CAPITULO 11
Muitos humanos são monstruosos
e muitos monstros sabem se fazer de humanos
~ V. A. Vale
**AMBER**
Não sei a que ponto chegamos a isso, mas esse já é o terceiro sinal vermelho que ultrapassamos e o ponteiro do relógio da velocidade no painel do carro não para de subir.
- Amber, você sabe que sempre apoiei você sem pestanejar, de olhos vendados até! - ele exaltou tencionando as mãos envolta do volante - Mas, eu acho que eu preciso saber o motivo de já ter ultrapassado três sinais vermelhos e de ter tomado pelo menos uma multa de velocidade no carro da Micaela.
Ele está nervoso, eu posso ver isso. Eu acho que eu também estaria, se algum amigo maluco meu mandasse eu dirigir como um raio até um asilo no subúrbio da cidade sem me dizer nem uma palavra sobre isso.
- Estamos indo ver minha mãe. - eu respondi virando minha cabeça em sua direção.
Ele pareceu paralisar toda aquela corrente de nervosismo na mesma hora, ele afrouxou as mãos no volante quando voltou a me encarar. Seus olhos estavam arregalados, e eu sabia muito bem o que dúvidas eles traziam com eles.
- E-eu achei que ela estivesse desaparecida, até mesmo morta. Como assim, estamos indo vê-la?
Para todos, a minha mãe tinha sumido depois que eu fui para o reformatório, e na verdade foi isso mesmo que aconteceu.
Mas eu não deixei essa ser a única explicação para o sumiço da minha mãe.
Não!
Eu procurei por ela, logo depois que sai do St. Monica, na verdade. E felizmente eu a achei, só não do jeito que eu esperava.
- Eu não consegui aceitar o fato dela ter simplesmente desaparecido, não depois de tudo. Resolvi procurar por ela, logo depois que eu fui embora. - eu comentei voltando a encarar a rua, que nenhum de nós dois estávamos olhando a um bom tempo, mesmo estando em um carro em movimento. Jesus vez o mesmo que eu.
- De qualquer forma eu não a encontrava de jeito nenhum. Eu precisei cobrar alguns favores para encontrá-la. E só consegui achá-la seis meses depois. Do outro lado do país! - minha cabeça pendeu para lado só de lembrar como foram estressantes todos aqueles meses.
- Me diga que esses favores não são o que eu estou pensando. - fechei os olhos com pesar
É claro que são.
- Eu tive que cobrar muitos favores de alguns informantes que eu conheci nos meus tempos de reformatório. - eu disse receosa, porque eu sabia a reação que Jesus teria.
- Você disse que nunca mais ia mexer com isso! - ele esbravejou batendo na lateral do volante enquanto mudava a marcha do carro.
E eu entendia isso. Eu realmente tinha prometido nunca mais cobrar os favores das pessoas que me deviam. Jesus achava que não era bom para mim continuar mexendo com aquelas pessoas. E ele estava certo, a certo ponto. Mas era da minha mãe que estávamos falando! A mulher que me criou com tudo que tinha, mesmo sendo pouco.
- Guarda, so cosa ho detto! Ma è mia madre Jesus! (olha eu sei o que eu disse! Mas é a minha mãe Jesus!) - eu esbravejei também batendo as mãos em minhas pernas - Você queria que eu apenas a esquecesse? - eu questionei o encarando, Jesus bufou e seu maxilar ficou mais rígido.
- Você e essa sua obsessão de sempre querer cuidar das pessoas! Devo lembrá-la que tudo que você passou, aconteceu pelo simples fato, de sua mãe, não perceber os tipos de caras que ela trazia para dentro da sua casa?
Não acreditei quando as palavras deixaram sua boca, não depois de tudo que contei a ele, não depois de tudo o que passamos por todos esses anos. Nem ele mesmo parecia acreditar nas palavras que disse.
Ele parou o carro, provavelmente era um sinal vermelho, um dos únicos em que paramos, eu não tinha certeza, não tive coragem de olhar para lugar nenhum além da janela ao meu lado depois daquela conversa. Eu já lutava o suficiente para manter as lágrimas em meus olhos, não queria expor o quanto aquela frase me afetou.
- Me desculpe - ele fungou dando partida no carro mais uma vez - Você sabe que eu não quis dizer isso.
- Pareceu que você queria dizer exatamente isso! - eu me virei, fazendo seus olhos entristecidos se encontrarem com os meus, chorosos e ressentidos. - Pode negar o quanto quiser, mas se fosse alguém que você amasse, alguém como sua mãe ou até a Micaela, você faria mesmo. - ele tencionou suas mãos envolta do volante, é claro que ele faria isso, principalmente depois da bomba que eu lancei entre nós.
Nós dois ficamos em silêncio depois disso...
- Em todos esses anos, todos os momentos em que ficamos juntos, eu vi você lutar por causas perdidas, Amber. - Jesus quebrou o silêncio com uma voz tenebrosa - Pessoas que, talvez, não valiam o esforço da luta. Pessoas improváveis de que um dia se tornassem confiáveis aos olhos de qualquer um. É isso que você faz, Amber. - ele disse aquilo como se estivesse orgulhoso e ao mesmo tempo zangado - Você busca por causas impossíveis. Você fez isso comigo, com Jonas e Micaela. Fez com Marcus e tentou fazer isso com Grayson. - ele pareceu se zangar com o próprio pensamento - Que droga, Amber! Você busca pela salvação de pessoas que todos julgam ser pecadoras, porque foi exatamente isso que não fizeram com você!
Eu me mantive quieta enquanto Jesus despejava seus pensamentos sobre mim. Eu fiquei ali sentindo o peso daquelas palavras caírem sobre mim e ligarem as peças soltas na minha mente. Eu era uma causa impossível. E eu era atraída por causas impossíveis.
Jonas, Jesus, Micaela, Grayson... Todos eles, eu lutei por eles. De formas diferentes, mas lutei. Porque... Porque ninguém nunca lutou por mim assim.
- Rotularam você como uma causa impossível, alguém sem salvação. É por isso que você se sentiu atraída por mim, pelos gêmeos, e é por isso que você está fazendo isso por sua mãe. - ele continuou batucando freneticamente o volante enquanto mantinha os olhos na rua - Tudo o que eu estou te pedindo agora é que pense bem se essa é uma luta que valha a pena. Uma que você tenha a certeza de que vai ganhar. Eu já vi você caindo por vezes demais, Amber. E não quero ver você no chão mais uma vez. Eu só não posso ver você daquele jeito de novo. - eu sentia o aborrecimento na sua voz e sabia que nada do que ele disse era uma mentira.
Eu amava Jesus, do mesmo jeito que ele me amava. E eu sabia que ele só estava preocupado comigo, por ter esse papel de irmão mais velho que ele assumiu. Esse papel que ele escolheu de cuidar de mim, o que, antes do meu tio, ninguém se importou em assumir por mim.
- Eu sei - toquei em sua mão em solidariedade - Mas acredite em mim, essa luta, ela vale a pena, você verá.
◇◇◇
Eu e Jesus saltamos rapidamente do carro e passamos pela atendente da porta sem nem darmos um oi, e fomos direto para o quarto da minha mãe. Na porta do quarto dela tinham alguns médicos me esperando, mas eu nem me importei em ouvir nenhuma das explicações ou termos médicos esquisitos que eles me falariam para explicar esse momento lucido dela. Jesus poderia cuidar disso para mim, mas agora eu estava mais preocupada em ver minha mãe.
Eu abri a porta do quarto num supetão, e então a vi.
Tão serena quanto o cheiro da primeira brisa de café fresco pela manhã. Era como me olhar no espelho alguns anos mais velha. Claro, tirando o fato de a cor de seus cabelos serem bem mais claros que o meu.
Seus longos cabelos loiros, agora bem mais compridos desde a última vez que eu os vi. Seu rosto tão calmo, e agora tão amadurecido para uma mulher de apenas 32 anos. Ela está olhando para a janela, seus olhos tão vidrados como no dia em que eu a achei.
- Mãe? - eu a chamei, e sua cabeleira loira virou em uma velocidade elucidante.
- Amber! - ela saltou da cama e se jogou para cima de mim. Seus braços contornaram minha pessoa, dando um aperto quentinho e carinhoso. Um abraço. A quanto tempo eu não recebia um abraça da minha mãe?
A porta se abriu antes que eu conseguisse retribuir o abraço e Jesus passou por ela com um amontoado de papeis na sua mão. Pobre Jesus, ele teve que lidar com todos aqueles médicos chatos.
- Quem é esse? - minha mãe indagou assustada se soltando de mim. Ela estava agindo como um animal encurralado. Parecia estar elétrizada.
- Os médicos disseram que ela pode ficar assim por algum tempo...- ele disse parecendo procurar palavras para completar sua frase - Elétrica.
Ele se sentou com as pernas abertas na poltrona do lado da porta, o amontoado de papéis repousavam em seu colo, ele parecia bastante relaxado com toda essa situação, apesar da carranca que moldava seu rosto. Minha mãe por outro ficou mais afoita com a presença de Jesus. Ela correu para a cama e sacou o travesseiro para o alto.
- Quem é esse rapaz? - ela esbravejou pronta para jogar o travesseiro em Jesus. Ele me encarou com uma das sobrancelhas levantadas, claramente surpreso pelo comportamento da minha mãe. Eu funguei passando minha mão na testa garantindo que nenhuma veia minha iria saltar para fora.
- Mãe. Mãe! - eu a chamei mais de uma vez, arrancando o travesseiro da sua mão e depois o colocando de volta na cama - Esse é o Jesus ele é...
- Ele é o seu namorado? - ela gritou alarmada me interrompendo - Amber Marie Joana Lewis! Você é só uma criança! Não tem idade para namorar! - ela seguiu para a janela e começou a se enrolar na cortina como se ela fosse uma criança.
Encarei Jesus um pouco assustada. Ele parecia querer segurar a risada, o que era bom que fizesse mesmo. Enfim, tudo o que seu olhar me transmitiu eu já sabia. "Os médicos falaram que isso podia acontecer"
- Meu Deus, mãe! - eu me movi para tirá-la do meio daquele pano todo da cortina - Ele não é meu namorado. - minha mãe bufou e revirou os olhos enquanto eu a levava para a cama. Jesus riu atrás de mim, se levantando da poltrona e vindo até nós.
- É um prazer conhecê-la, Senhora Lewis - ele estendeu a mão a minha mãe todo sorridente. Ela o olhou de canto de olhos, estranhando sua presença, o que fez Jesus sorrir mais quando me olhou. "Tal mãe, tal filha", revirei meus olhos e Jesus continuou - Eu sou o Jesus, melhor amigo da sua filha.
Minha mãe olhou para a mão estendida de Jesus, depois encarou seu rosto, analisando cada parte dele, incluindo seu corpo, e por um pequeno momento eu vi o sorriso no rosto de Jesus vacilar. Logo em seguida minha mãe voltou a me encarar fazendo uma careta
- Você ta dando pra ele, Amber?!
Eu vou me matar é isso.
A gargalhada de Jesus soou atrás de mim, mas eu já estava com vergonha demais para poder olhar para sua cara agora.
-Apesar de que ele não é feio... - minha mãe fez uma pausa antes de voltar a dizer - Você tem dinheiro?
Eu vou morrer. É isso. Definitivamente eu vou morrer de vergonha e tudo isso é culpa da minha mãe.
- Receio que não, Senhora Lewis. - a voz de Jesus soou divertida quando ele voltou a me encarar - Essa é uma hora ruim para contar que eu me casei com sua filha? - a diversão maldosa que brilhava nos olhos de Jesus não tinham preço.
Eu fechei meus olhos implorando ao universo que minha mãe tenha adquirido uma surdez seletiva e não tenha ouvido essa última parte.
- Amber Marie Joana Lewis! - minha mãe gritou de novo.
Eu mataria Jesus. Eu juro que mataria. Isso se eu sair viva daqui.
◇◇◇
- Então, você está me dizendo que me encontrou do outro lado do país com amnésia? - minha mãe questionou sentada na beirada da cama.
Eu me mantinha de pé a sua frente, e Jesus estava mais atrás de mim, sentado na poltrona atrás de mim. Ele ainda parecia lidar bem com toda essa situação, até melhor do que na verdade. Mas as vezes eu ainda o pegava encarando eu e minha mãe com certa desconfiança, como se sua visão estivesse brincando com ele. Realmente somos muito parecidas.
- É, trouxe você para cá a alguns meses, não sabia mais o que fazer. - eu cruzei os braços tocando o peso nas minhas pernas.
Era desconfortante e surreal depois de tudo, depois de todos aqueles momentos que eu passei no reformatório, vê-la aqui, parecendo tão bem, ainda é estranho. Porque eu vejo minha mãe ali, sentada naquela cama arrumada do asilo, mas ao mesmo tempo, tem algo em seu olhar que não me é familiar. E isso me faz questionar o quão ali minha mãe está de verdade.
- E como eu fui parar do outro lado do país? - ela questionou movendo seu olhar do chão para mim.
- Eu achei que agora que a senhora está mais... Lúcida, poderia me explicar isso melhor, mãe. - eu pigarreei com certo receio - A senhora estava morando na rua quando a encontrei, em um beco com vários drogados. E quando eu a chamei, você não me reconheceu.
O pesar na minha voz foi inevitável. Eu nunca, nunca esqueceria daquela cena. Minha mãe deitada em cima de um papelão amassado, em um beco fedido e úmido, com uma saída de esgoto pouco metros do papelão onde ela dormia. Nunca vou esquecer os ratos, os drogados, os excrementos espalhados nas paredes. A sujeira em seu rosto, o estado de suas roupas, seus cabelos, de seu corpo...
Essa imagem ainda vai me causar arrepios por um bom tempo.
- Hum - ela resmungou fazendo sua típica careta de indiferença, uma careta que eu já vi várias vezes e não deixei de odiá-la, mesmo depois de tantos anos
- Onde está seu padrasto? - ela perguntou amigavelmente, colocando um sorriso simpático no rosto como se perguntasse a mim sobre uma prima distante e não sobre o homem que desgraçou minha vida. Nossa vida.
- Meu padrasto? Sério, mãe? - eu indaguei revoltada.
Jesus no mesmo momento se levantou da poltrona acolchoada do lado da porta e se pôs de prontidão a minha lateral, mantendo seu braço estendido entre mim e a minha mãe. Eu o encarei revestida em raiva.
Afinal, como ela podia? Como minha mãe tinha coragem de me perguntar algo desse tipo?
Bom, Jesus me encarou seriamente também. E foi uma guerra de olhares entre nós, onde eu deixava explicito que eu queria que ele tirasse aquele braço do meu caminho, e ele deixava claro que não faria isso de jeito nenhum.
Então eu fui obrigada a respirar fundo e encarar minha mãe, calmamente, antes de dizer:
- Você acabou de descobrir que passou meses sem memória, que estava morando na rua sabe-se lá quantos meses. - eu me afastei de Jesus dando as costas para minha mãe, e sentia a calma se esvaindo de mim no decorrer do tom das minhas palavras.
Eu precisava me acalmar mais não sabia mais o que eu poderia fazer. A raiva dentro de mim estava solta, e estava solta por causa dele. E eu sabia que não conseguiria controlá-la tão fácil assim.
"Você tem que ficar quieta e me obedecer, querida. Agora fique parada."
- Meu Deus, mãe! - eu extravasei empurrando o vaso que ficava na prateleira na minha frente ao chão.
O vaso se partiu em pequenos pedaços quando entrou em contato com o chão, fazem um grande barulho. Mas nem a destruição daquele pobre pedaço de porcelana pôde fazer com que a ardência nos meus olhos parassem.
- Essa é a primeira vez em dois anos que a senhora me vê. - ainda encarando a parede, eu deixei que um soluço escapasse de mim, e então, rápido assim, senti a mão de Jesus tocar meu ombro. Um ato comum para qualquer um, mas para nós não era apenas uma mão tocando um ombro, era uma afirmação.
"Eu estou aqui com você"
Eu coloquei minha mão por cima da sua e respirei fundo.
- Mãe - a minha voz era chorosa quando eu terminei - Essa é a primeira vez que nos vimos desde que aquele monstro nos separou...
- Amber, olha o escândalo que você dá na frente dos outros! - ela me interrompeu com uma voz incrivelmente estridente, e apontou para Jesus atrás de mim. Era com isso com que ela estava preocupada? Com Jesus ouvir algumas boas verdades? - E não fale assim do seu padrasto! Ele podia ser um pouco complicado, mas é um bom homem, e colocava comida na mesa.
Não fale assim do meu padrasto? O que ela quer que eu fale dele então? Que era um bom homem? Não! Eu me recuso a dizer isso!
- Um bom homem? Um bom homem, mãe? - eu explodi - Eu vi aquele cretino te bater! Vi ele fazer coisas piores com a senhora. - as lágrimas já estavam fora do meu controle agora, e escorriam pelo meu rosto - Comigo! Vi ele fazer coisas horríveis comigo! Tudo isso bem debaixo do seu nariz! Por anos, mãe! E a senhora nem sequer desconfiou. - eu estava tão furiosa, tão brava, eu não conseguia segurar mais o peso que tinha sobre meus ombros.
- Eu sabia, Amber.
E então, meu mundo desabou.
Eu emergi em um poço tão fundo dos meus pensamentos, que precisei dar um passo para trás para recuperar o equilíbrio e regular a queda de pressão que aquela frase trouxe átona. Anos. Aquele... Aquele bastardo fez o que bem entendia de mim por anos. Anos! E ela sabia. Ela sabia e não fez nada.
Eu queria chorar, queria espernear e gritar a universo sobre o porquê dele ser tão cruel comigo.
Em todos esses anos, eu tive a esperança que deixar eu padrasto fazer o que eu quisesse comigo evitaria de alguma forma que a minha mãe se machucasse. Para que ela não se decepcionasse com mais um namoro acabado, para que ela não se culpasse, arranjando defeitos em si mesma para explicar a infidelidade de um homem qualquer que eu sabia que não a amava de verdade.
Deixei que aquele homem me humilhasse, me usasse e depois descartasse como um brinquedo velho, deixei que ele ferisse minha pele, assim como ele feriu minha alma, tudo para que isso não acontecesse com a minha mãe. E ela está aqui, na minha frente, dizendo que já sabia de tudo isso?
- A senhora, o que?
- Eu sempre soube, Amber. - ela comentou descendo da cama e se aproximando de mim. Seus olhos. Lá estava aquele lado desconhecido que estava dentro dela, eu o via agora, em seu olhar. - Eu devia ter percebido muito antes, na verdade. Você sempre foi uma garota egoísta e mimada. Eu devia ter adivinhado que aquilo ocorreria, já que foi você... - seu tom amargo causava mais danos nos pedaços quebrados do meu coração enquanto ela continuava - Você, e apenas você, foi o motivo de todos os meus términos! Todos eles! Afinal, quem iria querer ficar comigo com uma criança egoísta e mimada como você no pacote?
- Mãe! - eu gritei para que ela parasse, dane-se se minha voz era manhosa ou não, ou se as lágrimas em meus olhos já me impediam de enxergar alguma coisa.
Ela encarou Jesus atrás de mim, tenso feito uma pedra de concreto e semicerrou os olhos na sua direção.
- Acho melhor você pedir para o seu amigo sair, Amber - ela pediu olhando fixamente para ele.
- Com todo respeito senhora Lewis, eu não vou a lugar nenhum. - Jesus se pronunciou atrás de mim, tomando a minha mão em uma ação rápida e entrelaçando nossos dedos com força.
"Eu estou aqui com você"
- Ele fica - eu afirmei retribuindo o aperto em minha mão, e com isso tomei coragem para reunir o que restou da minha coragem para dizer:
- Vamos mamãe, você nunca teve medo de falar o que você pensa sobre mim antes, não se envergonhe agora.
- Muito bem. - ela respondeu no mesmo tom amargo que o meu, olhou para minha mão entrelaçada com a de Jesus e depois o encarou cética - Se ele é seu amigo mesmo, deixe que fique, acho bom que ele saiba exatamente com quem está andando.
O aperto que Jesus deu em minha mão foi a única coisa que me fez continuar em pé. Agora eu era como uma rocha, que esperava angustiada a onda que minha mãe soltaria em cima de mim.
- Eu sabia sim, o que ele fazia com você. Eu sempre soube. - ela redigiu cinicamente - Ele me contava. Chegava desolado no meu quarto todas as noites, chegando até a chorar por não resistir aos seus encantos, as suas provocações!
Ela começou a gritar e apontar o dedo para mim enquanto alegava essas mentiras repulguinante, e eu... Eu só consegui ficar ali, imóvel, parada feito uma rocha, paralisada pelo tamanho da dor que minha própria mãe me causava. As lágrimas bloqueavam boa parte da minha visão e a mão de Jesus... Eu a apertava como se tivesse levado um tiro.
- Você o procurava, o instigava, fazia coisas impossíveis para qualquer homem resistir! - ela gritou mais uma vez.
Eu não podia deixá-la pensar que aquilo era verdade, não podia! Eu avancei até ela, ou pelo menos tentei, mas Jesus me bloqueou esse acesso, me arrastando até que minhas costas tocassem a porta. Ele sussurrou para que fossemos embora, para sairmos dali, mas eu me recusei a para de avançar para chegar na minha mãe.
Lembrei-me então, do que disse quando contei sobre meu padrasto a Jesus, a primeira vez que falei sobre isso com alguém.
" - Porque se todas as atrocidades dele não tinham me matado, a falta de confiança de minha mãe em mim, com certeza, me mataria."
Agora tenho a certeza que isso está me matando.
- Pare! Pare! Isso é tudo uma mentira! Como a senhora não vê? - eu grite por cima dos ombros de Jesus, encarando sua cara enojada em nós - Como, mesmo depois de tantos anos, ainda pode ficar do lado dele?
Ela se levantou da cama e deu apenas um passo em nossa direção, ela ainda estava com aquele olhar, aquele que não era da minha mãe e sim daquela... Coisa que se parecia com ela.
- Eu sei o tipo de filha que eu criei Amber. Eu sempre soube que você não era uma boa pessoa, eu sentia isso dentro do meu peito desde que você era bebê. - ela bateu a mão no peito intensificando a fala - E mesmo assim eu criei você, cumpri com o meu papel de mãe, dando a você, tudo o que era exigido desse papel. E acredite Amber, quando você foi embora - ela dizia com uma voz sombria para mim que não conseguia parar soluçar nos ombros de Jesus, eu soluçava tanto a ponto de tremer todo meu corpo - Quando foi levada para aquele lugar como um animal, o animal que você era... - ela fez uma pausa - Foi a primeira vez que eu e o meu marido dormimos em paz.
A gota d'água.
Esse foi o fim para mim. O fim. Eu passei todos aqueles anos me culpando, me julgando por ter caído em uma armadilha do meu padrasto, por ter deixado minha mãe sozinha com ele e todas as suas atrocidades, e ela me fala isso? Que só ficou em paz depois que eu fui embora, depois que eu fui levada como o animal que ela acha que eu sou?
- Como você pode dizer isso!? - eu tentava gritar entre os soluços e as lágrimas - Como pode tratar assim a única filha que você tem? A única que cuidou de você! Eu fui mais mãe para você do que um dia você foi para mim! - gritei finalmente a verdade que habitava a mim a anos.
- Você não fez mais do que sua obrigação por ter estragado todos esses anos da minha vida! - ela gritou por cima de mim - Por sua culpa. Sua, e apenas sua culpa, eu sou assim. Para colocar uma comida no seu estomago eu precisei me prostituir, para você ter uma boa educação em escolas de classes eu tive que dormir com meus chefes por aumento. - as palavras que ela dizia eram como socos, um depois do outro atingindo a minha cara - Você foi o maior erro da minha vida, Amber! É o meu maior arrependimento! - ela esperneou e tentou se aproximar de mim, mas Jesus a afastou, fazendo uma barreira entre nós - E eu nunca vou ter orgulho de você ou me orgulhar por ser sua mãe, mãe de uma ninguém, de uma ladrazinha, uma assassina, uma egoísta igual você!
Eu abracei meu corpo em meio as tremedeiras do choro. Eu estava sozinha de novo. Sem poder contar com a ajuda da única pessoa que eu pensei que me amava incondicionalmente. Minha mãe.
- Eu gostaria que você tivesse morrido naquele lugar!
Eu me encolhi mais.
- Chega, vamos embora! - Jesus colocou suas mãos nas minhas costas e me empurrou para porta.
- Isso vão lá - minha mãe gritou atrás de mim - Aposto que vai consolar ela muito bem! - minha mãe gritou.
Aquilo me irritou afinal, qualquer um entendia o que ela insinuava, mas Jesus pareceu transbordar de raiva com aquilo.
Ele retirou as mãos das minhas coata e se voltou para minha mãe.
- Escute aqui! - Jesus se aproximou dela - Desde que eu cheguei aqui eu vi a senhora sendo incrívelmente rude, grossa e insensível com sua filha, filha essa que mexeu céus e terras para encontrá-la!
Por um momento fiquei com medo do que Jesus poderia dizer ou fazer com a minha mãe ali, porque eu conhecia Jesus e ele é um vulcão em erupção nesse momento.
- Ela não tem culpa que a senhora tem um péssimo gosto para homens, homens que não tem caráter nenhum e que não a amavam. - minha mãe continuava extremamente quieta - Você acha que fez seu dever de mãe, cuidando da Amber? Pois eu lhe respondo, a senhora não fez! Aliás, deveria sentir vergonha do trabalho que fez, porque nunca, em hipótese alguma, uma mãe deixaria o que seu padrasto fez com sua filha passar impune!
- Mas ela...
- Anos! - Jesus gritou a interrompendo - Por anos ela foi maltratada por ele porque acreditava que desse jeito a senhora seria poupada. ANOS! - ele gritou novamente - Você sabe a sorte de ter ela como filha? Uma menina que move céus e montanhas por você? Uma menina que se sacrifícou a passar nas mãos do padrasto no seu lugar?
Minha mãe tentou falar de novo, mas Jesus a interrompeu novamente, completamente alterado.
- A senhora é uma péssima mãe! E não merece a filha que tem. Ela te achou na rua! Buscou a senhora por meses e meses, e ainda sim trouxe você para cá e deu os melhores cuidados.
- Ela não fez mais que a obrigação dela, eu sou a mãe dela! - minha mãe esperneou.
Eu não sabia o que pensar, eu queria chorar por tudo o que minha mãe me disse, mas ter Jesus lá, me defendendo desse jeito... Se existe mesmo um Deus, ou alguma divindade sagrada, agradeço a eles por terem colocado Jesus na minha vida.
- A senhora é um ser humano horrível - Jesus veio em minha direção e tomou minha mão - E com todo respeito? Eu espero que a senhora vá se fuder! - minha mãe ficou boqueaberta enquanto Jesus me arrastava aos choros para fora do quarto.
**********
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top