CAPÍTULO 12.5
"Só o inimigo não trai nunca."
~ Nelson Rodrigues
**AMBER**
Eu realmente não entendo o que esses detentos idiotas veem de tão legal em fazer uma revolta. Sério, eles fazem uma nova a cada duas semanas. Sendo que, em uma revolta, a sujeira aumenta, os guardas ficam mais revoltados do que já são, detentos morrem no meio da confusão ou são machucados depois pelos guardas, enfim, o caos.
E sinceramente, eu acho a maior besteira. Eu mesmo nunca me importei em participar de uma, apenas fico no quarto, esperando pelo fechamento automático das portas, e estruo a minha gangue a fazer o mesmo. As coisas ficam realmente feias para os detentos que ficam no corredor depois que as portas são trancadas.
Jesus e Micaela estão sentados no beliche de cima encarando o teto, estou sentindo algo entre esses dois rolar a algum tempo, e internamente, estou achando ótimo. Não via Jesus sorrindo tanto a meses, e apenas uma conversa simples com a Mica ele esboça uns cinco sorrisos diferentes. E a Micaela, bom, eu nunca tinha visto ela dizer tantas palavras até a discussão dela com Jesus na semana passada, sobre a conjugação dos verbos na nossa língua.
E mesmo Jesus perdendo feio a discussão para a Micaela, eu vi, eu enxerguei o sorriso que se repuxou no canto do seu lado inferior. Jesus está apaixonado e acho que Micaela também.
Agora, Jonas deitado desleixadamente no beliche de baixo, tem se mantido bastante quieto sobre esse assunto ou realmente ainda não percebeu o que está rolando entre esses dois. Eu esperava aquele típico ciúmes de irmão vindo dele.
Um alvoroço no correr e os gritos de um conjunto de detentos me chamou a atenção suficiente para me fazer levantar do meu cantinho ao lado da janela e ir checar a porta.
E naquele exato momento eu me pergunto se o universo tem algo muito sério contra mim. Porque assim que eu chego na porta sou empurrado pelo impacto de um corpo contra o meu, e rápido assim encaro a figura de Grayson na minha frente, e no meu quarto.
Grayson parecia tão espantado quanto eu. Ele está ofegante e seu rosto pálido brilhava pelo suor que escoria desde seus cabelos bagunçado. Mas o mais assustador sem dúvida era sua blusa, o que deveria ser um fundo branco agora estava completamente vermelho.
Minha gangue e eu ficamos atentos aos movimentos do garoto.
- O que está fazendo aqui, Grayson? - eu indaguei arisca pronta para qualquer movimento de ataque que Grayson quisesse dar.
Mas a porta planejou um destino diferente para nós quando resolveu se fechar no mesmo momento. Eu e Grayson nos chocamos contra a porta tentando abri-la.
- Merda - falamos juntos
Eu me afastei da porta e me juntei ao meu grupo que estava estático no corredor entre os beliches. Micaela continuava sentava na cama de cima, mas agora tinha aquela faca improvisada e entre as mãos. Jonas e Jesus estavam mais atrás de mim, o primeiro nas minhas costas e o segundo sentado no beliche de baixo.
- Não vim aqui para atacá-los. - Grayson disse rápido levantando as mãos para cima.
- Diz o cara que empurrou um detento do segundo andar da escada, claro vamos confiar na sua palavra - disse sarcasticamente Jesus a Grayson, que revirou os olhos.
- Estou falando sério, não vim aqui para isso. - Grayson repetiu acalmando os nervosos.
O que pensando bem era muito estranho. Grayson não era aquele tipo de cara que apaziguavas as situações, principalmente as quais ele escolhia entrar. Ele era o cara que provocava as pessoas ao ponto de fazê-las explodirem. Ele instigava e atacava suas vítimas como uma serpente maldosa. Então por que ele está apaziguando uma situação que ele próprio criou?
- É claro que você diria isso agora que não pode sair. - disse Micaela do alto do beliche, fazendo Grayson fica mais rígido.
Com certeza ele se lembrava da cena que aconteceu dias depois dos irmãos chegarem. Um momento que envolvia Micaela com uma faca em sua jugular.
- Vim aqui porque saiba que vocês não seriam como os outros detentos lá fora e não atacariam todos que vissem pela frente. - Grayson manteve seu olhar em mim - Você é inteligente demais para isso. Você os instruiu a atacar apenas quem os atacassem. Porque você sabe que a situações assim são controladas pelos guardas e sabe também o que acontece com os detentos... - Grayson continuou com aquele brilho sádico presente em seu olhar quando começou a explicar o que os detentos sofriam nas mãos dos guardas.
- Acho que nós dois já estamos aqui tempo suficiente para saber que nenhuma revolta acaba bem. - eu rapidamente o interrompi - Mas você não veio aqui para me elogiar. Não ache que eu sou burra o bastante para acreditar nisso. - eu cruzei meus braços encarando seriamente o rapaz.
Ele claramente não estava no seu melhor estado. Afinal, a imagem era o mais importante para Grayson. Ele acreditava que se você parecesse e agisse como um filho da puta realmente poderia se tornar um. Eu, em todos esses meses juntos, nunca tinha o visto tão desleixado como agora.
- Tem razão, não vim aqui para te elogiar - ele diz achando alguma graça no final e rindo - De qualquer forma, você está certa, sabemos como uma revolta dessa termina, mas também sabemos que não precisamos nos preocupar situações assim, afinal, quem teria coragem de nos enfrentar sem guardas por perto, certo? - ele prolonga o assunto me fazendo estreitar os olhos.
Ele também não tem o feitio de ser alguém falante, pelo menos não como está sendo agora. Normalmente Grayson faz longos monólogos, com várias frases de efeitos cafonas e ameaças em vão, em geral eu os acho um tédio.
Mas voltando a questão aqui, Grayson está tagarelando demais e até agora eu não ouvi nenhuma frase de efeito cafona ou alguma ameaça boba. Estranho.
- Essa conversa vai chegar em algum lugar, Grayson? - eu questionei cruzando os braços.
- Ah desculpe, você tem algum lugar para ir? - questionou ele sarcasticamente erguendo a sobrancelhas - Porque essa porta vai ficar fechada por mais dois dias no mínimo, e você sabe disso - ele indagou nervoso
Eu estreitei os olhos para Grayson novamente.
Para mim é desconcertante demais encarar Grayson nesse estado. Parecendo conturbado. Grayson sempre achou que escondia suas expressões de todo mundo, e ele realmente quase o fez, exceto por mim. Ele sempre tentou esconder suas emoções de mim e de todos, e conseguia ou pelo menos pensava. Eu sempre o li como se lesse a palma da minha mão, mas ele pelo menos tentava escondê-los antes.
Agora ele estava basicamente gritando "Estou desesperado, olhem para mim!".
- Você quer alguma coisa. - eu arisquei afirmar, e pelo visto acertei pois Grayson ficou bastante tenso - Você está aqui porque precisa de mim para algo, e só usou a revolta para encobrir seus passos. - eu dei mais um passo na sua direção e Grayson se segurou para não se impulsionar.
- Está certa novamente - ele concordou friamente - Temos um problema Amber, nos dois.
Eu sabia.
- Deixe-me adivinhar, isso tem alguma coisa a ver com alguma gangue que tem problemas com você?
Eu acreditava que aquele poderia se o único motivo para Grayson me procurar tão diretamente.
- Tem. Os Guilards. Vi vocês conversando.
Eu entendi tudo então. Grayson e Marcus nunca tiveram um bom relacionamento, principalmente depois que Marcus entrou para a minha gangue. Agora com o aparecimento dos Guilards, Grayson provavelmente pensa que será um alvo. Me pergunto se Grayson sabe se Marcus está vivo.
- Eu sabia, sabia que viria rastejando assim que as coisas esquentassem para o seu lado - eu argumento zangada batendo meus dedos no seu peito. E ele tenta argumentar, mas eu o impedi me afastando - Não. Não quero me envol... - eu me virei.
-Não espera - ele disse segurando meu baço - Amber, por favor, eu estou implorando pela sua ajuda! - ele puxou meu braço fazendo eu estar perto o suficiente dele para ter que erguer a cabeça para encará-lo.
Eu ouvi o que eu acho que eu acabei de ouvir? Grayson Samoor acabou de me implorar por ajuda?
- O que você está dizendo, Grayson? - eu questionei me soltando dele, dando um passo para trás, ainda atordoada por toda aquela cena.
- Honor e Titus estão mortos, Amber. E eu acho que sou o próximo da lista. - dramatizou ele novamente, dando um passo para minha direção novamente.
Eu podia ignorar o fato da sua respiração estar entre cortada com a minha, podia ignorar sua proximidade excessiva ou seu maxilar fortemente pressionado. Mas, de jeito nenhum, eu conseguiria ignorar um pedido de ajuda, um pedido de socorro de alguém, mesmo que esse alguém fosse Grayson. O que faz isso parecer uma loucura.
- Ainda quero saber o que isso tem a ver comigo.
- Será que seu cérebro enorme não consegue entender o obvio ou você está só se fazendo de burra mesmo? - Grayson gritou revoltado. Ergui minhas sobrancelhas em descrença, o que, de algum jeito fez Grayson cair em si - Os Guilards mataram Honor e Titus, Amber. E você sabe que eu e Marcus tínhamos uma rixa, isso não é uma surpresa, Marcos me odiava, e com razão. E agora os capangas dele estão tentando me matar.
Eu fiquei em silêncio analisando o tamanho da carga que acabou de ser jogada em mim.
- Você só pode estar de brincadeira, só pode ser brincadeira - eu indaguei raivosa - Você está me pedindo o que eu acho que está pedindo? - meu tom era incrédulo - Quer minha ajuda para acabar com seus problemas? Com os problemas que você criou para si mesmo? Até uns dias atrás você se denominava meu inimigo!
Eu estava zangada, irada, explosiva. Grayson está com o seu na reta e só por essa razão ele está recorrendo a mim. O problema é que Grayson está recorrendo a mim e a minha gangue para lutar ao seu lado contra os Guilards. Eu não acredito em destino, mas é muita conhecidencia que tenhamos achado um inimigo em comum logo agora.
Ainda assim, é perigoso demais para mim arriscar meu pessoal.
- Várias coisas não tinham acontecido, até poucos dias atrás. - o tom de voz de Grayson era tão sugestivo que não neguei o pouco de medo que sentir - Até ontem não existia nenhuma ameaça a nossa casa como há agora.
Chacoalhei minha cabeça confusa, é sério que ele está usando esse argumento para me convencer a essa loucura?
- Casa? - perguntei histérica - Não me venha com essa Grayson, você sabe que se eu pudesse estaria o mais longe possível daqui e você também. - eu lhe apontei o dedo e Grayson fungou levando as mãos aos cabelos irritadiços.
- Meu Deus, por que você tem que ser tão difícil? - ele esbravejou ficando mais perto ainda de mim, a última vez que ficamos tão perto...
- É melhor vocês se acalmar, os dois. - Jonas disse se pondo entre mim e Grayson e se volta para o mesmo - Você não vai querer irritar qualquer um de nós Grayson, não enquanto está aqui. - ele encarou seriamente a mim e a Grayson - Vamos passar pelo menos dois dias juntos aqui antes que os guardas abram essas portas de novo. Então se não quiser levar uma surra e ficar em um estado deplorável por dois dias Grayson, eu calaria a boca.
- Se eu quisesse um conselho seu, Jonas, eu pediria. - Grayson disse rudemente, e Micaela pulou do beliche no mesmo instante e agarrou Grayson pelo colarinho da blusa.
Eu me afastei revirando os olhos. Sinceramente, quem achou que juntar um bando de adolescentes problemáticos, num cubículo como este, daria de alguma forma certo?
- Fale com ele assim de novo e eu te deixarei estéril ou até mesmo o matarei. - Micaela se afasta de Grayson, que por alguma razão não parece tão assustado como deveria pela ameaça da garota.
Alguma coisa está estranha. Grayson está aqui, num estado deplorável, deixando sua pose de lado. Ele está aqui fugindo dos Guilards e pedindo por ajuda, algo que nunca pensei que aconteceria. Mas mesmo assim continua provocando e atacando a todos como se fosse um animal enjaulado, porém, quando finalmente é confrontado, ele não teme?
Ele está aqui me pedindo para não deixar os Guilards matá-los, mas não teme quando Micaela ameaça matá-lo?
Foi aí que entendi.
- Não vale apena - eu disse caminhando lentamente até Grayson, afastando Micaela dele - Afinal, é isso que ele quer, não é? - eu questionei arduamente a ele, enxergando claramente quando Grayson engoliu secamente - Esse era seu plano desde o começo, não era? Se eu não aceitasse te ajudar... Você irritaria um de nós ao ponto o suficiente para acabarmos com você nós mesmos. Por isso veio aqui em uma revolta, porque assim teria tempo para fazer isso acontecer, sem ter guardas por perto. - eu deixava cada palavra sair da minha boca com tamanha fúria contida, que não me surpreendi quando vi Grayson assentir rígido.
Isso me irritava mais, ele nem ao menos negar.
- Seu babaca! - eu gritei avançando em seu peito - Se nós fizéssemos isso, sabe que compraríamos uma briga enorme com os Guilards. - eu esbravejava vendo claramente o plano de Gray agora - Seu babaca ordinário, tirano imundo, sociopata infeliz! - Jesus me agarrou pela cintura me impedindo de continuar batendo em Grayson.
- Agora você sabe o quão desesperado eu estou. - sua voz repercutiu em mim, e eu senti Jesus apertando com mais força minha cintura. - Vamos Amber, você me conhece, sabe que eu não estaria aqui se não fosse minha última opção.
Eu não queria concordar com ele nisso, por mais que eu soubesse a verdade.
- Eu não conheço você. - disse indiferente
- Bom, você parecia me conhecer o suficiente naquele dia no meu quarto. - ele disse tão graciosamente que quase conseguiu camuflar a ameaça em suas palavras, mas mesmo assim eu corei - Eu preciso de você, Amber. Preciso. Mesmo odiando cada segundo dessa humilhação, eu não posso negar isso.
Eu fiquei simplesmente chocada por Grayson apenas jogar no ar o que aconteceu naquele dia em seu quarto com tamanha tranquilidade, meu Deus.... Tantas coisas tinham acontecido nos últimos dias que eu nem me lembrava o que eu e Grayson tínhamos feito a a apenas algumas semanas atrás. E ele conseguia dizer aquilo com tanta repulsa na voz, que eu realmente acreditava no que ele dizia.
- Me ajude, Amber - Grayson disse como um suspiro final - Ou talvez eu realmente conte aos detentos sobre o que realmente aconteceu naquele dia da explosão. - eu continuei alarmada.
Eu fiquei espantada por Grayson sequer suspeitar que no dia da explosão as coisas não tenham acontecido da maneira que todos acham. Mas eu nunca deixaria espanto aparecer para qualquer um. Senão as coisas ficam fáceis demais para meus inimigos.
- Seu filho da put..... - Jesus começou a falar, se prestes a passar por mim, para possivelmente estrangular Grayson, mas eu levantei a mão para cima, o ato fez Jesus parar.
- Então é isso? Esse é seu ponto, vai usar o que você julga ser a verdade sobre o que aconteceu naquele na cela como barganha? - eu questionei achando graça de toda aquela loucura - Tudo bem Grayson, faça seu show, quero ver onde tudo isso vai acabar. - Grayson olhou para minha gangue confuso, talvez pelo risco da admissão na frente deles - Oh, não se incomode com eles, eles já sabem. - eu disse fazendo um gesto com a mão
- Confia neles o suficiente para contar isso? - Grayson parecia abismado com esse fato, mas eu apenas dei de ombros.
- Você tem sua gangue e eu tenho a minha. Seu tempo está passando Grayson, faça sua proposta.
- Você me ajuda a se livrar dos Guilards e eu nunca mais toco no assunto da cela com outros detentos ou tento convencê-los de quem você não é quem diz ser. - ele deu um sorrisinho debochado - Descobri que você tem uma reputação e tanto lá fora.
Eu tomei meu tempo para analisar a proposta.
Daqui a poucos meses eu finalmente sairia do St. Monica, em poucos meses poderia deixar La reina totalmente para trás. Eu poderia recomeçar em outro lugar bem distante daqui. Mas eu não sou burra o suficiente para acreditar que Grayson cumpriria com sua parte do acordo. Apesar de que alguns meses de paz, depois de acabarmos com os Guilards não fariam mal algum.
- Sua proposta é tentadora Grayson, mas ainda não é o bastante. - eu conclui e Grayson fungou, voltando a passar as mãos com força nos seus cabelos
- Pare de show e me fale o que você quer, mulher infernal.
Agora sim. Dica número um que você aprende depois que entra no St. Monica. Nunca aceite a primeira proposta que alguém te oferece. Provoque seu adversário até descobrir o quanto ele precisa da sua ajuda, fazendo isso, você sabe o que precisa para manipular a proposta ao seu gosto. E então você terá os dois nas mãos, a proposta e o adversário.
- Ouh não precisa se estressar querido, eu ajudo você com os Guilards, mas para isso, além de nunca mais tocar no assunto da cela, você tem que me prometer mais uma coisa. - eu aproximei a distância entre nós - Trégua. Comigo e com minha gangue.
- Você só pode estar brincando. - Grayson virou frustrado para a parede. Se a situação não fosse tão séria eu estaria rindo do mesmo.
- É você que está com a vida em jogo, não eu.
- Uma trégua? É isso que você quer?
Eu sabia que ele estava indignado com a simplicidade da minha proposta, mas a única forma de saber se o que Grayson dizia era verdade ou se tudo isso era apenas um teatro era desse jeito. Propondo a coisa mais simples e quase impossível de Grayson realizar. Uma trégua entre nossas gangues. Mais especificamente entre minha gangue e ele. Levando em conta que talvez ninguém da gangue inicial de Grayson sobreviveu a essa revolta.
- Sim, quero uma trégua em troca do fim dos Guilards. - eu impus levantando a minha mão para o capeta, que relutou um pouco antes de apertar a minha mão - Mais uma coisa, Grayson - eu disse puxando sua mão que ainda estava entrelaçada de certa forma com a minha.
- Não confunda minha piedade com fraqueza. Qualquer coisa que você ouvir neste quarto nos próximos dois dias ou mais ficará aqui. - eu apertei com mais força sua mão - Isso não é negociável, Grayson. Se contar a qualquer um o que acontece aqui, tudo entre nós estará acabado e se isso acontecer... Talvez eu mesma ajude os Guilards a acabar com você.
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