quero que ela fale até se sentir pronta para isso.
Eu praticamente passei a noite toda acordado, esperando para ver se ela teria mais um sonho ruim, como sempre. Mas ela não teve, ou pelo menos não acordou dele, o que me deixa mais preocupado.
Essa situação me deixa estressado e com angústia, o que só contribuiu para que metade do meu laço de cigarros evaporassem.
Não tenho como sabe sobre tudo o que ela passou, mas tenho a certeza de que foram muitas coisas. E sei que parte disso é culpa do seu padrasto.
As costas dela...
Ele fez aquilo com ela, todas aquelas cicatrizes... Se ele teve coragem de fazer tudo aquilo com ela, não entendo como ela pode estar em um lugar com esse enquanto ele está solto por aí. Só de pensar nisso já sinto minha raiva borbulhar dentro de mim.
Queria poder ter a chance de encontrá-lo uma única vez e mostrar como tratamos homens que machucam mulheres na vila em que eu cresci. Não me arrependeria se fosse preso, dessa vez.
A verdade é que a coisa que mais odeio no mundo é quando um homem usa e abusa da sua presença para amedrontar, machucar ou assustar uma mulher. É algo que eu tenho desde pequeno, nunca consegui ver uma situação dessas e ficar calado. Não depois que vi isso acontecer com mi madre.
A muitos anos, mia madre começou a sair com um homem que parecia ser muito legal. Uma pena que ele só parecia legal. A realidade é que ele era um bêbado alcoólatra.
Na primeira vez que vi ele bater em minha mãe pensei em ligar para a polícia e denunciá-lo. Porém, mesmo sendo muito pequeno, eu sabia que ninguém creditaria em mim, afinal quem acreditaria em uma criança?
Tentei convencer mia madre a deixá-lo, mas ela não me ouviu.
Então fiz a única coisa que podia fazer na hora. Esperei que acontecesse de novo, mas dessa vez eu estava com uma câmera na mão.
Eu filmei quando ele a empurrou no chão, vi em primeira mão quando ela a chamou de puta, eu o vi subir em cima dela e lhe dar o primeiro tapa. Eu tinha 10 anos e aquela foi a primeira vez que eu parti para cima de alguém. Eu o acertei no único lugar que sabia que não precisava de muita força para machucar. Seus países baixos, como se diz nessa língua.
Eu o tire de cima da mia madre e a arrastei para fora de casa com a câmera na minha mão. De lá fomos direto para a delegacia com a ajuda da nossa vizinha na época. Denunciamos ele e entregamos o vídeo como prova. Eu pensei que tudo ia enfim ficar bem no final com a ajuda dos policiais, mas eles não prenderam o maldito.
Em vez disso, pediram para a mi madre voltar para casa, pois eles não podiam abrir o caso por falta de provas.
Aquela foi a primeira vez que nos mudamos de cidade e de nomes. Houve muitos outros homens, é claro. Assim como houve muitas outras casas, muitos outros nomes, e muitos recomeços, mas nenhum deles deu certo, no final. Mas uma coisa foi certa, nunca mais cheguei perto de uma bebida na vida.
Desde os 10 anos eu batalhei para deixar mi madre segura.
Eu conheço os homens, sei o que eles pensam quando olham para mi madre, e toda vez que saia com ela na rua eu preferia me matar do que ficar olhando para a cara daqueles homens nojento, olhar a cada olhar de luxúria que aparecia em seus olhos, toda vez que ela passava.
E agora eu estou aqui, e ela está lá fora, e eu sei que nunca vou me perdoar se algo acontecer com ela.
É por isso que me preocupo tanto com Amber. Me preocupo com o que pode acontecer se ela se fechar novamente.
Ela sabe como é sempre estar fugindo de um lugar para o outro, sabe como é ter uma mãe com péssimo histórico com homens, sabe como é não saber se vai almoçar ou jantar naquele dia, sabe como é ter que lidar com a escória da humanidade e ter que viver com isso depois. É por isso que quero ajudá-la, porque sei como é passar por isso e não quero que ela continue achando que está sozinha.
Sempre que penso nisso, sinto as veias dos meu corpo se esquentando, e então tudo o que quero fazer é socar alguém. Mas não posso fazer isso aqui. O que deixa essa sensação dez vezes pior.
Tentei me acalmar antes de levantar da cama e seguir até a janela me sentando lá. Acendi outro cigarro.
Não sei o que estou fazendo aqui, mas sempre que acordo Amber está olhando através dessa janela. Talvez tenha algo que me ajude a focar. Concentrar minha raiva em algum lugar, talvez.
- Acho que invertemos os papéis. - Amber resmungou se espreguiçando na cama. Ela se sentou ainda com os cabelos desgrenhados no rosto e sorriu para mim.
Ela sorriu. Acho que devo considerar isso algo bom, já que ela quase nunca sorri.
- Vejo que você acordou de bom humor hoje, isso é muito bom, dorminhoca - brinquei me levantando do cantinho no chão até a minha cama. Estendi o cigarro para ela, soltando a fumaça que prendia em meu peito.
Não sei sobre o habito que ela tinha com cigarro antes. Sei apenas sobre o meu.
Mas reparei que, as vezes, ela gosta de dar uma longa tragada, deixando o cigarro queimar até o final, tudo de uma vez só. Sei que ela não faz isso pela nicotina, senão não fumaria tão rápido. Não sei o que ela quer com isso, mas sempre a ofereço uma tragada.
Mas sei que apesar de sempre aceitar meus cigarros, ela os odeia. Vejo suas expressões discretamente quando ela não está percebendo. Ela rejeita o cigarro. De todas as formas possíveis. Mesmo que ela o coloque entre os lábios e fume. É como se ela quissesse se castigar a cada tragada que da.
Ela tomou o cigarro da minha mão e tragou lentamente.
- Eu estou acordada a tempos, seu cérebro faz muito barulho quando pensa. Ele não é muito acostumado a pensar, não é? – caçoou soltando a fumaça na minha cara, me fazendo revirar os olhos.
Essa garota é o sinônimo da água para vinho.
- Olha só quem fala, você estava babando no chão até agora, bambola.
◇◇◇
Eu sabia que quando passasse pelos portões de St. Monica eu podia dar adeus ao que sobrou da minha sanidade mental, e poderia dar boas-vindas ao inferno que minha vida se tornaria. Eu sabia disso, eu me preparei para isso.
Claro que nenhum reformatório é um mar de rosas, já que as pessoas que convivem neles só estão lá por duas opções, ou o governo os colocou lá até completarem a maioridade para mandá-los à uma penitenciária ou eles estão cumprindo uma pena imposta posta pelo estado - o meu caso - que seria equivalente a um período de "reintegração a sociedade" onde teoricamente os detentos teriam que repensar em seus valores, e entender seus erros para não os repetir, como eu disse antes, teoricamente.
O reformatório juvenil St. Monica com certeza, não é reconhecido por reeducar jovens encrenqueiros lá fora. Muito pelo contrário, na verdade St. Monica é oposto de um lugar para você conseguir uma "reintegração a sociedade".
Os guardas em outros reformatórios costumam contar histórias sobre esse lugar para os detentos que mais causavam problemas. Eles diziam que os guardas daqui eram todos corruptos e que não ligavam se era seu primeiro dia ou o último, se alguém os olhassem de forma errada eles partiam para cima.
Diziam também que as enfermarias foram retiradas do prédio, porque sempre havia mais detentos internados em macas hospitalares do que nos quartos. Nos contavam dos espancamentos de "boas-vindas", que inclusive eu recebi.
E o que mais causava intriga entre detentos de outros reformatórios, era o fato de saber que a situação das coisas aqui era tão precária que os detentos faziam estoques de sabonetes e que em alguns casos eles eram usados como moeda de barganha - o que eu pude confirmar ser verdade, Amber tem um monte, por precaução - sendo até mais valiosos que os cigarros.
Além de tudo isso St. Monica é muito reconhecido pelos detentos que o frequentam. Os jovens que veem para cá são os piores dos piores. Assassinos, homicidas, traficantes de drogas, de animais e de pessoas, temos pessoas que cometeram extorsões, perseguições, serie de roubos consecutivos, assassinatos de policiais, mutilações, esquartejamento, até sequestro... Como eu gosto de falar, St. Monica tem um cardápio de detentos bem diversificado.
Mas entre todas as coisas que são ditas de St. Monica, a mais assustadora de todas é Amber.
Isso mesmo, a Amber é uma das coisas que os detentos mais temem quando descobrem que serão mandados para cá. As histórias que contam sobre ela são macabras. Para dizer o mínimo.
Ninguém sabe dizer ao certo o que sobre ela é verdade e o que não é. Até porque de um reformatório para o outro os boatos aumentem e diminuem de pessoa para pessoa.
Porém, o que sempre é dito em todos os boatos a seu respeito é que ela é uma sádica. Uma louca que foi entregue pela própria família.
Dizem que ela já arrancou o braço de alguém aqui, que mandou 3 guardas para o hospital além de ter uma enorme briga com 4 detentos. Dizem que uma vez ela bateu tanto em uma pessoa que a deixou inconsciente. Além disso, rola um boato que diz que de todas as pessoas com que ela já á brigou, nenhuma jamais retornou para cá.
Na minha língua a uma expressão que a descreve bem "Fare la gatta morta" que basicamente que dizer que ela é pessoa que age como indiferente na aparência, mas na verdade e má, falsa e agressiva por dentro. É assim que ela é vista pelos detentos, uma menina inofensiva até que do nada vira uma sádica e assassina.
Ela hoje é conhecida por vários nomes, que vão mudando de lugar para lugar, mas há um ditado que usam que a descreve bem, "lupo vestito da pecora", uma loba na pele de um cordeiro.
Usam muito esse ditado com ela porque além de esconder seu "lado perigoso" na maior parte do tempo, dizem fora de St. Monica, ninguém nunca, viu seu rosto verdadeiro.
Mas não é preciso conhecer o rosto do diabo para saber quem ele é.
De qualquer forma, o choque que foi para mim chegar aqui e ser acolhido justamente por ela, foi indescritível. A única pessoa que eu jurei fica o mais longe possível é a mesma pessoa que dorme a menos de três metros de mim.
Conviver com ela, vê-la temer os próprios sonhos, tem sidos uma longa série de surpresas.
Quem a olha de longe não consegue enxergar nada além daquela máscara que ela insiste em colocar no rosto, mas por baixo dela, tem uma garota que já viveu o inferno na pele. E tem marcas da sua estadia lá.
- Tenho novidades. - ela diz assim que eu entro no quarto com os cabelos ainda molhados da chuveirada.
A chuveirada é basicamente um banho coletivo dos detentos. E é uma das únicas atividades aqui de St. Monica que é separada por gênero. Graças a deus.
Já somos presenteados com quartos mistos, com a exceção do meu, são lotados de adolescentes problemáticos cheios de hormônios a flor da pele. Nada de bom pode vir disso. Além disso, temos de paredes finas muito, muito finas. O que não nos ajuda em nada a ignorar os barulhos que ecoam dos outros quartos. Então, pelo menos na hora do banho a algum entendimento de paz.
Mas eu não sou um monstro também, não vejo essas coisas de forma ruim. Aqui podem existir um monte de vermes inócuos de inteligência, mas coisa giram entorno do que a maioria dos detentos acreditam, e o que eles mais acreditam é princípio mais simples de todos, basicamente diz, você tem o hoje garantido, mas o manhã você pode não estar mais aqui.
Esse princípio bota em perspectiva tudo o que você tem como prioridade, e mostra que não devemos desperdiçar o hoje. Mas tenho quase certeza de que metade das pessoas aqui não o compreendem ou apenas não ligam para o que ele diz, já que a primeira "prioridade" de muitos é fazer sexo a cada oportunidade que tem. Não é como se as pessoas aqui se importassem com quem está vendo que ato obsceno você está praticando.
Não deveria ficar tão abismado com isso já que só à adolescentes idiotas aqui. Me surpreenderia de verdade, se a maioria das pessoas soubesse sequer ler os avisos pregados nas paredes dos corredores.
- Hoje a macarronada no refeitório? - perguntei voltando minha atenção para a pergunta da garota, me jogando de bruços na cama esperando sua resposta.
- O certo, é hoje têm macarronada no refeitório? - ela me corrigiu, o que fez meus olhos revirarem.
Essa língua é tão confusa em, na, no, há, á, à, e por aí vai. São tantas regras, e tantas opções de palavras que eu me confundo quase sempre.
- Hai capito cosa volevo dire. (você entendeu o que eu quis dizer) - retruquei com a cara no travesseiro - Então essa é a novidade, macarronada no almoço?
- Não, algo muito melhor. - ela diz com um entusiasmo muito incomum o que me fez girar minha cabeça para encará-la - Hoje chegaram dois detentos novos, dois irmãos.
◇◇◇
Hora do almoço.
A pior hora para qualquer um que odeie se sentir exposto.
Na hora do almoço o refeitório pode ser meramente comparado com uma selva animal, com predadores e presas. Os ditos "líderes" das supostas gangues de St. Monica usam a hora do almoço para analisar novos membros e seus concorrentes.
Sim, isso mesmo, troca de detentos entre gangues. Mesmo que tudo aqui pareça seguir o conceito minimizado de uma prisão, nem tudo aqui é totalmente regido como acontece por lá. E aqui em St. Monica é sim comum haver brigas por troca detentos.
Isso basicamente acontece quando um detento se torna muito promissor. Quando mostra ter uma rede contatos, ou muita força, ou as vezes por quem ele era fora das paredes de St. Monica, esse último caso só acontece quando o detento tem ligações com pessoas muito especiais lá fora, máfias, facções, e por aí vai...
Na verdade, eu e Amber adoramos qualquer façanha que anime o refeitório. Nós costumamos torcer e apostar discretamente em detentos ou em gangues, é muito divertido.
Por fora ficamos sérios e em silêncio boa parte do almoço, mas por dentro, estamos secretamente adorando todo entretenimento que os detentos nos proporcionam.
As disputas por detentos normalmente acontecem entre os líderes das gangues que o querem, e na minha opinião essas brigas são fantásticas, pois os líderes das gangues normalmente são os melhores do grupo. Os melhores lutadores, os mais inteligentes... As brigas costumam a serem muito sangrentas e normalmente os batedores acabam muito, muito feridos. E isso só aumenta a falta que uma enfermaria no prédio traz.
E é aí que o melhor show acontece.
Os detentos procuram a Amber para ajudá-los. Sim, a Amber. Mesmo tenho muito medo dela, a boatos entre os detentos sobre suas costas cicatrizadas e viram os pontos que apareceram magicamente no meu corte, feito por Grayson.
Enfim, entre a minha chegada e o até o momento que meu corte foi suturado, os detentos começaram a pedir a ajuda de Amber com seus machucados mais severos em troca de favores.
Sim, favores.
Eu não sei se eles acharam que Amber tinha amolecido ou se eles tinham perdido parte do medo dela comigo estando aqui, mas isso os trouxe até nós, e isso, por incrível que pareça, não foi algo ruim.
Eu não os julgo na verdade. Boa parte dos machucados que são feitos aqui, não são esterilizados adequadamente, muito menos cuidados com os devidos cuidados diariamente. A chance de alguém morrem ou chegar perto disso por uma infecção de Tétano aqui é de 3 a cada 7 detentos. Não temos uma enfermeira profissionalizada, nem os instrumentos ou medicamentos necessários, mas isso já melhor que nada.
Dos menores aos maiores cortes, de pontos às menores ou maiores fraturas, os detentos a procuram agora.
Hoje Amber tem uma lista de contatos enorme, não só de pessoas que ela conhecia antes de vir parar aqui, mas agora ela também é composta de pessoas muito importantes aqui, que a devem muito mais de um favor. O que é ótimo para ela.
Sua influência se tornou muito maior agora do que era antes. Ela até pode ser menos temida por uma parcela dos detentos agora, mas mesmo esse pequeno grupo de detentos que não a teme, a respeita. O que eu acredito ser algo equivalente, pelo menos aqui.
Agora na hora do almoço eu e Amber estamos na nossa habitual mesa de sempre, esperando para que o show de entretenimento comece. A chegada dessa dupla de irmãos causou muito alvoroço entre os líderes, pelo que eu ouvi nos corredores.
Ao que parece essa duplinha simpática já tinha passado por mais dois reformatórios antes de virem parar aqui em St. Monica. E em todo esse caminho precisaram de uma frota de três carros para fazerem sua transferência para cá, o que é surpreendentemente assustador.
St. Monica consegue mesmo atrair os piores dos piores para seu interior.
Não demorou muito para satanás parecer no meu campo de visão e começar a se dirigir até eu e Amber.
e Grayson já ficava se mordendo porque todos temiam Amber, nem posso imaginar o poço de odeio que ele deve estar agora, sabendo que boa parte dos detentos a deve.
- Ficou sabendo da novidade, querida? – Grayson comentou se sentando ao lado de Amber com toda aquela áurea arrogante que me fazia revirar os olhos toda vez que o via.
Vi a expressão que Amber olhou para Grayson assim que ele a dirigiu a palavra. Não foi um olhar nada bonito, e eu não esperava que fosse algo diferente disso. Mas aquele olhar, aquele olhar foi diferente.
Não era um olhar encenado, não era o olhar que ela dava quando vestia aquela máscara, não, aquele olhar foi um olhar real, um olhar tão frio e cruel quanto os que ela encenava.
Eu cheguei a engolir em seco ao prever o que poderia acontecer em questão de segundos se Amber levasse a ameaça que aqueles olhos transmitiam a sério. Se isso acontecesse as coisas ficariam bem feias por aqui.
Amber encarou Grayson, nos fundos dos olhos, aquele olhar predatório e assassino fisgou o fundo da alma de Grayson, e mesmo assim eu não o vi hesitar nem por um décimo de segundo. Aqueles dois. Não sei se algo mais na vida me daria mais medo do que ter que encarar aqueles dois.
- Algum motivo especial para sua visita, Grayson? Ou apenas decidiu enche a porra do meu saco hoje? – ela estava estressada, muito estressada.
E considerando tudo o que aconteceu nos últimos dois dias, eu não esperaria que ela estivesse menos que isso. Grayson escolheu o dia errado para provocá-la.
- Está estressada hoje, amor. Está de TPM? – Grayson questionou com um sorriso repulsivo no rosto.
Tenho certeza de que Grayson está tentando chegar mais rápido ao inferno. Ainda hoje, pelo visto. Porque é exatamente isso que vai acontecer se ele continuar abrindo a boca. Amber vai matá-lo.
O detento que sempre acompanha Grayson fico tenso, seria ele o Titus ou o Honor? Eu realmente não consigo diferenciá-los, não que importe muito, os dois são a sombra de Grayson. São dois patetas e tem o cérebro de uma criança de 10 anos, nunca fazem nada para ajuda Grayson, na verdade acho que eles nem sabem como fazer isso.
- Você quer alguma coisa Grayson, você sempre quer, então diga logo e vá embora. – eu respondi por Amber evitando a resposta arriscada que ela poderia dar.
- Jesus, desculpe nem percebi que estava aí, resolveu nos presentear com o tão bom silêncio hoje, não é mesmo?
- Apenas prefiro não gastar minha saliva xingando você, Grayson. Mas se você gosta tanto de silêncio, está explicado o porquê anda com essa sombra atras de você, não é Titus? Ou você seria o Honor? São tão irrelevantes que meu cérebro não fez questão de identificá-los corretamente. – desdenhei com minha falsa modéstia, igual ele faz com sua áurea arrogante repulsiva.
Grayson trincou os dentes, diferentemente de sua sombra que parecia mais interessado nas paredes do refeitório do que na situação na sua frente. Eu encarei Grayson depois acenei para sua sombra com olhar, o que o fez olhar para o membro de sua gangue, tão alheio a toda aquela situação, isso o fez respirar fundo, e relaxar o maxilar.
- Bom talvez eu mude isso, soube que há dois detentos novos vindo para cá. Quem sabe eu não os acolha sobre minha assas?
Ele olhou novamente para Amber e ela o encarou de volta, por um momento imaginei se eles conversavam por aqueles olhares.
- Demônios agora tem asas? O inferno fez um upload e eu não fiquei sabendo?
Eu tirei sua atenção de Amber e a dirigi a mim, enquanto a mesma virava o rosto para lado para disfarçar o sorriso, já Grayson por outro lado não estava com uma cara nada boa.
- Está tão engraçado hoje, Jesus. – ele comentou enfurecido. O que me fez abrir um sorriso desprezível.
- Para você sempre, doçura – caçoei novamente.
Nesse momento Amber estava muito perto de rir e estragar toda nossa fachada, mas graças a Deus, Grayson caiu em si e foi embora fungando. Amber riu baixinho com a mão na boca, tomando o controle da situação de novo.
Depois olhou para mim com um daqueles olhares que mostrava que eu ouviria um sermão enorme mais tarde, mas mesmo assim não liguei, eu a fiz rir hoje. Ela parou de demonstrar qualquer reação quando as portas do refeitório foram abertas e por elas duas pessoas algemadas passaram, seguidas por quatro guardas.
Um garoto não tão velho de pele mais pálida do que da garota ao lado e com os cabelos lisos e pretos, apenas um pouco mais escuros que a cor de seus olhos. Ele vestia aquele típico uniforme de transferência de detentos que mais parecia um conjunto de moletom do que um uniforme. Já a garota ao seu lado, com a pele bem mais bronzeada, carregava uma longa cabeleira negra, quase até a metade das costas, seus olhos um tom de castanho mais claro, ressaltavam seu rosto um pouco redondinho. Mais ainda sim, molto bela.
Quando olhei novamente para Amber animado pelo show que logo iria começar, a vi com um semblante sério, mas parecia que ela analisava algo.
- O que você acha – começou a garota olhando para a dupla de irmãos - De expandimos o grupo?
Ela estava falando sério? Como faríamos isso? Como ela lidaria com os sonhos tendo mais duas pessoas no quarto para ficar de olho? Como ela pode querer isso agora que tudo parece finalmente bem?
- Está falando sério? – questionei sem dar indícios de minhas maiores dúvidas. O olhar da garota voltou para mim, e pela primeira vez vi algo diferente do vazio interno que sempre aparecia por lá. Ela assentiu a minha pergunta o que me fez engolir em seco antes de dizer:
- Vamos precisar de um quarto maior.
- Você está comigo? - ela perguntou
Você está comigo?
Essas palavras me acertaram mais forte do que um soco no estomago, por que eu estava duvidando dela? Ela praticamente arriscou tudo quando me aceitou em sua gangue. Ela lutou por mim, cuidou de mim, confiou em mim para seus maiores segredos. Eu devo muito a essa garota. Se ela quer mais pessoas no grupo, eu deveria apoiá-la, afinal, se isso não der nada certo no final, daremos um jeito, eu sei que daremos.
- Estou com você – respondi, fazendo um sorriso aparecer em seu rosto.
Ela então se levantou, e eu segui ao seu lado, e naquele momento nos dois adentramos juntos, na toca dos leões.
Deus, só peço para sairmos vivos dessa...
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