CAPÍTULO 16.5
**AMBER**
Procurar por esse tal de Ceifeiro só tem me deixado mais frustrada e irritada.
Desde que Grayson ouviu aquela conversa dos Guilards, eu não tenho medido esforços para encontrá-lo.
Eu perdi a conta de quantos favores eu cobrei para descobrir o mínimo de informações sobre esse cara.
Que desperdício dos meus preciosos favores.
Tudo o que eu consegui até agora foi que esse tal de Ceifeiro é um louco. Assumiu o lugar do pai a pouco menos de um ano, mas a sua ficha de delitos inclui roubo, porte de armas, dilacerações, extorsões, uma ou outra tortura, esse tipo de coisa...
Apesar de não confiar profundamente nas palavras dos detentos aqui, eu consegui muitas informações parecidas de caras "de confiança".
Mas agora, eu tinha que mudar meu foco para algo que seja realmente útil para mim. Esse Ceifeiro foi uma rua sem saída. E de nada adianta continuar procurando por ele, sendo que, de qualquer forma, eu estou aqui dentro e ele está em algum lugar lá fora.
E mesmo que eu o encontre, não tenho nada que possa oferecer para que ele me ajude. Nada.
Um belo desperdício de tempo e favores foi esse.
Pelo menos a gangue não está aqui agora para ver meu fracasso.
Micaela e Jonas conseguiram algum tipo de licença especial para sair do reformatório para ver o pai. Pelo que eu entendi, ele passou por uma cirurgia de emergência. Já Jesus saiu de St. Monica para uma revisão do seu caso, e volta somente amanhã.
- Lewis, você tem visita.
A voz do guarda Thompson soou perto de mim.
Encarei o mesmo com estranhamento. Visita?
Eu nunca tenho visitas, a não ser que seja do imprestável do meu advogado que foi designado pelo governo, mas já fazia muito tempo que eu não o via por aqui. Ainda mais agora, quase perto da hora do toque de recolher.
- Eu não tenho visitas, Thompson. Você sabe disso.
O guarda esboçou um levantar dos ombros e disse:
- Isso não é problema meu. Vamos!
Ele já agarrou meu braço e começou a me levar para a área de visitação, sem mais nem menos.
Ainda que Thompson seja um dos melhores guardas aqui - e quando digo isso me refiro ao seu caráter e a sua pouca humanidade existente com os detentos - ele ainda tende a ser meio violento.
Eu não gostava da área de visitação, nela você só encontrava duas coisas, brigas e corações partidos.
Nunca se sabe o que pode escutar lá. Mães chorando pelos filhos inconsequentes, brigas por dívidas não pagas, discursos de pais raivosos sobre como seus filhos delinquentes estragaram vida deles... Um caos.
- Você, pelo menos, pode me dizer quem estou indo ver? - questionei ao guarda que ainda mantinha a mão fechada no meu braço com precisão.
O guarda, com seus 1,80 de altura, já um pouco acima do peso e corcunda fugou, fazendo suas costas subirem e descerem cansativas. Ele arriscou me encarar pelos cantos dos olhos - nunca mais que isso - e fungou novamente.
Minha fama pode ser forte entre os detentos, mas era diferente com os guardas. Alguns tinham medo de mim, isso era verdade. Mas tinha guardas como Thompson. Eles não tinham totalmente medo de mim, mas também não arriscavam me afrontar muito.
- Kendrick Heisting. Seu tio.
Meus pés congelaram no chão.
Aquele nome.
Minha bile se agitou no estomago. Minhas mãos suaram e minhas costas ficaram eretas. O ar deixou meus pulmões na mesma velocidade que entrou.
Meu tio. Eu vou ver meu tio.
Um tio que eu não vejo desde os 8 anos. O único parente vivo que eu sei que tenho. Meu único e último parente homem. Minhas mãos soaram mais e minha garganta coçou.
Eu não estou pronta para isso. Não estou pronta para sentar na frente de um homem da minha família de novo e permitir que ele me toque. Não de novo.
Eu tinha ficado tão aliviada, por não ter mais notícias dele, pelo menos não desde aquele desentendimento com Grayson no refeitório. E agora com tantas coisas acontecendo, eu nem me lembrará dele.
Mas agora eu tinha que enfrentar o fato de que ele estaria na minha frente em breve, e que eu teria que lidar com isso, mas de uma forma corajosa e imponente, não como uma menina amedrontada e fraca.
- Vocês tem 20 minutos.
Quando vi o guarda já estava me empurrando pelo portão da sala de visita. Não passava de um espaço pouco maior que o refeitório, repleto de mesas circulares de metais, daquele tipo que as cadeiras são apenas banquinhos de cimentos colados na estrutura das mesas.
Nem tive tempo de me recuperar do empurrando do guarda quando enormes e quentinhas mãos passaram em volta de mim e me puxaram para um peitoral duro e grande.
- Amber! Graças a Deus! - uma voz grossa disse nos meus ouvidos.
Aquelas mãos em mim, a voz perto dos meus ouvidos... O pânico me invadiu e tremeu as minhas estruturas. Eu sentia sua pele na minha, apesar das roupas, apesar de tudo. O meu pânico me vazia sentir tudo. Eu tinha que tirar aquelas mãos de mim.
Eu empurrei aquele homem para longe de mim, com o máximo de força que eu pude. As mãos se desprenderam de mim, e vi ele dando dois passos para trás. Meus olhos encararam os deles - olhos das mesmas cores claras que os meus - e eu vi sua confusão.
- Meu deus como você cresceu, eu nem acredito que finalmente achei você!
~ Achei você - aquela voz nojenta soou e seu rosto apareceu embaixo da cama ~ Achou mesmo que podia se esconder de mim?
Eu vi a felicidade que seu rosto esbanjou. Eu dei um passo para trás enojada pelas lembranças que me atingiram e o encarei bem.
Ele não parecia muito velho, eu diria que tem seus vinte e poucos anos. Seus cabelos era castanho escuros como os meus, e nossos olhos eram iguais - iguais os da minha mãe também - ele vestia um terno azul marinho caro, e sua postura é ereta. O estranho na minha frente parecia um pouco com o homem que eu vi a sete anos atrás, mas muitas coisas mudaram em sete anos.
- O que você quer? - eu o questionei cruzando os braços, preferi ficar de pé. De pé era mais fácil correr.
- Como é? - ele questionou torcendo a cara. Por um momento, aquela expressão pareceu muito familiar para mim. Foi ai que percebi que já tinha visto aquela mesma expressão antes, no rosto da minha mãe. E perceber isso fez uma parte de mim, que eu pensei que não existia mais, doer.
- O que você quer comigo? - eu questionei séria, ignorando o que eu estava sentindo, mas tudo o que ele fez foi parecer desentendido, então indaguei explicando:
- Eu estou presa nesse lugar a quase um ano, e pelo que me lembro, a última vez em que nos vimos foi a sete anos atrás. - endureci minha postura - Então eu vou perguntar de novo, o que você quer aqui, comigo?
- Eu... Deus. - ele começa a dizer mais se interrompe tampando a boca com a mão e se apoiando na mesa ao nosso lado - Me desculpe é que... Você fala tão parecido com ela, são praticamente idênticas.
Meu peito doeu mais quando ele disse isso. Quando me comparou com ela. Com a minha mãe.
- Você está com ela? - meus braços se apertaram com mais força.
Será que eu estava pronta pra resposta dele? Essa é a questão.
- Não - ele soa decepcionado e mesmo que por um segundo, eu me senti aliviada.
- Não mais. - ele suspira olhando para o teto tentando reverter a umidade dos olhos - Sabe, quando vocês partiram a sete anos atrás, eu procurei por vocês, procurei muito, mas ninguém sabe como limpar uma trilha de rastros como sua mãe. - ele deu um risinho melancólico, como se lembrasse das várias tiradas da minha mãe.
E eu fiquei com raiva por isso. Porque talvez ele a tenha conhecido melhor que eu, uma parte não fodida dela. Não a parte que eu convivi a vida toda.
Pro inferno ele e as suas malditas lembranças.
- Ela, pelo menos, me mandava cartas falando de vocês. Escrevia como estavam, se tinham dinheiro - ele fungou encarando chão - Todas sem remetentes, o que tornava impossível rastreá-las. - ele parou de falar por um instante - Mas a alguns anos as cartas pararam de chegar, e eu pensei... pensei que o pior tivesse acontecido.
Eu não sabia das cartas. Pensei que a muito tempo minha mãe tinha deixado essa parte da sua vida para trás, mas pelo visto dela eu só tinha mentiras.
Mas apesar de estar com raiva dela, eu também sentia um pouco de pena do meu tio. Porque, pelo visto, ele não faz ideia de quem a irmã é.
- Mas a 6 meses, eu recebi uma carta dela, ela contava que você estava aqui - arregalei os olhos surpresa.
Minha mãe se deu o trabalho de escrever uma carta sobre mim? Bom pelo menos isso mostrava que ainda continuava viva. Mas não me tirava o rancor que sentia por ela.
A quase um ano eu estou aqui e nem uma vez minha mãe apareceu aqui. Ela não tinha tempo para vir me ver, mas teve tempo suficiente para escrever uma carta e dizer onde eu estou para meu tio? O que isso queria dizer? Que ela tinha desistido de mim?
Eu finquei minhas unhas nas palmas das mãos.
- Bem, não exatamente aqui, mas sim em um reformatório. - meu tio continuou falando - Eu demorei muito para achar você e demorei ainda mais para achar seu processo.
- Meu processo? Por que você procurou por isso? Meu advogado já viu o caso todo.
Pelo que sabia meu caso tinha sido arquivado a muito tempo e eu sabia disso.
- Bom eu sou seu advogado agora.
Fiquei meio chocada, não vou negar. Principalmente por ele ter dito isso com muita convicção. Até se levantou da mesa para dizer isso.
- Eu sei que pareço meio novo para ser um advogado, mas acredite, eu sou bom. E olhe, eu revi seu caso, e eu tenho boas notícias.
Ah não. Boas notícias só significam uma coisa aqui. Esperança. E eu não posso ter esperanças nesse lugar.
- Tenho quase certeza de que consigo te tirar daqui antes de você cumprir toda sua pena.
Soltei o ar em decepção. E aí está ela. Essa filha da puta da esperança.
Eu vi seus olhos, vi as gominhas embaixo de seus olhos por causa do seu sorriso. Ele estava feliz com a notícia, mas como poderia dizer para ele que eu não estava assim. Afinal, tudo o que eu menos quero é ir para a casa de um parente que eu nem conheço.
Meu tio da um passo para frente, e estende sua mão até a minha e a segurou.
O choque. A dor. A memória muscular. As lembranças. Tudo veio átona de uma vez só. Eu afastei minha mão da dele com rispidez.
- Isso é demais para mim. - eu me afastei dele.
O suor começou a descer a minha pele, e eu senti uma enorme vontade de me livrar daquele cabelo no meu pescoço. Meu Deus, eu estou hiperventilando de tanto pânico.
- Amber... - ele deu um passo pra frente, mas eu ergui meus braços em um sinal de parada pra ele.
- Não. - eu disse exausta desse papo - Eu não te vejo a 7 anos, o que você acha que eu sou, uma burra? Você não pode chegar aqui assim, me dando esperanças, você não vai fazer isso comigo! - eu gritei apontando o dedo para ele - Eu não posso ter esperanças nesse lugar. Você não me vê a 7 anos e a primeira vez que me encontra é em um reformatório. Você viu meu processo, viu do que eu sou acusada!
Como ele podia agir assim? Como se o mundo fosse cor de rosa e cheio de glitter e as coisas dessem certo?
Ele não pode fazer isso comigo, não quando já se passaram 1 ano que eu estou nesse inferno, não quando faltam apenas alguns meses pra tudo isso acabar.
Ele acha que é a porra de um anjo?
Acha que pode vir aqui, bancar o super-herói para mim, me tirando desse lugar horrível e acha que eu vou cair aos seus pés de gratidão?
Isso não vai acontecer!
Eu sou Amber Lewis, e eu não vou deixá-lo me dar esperanças só para mais tarde destrui-las.
Apesar de pensar tudo isso, apesar de achar que eu estou certa nos meus pensamentos... a culpa no rosto dele quebrou a ideia que eu tinha sobre ele. Seus olhos marejados me mostravam que ele poderia ser o contrário do monstro manipulador que eu estava esperado encontrar.
Acho que tenho um trauma com os homens da minha família.
- Amber eu vi suas acusações, vi o processo também. Mas vi seu depoimento, vi as provas, vi sua antiga casa, e.... Investiguei seu padrasto. - ele disse pausadamente, como se esperasse ver minha reação.
Ele sabe. Ele disse que investigou as coisas, foi na mina antiga casa, e investigou meu padrasto, e por ver seu olhar, eu percebi. Ele sabe. Se por algum milagre ele não descobriu ainda, pelo menos uma noção ele deve ter.
- Não me importo se fez ou não aquilo que sua ficha diz, não me importo mesmo. - ele comentou com uma voz sutil, e manteve nossa distância - Porque se tentou fazer aquilo mesmo, se você fez aquilo... Talvez realmente aquele homem tenha merecido. - seus olhos suavizaram - A única coisa que me importa é tirar você daqui.
- Por quê? - eu ainda tentava manter minha armadura perante a todos aqueles pensamentos confusos que eu tinha.
- Porque é por minha culpa que tudo isso aconteceu. - apesar de já esperar uma resposta absurda, deixei-me vacilar - A sete anos eu entrei com um pedido para ter sua guarda legal. - eu fiquei surpresa, porque eu nunca fiquei sabendo disso - Mas sua mãe fugiu com você antes. Talvez se eu tivesse impedido, se tivesse achado você antes, isso não teria acontecido.
Ele estava arrasado por me ver lá, por não ter me achado antes e por saber que não conseguiu impedir nada daquilo, eu conseguia ver isso. Mas eu não o conheço. Não sei quem ele é de verdade. Eu entrei aqui achando que veria uma cópia do meu padrasto, mas ele não parece com meu padrasto. Todas as atitudes que eu esperava que ele tomasse, ele as contornou.
Eu não sei quem ele é, mas no fundo sinto que talvez ele seja bom. Ele tentou ter minha guarda, passou seis meses me procurando por reformatório E ver o seu olhar de culpa está me corroendo. E isso é minha culpa.
- Seu tempo acabou Lewis. - Thompson apareceu no portão.
Eu tinha que ir, mas tinha tantas outras coisas que eu ainda queria falar.
- E-eu tenho tantas dúvidas, mas... - respirei fundo, sabendo exatamente o que eu tinha que fazer e me arrependendo disso.
- Olha, eu agradeço por ter vindo aqui, por ter visto meu caso, e por me esclarecer algumas coisas, mas eu realmente tenho coisas mais importantes para me preocupar aqui dentro do que meu processo. - eu disse com frieza - Foi bom ver você, tio - disse as palavras com pesar - Mas é melhor não voltar mais aqui. Esse não é um bom lugar para você. Então por favor, fique longe, e leve essas esperanças com você quando for embora.
Eu comecei a caminhar na direção do guarda, já impaciente no portão, mas meu tio passou a minha frente - percebendo que eu gosto de distância, assim ele deixou entre nós um espaço -
- Amber não fale assim, eu estudei o caso. Eu sei que consigo tirá-la daqui. Esse lugar também não é bom para você.
Respira fundo.
Vou me arrepender disso para o resto da minha vida, mas isso precisa ser feito, porque eu não vou conseguir. Não vou conseguir ir com ele.
- Não perca seu tempo com causas perdidas como eu, tio. As acusações são verdadeiras. - eu disse friamente - Eu tentei matar meu padrasto, e não me arrependo disso.
Essa foi a mentira mais dolorosa que eu já contei em toda a minha vida. E minha atuação mais realista
- Eu não acredito em você. - ele disse sério, mas eu vi as dúvidas em seu olhar. E eu usei isso ao meu favor.
-Isso já é problema seu, não meu. Vá embora, Kendrick. Vá ajudar pessoas que realmente precisam de ajuda.
Eu disse e corri em direção ao guarda o mais rápido possível.
◇◇◇
Eu soluçava no corredor, correndo o mais rápido possível para chegar ao quarto.
Meu mundo podia estar um caos agora, mas os outros detentos não podia saber disso.
Eu passei pela porta como um vulto. A fechei de imediato sentindo meus braços tremerem compulsoriamente.
Eu me virei achando estar finalmente a sós no meu quarto, mas me enganei percebendo que Grayson estava a minha frente. Vendo toda a minha calamidade.
O seu sorriso - aquele arrogante, que sempre o deixava com cara de cretino - foi se desfazendo do seu rosto quando os segundos se passaram em silêncio após minha entrada. Quando ele viu minhas lágrimas.
Lágrimas essas, que só tive coragem de soltar quando estava longe o bastante do meu tio. Lágrimas essas, que mostravam que eu simplesmente enlouqueci e deixei escapar das minhas mãos a chance de ir embora desse lugar mais cedo. Lágrimas essas, que mostravam a vergonha das palavras mentirosas que contei a Kendrick.
Eu estava desistindo da minha mente agora. Simplesmente desistindo. Essa era a única forma de não enlouquecer realmente. Então eu só tentei apagar. Desfiz a estabilidade de meu corpo e esperei que a escuridão me buscasse ou o que eu atingisse o chão e batesse a cabeça. Mas isso não aconteceu.
Não quando as mãos quentes de Grayson me abraçaram. Não quando seus braços me rodearam e me estabilizaram no lugar.
Não repeli ao toque das suas mãos.
- Eu estou aqui, amor, estou aqui. - ele disse ao pé do meu ouvido, mas não por um charme sexual como das outras vezes. Não.
A forma que Grayson me segurava que o deixou nessa posição. Encaixando minha cabeça na curva de seu pescoço, lugar para onde minhas lágrimas escorriam. Suas mãos tocavam com força minha cintura, de leve me mantendo em pé.
Eu chorei nele. Não aguentei. Nem mesmo tentei o afastá-lo e fingir algo. Não estava a fim disso. Eu precisava chorar hoje. Precisava sentir aquilo. Aquele turbilhão de sentimentos que vieram átona em mim com a visita do meu tio.
Chorei na curva de seu pescoço por longos minutos, até que minhas lágrimas secarem e os soluços fortes nas minhas costas não passarem de tremedeiras pequenas. Mas Grayson continuou lá, me manteve entre seus braços e me abraçou com firmeza durante a minha crise.
Grayson me conduziu até a minha cama quando eu parecia mais calma. Ele me deitou com cuidado nela. Ajeitou o travesseiro e puxou a coberta dos meus pés até meus ombros.
Ele se sentou ao lado da minha cama, cruzando as pernas deixando seu rosto próximo da beirada da cama.
Ele segurou minha mão.
Ele tocou com suavidade na minha mão - a que estava do lado de fora da coberta - e entrelaçou nossos dedos com força. Seus olhos esboçavam preocupação. Não sei se já tinha visto aquela preocupação em seus olhos antes.
Não que minha relação com Grayson antes permitisse que nós nos olhássemos dessa forma. Normalmente nossos olhares só cotiam ódio e rancor. E agora, Grayson é o único aqui. E eu preciso, não, eu necessito tirar esse peso de mim.
- Eu vi meu tio. - eu sussurrei com a voz emaranhada.
- Eu sei, eu soube.
Por algum motivo, eu já esperava essa resposta dele, mesmo que não deixei transparecer. Depois que passamos alguns minutos em silêncio, apenas nos encarando, o polegar de Grayson fez um pequeno carinho em minha mão.
- Durma um pouco, vai se sentir melhor quando acordar de manhã.
Talvez ele tivesse razão, talvez amanhã fosse melhor. Jesus estaria aqui, Jonas e Micaela também. Mas eu sabia que dormir não me ajudaria com isso.
- Eu não gosto das noites, Gray. Você sabe disso. Tenho pesadelos e ... Você sabe...
Eu fiquei esperando por uma resposta espertinha dele, como as que costumamos fazer. Mas ele me deu um olhar de compreensão que mesmo sem ele saber me quebrou mais.
Porque tudo o que eu queria dele agora, era que ele voltasse a agir como um babaca que quase sempre era. Queria que ele me distraísse, não que sentisse pena de mim.
- Não se preocupe - ele esboçou um sorriso sereno, nunca tinha visto esse sorriso dele - Eu não vou soltar a sua mão, nem mesmo depois de você adormecer. Seus pesadelos vão ter que passar por mim primeiro.
Tive mais vontade de chorar. Quis fazê-lo porque eu sei que tudo o que ele dizia era verdade. Eu sabia. É por isso que quis chorar.
Porque em algum momento dessa maluquice que virou a minha vida, o meu ex-inimigo me confortar no meu momento vulnerável, virou algo normal e agradável.
- Acho que passamos muito tempo nos preocupando em manter nossas máscaras, acho que está na hora de baixarmos as armas. - ele disse encarando meus olhos, provavelmente vermelhos - Durma, não vou sair do seu lado.
Apesar disso, fiquei feliz ao perceber que Grayson estava sendo gentil comigo, sem medo de ser gentil comigo.
A máscara dele estava caindo.
Quando ele ia se ajeitar no chão, para ficar mais confortável, eu segurei mais forte a sua mão.
- Será que você - eu funguei - Poderia dormir comigo?
Eu não sei por que eu disse isso, mas era o que eu pediria a Jesus se ele estivesse aqui. Na verdade, eu nem precisaria pedir isso, ele provavelmente faria isso por conta própria.
O que importa é que eu estou mal-acostumada e agora eu queria sentir... Isso. Mesmo que seja com Grayson.
Grayson por outro lado me olhou confuso. Ele não sabe que eu e o Jesus fazemos isso. Eu vi que ele hesitou, e eu me arrependi por pensar que ele faria isso por mim. Mas quando eu iria dizer para ele esquecer meu pedido ele já estava se deitando na cama ao meu lado.
Ele se aproximou de mim, passando seu braço pela minha cabeça. Eu aproveitei a situação que estávamos para deitar em seu peito.
No começo foi estranho, e eu senti o quanto Grayson estava tenso, mas depois... As coisas começaram a se acertar e nós nos acostumamos com a presença um do outro.
Apesar da loucura, eu sorri.
- Eu sabia. - disse começando a fechar meus olhos, já pesados.
- Sabia o que? - senti sua presença ainda perto da minha, mas mantive meus olhos fechados depois de sorrir e dizer:
- Que ainda existi bondade dentro de você.
..................................................
Eu sei que não postei ontem, desculpe amores, estava resolvendo problemas com faculdades, aqui está o cap
Não o revisei, se tiver algum erro me avisem q dps eu corrijo.
Bjss
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