CAPÍTULO 19
Volte ao passado de uma pessoa
e encontre ali todos os seus traumas.
~ autoral
**JONAS**
Harper está paralisado. Estamos estacionados na frente do bar a pelo menos 15 minutos, e Harper ainda mantém suas mãos firmes ao volante.
- Harper - estralei meus dedos na frente de seu rosto.
Harper abriu mais os olhos como se meus dedos o tivessem tirado do transe. Ele deu um suspiro exasperado e retirou as mãos do volante.
- Certo. Isso vai ser rápido, vou pegá-lo e trazê-lo para o porta malas, vocês podem ficar ai.
Franzi minhas sobrancelhas e encarei Jesus, que apertava as pontas dos bancos com os dedos, enquanto mantinha seu olhar fixo no para-brisa. Eu enxergava com clareza a hesitação de Jesus em estar tão perto de um bar.
E entendia o porquê.
Desde a época do reformatório Jesus odiava e passava longe daqueles que possuiam bebidas. Apesar de sempre andar com um cigarro na mão desde aquele época.
Acredito que a bebida lembre mais de seu padrasto do que ele gostaria. E o cigarro pelo que percebi ao longo dos anos, foi a forma dele se afastar desse vicio. Afinal, é isso que os viciados fazem, fogem de um vicio com outro.
Jesus fugiu dos problemas de alcoolismo por conta de seu pai, que pelo que sei nunca quis saber da sua família, e de seu padrasto, Billi.
Ele fugiu disso. Mas Jesus não encara a verdade que eu sei. Ninguém passa por traumas como os que ele passou e sai bem dessa.
Depois de uma vida aguentando os namorados ruins de sua mãe, depois de Billi, e de vários anos guardando raiva e muito ressentimento, todo mundo precisa de uma escapatória. A de Jesus são os cigarros. É uma opção melhor do que cair no vicio de bebidas do padrasto.
Deixei que Jesus ficasse em seu transe e saltei do carro atrás de Harper, cruzando seu caminho enquanto ele dava a volta no carro.
- Tem certeza que é uma boa ideia entrar lá sozinho? - questionei Logan com neutralidade.
- Não preciso de ajuda, já fiz isso antes. - ele rangeu os dentes quando não o deixei passar por mim.
Não desacredito nas palavras de Logan, mas assim como eu, naquele dia no vestiário, Logan está cego de emoção, temo que essa não seja a primeira vez que ele fica assim, principalmente quando relacionado ao seu pai.
- Tenho motivos para supor que sim, mas também suponho que seu pai seja um cara grande e pesado, carregá-lo até o carro pode ser difícil sozinho. Nós o ajudaremos. - respondi com uma entoação que mostrava a Logan que não sairia dali sozinho. Eu não deixaria.
Ja tive minha cota, ao longos desses anos, de como pais podem ferrar com seus filhos. Estou cansado disso. Talvez essa seja a razão que trouxe eu aqui e a mesma razão pela qual não quero deixar Logan lidar com isso sozinho.
- Eu consigo ver a apatia de Jesus a esse lugar. Seja qual for o motivo, não quero que ele saia do carro. - o encarei sentindo um alarme perigoso soar na minha cabeça.
Imediatamente pensei que por um segundo Harper poderia ter ligado pontos que não enxerguei.
Pensei em inúmeros segredos que ele podia ter desvendado. O reformatório, meu pai, o padrasto de Jesus, Amber... Tantas coisas que tenho escondido.
- Você ficou pálido - as palavras de Harper aquietaram meus pensamentos bombardeiros, e me trouxeram átona.
Sim, Jesus estava visivelmente alterado. Isso não significava nada. Não quer dizer nada.
- Você está vendo coisas. - respondi em tom acusatório. Logan deu de ombros, com as mãos enfiadas nos bolsos.
- Eu estava no vestiário quando você ofereceu aquela garrafa de whisky a ele. - ele apontou para Jesus pelo vidro lateral do carro. - Não é preciso ser um gênio para perceber que ele tem apatia com álcool.
As sirenes tocaram novamente, mas mantive minha máscara.
- Jesus fica aonde ele quiser, mas eu não vim até aqui para ficar dentro de um carro.
Logan me encarou com o olhar fervendo. Provavelmente devia estar imaginando me acertar um soco no nariz, mas ele sabe que isso não é vantajoso, nem para ele nem a mim.
Ele suspirou com força. Logo ele acenou, e eu me afastei para que ele seguisse seu caminho até o bar, comigo logo atrás.
Vendo Harper entrando no estabelecimento de quinta. Percebo que o julguei de forma errada.
Quando o conheci pela primeira vez, ainda éramos meninos, tinhamos por volta de 12 anos. Nunca conversei com ele antes de voltar do reformatório e entrar em seu time de basquete a oito meses atrás, mas o via pelos corredores da Phillipez, e ouvia os boatos de seu nome.
Poucos meses depois que eu e minha irmã chegamos em Estes Park, a mãe de Harper morreu. Suicídio.
Foi um lamento de toda a cidade. Ela era bastante conhecida, na época. Eu a vi em alguns eventos no colégio. Ela parecia amável e sorridente, não que eu sentisse o suficiente, na época, para destinguir se seu sorriso eram falsos ou não.
Acredito que o pai de Harper tenha encontrado seu refúgio no álcool pouco depois da morte da mãe. O que deixa insinuações claras da negligência do filho.
Isso pode muito bem explicar o comportamento autoritário e autônomo de Harper, julgo que ele tenha se criado praticamente sozinho, dado o histórico do pai em viver em bares.
Deixando meus pensamentos de lado, encaro o bar de quinta que Harper acabou de entrar. Um bar levemente suspeito, numa rua totalmente aberta em uma das partes baixa da cidade.
Normalmente esses estabelecimentos são fachadas para clubes das mafias que rondam a cidade.
Não era seguro para alguém como eu, tendo passado tantos meses em Saint Monica, entrar em um lugar assim. Estávamos bem longe do reformatório, mas nossos antigos inimigos podiam ter olhos por todos os lados. Ou coisa pior.
O passado raramente fica onde deveria estar.
Nós dois passamos pelo bar principal, há várias mesas de jogatinas aqui em baixo. Passamos por elas até uma porta no fundo da cozinha. E ao passar por ela, chegamos no segundo bar. Onde a principal transição de mafiosos e pessoas apoderadas andavam livremente.
Logan parou logo na porta e me apontou onde seu pai estava jogado. Perto da parede debruçado sobre balcão do bar. Mesmo de longe pude ver que entre Logan e seu pai, não havia nenhuma semelhança notável.
Me perguntei se Logan agradecia por isso. Eu agradecia todos os dias por ser diferente de meu pai, física e psicológicamente.
Seguimos o caminho passando entre o som, as luzes e as pessoas que lotavam o meio do salão, até que chegamos ao pai desacordado de Harper.
O barman veio falar com Logan. Pude ouvir a parte que o barman exigiu que alguém pagasse a conta.
- 760 dólares. - pude ouvir o barman dizer.
Não encarei Logan, pelo contrario, encarei seu pai. Seu estado desacordado indica o auto abuso de álcool e considerando como escondido é esse lugar, imagino que as bebidas sejam caras ao extremo.
O pai dele deve ter sido alguém importante, porque, por mais que agora não passe de um bêbado, ainda assim, conseguiu entrar nesse lugarm
Voltando meu olhar a Logan, que esfregava as mãos nos cabelos.
É um valor bastante alto pra alguém que trabalha numa cafeteria. Mesmo assim o garoto tateou os bolsos a procura da carteira. E depois de alguns segundo soltou um resmungo alto e impaciente.
- Minha carteira ficou no carro. Vou voltar para pegá-la.
Encarei encarecidamente a exaustão no rosto dele, me peguei pensando quantas vezes esse cenário teria se repetido.
Peguei minha carteira procurando algumas notas e estendi o dinheiro a Logan.
Logan me encarou como se tivesse chutado seu orgulho numa lata de lixo.
- Não vou aceitar que pague a conta, Gonzalez.
- O dinheiro é do meu pai.
Não é novidade para ninguém de Ester Park, que depois da morte da minha mãe biológica, Paola Gonzalez, tanto eu, minha irmã quanto meu pai entramos em um relacionamento estritamente financeiro.
Meu pai bancava as minhas idiotices e da minha irmã, em troca poderia focar profundamente no trabalho sem precisar criar muitas desculpas por deixar seus filhos sozinhos.
Por alguns anos eu e minha irmã vivemos bem assim, mas então a falta de amor criou um sentimento reprimido de raiva no meu coração, meu pai começou a suprir do mesmo sentimento, o que tornou nossa familia numa verdadeira guerra. Além disso, alguns meses depois veio o reformatório.
Desde que eu e minha irmã voltamos não tivemos um conversa decente com meu pai que não envolvesse um cunho financeiro ou uma desacordo de opiniões que resultava em uma discussão.
Não posso reclamar, vindo de onde eu vim, onde sobrevivia de restos de comida e dividia a cama com ratos, essa vida é parece uma realidade fictícia. Meu pai nunca nos deixou faltar nada, nem por um momento sequer, exceto seu amor.
Logan pareceu pensar na possibilidade de negar, mas continuou calado com a cara fechada e logo começou a levantar seu pai di balcão e a jogar o braço dele por cima de seus ombros. Ele levantou seu pai e me encarou esperando que eu pagasse a conta.
Eu fui a frente do balcão e paguei o barman, lhe entreguando três notas de cem a mais a ele, que me encarou com uma sobrancelha levantada.
Tinha dito a verdade quanto o dinheiro ser de seu pai, mas eu também sabia que os donos de bar são uns dos principais meios de comunicação entre facções em Estes Park.
Nada nem ninguém passava nessa cidade sem frequentar os bares locais, e os donos dos bares, os barmans e seja mais quem for, reportavam tudo aos líderes das facções.
Eu, minha irmã, Jesus e até mesmo Amber sempte evitamos esse tipo de estabelecimento, pelo fato das pessoas que trabalham aqui normalmente serem olhos e ouvidos daqueles que queremos ficar longe.
Eu não queria cochichos com meu nome rondando os becos da cidade, imagino que Logan também não.
- Você nunca nos viu aqui, certo?
O barman com luto concordou e pegou o dinheiro. Logo alcancei Harper e o ajudei a carregar seu pai até o carro, onde Jesus continuava em transe da mesma forma.
- Os Falcones se foram Logan, hoje é dia de comemora-r.... - o pai dele bebadamente tentava falar - Pode até trazer aquele seu amigo.... que a mãe é viciada, para jantar conosco.
Não sei o que ele estava dizendo, me forcei a seguir com minha concentração até o carro. Claro que, isso não me impediu de guardar as informações que o pai bêbado de Logan dizia.
- Ignore-o, ele fala essas besteiras quando bebe demais. - Harper explicou, por mais que parecesse furioso pela situação do pai.
- E pare de figir co-comer sua comida parar dar a...a ele no final da noite - o pai dele voltou a falar - Não aguento mais a vadia da sua mãe choramingando para o adotarmos.
Logan travou no lugar, acredito que pela referencia a sua mãe. Sua mandíbula trincada ficou evidente e ele estremesseu.
- Vamos. - eu disse conduzindo seu pai, e portanto ele, até o carro.
Não conheço Harper, mas conheço a cara que ele está fazendo, mais alguns segundos ali e provavelmente ele bateria na cara do próprio pai.
Logan soltou seu pai por um momento e foi até o porta malas, o abrindo.
Mentalmente fiquei feliz por ele não colocar seu pai ao lado de Jesus.
- Sabe, o seu tio, aquele merdinha... - seu disse falava olhando para o teto do carro - Ele nunca entendeu, mas você entende, meu filho - ele disse passando a mão no rosto de Logan - Vai herdar tudo que é meu, não é?
Logan fechou a portar na cara dele no mesmo instante.
- Quero saber do que ele está falando? - perguntei sinceramente ao rapaz.
- Ele é um bêbado em tempo integral, acha mesmo que há algo que eu possa herdar dele, exceto uma pré-dispossição ao alcolismo?
Fiquei quieto porque ainda não tinha provas o suficiente para formular uma suspeita. Mas eu sempre achei que Harper escondia algo das pessoas.
Faz sentido se analisar sua postura, o modo como ele age com os outros alunos e funcionários do colégio. Suas visitas ao Carter, ele estar a beira da expulsão do time de basquete, apesar de ser o capitão. Sua recente obsessão pelo grupo dos meus amigos também não passou despercebida por mim. Seu pai. Sua mãe. Faltavam muitas peças nesse quebra cabeça.
Mas agora não era hora para isso. Mais tarde o informarei Amber sobre hoje. Ela também anda bastante interessada nesse quebra cabeça.
◇◇◇
**LOGAN**
Finalmente estava chegando em casa. Por sorte não demorou mais que 30 minutos no carro para retornar a minha antiga casa.
Por sorte também, meu pai tinha apagado no meu porta malas durante o caminho. O que me proporcionou uma volta silenciosa, apesar da presença dos rapazes.
Estacionei em frente a casa, agora bem mais detonada e com a aparência bem mais precária de quando eu morava aqui. O jardim com parte da grama alta e outra parte morta, e inúmeras garrafas de bebidas esvaziadas jogadas pelo chão.
Não esperava nada mais de um bêbado com uma casa grande.
Os rapazes desceram do carro, analisando indiscretamente a casa. Peguei meu pai no porta malas e o levei para a entrada de casa junto aos rapazes.
- Só vou colocá-lo no quarto, já volto. - disse ao dois. Indicando que não queria que eles entrassem na casa.
Primeiro motivo é que nem eu gosto de entrar nela, e o segundo é porque provavelmente a casa está uma bagunça e cheirando a bebida, o que creio eu, Jesus não goste.
Mas é claro que sem surpresas os dois não ficaram na porta como eu esperava. Jesus parou na porta, provavelmente o cheiro da bebida o parou imediatamente. Mas Jonas não, ele me seguiu até o andar de cima.
Passando por todas as garrafas vazias e a camada enorme de poeira no chão.
- A casa fede bebida, por isso falei que não demoraria, não queria que ele entrasse.
Jonas parou onde estava e ergueu a cabeça para mim. Ainda seguravamos meu pai. Mas eu pude ver algo nos olhos de Jonas, seja o que aquilo significasse.
- Jesus é grande. Pode se cuidar sozinho.
Foi tudo o que Jonas se deu o trabalho de responder.
De qualquer forma, não discordava com ele. Imaginando o pior cenário, acredito que eles tiveram que cuidar de si mesmo por muito tempo.
- Por aqui. - disse conduzindo com cuidado meu pai e Jonas até o quarto dele.
A cama estavam bagunçada, os lençóis estavam sujos e com pilhas de garrafas de cerveja e outras bebidas alcoólicas espalhadas pelo chão.
Jonas me ajudou a colocá-lo na cama. O velho nem se quer se moveu, apenas continuou dormindo tranquilamente.
- Não é melhor colocá-lo no chuveiro?
Seria melhor, mas não adiantaria de nada.
- Ele voltará a beber assim que acordar. Parei de gastar tempo dando banhos nele há anos atrás.
Jonas apenas assentiu e me seguiu até a porta do quarto para o corredor. Eu segui até metade do corredor antes de perceber que Jonas não estava atrás de mim. Ele está parado na porta do meu quarto. Do meu antigo quarto.
- Seu quarto, eu imagino. - ele sugeriu, adentrando dois passos no cômodo. Fui até o seu alcance, parando no batente da porta, como sempre.
- Não mais - disse do corredor.
Jonas avançou mais no meu antigo quarto, analisando cada detalhe, como se quisesse se lembrar de cada pequena coisa que possa lhe dar dicas sobre mim.
- Parece que você não vem aqui à anos. - ele comentou quando passou seu dedo pela pratilheira levantando uma quantidade de poeira.
Não gostava de Jonas aqui, fuxicando minha vida dessa forma. Vida essa que eu, com muito esforço, tenho tentado esconder de todos.
- Se quer perguntar algo, pergunte logo, Jonas. - retruquei sentindo meus punhos se fecharem.
- Se não consegue entender minhas suposições, o problema não é meu. - ele retrucou de volta, voltando-se para mim.
Eu estava a dois segundo de esmurrar a cara de Jonas. Cheguei a mover um dos meus pés em direção ao quarto, mas parei quando percebi o que estava prestes a acontecer. Não faria isso agora. Não entraria nesse quarto de jeito nenhum.
Jonas deve ter percebido, tanto minha raiva quanto minha hesitação.
- Ah então foi aqui. - ele afirmou com presunção - Não foi? - Jonas perguntou, criando uma tensão nas minhas costas e uma aceleração no meu coração. - Foi aqui que sua mãe se matou.
Eu tentei controlar meu peito para que não ficasse claro quanto a pergunta de Jonas me afetou.
É por isso que não trago pessoas para cá, é por isso que me mudei. Não quero lembrar de nada disso, já basta ser sempre lembrado pelo meu pai.
- Por que acha isso? - questionei me encostando no batente, escondendo minhas mãos nos bolsos, para manter minha máscara, não que adiantasse de alguma coisa.
- O quarto não é tocado a anos, e você não passou pela porta. O carpete onde você pisa está manchado, mostra que você ou alguém passa muito tempo sapateando no batente da porta, mas nunca realmente entra aqui dentro. - odiava o fato de Jonas ser tão observador assim - Você não entra aqui desde aquele dia, não é? - Jonas me encarava com aquele típico olhar de satisfação por ter me encurralado.
Se eu respondesse que sim, ele saberia a verdade, se eu dissesse que não, ele chutaria outras hipóteses que poderiam ser mais comprometedoras.
- Sim. - respondi a contra gosto.
- Uh - ele respondeu também colocando as mãos no bolso, projetando seu peito - Eu poderia dizer que sinto muito por sua perda, mas eu não conhecia ela. Então você saberia que é uma mentira.
- Não sabia que mentirosos tinha um código especial de mentira. - respondi ironicamente.
- Eles não tem, eu tenho. - Jonas respondeu seriamente.
Às vezes, eu gostava do Jonas, mas às vezes eu o odiava na mesma frequência.
- Você mente tanto, que me espanta que ainda saiba falar a verdade. - não era de tudo verdade.
Não achava que Jonas mentisse quando perguntava certas coisas. Mas, se eu estou errado, se ele realmente mente, essa seria a hora de seu protesto.
- Há uma diferença entre omitir e mentir.
Isso foi tudo que dissemos antes de entrar em silêncio.
Não sentia falta da minha mãe. Por mais errado que isso seja. A relação entre minha mãe e meu pai era complicada, logo essa complicação passou para o nosso relacionamento também.
Era estranho sentir. Sinto falta de chegar da escola e vê-la na cozinha, sinto falta dela me ajudando nas lições da escola, meu peito doi em ver os lugares que ela já esteve. Mas não sinto falto dos choros, dos gritos, do cigarros e das queimaduras que eles deixavam, não sinto falta dos xingamentos, não sinto falta de uma mãe, apenas sinto falta dela.
- Você entrou? - questionei olham o carpete no chão - No cômodo onde sua mãe morreu?
- Nunca conheci minha mãe. - ele me respondeu na mesma hora.
- Estou falando da sua mãe adotiva. - retruquei, e Jonas permaneceu em silêncio - É ruim quando você é o analisado.
Jonas me encarou como se quisesse dizer algo a mais. Mas permaneceu quieto. Ao invés disso, ele caminhou até mim.
- Então, tem problemas não resolvidos com a mãe, claramente problemas com o alcoolismo do pai - ele fez uma pausa - Parece que é mais parecido com nós do que pensávamos.
Um sorriso surgiu no canto dos seus lábios.
Não entendi o que isso queria dizer.
Ele não me deu um segundo para pensar, apenas passou por mim e desceu para o andar de baixo sabendo que eu o seguiria.
No caminho até a porta de saída, parei na cozinha e peguei duas cervejas, o que parecia irônico dado o fato de tudo isso ter acontecido devido ao meu pai alcoólatra.
E o fato de eu odiar cerveja.
Ofereci uma a Jonas. A conversa me desgastou mais do que eu queria.
Jonas encarou a cerveja em minha mão, como se fosse o próprio veneno. Então percebi que minha própria hesitação era a mesma que a dele.
Ele tomou a cerveja de minha mão e nós dois as abrimos e tomamos um longo gole em sintonia, em seguida fomos para fora, para encontrar Jesus.
Jesus se apoiava na grade da varanda de entrada. Com um cigarro entre os dedos e a cabeça encarando os pés. Me perguntei se ele pensava sobre a bebida, e sobre o que ela trouxe átona para ele hoje.
Ele encarou a cerveja na minha mão e na de Jonas, e então olhou para Jonas com um questionamento que não compreendi.
- Eu ofereceria algo pra você beber, mas tudo que tenho aqui é cerveja. - redigi a Jesus - Sei que você não aceitaria.
Tomei outro gole enquanto observava o olhar de espanto surgir no rosto de Jesus. Ele olhou para Jonas que também bebeu um pequeno gole da bebida.
- Você contou a ele? - havia um tom machucado em sua voz. Me perguntei se esse era um segredo muito importante para Jesus.
- Não. - foi tudo que Jonas respondeu antes de tomar outro gole.
Jesus se virou para mim então, parecendo tão perplexo e perdido quanto um peixe fora do rio.
- Não me encare assim. Não é como se eu fosse contar a toda escola que o seu ponto fraco é uma simples garrafa de cerveja.
Falei a verdade. Não me meto nos rachas entre os estudantes da Phillipez, amenos que tenha meus próprios interesses no racha. No momento, sinto interesse nos segredos desse grupo, mas não tenho interesse em compartilhá-los com os estudantes da Phillipez.
- A menos que você queira me provar que eu estou errado, e a beba. - respondi estendendo a cerveja a ele, que se afastou com repúdio, como se estivesse lhe entregando um bicho morto.
- Você tem medo, não é? Da bebida, digo. - comentei, entrando por um caminho onde sabia tinha apenas duas opções como resultados: verdade e caos, ou briga e caos.
- Para evitá-la assim, deve ter convivido com alguém que bebia sempre, para odiá-la tanto assim. Papai bebia demais ou era a mamãe? - provoquei fazendo um biquinho.
Jesus fungou de raiva, cerando seus pulsos, mas como esperado Jonas, como mediador, entrou entre nós.
- Cuidado Harper. Quer descontar sua raiva, tudo bem, desconte em mim. Fui eu que falei dos seus pais, não Jesus.
Jonas sempre cortês, sempre um mártir. Não hoje. Eu estou disposto a descobrir o segredos desses dois.
- Posso falar sobre seus pais também, para não se sentir sozinho. - ataquei.
- Cuidado Harper. - Jesus pôs-se a falar - Não vai querer saber o que acontece com aqueles tentam deduzir coisas sobre nós.
Oh, eu estava louco para saber.
- Não me teste, você sabe que eu adoraria descobrir. - provoquei dando um sorriso feroz - Você sente? Aquele formigamento inquietante no estômago quando ouve uma cerveja ser abetar? Também procura por uma quando sente cheiro de álcool?
- Engraçado você perguntar isso a mim. - Jesus declarou, claramente irritado - Quando o único com um pai bêbado que vejo aqui é você. Mas pelo visto, você recorre a bebida, diferente de mim. É um jeito de se sentir perto do seu pai? Quantos anos você tinha quando seu pai começou a beber?
Um arrepio passou pela minha espinha. Meu pai começou a beber após da morte da minha mãe. As coisas já não andavam bem antes dela morrer, mas depois.... As coisas ficaram realmente ruim. E nisso Jesus não estava errado. A bebida para meu pai é um alivio para as dores da perda da minha mãe, e para mim, um alívios das dores que meu pai me traz.
- Eu tinha 12. - Responde logo em seguida.
Esperei uma reação espantada dele ou de Jonas, porque normalmente as pessoas não reagem bem quando descobrem isso. Mas eles permaneceram normais.
Jesus encarou Jonas, em seguida, a mim.
- Desde os 8.
Levantei minhas sobrancelhas, isso é um pouco mais novo do que eu esperava.
- Pai?
- Padrasto.
Contrai os lábios resignado. A bebida até que veio a calhar agora.
- Aos pais que fodem com os filhos, só Deus sabe que pessoas normais nós seriamos sem eles. - Jonas brindou tomando um longo gole de sua garrafa. Jesus o acompanhou levando o cigarro a boca e dando uma longa tragada. Eu os segui e bebi minha cerveja.
- Vamos embora - Jonas disse após um longo gole, puxando Jesus com ele. Eu os vi caminhando em direção ao meu carro - É melhor trazer essa sua bunda esnobe com a gente Logan.
- Para onde vamos?
- Um lugar seguro
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