CAPÍTULO 19.5
"A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar".
~ Sun Tzu
**AMBER**
Estava chegando. Faltava pouco. Em menos de cinco dias para o confronto entre eu e o ruivo da gangue de Marcus.
Estou ao limite, não vou negar. Todos podem ver isso, principalmente minha gangue.
Agora eles tinham tatuagens. Cada um escolheu um número diferente, assim como eu. Os meninos me disseram que queriam que todos nós tatuassemos números que significavam algo importante para nos. Mas eu sabia que era mentira.
Sei que eles escolheram os números das idades que gostariam de chegar, sei que fizeram isso porque acham que vão morrer aqui. Micaela me disse isso.
Eu não os culpo, mas me destrói por dentro saber a que nível chegamos. Apenas estamos aceitando o que vai vir. Vamos lutar com unhas e dentes, mas sabemos qual pode ser a realidade.
Micaela praticamente jogou todas as suas facas e os meus papéis, das plantas de todo reformatório, para longe de mim. E me arrastou para uma das beliches dizendo que eu precisava relaxar.
Os meninos estavam aqui também, quietos jogando cartas, mas estavam aqui.
Jesus repuxava a boca, do jeito que faz quando tem uma sequência de cartas ruins, os lábios de Jonas estão comprimidos, porque ele sabe disso também, mas está claramente tentando deixar Jesus ganhar.
Mica, sentada na sua beliche alta, arrumava seus cabelos com os dedos das mãos, os desembaraçando com calma.
Tudo parecia um caos a nossa volta, mas agora, aqui, tudo parecia igual. Isso me trazia calma.
Tê-los aqui me trazia calma.
- Você precisa relaxar. - Micaela disse descendo da cama.
Ela passou a mão pelas minhas costas tentando remover a tensão. Reparei o terço em uma de suas mãos.
Micaela pode não aparentar, mas é bem religiosa, e deixa esse fato estritamente particular. Em todo nosso tempo juntas, a peguei orando algumas poucas vezes, e na maioria delas, eu não entendi nada, principalmente porque ela costuma rezar em espanhol.
- Atrapalhei sua oração? - questionei encarando o balanço do terço em sua mão.
Sempre houve um embate em mim quanto a religião. Mas admito, virei uma cética ao longo dos anos. Seria impossível não virar, afinal, como acreditar que alguém permitiria o que meu padrasto fez, que permitiria o que as coisas de ruim que aconteceram com Jonas, Micaela e Jesus.
Era algo inevitável de acontecer.
- Não, eu já tinha acabado. - ela sorriu delicadamente.
- E pelo que rezou?
- Por nós. - ela respondeu passando as unhas dos dedos pelas bolinhas do terço - Para sairmos inteiros dessa.
Eu sabia a chance disso acontecer, e as vezes, gostaria de sonhar igual a Micaela e poder fingir que as chances estavam ao nosso favor.
- Você sabe que "inteiros" é um substantivo muito vago. - comentei. Não é minha intenção minar as esperanças dela, mas alguém tinha que dizer algo.
- Eu discordo.
Eu não queria proferir as minhas próximas palavras porque isso significava que elas poderiam ser reais, mas mesmo assim, eu o fiz.
- Podemos sair inteiras, mas isso não significa que vamos continuar as mesmas.
Mica fungou. Pegou meus braços e passou as mãos por eles, em forma de carinho.
- Você preocupa demais.
- E você se preocupa de menos. - tirei suas mãos dos meus braços e as segurei.
- Todos nós sabemos o que está por vim, não somos ingênuos - Mica falou - Mas pensar de mais não vai aliviar o fato de que não sairemos na briga igual entramos. Tudo que podemos fazer é aceitar.
Mas não é justo, nada disso é justo.
- Mas não parece justo aceitar. Não quando ainda temos 16 anos e corremos o risco de nem chegar aos 17.
Ela suspirou cm o pesar em seus olhos antes de dizer
- As vezes, acho que é um milagre termos chegado até aqui... - passando suas mãos por meus braços, por cima de uma das cicatrizes, onde suas mãos pararam.
- Apenas tente relaxar. -ela tentou me dar um falso de seus sorrisos carinhosos e soltou as mãos dos meus braços.
Jesus se encontrava na porta quando ela se afastou de mim e caminhou até ele. Os dois cruzaram a porta e dobraram o corredor, sumindo de vista.
De qualquer forma, um sentimento incomum continuou em mim, era como uma brisa indiscreta que percorriam as partes encoberta do meu corpo, causando um arrepio estranho no meu corpo. É como um sentimento de irrealidade, eu sabia das minhas chances, sabia o que me esperava, mas isso só... Parecia irrelevante agora. E isso é preocupante.
Jonas, que até então se estava escorado no pé da cama, seguiu até a porta e a fechou, voltando a me encarar em seguida.
- Micaela está certa, você sabe. - sua voz, tensa e grossa soou pelo ar - Precisa relaxar.
Como se eu pudesse fazer isso.
- Não é assim tão fácil.
E realmente não era. Não era fácil encarar os rostos da minha gangue tendo a noção do perigo que eles corriam. Também não era fácil pensar na pequena, mas provável, chance de sair dessa prisão.
A probabilidade de sair viva pelos portões do St. Monica, só parar passar por mais um inferno... Só para enfrentar as consequências dos meus antigos atos.
- Acho que no fundo, você está com mais medo de tudo isso acabar do que de como vai acabar. - Jonas respondeu, como sempre, com um argumento certeiro.
- E da onde tirou isso?
- Você tem medo de ir embora. - ele indagou com presunção enquanto se sentava no beliche na minha frente - Agora que se deu conta que tem pouco menos de um mês aqui, você está com medo do que pode encontrar fora daqui.
Eu era boa em ler pessoas aqui, não Jonas. Então como ele sabia isso tudo?
- Não. - retruquei, mesmo sabendo que era uma mentira.
Jonas se sentou na beirada do colchão, apoiando seus braços em suas pernas, e me encarou. Me encarou não como de costume, mas com um olhar limpo, como se visse tudo por trás da minha máscara.
- Você se acostumou com a vida aqui, se acostumou com sua máscara e se moldou a agir como tal. Você se acostumou com a vida de risco aqui, com sua proteção pelo medo, e agora aqui está você, com medo de ir pro mundo real, e abrir mão desse controle.
Foi como um tapa. Pelo menos, doeu como um.
- Talvez não eu esteja com medo de como minha vida vai ser depois daqui. - me enfureci - Nem tudo é sobre minha máscara, eu sobrevivi até chegar aqui, sem a La Reina.
Jonas entortou a cabeça, como se assim tentasse encontrar mais sobre debaixo da minha máscara.
- Pode até ser, mas alguma coisa está te preocupando. E não tem nada haver com o ataque dos Guilards.
Maldito seja Jonas e suas habilidades ardilosas.
- Como pode ter certeza disso? - questionei também apoiando os braços em minhas pernas, ficando frente a frente com ele.
- Porque eu conheço você.
Seu argumento me calou. Percebi então que minha fúria passou. Me dei conta que ali na minha frente era Jonas, um dos meus melhores amigos, um dos meus únicos amigos. As vezes, a minha tendência a me fechar me faz esquecer que não preciso sempre ficar na defensiva, não com Micaela, não com os meninos.
- Acho que estou com medo de enfrentar o que eu deixei para trás.
- Sua mãe?
- Não, não sei onde minha mãe está - respondi com pesar - E sinceramente eu acho que não vou encontrá-la tão facilmente. Provavelmente meu tio vai ficar com a minha guarda.
Jonas continuou me analisando, eu senti seu olhar vagar sobre mim. Não sei se isso me tranquilizava ou me apavorava. Eu posso saber ler as pessoas, mas Jonas... Ele tenta entendê-las, decifrá-las. É apavorante.
- E isso te assusta. - ele arriscou argumentar - Tê-lo como tutor. Isso te assusta?
Quem dera fosse apenas isso...
- Eu não tenho um bom histórico com homens, você já sabe bem. Mas não estou tão preocupada com ele. Eu senti logo de cara que meu padrasto era um cara ruim, já meu tio... É difícil de lê-lo, mas sinto que ele é um bom homem.
Jonas recuou para trás, talvez sentindo que finalmente estivesse começado a encontrar algo.
- Algo ainda a preocupa mesmo assim. - ele supôs.
- Sim. O motivo pelo qual eu vim para cá, isso sempre me perseguiu, mas eu sempre lidei com isso. Porém agora, quando estou tão perto de ir, tenho medo que... - a frase morreu em meus lábios.
Muitas imagens e som se passaram na minha cabeça agora, meus pensamentos sempre ficam confusos quando isso acontece.
- Que aconteça de novo? - Jonas questionou, me tirando dos meus devaneios.
- Algo do tipo.
- E o que você fez no passado que tem tanto medo que aconteça de novo? - sua cabeça voltou a ceder para o lado e seus olhos pingavam de curiosidade.
Esse é o tipo de segredo que eu nunca contei para ninguém. Nem mesmo para Jesus.
Esse é o tipo de segredo que deixei de confessar na frente de juiz, o tipo de segredo que meus inimigos sonham em ter nas mãos. É o tipo de coisa que pode-me fazer construir um império aqui dentro ou destruí-lo.
- Você sabe o que eu fiz.
Era uma mentira, mas não totalmente. Ninguém, nem mesmo Grayson, por mais que ele tenha tentado, sabe o verdadeiro motivo de eu estar aqui.
Tudo o que as pessoas sabem é como eu me mantive aqui, como fiz para sobreviver.
‐ Não. Eu sei o que você fez aqui para sobreviver, mas nunca me contou como chegou aqui.
De novo, eu tentava me lembrar que aquele na minha frente era meu melhor amigo, e que eu não preciso me esconder através da minha máscara. Não é preciso ficar na defensiva, não mais.
- Se lembra daquele segundo dia no telhado? Quando te contei sobre meus sonhos, minha vida e meu padrasto?
Isso foi a um tempo, e eu e Jonas não tivemos mais chances de conversar sobre isso, mas ele sabe. Eu o contei sobre minha vida, minha relação conturbada com minha mãe e sobre meu passado. Eu o contei sobre isso com a promessa de que nunca mais ele chegaria perto do telhado novamente, com a promessa secreta de que, mesmo com todas as dificuldades que ele tiver, aquilo, não será nunca uma solução.
- Teve um dia, eu estava voltando para casa - pude sentir minha garganta secando a medida que eu contava - Entrei em casa e vi tudo revirado. Os armários com as portas abertas ou quebradas, pedaços de copos e pratos esparramados pelo chão e sangue, havia muito sangue... - muitas imagens conturbadas passaram por minha mente, foi preciso mui esforço para continuar o que eu esperava tantos meses para compartilhar com alguém.
- Não demorou para eu achar minha mãe na bagunça que estava nossa casa. Encontrei ela desacordada, com uma enorme marca roxa no olho, e... havia muito sangue em volta dela, uma poça de sangue ao redor da cabeça dela. - eu disse sentindo o tremor interno tomar conta e mim.
Apenas pensar naquele momento já me causava uma série de arrepios e muita angústia, mas falar sobre o que aconteceu, me faz sentir que tudo piorou 10 vezes mais. É difícil falar, é difícil lembrar, e acima de tudo, é horrível contar sobre isso para alguém.
- Ela estava... - as palavras sumiram da boca de Jonas, assim como sua postura se desfez junto a minha narrativa.
- Morta? Não. - eu respondi engolindo o gosto amargo na minha boca. Fúria. - Eu ouvi passos pesados vindo atrás de mim. Eu sabia de quem eles eram. Eu sabia que a mesma pessoa que caminhava em minha direção aquela hora, era a pessoa responsável por tudo aquilo...
- Seu padrasto. - os olhos de Jonas mostravam tanto espanto quanto a cor pálida de sua pele.
- Sim - eu continuei - Eu era uma bomba de adrenalina e loucura naquele momento. Eu achava que minha mãe estava morta e que ele a havia matado. Eu agi por instinto. - eu contei, ainda podendo sentir o sangue nas minhas mãos - Quando percebi que os passos dele estavam perto de mais, meu primeiro instinto foi pegar a coisa mais pontiaguda que eu tinha por perto e me agarrei aquilo como proteção.
Os olhos do rapaz exalavam curiosidade, e ao mesmo tempo, preocupação. E eu... Não conseguia mais conter minhas palavras.
- Quando sua gorda e pesada mão tocou meu ombro, eu agarrei aquela coisa pontiaguda em minha mão, me virei e rápido assim - eu disse estralando os dedos - Enfiei aquilo em seu estômago. 14 vezes. Uma para cada vez que ele me tocou.
Jonas parecia querer vomitar com aquela história, não mais do que eu. Mas se ele estava mesmo prestes a vomitar, não demonstrou.
- Então, você o matou? - o tom escuro em sua voz camuflou suas intenções nessa pergunta.
- Isso seria uma problema para você? - eu o questionei de volta.
Nós convivíamos com muitas pessoas ruins aqui, mas havia uma diferencia entre conviver ao lado de um assassino e ser amigo de um, Jonas sabia disso, e eu também.
O garoto me deu seu olhar mais sádico, aquele que faz alguns detentos se molharem de medo, e me respondeu com um sorriso mortaz.
- Você sabe que não. O que aconteceu depois?
Os acontecimentos, depois de ver meu padrasto cair em sua própria possa de sangue na cozinha, são um pouco confusos. E requeriam um grande esforço mental para serem encaixados em uma ordem na minha cabeça. Mas por Jonas eu faria um esforço.
- Sei que ele caiu no chão em uma enorme possa de seu próprio sangue. Eu observei sua queda. - meu tom foi sombrio - Depois, eu me virei para encarar minha mãe. imagine minha surpresa ao vê-la sentada no chão, envolta do seu próprio sangue, me encarando com os olhos espantados.
A cena toda em si era aterrorizante, mas eu só conseguia lembrar do cheiro do sangue, quente, forte e predominante.
- Me lembro apenas dela me dizer uma coisa naquele momento. "Fuja. Fuja. Para o mais longe que puder". - aquelas palavras passaram por minha mentes inumeradas vezes ao longo dos meses. Eu estava muito longe de casa, mas não o suficiente da presença dele. - Depois disso só me lembro de fugir pela janela da cozinha, e logo mais, ser presa pela policia do estado vizinho, por tentativa de homicídio, 1 mês depois que tudo aconteceu.
- Tentativa de homicídio. - Jonas repetiu as palavras como se não conseguisse acreditar no som que elas emitiam. - Então ele continua vivo. - ele por fim deduziu - E no final, você tem medo de... - ele deixou que suas palavras morressem para que eu pudesse dizer meus motivos por eu mesma. E eu agradeci por isso, internamente.
- De sempre sentir o peso da presença dele. - respondi com todo o ar e sinceridade que haviam dentro de mim - De que talvez um dia, eu decida ir atrás dele e realmente tente matá-lo ou de ele vir atrás de mim. - suspirei - Eu tentei matá-lo. Eu realmente queria matá-lo. Desejava a morte dele mais do que a de qualquer outro que já matei. E eu odeio isso, odeio o poder que ele tem sobre mim.
Só depois de dize isso percebi como meus músculos relaxaram, como meus ombros soltaram o peso invisível que carregavam e só então, percebi as lágrimas que caiam pelo meu rosto.
Jonas se levantou, me puxou pelos braços até que eu estivesse de pé, e assim que o fez, me abraçou. Não um abraço normal, eu sabia disso. Ele queria mostrar que sustentava o peso que e sentia, que não importava o que aconteceu, ele me seguraria. Ele queria me passar conforto, e dessa vez eu cedi a isso.
Cedi ao seu abraço e ao seu conforto, uma vez na vida eu queria sentir isso, que alguém estava ao meu lado, que acreditava em mim, mesmo sabendo a verdade.
- Se serve de algo, - ele disse limpando minhas lágrimas depois do abraço - Eu não te acho uma pessoa pior por isso.
Toquei seus pulsos com as minhas mãos e os segurei com força, um lembrete para eu mesma que aquilo era real.
- As vezes, não me sinto uma pessoa pior por isso. Não quando lembro o que ele fez à mim.
◇◇◇
- Podemos conversar? - Jesus surgiu ao meu lado na janela.
Desta vez, a janela não era a de nosso quarto, sua vista não se comparava a beleza da nossa, mas serviria por agora, já que tinha deixado o quarto, precisava de uma vista nova para clarear minha cabeça.
- Sempre. - respondi quando ele se apoiou no batente do vidro da janela junto a mim.
- Sinto que tenho sido um péssimo amigo. - ele concluiu com o olhar baixo, encarando apenas o chão do lado de fora da paisagem de fora.
- Não acho que... - ele não me deixou terminar.
- Me deixe terminar - ele pediu e eu concenti - Eu sei que tenho opiniões um tanto quanto fortes quanto a Grayson, e acredite, cada dia elas estão mais forte - ele dizia rancoroso, mas seu tom mudou quando encarou meus olhos - Mas eu sei que vocês dois tinham algum elo esquisito de amor e ódio. Uma relação como a nossa, mas de uma forma distorcida. - não pude evitar de rir.
Admito que eu e Grayson tínhamos sim um certo elo, mas nada como eu e Jesus, não havia nada como esse elo.
Mas estou curiosa para saber o porque dessa conversa repentina sobre Grayson.
- Eu sei que você tem um fraco por pessoas quebradas - Jesus continuou - E sei alguns dos motivos que justificam porque você deixou Grayson entrar em nossa gangue. Mesmo que você não saiba.
Eu não podia negar que Jesus me conhecia melhor que ninguém. As vezes, até melhor que eu.
- Você tinha criado um laço com ele antes de tudo acontecer, antes dele sair do nosso grupo e se aliar com os Guilards. - ele então levantou a cabeça e me encarou - E acho que isso só aconteceu porque, sem motivo acabei de afastando um pouco de você, e eu não consigo parar de pensar que se eu não tivesse feito isso, talvez você nunca tivesse aceitado Grayson conosco e...
Eu não gostei para onde Jesus levava essa linha de pensamento.
- Jesus pare. - eu anunciei - Você não se afastou, você sempre esteve aqui para mim. Você acha que eu me senti sozinha? - questionei com graça - Eu pude te ver sorridente como nunca com Micaela, vi seu companheirismo com Jonas ser criado até vocês formarem essa união que vocês tem hoje - respondi com orgulho.
- Amo o fato de você ainda se permitir ter amizades e criar vínculos apesar de tudo. Isso me deixa feliz. - conclui - Não se culpe por Grayson, ok? Eu tive meus próprios motivos para aceitá-lo. Só eu posso ser culpada por tudo que aconteceu.
Era horrível. É horrível.
Odeio mentir para Jesus, odeio esconder a verdade sobre Grayson, mas não posso colocar nenhum dos dois em risco, Ainda não.
- Só me diga verdade. Eu sei que você tinha algo com Grayson. Sei que transaram aquela vez, ou fizeram algo perto disso. - meus olhos se abriram levemente a menção do que eu e Grayson fizemos aquele dia no quarto - Sei que o contou sobre seus sonhos, mesmo não sabendo exatamente quando, e sinceramente, fiquei com inveja.
Me senti mal a perceber que, na verdade, eu que estava me afastando de Jesus, e não o contrário.
- Mas ao mesmo tempo fiquei grato, porque foi uma das únicas vezes que a vi dormir tranquilamente. - ele pareceu alegre ao pontuar isso - E percebi que, de uma forma ou outra, ele viu suas cicatrizes. Todas essas respostas eu, Jonas, Micaela demoramos muito para conquistar de você, e ele não. Ele as teve como uma luva. - Jesus concluia, e cada vez me sentia pior, apesar de ele não estar jogando esses fatos na minha cara.
- Só quero saber como você está, porque sei como foi difícil para você no começo confiar em alguém para contar tudo isso. - era verdade. Jesus, Jonas e Mica de certa forma abriram as portas da minha mente quanto a confiar nas pessoas - Grayson conseguiu, muito rápido, tudo o que você demorou muito para conseguir contar a nós.
- Jesus...
- Eu a tenho te visto sustentar sua máscara, tenho a visto lutar, mas quero a verdade Amber. Não sou os outros detentos, você não finge as coisas para mim. - suas plavras me atingiam como pedras - Quero saber como você está em relação a tudo isso.
- Cansada. - respondi sabendo a ambiguidade em minhas palavras - Mas grata, por sempre ter você ao meu lado.
Abracei Jesus com a maior força que tinha, rezando para que no final tudo acabasse bem. E que, se eu lhe contasse a verdade, no fim, ele me entendesse e me perdoasse.
◇◇◇
Era a hora.
Ainda que hoje não fosse o dia que Grayson dissera que o ataque ocorreria, eu não confiava no senso de pontualidade de meia dúzia de adolescentes problemáticos.
Eu sabia que seria hoje. Eu sentia.
Não que Grayson estivessem mentindo para mim. Mas nem mesmo Ruivo, sendo mais burro que a maioria dos detentos, não confiaria todos os seus segredos e planos a um membro tão novo e instável na sua gangue.
- Eu queria dizer - comecei a dizer, atraindo os olhares da minha gangue - Queria dizer que, quando nós nos conhecemos eu não fazia ideia se isso ia dar certo - eu continuei mesmo encarando os olhares confusos em seus olhos - Que vocês se tornariam tão importantes para mim, e agora eu nem consigo imaginar passar um dia sem ver as caras feias de vocês.
Eles ainda me encaravam com confusão, mas seus rostos, mesmo não sabendo onde está conversa iria parar, mostravam que o sentimento era reciproco.
- E o conflito está chegando, e eu não queria trazer isso a vocês, mas vocês continuaram comigo mesmo assim, mesmo depois de tudo.
Minhas palavras são verdadeiras, e há muitas outras que ficaram encobertas no meu silêncio.
- Também não conseguimos viver sem sua cara feia. - repeliu Jesus com aquele sorriso radiante, exibindo suas covinhas.
De certa forma, a gozação de Jesus tirou o peso que eu senti sobre meus ombros quando acordei. De alguma forma, eu sentia com todo meu corpo que alguma coisa começaria hoje.
- É por isso que eu gostaria de contar meu último segredo a vocês. - respondi com seriedade. Mas Jonas me interrompeu antes que eu pudesse continuar...
- Da última vez que você nos contou um segredos seu, acabamos em uma guerra declarada.
Não era mentira, e mesmo assim tanto eu, como Jesus, como Micaela caímos na risada.
- Estou falando sério - falei sobrepondo suas risadas. - Tem sido uma longa jornada até aqui. Posso dizer com toda certeza, que não esperava estar viva até aqui, que qualquer um de nós chegasse vivo até aqui. Vocês sabiam as chances de isso acontecer. - complementei sabendo que era verdade. Ser um alvo, como eu sou, carregar o peso das atenções, tudo isso trazia consequências para quem andasse comigo. As costas dos meninos sabiam disso mais do que qualquer um.
- Quando acolhi vocês, eu não imaginava, não esperava o que essa aliança viria a se tornar. E digo isso hoje, porque sei o quanto vocês significam para mim e o quanto eu amo vocês. - eu podia sentir o peso das lágrimas surgindo em meus olhos. - Vocês sabem mais sobre mim do que qualquer outra pessoa na fase da terra. Eu definitivamente não esperava encontrar uma família aqui, pessoas que eu pudesse chamar de lar. Mas eu encontrei vocês. - sorri percebendo que cada palavra que eu dizia refletia na mesma intensidade nos seus corações - Vocês são minha família, não pelo sangue, mas por algo muito maior, confiança, empatia, luto, dor, principalmente pela dor. Cada um de vocês se conectou a mim por um motivo diferente, e esses diversos motivos nos mantiveram unidos até hoje, e eu espero, que nos mantenham juntos por muitos outros males.
Nesse momento encarei os olhos de Jesus. O meu primeiro.
O primeiro aliado, o primeiro amigo, o primeiro apoio, o primeiro membro dessa família. Enxerguei as lágrimas em seus olhos também, enxerguei todos os momentos, todas as dores, todas as lágrimas, mas enxerguei todas as risadas, brincadeiras, conversar que nos aproximaram cada vez mais... Eu o enxerguei, assim como ele me enxergou.
Então encarei os gêmeos. Duas peças de personalidades distintas e ao mesmo tempo tão idênticas. Jonas tão semelhante a mim. Semelhantes no sentimento, semelhantes no comportamento e semelhantes na dor. E Micaela, que de tantos Jeitos e formas secretas me lembra eu mesma. Mas Mica não é apenas um reflexo de mim, ela é mais, forte, corajosa e com uma ótima mira. Ela é a melhor de nós, em muitos dos sentidos.
- Só quero que saibam que nunca vou esquecer vocês. Vocês são a melhor coisa que aconteceu comigo.
Eu eu tomei uma pausa antes de dizer:
- Eu não sou religiosa, mas as vezes, eu acho que Deus, ou seja lá o que for, trouxe vocês à mim. - eu disse convicta - Porque sabia, sabia que eu precisava de alguém, sabia que eu precisava não estar sozinha. Não mais, não como antes. - minhas lágrimas já atrapalhavam minha visão e minha fala, mas eu me sentia mil vezes mais leve depois de dizer isso.
- Amo vocês. Com tudo o que eu tenho. - disse por fim.
- Por que isso parece uma despedida? - Mica, não tão distante, questionou com a voz também emaranhada.
- Porque talvez seja. - eu fui incisiva.
- Não será. - Jonas respondeu imponente, se aproximando de nós - Vamos vencer, e vamos sair daqui.
- Sim. Juntos. - Jesus se aproximou também.
Eu via a confiança em seus olhares, o entusiasmo vibrando pelos seus corpos.
Não sou religiosa, mas nos poucos segundos que tive, implorei silenciosamente, para qualquer um que pudesse escutar, que aqueles três não se ferissem. Porque eles significavam o mundo para mim.
- E qual é o segredo? - Mica questionou.
- Bom, se lembram.... - as sirenes não me deram chance de continuar. Todos sabiam que sirenes eram essas.
- Uma revolta. - Jesus sussurrou. Mas eu o contradisse.
- Não. A revolta.
Havia começado. E apenas uma gangue sairia viva no final dessa revolta.
Eu faria de tudo para que fosse a minha.
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