CAPÍTULO 10.5

A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos,
mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda
~Oliver Goldsmith

**AMBER**

Passei silenciosamente pela porta do telhado, encarando a silhueta larga dos ombros de Jonas sentada na borda do parapeito.

Jesus e Micaela procuraram por ele a amanhã toda, mas eu sabia, sabia que é aqui que ele estaria.

A primeira vista ele está sentado de modo esponjoso no parapeito de cimento, provavelmente com um dos cigarros de Jesus na mã, encarando o sol surgir entre as árvores mais à frente, mas eu posso imaginar que tipos de pensamentos estão se passando na sua cabeça.

Tentei me aproximar dele por aquele chão cheios de pequenas pedrinhas o máximo que pude.

- Você não vai tentar pular de novo, não é? - perguntei me aproximando sorrateiramente dele.

O garoto suspirou ainda encarando as árvores.

- Não, acho que vou almoçar primeiro. Morrer de estômago vazio parece um porre. - respondeu ele, soltando a fumaça para cima, começando a balançar os pés suspensos no ar. - Sabe, é falta de educação se aproximar das pessoas assim, sorrateiramente.

Finalmente o Jonas virou o rosto para mim, com um semblante muito pacífico apesar farpa lançada em suas palavras. E eu me mantive calma apesar da vontade de arrancá-lo de lá a força.

- Não, falta de educação é você ficar arriscando sua vida assim depois de todo esforço que eu tive para salvá-la.

Ele sabe que é verdade, toda a atenção e cuidado que eu tive em cuidar de todos os machucados que ele e Jesus tiveram, indiferente deles merecerem ou não aqueles machucados, foi um esforço grande, mas não de toda a verdade.

A verdade é que me apeguei a Jonas e Micaela o suficiente para me preocupar com as tendências suicidas de Jonas e o modo silêncio de Micaela.

- Eu fui criado em um lixão, educação não é meu forte. - retrucou dando outra tragada.

Arranquei o cigarro de seus dedos e apaguei a bituca no parapeito no telhado.

- Eu fui criada em um trailer abandonado e nem por isso eu ainda rosno para as pessoas igual a um animal quando me sinto ameaçada. - indaguei ficando de pé ao seu lado.

- Você rosnava para as pessoas? - ele pergunta virando sua cabeça até enxergar meus olhos, com um tom de graça na voz. Graça essa que logo é cortada pelo olhar mortal que lhe dou - Uma pena você não fazer mais isso, aposto que seria uma vista e tanto. - ele respondeu retirando outro cigarro do bolso e o acendendo enquanto voltava a encarar a vista na nossa.

Eu sabia que se dependesse de Jonas poderíamos papear o dia inteiro nesse telhado e evitarmos o que há em questão. O porquê dele estar aqui sentado aqui, no parapeito. Jonas é quase um mestre em manipular palavras e conversas ao seu querer.

- Eu vou querer saber o porquê de você estar aqui? - perguntei de uma vez o que se passava na minha cabeça desde que entrei pela porta do telhado. Me sentei cuidadosamente ao lado de Jonas no parapeito.

- Sabia que você fala dormindo? - ele desvia de minha pergunta, com outra bem interessante.

- Eu não falo dormindo. – respondo rápido, orgulha internamente por não vacilar em nenhum momento.

- Tem razão, você grita. Incrivelmente alto. Não sei como nunca percebi antes. - seu tom era extremamente ácido quando seus olhos encontraram o meu.

Tenho que concentrar toda a adrenalina que corre em minhas veias para não surtar com o fato de Jonas em alguma noite ter me visto dormir, e mais, ter me visto tendo um pesadelo.

Eu tinha que manter meu foco, tinha que focar no porquê de Jonas continuar vindo aqui.

- Se quiser insinuar algo Jonas, faça isso logo, não crie a porra de um monólogo pra isso. - resmunguei puxando a gola de sua blusa até seu rosto estar mais próximo do meu. Mas Jonas por outro lado parecia já esperar por isso, pois abriu um sorrisinho irritante surgiu em seu rosto.

- Com o que você sonhou essa noite? - seus olhos pareciam querer brincar comigo, eles diziam isso. Porque seu rosto ainda está peto do meu, seus olhos e o que ele falava brincavam comigo. Mas eu sei por que ele está fazendo isso. Ele está fugindo da minha pergunta.

- Isso não é da sua conta. Por que você não me conta por que está aqui? - a timidez de minha voz não é nada boa e Jonas percebeu isso, eu soube, assim que o sorriso sumiu do seu rosto

- Parecia da minha conta quando você começou a gritar por socorro. E eu não sabia se estava falando comigo ou apenas sonhando.

Isso me pegou de jeito e tenho que admitir, me desestabilizou.
Eu não acordei de nenhum pesadelo hoje cedo, nem ao menos me lembro de ter sonhado com um, mas as vezes eu esquecia que isso não significa que eu não possa ter tido um.

- Da próxima vez ignore, então. - eu indaguei me levantando até a porta do telhado não muito distante de mim, mas a mão de Jonas me alcançou antes.

- Sabe, maioria das pessoas não percebem quando alguém está em um lugar escuro e nem quanta força é necessária para se tirar mentalmente de lá. - Jonas puxou meu braço, onde sua mão contornava, me trazendo para perto - Eu reconheço um lugar escuro quando vejo um, Amber. Não vou ignorar o seu. Não me peça para fazer isso

- Você não quer saber sobre o meu lugar escuro, Jonas. – disse tenebrosa.

- Mas Jesus sabe, não é? - ele questionou tombando a cabeça para o lado, tornando as suas falas mais sarcásticas - Ele sabe, e parece lidar muito bem com isso.

- É por isso que veio pra cá? Por que sabia que eu viria procurá-lo? Por que assim poderia me questionar sobre isso, sozinho? - eu esbravejei soltando meu braço de sua mão e dando um passo para trás ao terminar de dizer - Eu tenho meus problemas, Jesus tem seus próprios problemas e eles não te dizem respeito.

- Sabe, todos nós temos nossos problemas. Isso não nos impede de ajudarmos uns aos outros quando sabemos que precisam de ajuda.

Ele deu mais dois passos na minha direção fazendo eu recuar mais três. Até eu sentir a parede que eu nem sabia que estava tão perto encostar nas minhas costas. A mão de Jonas se repousou rapidamente ao lado da minha cabeça e ele se aproximou mais.

- Não me tente a agredi-lo Jonas, está cedo e eu ainda não tomei meu café. Me. Deixe. Passar. - eu redigi erguendo minha cabeça até encarar seu rosto, ele continuou no mesmo lugar, dessa vez com um sorriso debochado no rosto.

- Se quer passar, passe. Ninguém está te impedindo.

Uma parte de mim sabia que isso não iria acontecer, mas mesmo assim eu tentei, tentei passar por ele.

O empurrei com a maior força para longe o que o fez recuar centímetros de distância e corri para a porta. Mas isso não aconteceu rápido suficiente para impedir suas mãos de rodearem minha cintura e da força do seu peso que foi aplicado em minhas costas de me fazerem irem ao chão.

- Jonas seu bastardo mequetrefe, o que você está fazendo? Saia de cima de mim! - eu resmunguei me debatendo debaixo dele.

O peso daquele corpo em cima de mim era inegavelmente esmagador, e eu tenho certeza de que se ele forçasse de verdade ele sobre mim eu não conseguiria nem respirar. Não que agora eu estivesse realmente feliz, já que ele forçava o suficiente para eu não conseguir sair.

- Por que eu faria isso? É bastante confortável aqui. - sua ironia me irritou, só não me irritou mais que o sorriso que ele deu.

- Eu te odeio. - eu disse batendo como as duas mãos em seu peito duro e continuei batendo inconstantemente, mas isso não pareceu sequer fazer cócegas nele.

Ele entortou a cabeça para o lado e depois sorriu. Um momento depois suas duas mãos que ele estava apoiado, as que estavam ao lado da minha cabeça, ele as levantou do chão ao meu lado e largando todo o seu peso em cima de mim, o que me tirou o ar por um instante.
- Eu te odeio mais agora.

Ele ergueu seu rosto do espaço no meu pescoço, o rosto que agora estava inegavelmente mais perto de mim.

- Me conte. - ele sussurrou trazendo seu rosto ao pé do meu ouvido, e dessa vez sua voz não carregava nada além da sinceridade mais pura.

Ele ergueu sua cabeça e seus olhos encontraram os meus. "me conte" eles diziam. Eu sabia que ele não sairia dali tão cedo Sem uma explicação.

- Me prometa uma coisa.

- Qualquer coisa. - ele respondeu prontamente

- Você nunca mais vai voltar aqui. - Jonas enrijeceu no mesmo instante - Você falou que reconheceu meu lugar escuro, bom, e reconheci o seu, e esse telhado não é bom para você. - o garoto demorou para entender realmente o que eu estava propondo.

- Prometa nunca mais voltar aqui e eu contarei tudo.

O garoto parou para pensar. Talvez colocando tudo na balança e vendo se realmente valia a pena.

- Está bem. Me conte com o que você sonha e eu nunca mais voltarei aqui.

- Tudo começou com o meu padrasto....

◇◇◇

Uma nova gangue chegou a Saint Monica.
E isso é estranhamente incomum.

Eu nem estou exagerando, literalmente uns 5 a 6 caras chegam no reformatório hoje de manhã. E Isso nunca aconteceu. Pelo menos não no tempo em que eu estive aqui.

É claro que eu já tinha ouvido falar desse tipo de situação em outros reformatórios, mas elas nunca acabaram bem pra a gangue que entrou na jogada ou para as gangues que não curtiram a ideia de um novo grupo no lugar.

As gangues aqui pareceram não gostar muito disso, afinal, uma gangue a mais é um rival a mais na partida. E é claro que Grayson seria o porta voz desse "incomodo público".

Eu consegui ouvir a briga e o tumulto que isso gerou lá do meu quarto.

Agora no refeitório o clima está mais que péssimo, pessoas surradas e estressadas de um lado e uma nova gangue, um novo rival aqui dentro, do outro lado.

Por enquanto eu tenho me mantido neutra em relação a essa nova gangue, porque mesmo que não pareça os outros líderes estão cobrando um posicionamento meu, mesmo que de forma discreta e sinuosa, mas enquanto a nova gangue não mexer comigo eu não dou a mínima.

Mas agora voltando para a minha gangue. Jesus está incrivelmente bravo com Jonas, o que não é uma novidade entre nós. Mas dessa vez Jesus está realmente puto com ele. Talvez por eu ter contado a ele o que aconteceu no telhado com Jonas. Digamos que Jesus não gostou muito a abordagem de Jonas.

Porém quanto a mim, tudo certo. Eu e Jonas, nós conversamos bastante no telhado e... Bom, nós dois tínhamos muito para conversar.

Me abrir para Jonas com certeza foi diferente de quando eu me abri para Jesus. Com ele foi algo novo, porque com Jesus eu já tinha uma relação muito concreta e de uma certa forma eu sempre senti que podia confiar nele.

E com Jonas com certeza foi algo novo, não apenas uma onda de adrenalina e impulsividade. E foi bom, saber que agora eu consigo contar sobre minha mãe, sobre meu padrasto e meu passado sem me sentir mais culpada por isso, e mais, fiquei muito feliz em perceber que confio o suficiente em Jonas para contar esse tipo de coisa sem sentir inseguranças.

Mas a aproximação de três pessoas me tirou dos meus pensamentos.

- É melhor vocês não fazerem nada até eu mandar. - eu grunhi aos dois cães raivosos que estavam sentados na minha mesa. Mais conhecidos como Jesus e Jonas.

Eu vi quem eram as três pessoas que estavam se aproximando, três caras da gangue nova e sabia que aqueles dois cabeças quente não iriam reagir bem. Mas adianta falar com esses dois? No mesmo momento que os três se aproximaram eu vi os punhos dos dois se cerrarem.

O cara do meio, o ruivo, tinha a pele bem mais clara dos três, e seus olhos pareciam de mentira de tão verdes que eram, mas a cara não enganava ninguém, nada de bom viria dele. Os rapazes ao seu lado eu diria serem irmãos, os dois eram altos e bem estruturados, com ombros largos e olhos e cabelos loios, até a fisionomia de seus rostos era parecida, talvez fossem até gêmeos.

- Não se preocupem - disse o ruivo a Jonas e Jesus. Os três ficaram na minha frente, o ruivo chegou a se sentar na cadeira a frente com dois loiros vigiando tudo nas suas costas.

Ele precisa de dois seguranças par vir falar comigo?

- Não tenho a intenção de mexer com você, vossa rainheza do mal. - o rapaz caçoou para mim me fazendo erguer minhas sobrancelhas em descrença da total falta de noção de vir mexer comigo e ainda tirar sarro - Com nenhum de vocês - ele disse ao restante o meu grupo - Eu ouvi histórias sobre você lá fora. Todos nós ouvimos - ele se dirigiu novamente a mim, em um tom brincalhão aos seus comparsas, e eu ainda continuava lá, com minha máscara - Como se referiam a ela mesmo, Greg? - ele questionou ao loiro da sua direita.

O grandão da direita se virou por um momento me encarando.

- Antes, você tinha uma certa fama aqui dentro, as pessoas tinham um certo medo de você. Mais nunca foi algo demais, até o dia do acidente... Você chamou bastante atenção, La Reina.

Meu coração parou. Simplesmente parou.
Eu sabia que tinha "um nome" lá fora, e sei como as pessoas acham que eu o consegui. Mas ninguém nunca se referiu ao que aconteceu como um "acidente". Me pergunto como eles saberiam disso.
La reina, que original.

- La reina? A rainha? – traduziu Jesus incrédulo - Por que a chamam assim? - Jesus recebeu um beliscão de Micaela. Eu gostaria de dar um beliscão nele. Qual a parte de não fazer nada sem eu mandar, ele não entendeu?

O ruivo pareceu surpreso ao ouvir o que Jesus disse, afinal encarou os dois amigos sustentando o mesmo olhar de espanto.

- Vocês não conhecem a fama dela? - questionou a Jesus, Jonas e Micaela - La reina, não contou a vocês? - a diversão era obvia no seu tom de voz – Não chega a ser obvio, afinal? A chamam de Rainha porque nesse jogo de xadrez, foi ela que orquestrou a morte do rei.

Os três ficaram quietos ao meu lado, e o ruivo se divertia cada vez mais com o espanto deles.

- Escute aqui, coisinha ruiva - eu impus, me levantando o suficiente da cadeira, e sustentando o peso do meu corpo sobre meus braços, elevando meu rosto para mais próximo do ruivo. - Não sei de que circo você veio, mas para o seu bem é melhor deixar o meu passado onde ele está, porque não só orquestrei a morte do rei, ruivinho, como também o estrangulei com minhas próprias mãos. E se você não quer ser o próximo, é melhor se manter longe.

Eu vi o sorriso deixando os lábios do ruivo, vi o olhar alarmado que apareceu em seu rosto, ouvi o engolir em seco da sua garganta e eu gostei. Porque as vezes é bom lembrar a idiotas feito esse, o porquê das pessoas ainda me temerem.

Mas eu vi o olhar alarmado e a postura medrosa que ele portava sumirem em um passe de mágica quando ele se levantou da cadeira rapidamente.

- Os Guilards te mandam saudações, Amber Lewis. - ele dirigiu a mim trazendo um sorriso maldoso e uma referência exagerada.

Guilards. Guilards. Guilards. Guilards. Guilards.
Por que esse nome me parece tão família?

Era um pressentimento estranho. Eu sabia que já tinha escutado esse nome, mas da onde? Um feixe de luz passou pela minha cabeça e então eu entendi tudo. Eu conheço esse nome. Marcus Guilard.

- Guilards? - questionei abandonando aquela pose que mantinha - Alguma relação com Marcos Guilard?

Eu me arisquei a perguntar, mas não era possível, não era possível que ele estivesse vivo, não depois da... Será?

- Meu renomado irmão. Que ainda continua vivo, se quer saber.

Eu não disse mais nada, não ouvi mais nada. As batidas do meu coração descompassado começaram a ultrapassar os outros sons. Meu corpo ficou quente e eu comecei a suar.
Vivo. Marcos está vivo.

É claro agora tudo faz sentido. Se referir ao que aconteceu comigo para eu ganhar o nome de La reina como um acidente, saber quem sou, exatamente como sou. Marcus contou a ele, contou tudo a ele.

O que o torna uma grande ameaça para mim, uma maior do que Grayson sequer um dia foi.

Mas se Marcus está vivo, por que deixou que tudo isso ainda acontecesse? Por que não voltou para mostrar que estava vivo? Por que não fez simplesmente o óbvio?

- Como? Como ele pode estar vivo? - eu me levantei ainda espantada com o choque que recebi.

- Você o conhece. Ele é uma barata, e baratas nunca morrem. - O ruivo deu uma risada maldosa que estremeceu minha coluna. - Ele me disse algumas coisas interessantes sobre você, aliás. Disse que você ainda estaria aqui e que ele lhe deve muitos favores.

Marcus não foi alguém que eu gostaria de lembrar daqui a alguns anos, mas não chegou a ser um inconveniente na minha vida, o que já é muita coisa ultimamente.

- Ele mencionou que você poderia ter problemas com um detento. Qual o nome dele mesmo, Charlie? - o ruivo estalou os dedos e o loiro da esquerda respondeu.

- Grayson, chefe. - ele disse e depois voltou a dar as costas para nós.

- Isso mesmo, Grayson... - disse saboreando o som do nome em sua boca - Sabe, podemos cuidar dele para você. - ele exibiu novamente aquele sorriso cheio de intenções maldosas.

Essa conversa estava indo rápido de mais e com informações demais para serem digeridas.

Ele acabou mesmo de dizer o que eu acho que ele acabou de dizer?

- Como é? - perguntei surpresa e ainda sim mantive minha aparência ameaçadora.

- Marcos disse que você era uma sádica incompreendida. - os loiros atrás dele riram em sintonia - Você gosta de conviver com o inimigo morando no bloco ao lado, te dá adrenalina. Ele mesmo me contou que você podia tê-lo matado inúmeras vezes, mas você não fez. - ele ajeitou a camisa e esfregou as mãos uma na outras e depois as passou nos cabelos - O que eu estou dizendo é que, se não quiser sujar suas mãos com o sangue do porco, posso fazê-lo de bom agrado para você.

Jonas e Jesus pelo visto se aguentaram menos do que eu. Eles se levantaram e deram um passo em direção ao ruivo, e não é preciso uma bola de cristal para sabe que o ruivo sairia bem macucado desse confronto, ou morto.

Mas eu impedi, ergui minha mão ao lado da cabeça e esperei até não ouvir mais os tênis dos dois fazerem barulho no piso emborrachado, o que realmente aconteceu. Eles não são nem loucos de continuarem, porque se eles me desobedecessem na frente do ruivo, quem sairia machucado nessa história seria eles.

- Você acha mesmo que eu ainda não matei Grayson por que tenho medo de sujar minhas mãos? - não pude evitar de rir - Escute, seu irmão nunca apreciou meu jogo, nunca entendeu o verdadeiro sentido de confundir a presa antes de atacá-la, então não vou perder me tempo explicando isso para você. - dei mais um passo em sua direção.

- Eu não sei o que você e sua ganguezinha fajuta fizeram para parar aqui, e com certeza, eu não ligo para qual facção vocês sejam. - dei mais um passo em sua direção, passando minha mão sobre os talheres na mesa. Facas, garfos, colheres, quantos talheres interessantes á minha disposição. Ouvi a oscilação na respiração ruivo aumentar.

- Então vou dizer apenas uma vez, como um aviso ou uma cortesia, por Marcos. - lhe agreguei um sorriso falso dando mais um passo certeiro para que minhas mãos já alcançasse seu corpo - Fiquem longe de mim e da minha gangue, ruivo. Meus problemas não lhe dizem respeito, meus inimigos não lhe dizem respeito. Se qualquer um dos seus me incomodar novamente, achando que pode vir aqui e me cobrar algum tipo de aliança... - eu dei uma pausa colocando minhas mãos no colarinho da sua camiseta e o puxei para mim - Bom, digamos que eu não ligarei para qual gangue ele pertence ou para quem trabalha, esse pagará por intervir onde não deve e conhecera exatamente como La reina ganhou sua fama - o ruivo não passava da cor de um papel na minha frente, eu larguei seu colarinho e me afastando lentamente - Eu fui clara?

- Cristalina, La reina. Realmente faz jus aos seus nomes.

◇◇◇

Agora, eu acabo de entrar no quarto com o pessoal depois da conversa mais estressante e esclarecedora que já tive aqui.

E agora eu tenho que lidar com mais três adolescentes que não tem conhecimento nem da metade das coisas que foi dita naquela conversa, ou metade das ameaças que foram trocadas em pequenos olhares e sorriso.

- Bom, agora estamos sozinhos. Parece que tem algumas coisas á nos explicar, querida. - foi Jonas o primeiro que se opôs a falar.

Ele se sentou na beliche baixa, e Micaela e Jesus se sentaram na outra a sua frente, Jesus claramente vom seu cigarro já em mãos, e os três me encaravam como se acabassem de descobrir que o Papai Noel não existe.

- Sim, tem mesmo, você poderia começar por quem caralhos é esse tal de Marcus? - Jesus que questionou num tom bastante elevado dessa vez. Quase explodindo de fúria na verdade.

- Ou poderia começar a contar sobre os detalhes de como você virou La reina. Eu odeio metáforas e aquela coisa ruiva e você só falaram por códigos. - Micaela respondeu bufando em concordância com Jesus e seu irmão.

Eu calmamente andei com sutileza até a janela do quarto observando a mesma vista de sempre, esperando para que os três pintinhos assustados se acalmassem, pelo menos um pouco.

- É melhor os três se acalmarem antes que tenham um ataque cardíaco. - respondi voltando a encará-los enquanto me apoiava na parede - Agora eu vou precisar que vocês prestem muita atenção e deixem todas suas perguntas e comentários desnecessários para depois. Porque o que eu estou prestes a contar a vocês vai mudar tudo entre nós. Então se acalmem para que eu possa conversar.

Os três se encararam ainda tensos sobre todo o assunto em questão.

- O que você quer dizer? - Jonas questionou pelos três.

eu tomei fôlego puxando uma cadeira para me sentar na frente dos três, e então comecei.

- O que eu quero dizer é que Marcus foi o primeiro integrante da minha gangue, antes de qualquer um de vocês – eu vi o choque no rosto de Jesus, juntando as pequenas pontas soltas que deixei solta em diálogos nossos se juntarem, mas mesmo assim continuei.

- La reina é uma farsa. - soltei a bomba logo de uma vez - As pessoas acham que eu me tornei La reina matando 19 pessoas em uma explosão planejada no meu antigo dormitório, em um dos blocos desativados daqui. - eu esperei, esperei pelo medo em seu rosto, pelas dúvidas nas suas faces, esperei por qualquer coisa, mas não tive nada.

- O que é? Você disse para nós deixarmos as perguntas e comentários para depois, ou já se esqueceu dessa parte, querida? - caçoou Jesus me fazendo querer socá-lo cada vez mais. Eu tinha me esquecido

- Todos acham que eu causei aquela explosão, que eu a planejei para matar o líder desse lugar, o mesmo cara que o ruivo se referiu como o Rei, e mais as 19 outras pessoas que estavam envolta. Mas isso não é verdade. Não é toda a verdade. - eu apoiei meus braços nos meus joelhos e encarei cada um deles - O que eu estou querendo dizer é que as únicas pessoas que eu cheguei a machucar aqui dentro foram as que tentaram me espancar no primeiro dia, apenas elas, foi assim que mantive todos os detentos longe de mim por tanto tempo. O que estou tentando dizer é que nada disso pelo qual as pessoas me temem foi obra minha, e a única pessoa que sabe a verdade sobre isso é a mesma que é responsável por tudo. E essa pessoa estava morta até ontem, pelo menos para mim, mas agora eu sei que ela não está tão morta quanto eu pensava. - eu terminei encarando Jesus, que a esse ponto já entendia a gravidade do que eu afirmava nas entre linhas.
Estamos com um problema, um super problema.

- Ela está dizendo o que eu acho que ela está dizendo? - Micaela perguntou trocando olhares com Jesus e Jonas

- Estou dizendo que o responsável por tudo que me temem é Marcus, o mesmo Marcus que eu achava que estava morto, mas agora não está mais. - eu empurrei a cadeira quando me levantei, revolta pelo que toda essa situação se tornou - E que agora temos um problema muito maior do que apenas lidar com Grayson diariamente. Aquele ruivo e sua gangue ameaçam nossa segurança, porque eles sabem meu segredo, e apesar de ter plena certeza de que Marcus nunca vai abrir a boca sobre isso, o ruivo não é confiável. Nem os amigos que andam com ele. - eu encarei os três novamente.

Agora não haviam mais segredos entre nós, apenas alguns detalhes que ainda não foram contabilizados. Mas haverá tempo para isso depois.

- Vamos ter que eliminar essa ameaça então. - Jonas disse sombrio fazendo com que nossos olhares se encontrassem com uma concordância entre eles. Jesus e Micaela sorriem maldosamente também.

Isso significa que eles ainda estão comigo? Sim, eles estão comigo. Eles realmente estão ao meu lado.

- Você ainda tem muitas coisas á nos explicar, mas não vamos deixar você, não se deixa a família. - Jesus se aproximou me envolvendo em seus braços.

Logo depois nos quatro já estávamos no chão do quarto discutindo como nos livrar da ameaça que o ruivo e sua gangue representava.

Realmente escolhi as pessoas certas para a minha gangue. Agora somos oficialmente um grupo de sádicos e já temos um alvo a vista.

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