CAPÍTULO 1.5

Capitulo revisado [✔️]

Estou despertando da noite mais longa da minha vida,
e não vejo o sol há anos
~ Meu corpo minha casa, Rupi Kaur

**AMBER**

Antes...

Por que parece que eu estou destinada a ser aquele tipo de pessoa que sempre vai estar marcadas pelas cicatrizes que carrega?

Toda pessoa tem cicatrizes, isso é um fato.
Porém o tipo de cicatriz que eu estou falando, neste momento, é outra. As cicatrizes que me refiro, são aquelas que escondemos no fundo da nossa mente, aquelas que são tão bem guardadas quanto nossos maiores segredos.

Eu sou uma pessoa cheia de cicatrizes.
Não estou falando apenas dessas cicatrizes que ficam escondidas no fundo do nosso ser. Não, desde os meus 7 anos de idade, eu sou uma lutadora. Eu sempre lutei contra tudo o que pudesse ferir a mim ou a minha mãe.

E eu sei que pode parecer loucura, afinal, como uma garota de 7 anos pode tomar conta dela e de uma mulher adulta que tem total conhecimento das suas escolhas?

E é aí que está. Dificilmente, eu diria que minha mãe tinha total conhecimento das suas escolhas. Para uma mulher que me teve com 15 anos, no fundo de um vagão de metrô abandonado, eu diria que até que eu e minha mãe até que duramos muito no mundo sem que nenhuma de nós morrêssemos ou por inanição.

A verdade é que minha mãe me amava demais para a própria segurança, então, com o tempo, quando as coisas começaram a ficar difíceis, quando começamos a passar fome pela falta de comida nos armários, minha mãe começou a arranjar qualquer trabalho que conseguisse para colocar comida na nossa mesa. Esses trabalhos, às vezes incluíam se envolver com a pior espécie de caras que estivesse disposto a pagar por sua companhia.

E a julguem o quanto quiser, mas isso botava comida na nossa mesa e um teto na nossa cabeça, mas se vocês acham que ele não pagou por 'se vender' assim, podem acreditar, ela pagou esse preço, bastante. Eu também paguei.

Tive uma infância muito complicada, para dizer mínimo. Dos meus 7 aos 15 anos, toda minha vida foi marcada por monstros, dos piores que se pode imaginar, monstros que conseguiram me calar com um tapa mais vezes do que minha mãe me abraçou em toda a minha vida. Ninguém deveria ver o que eu já vi.

Posso dizer que, por viver em um inferno como aquele por 8 anos, me rendeu muitas cicatrizes, das mais simples e rasas até as mais complicadas e nos lugares mais profundos.

Às vezes, pensar sobre isso pode me tornar o pior tipo de companhia possível, aquela autodestrutiva. O que o poder da mente pode fazer com as pessoas é algo insano, é o que o famoso ditado diz, de muita corda para uma pessoa e ela se enforca, por isso evito o máximo não pensar no assunto. Porque quando isso acontece, eu penso que sou apenas uma garota de 17 anos que já viu mais do que alguém com o triplo da minha idade e já passei por mais coisas do que uma pessoa normal viveria em três vidas....

Mais cicatrizes....

Desvio meu olhar da janela, agora com a luminosidade acinzentada do céu, para o interior do pequeno quarto, agora ainda menor, já que, agora sou obrigada a dividi-lo com o meu mais novo companheiro de cela, o novato.

Encontrei o mesmo deitado sobre outra cama de metal do lado oposto do quarto, com os olhos fechados, em uma posição que fazia parecer que ele tinha acabado de cair de um prédio. Suas pernas formavam um emaranhado de nó na cama, debaixo daquelas cobertas fajutas, uma de suas mãos estava pendurada para fora da cama, seu rosto, apoiado no braço que saía da cama, ainda sim parecia bem tranquilo em relação ao que estivesse sonhando.

Este é o momento em que mais o invejo, porque, apesar de tudo, ele consegue dormir tranquilamente aqui, porque ontem à noite ele colocou a cabeça no travesseiro e conseguiu dormir serenamente quase no mesmo instante. Já eu, não. Demorei o que pareciam horas para pregar no sono e ainda sim nem parece que dormir, já que, assim que o céu clareou e refletiu sua luz no quarto, pela pequena janela na parede, meus sonhos me assombraram tanto que nem consegui segurar as lágrimas quando me sentei na cama, apavorada.

Meu primeiro instinto na hora foi ver se eu acordei o novato que não dormia tão longe assim de mim, mas graça ao universo seu sono parecia ser tão pesado quanto de uma pedra.

Fazia mais de um mês que estávamos juntos aqui. Em geral, não nos falamos muito, principalmente na hora do almoço, quando todas as atenções estão em nós. Nós apenas comemos em puro silêncio e nos momentos em que alguém se aproxima de mais, ele me encara, como se esperasse comandos ou dicas do que posso fazer acontecer.

Eu gosto desse lado dele, esse lado que entende as coisas rápido. Mas, ainda sim, me sinto totalmente exausta com ele aqui porque não deixei minha máscara abaixar nem por um minuto qualquer, exceto quando eu acordo dos meus sonhos, esse é o único momento do meu dia que me permito ser venerável, porque é o único momento que garoto está dormindo e eu sinto que posso respirar.

Nos primeiros dias praticamente nem nos falamos, mais tarde descobri que parte disso era porque seu inglês era bem ruim, pois ele era da Itália. Agora, o que um garoto italiano fazia em um dos piores reformatórios dos país, eu não fazia ideia.

Inclusive tinha que agradecer ao guarda Thompson por essa pequena informação. Ele passou por aqui no dia seguinte ao incidente no refeitório e me entregou um dicionário mofado de italiano, que em suas palavras, ele achou por aí.

Foi nesse dia que eu descobri que o garoto era um estrangeiro e foi o dia que descobri seu nome. Jesus.

Eu gostaria de brincar com o guarda dizendo que era uma blasfêmia um garoto com nome do filho de Deus estar num lugar como esse, mas meu humor ainda não era um dos melhores aquele dia.

O garoto por outro lado não se deixava abalar pelos dias aqui e sempre tentava brincar comigo, com um enorme sorriso em seus lábios dizendo coisas em italiano e as vezes na minha língua. Nem preciso dizer que sua alegria matinal não combinava com meu mau humor diário. Depois de tantas tentativas de tentar tirar algumas palavras de mim, sem sucesso, é claro, o garoto parecia frustrado em gastar suas energias comigo.

Eu mesmo eu querendo negar, eu senti pena do garoto se esforçar tanto em usar o pouco conhecimento do meu idioma para falar comigo e não ter um retorno. Mas acho que o que mais mexeu comigo foi ver aquele sorriso do seu rosto sumir no dia seguinte, isso por algum motivo fez meu coração quebrar em mais pedacinhos, eu apenas não conseguia ver mais uma pessoa sendo sufocada pelas paredes de desse lugar, e para ele devia ser tudo dez vezes mais difícil por estar tão longe do seu país de origem, com uma língua totalmente desconhecida.

Por isso, um dia pela matina, resolvi pegar aquele dicionário mofado e comecei a estudar algumas palavras lá. Quando o garoto acordou mais tarde naquela manhã o sorriso voltou a florir no seu rosto ao me ver com a cara no livro. E internamente eu fiquei feliz por ver aquele sorriso de volta no seu rosto.

Naquele dia ele se sentou ao meu lado no chão, um pouco distante, mesmo aquela sendo a maior proximidade que já tivemos, nós apenas nos sentamos lá e começamos a falar as palavras e comparar os idiomas com as limitações que tínhamos.

- Buongiorno, ragazza - disse o garoto sentado na cama, quebrando o silêncio no quarto. Me tirando dos meus pensamentos.

- Buongiorno - respondi voltando minha visão a janela do quarto.

Pelo menos agora as emoções tão intensas que eu senti no sono já tinham ido embora com as horas que tinham se passado, e eu não tremia mais.

- O que há de tão interessante nessa janela? Ogni giorno quando mi sveglio la guardi. (todo dia quando eu acordo, você está olhando para isso) - o garoto perguntou reparando que eu apenas respondia o mesmo sem tirar os olhos da vista.

Isso é algo que começou a se tornar mais dinâmicos entre nós, além das conversas, é claro, começamos a misturar as línguas durante a fala. Assim quando ele não sabe como expressar um pensamento ou uma fala, ele comenta em italiano e assim quem se adapta a sua língua sou eu.

- Mi piace la vista. (eu gosto da vista) - respondi tentando evitar que o mínimo possível de informação escape pelos meus lábios.

Por mais que eu esteja me esforçando para fazê-lo entender melhor nossa língua ainda não posso baixar minha guarda com ele, um erro não pode ser cometido duas vezes e eu já confiei em uma pessoa errada aqui, não posso passar por isso de novo.

- Não dá para ver nada daí. - o garoto resmunga se espreguiçando na cama. E por incrível que pareça sua fala foi impecável.

- Isso foi muito bom - comentei olhando para ele sobre a frase perfeitamente dita, que agora já se encontrava andando pelo quarto - Inoltre, mi piace il significato della vista. (além disso, gosto do significado da vista).

◇◇◇

Depois do café com Jesus no quarto, chegou a hora da chuveirada. Que, apesar de ainda apreciar muito minha higiene pessoal, depois que vim parar aqui, se tornou uma das piores horas do dia.

Não quero parecer 'suja', mas entrar em um banheiro imundo, onde a chance de você pegar um fungo ou uma bactéria se respirar no errado, tirou um pouco do gosto que eu tinha em cuidar tanto da minha higiene.

E não pensem que eu estou fazendo drama, muito pelo contrário, o banheiro feminino aqui não passa de um quarto comprido coberto por azulejos que um dia foram brancos - agora chegavam a estar pretos - com todos os chuveiros em um lado da parede e com bancos de cimento - para colocar as roupas - do outro lado, as privadas ficam mais para frente do cômodo.

As barras de sabonetes são uma moeda de troca raríssimas por aqui, eu tenho um grande estoque delas no meu quarto, guardadas para uso ou como moeda de troca por informações. Mas acho que vou tem que conseguir mais agora que vou ter que dividi-las com Jesus.

Os chuveiros aqui não têm divisórias entre eles, o que na minha opinião, torna tudo isso pior, não que eu ligue para outras meninas nuas ao meu lado, mas como já disse aqui antes, as pessoas de Saint Monica são fofoqueiras, e digamos que nem um pouco discretas.

Então quando tiro a roupa para tomar banho, além de ter que racionar o sabão, o shampoo, e o condicionador - os últimos dois são compartilhados - eu ainda tenho que lidar com o fato de toas as garotas olhando para mim, para minhas costas.

Acho que a esse ponto não preciso entrar mais em muitos detalhes sobre como as consegui, mas como já disse antes, eu sou uma pessoa cheia de cicatrizes e eu não estava falando apenas no modo figurativo.

Eu realmente as tenho, umas mais novas outras mais antigas, mais acho que não importa a quanto tempo eu as tenho, a única coisa que importa para essas meninas é que eu tenho cicatrizes.

Ter cicatrizes aqui é um sinônimo de força, é um indicativo de que algo te feriu e você continuou apesar de tudo. As minhas cicatrizes, somado ao meu péssimo histórico local, praticamente me dão um passe VIP para todo lugar, com um claro lembrete de que não quero ser incomodada.

Mas é o que dizem, não se chega ao topo sem se sujar, no meu caso, não se chega ao topo sem se machucar.

Agora, o que eu fiz de tão errado nas minhas vidas passadas para merecer estar nesse lugar, com um bando de meninas desconhecidas, nuas, em um banheiro tão suja quanto o próprio esgoto? A resposta é, eu não faço ideia, mas deve ter sido algo em um nível catastrófico.

◇◇◇

Depois de uma chuveirada bem desagradável, segui meu caminho em direção ao quarto tranquilamente, na verdade, tranquila até demais. Mas, sinceramente, não estou com cabeça para isso agora, tudo o que quero fazer quando chegar no quarto é deitar na minha cama e tirar um bom cochilo antes da hora do almoço.

Assim que pus meus pés no corredor do meu quarto, eu soube, alguma coisa está acontecendo. Há pessoas demais por esse corredor, e Honor e Titus estão nas portas de quartos vizinhos aos meus.

Honor e Titus são como os bichinhos de estimação de Grayson, e se eles estão aqui Grayson também está. Tenho absoluta certeza disso.

O lugar onde eles dormem é praticamente do outro lado do prédio, e o único motivo para Grayson sair da sua toca de cobras antes do almoço e vir parar aqui, sou eu.

Não perco tempo antes de endireitar minha postura e vestir aquela máscara de frieza anormal no meu ser. Caminho em direção aos dois idiotas de forma confiantes e medonha, meu rosto agora é uma parede lisa de uma expressão vazia. Os rapazes engolem em seco quando passo por eles entrando no meu quarto.

Me surpreendo zero por cento em encontrar Jesus sentado na cama - aparentemente bem - acompanhado por Grayson de pé ao lado da minha janela.

- Amor, que bom te ver - disse Grayson se virando para mim com um sorriso asqueroso assim que entrei no quarto.

Sinto repulsa ao ouví-lo me chamando assim, e o desgraçado sabe disso, ele sabe, é exatamente por isso que ele o faz. Ele ainda usava uma tipoia no braço e no ombro onde eu o esfaqueei está enfaixado, há uma mancha vermelha na tala branca que rodeia.

- Stai bene? Ha fatto qualcosa? (Você está bem? Ele fez alguma coisa?) - perguntei a Jesus ignorando a fala provocativa de Grayson, que não deixa de demonstrar a surpresa em me ver falando uma língua diferente da de costume.

Jesus apesar de estar tenso, confirmou estar bem.

- Por que está aqui, Grayson? - perguntei sem um pingo de emoção ao garoto que agora tinha os braços cruzados acima do peito musculoso. Por que o desgraçado tem que ser lindo e um idiota ao mesmo tempo? Ele podia ao menos ser mais feio.

- Isso era que língua? - questionou passando a mão pela pouca barba a fazer que havia em seu roto - Espera, desde quando você fala outra língua? - suas sobrancelhas se franziram, dando conta que ele não me conhece tanto quanto pensa.

Não saber sobre esse pequeno detalhe sobre mim o deixou nitidamente incomodado. Grayson é igual a mim, ele nunca deixa suas emoções transparecerem, pelo menos não as de verdade.

Grayson é a própria cobra da criação. Asqueroso, venenoso e um perigo ambulante. Vê-lo se mexer e demonstrar tantas caretas só indica mais uma coisa muito rara. Ele baixou sua guarda. O que geralmente acontece na mesma frequência que eu o faço, ou seja, quase nunca.

Na verdade, Grayson chega ser muito engraçado às vezes, ele se esforça tanto para 'tornar minha vida um inferno', mas o máximo que ele consegue me fazer sentir é tédio, por quase todas as suas tentativas fracassadas.

Ele adora se sentir como o personagem principal na visão de todos aqui, ele se fez assim na cabeça de todos, como se tudo que acontecesse girasse ao seu redor. Ele foi o pior tipo de ser humano que já conheci para chegar aonde queria, no topo da pirâmide desse lugar. Ele mentiu, enganou, e machucou pessoa para chegar aonde chegou, inclusive eu.

E se o nosso ódio um pelo outro não tivesse crescido tanto, ao ponto dele despejá-lo em mim todo dia e eu devolver meu ódio nele, eu poderia facilmente admitir que ele foi muito inteligente fazendo tudo o que fez até agora, até porque não sou uma hipócrita, afinal, eu fiz a mesma coisa que ele, apenas de um meio diferente. Eu achei uma forma de salvar a minha pele e a agarrei com todas as forças.

Doendo a quem doer, machucando a quem machucar.

A questão onde quero chegar é, Grayson se vê como aqueles personagem sombrios com o psicológico relativamente inexistente e com tendências sociopatas, mas a verdade é que ele é tão claro e simples quanto uma folha de papel sulfite. E tirando suas tendências sociopatas iminentes, eu consigo lê-lo como a palma da minha mão.

Diferentemente dele, que me olha como se eu fosse um cubo magico infinito, um que ele nunca consegue desvendar, e isso o deixa muito irritado, afinal, como você consegue destruir um inimigo que consegue te ler até de olhos fechados?

Porque é exatamente isso que ele quer, me destruir, me ver caindo em ruinas. Mas eu não vou dar esse gostinho a ele, nunca.

- Cuidado Grayson, está deixando suas emoções transparecerem demais, não foi assim que eu te ensinei. - falei sarcasticamente, o que eu sei que ele odeia, então quando sua postura se endireita e ele volta a usar aquela máscara arrogante não me pego surpresa

- Diga o que veio fazer aqui e vá embora. - direta e curta foi assim que fui moldada para ser depois que cheguei aqui.

O vejo fungar e em um segundo depois ele está vindo para cima de mim. Jesus se levantou da cama na mesma hora, freando o caminhar de Grayson até mim, não o culpo, na verdade é isso que eu espero, Jesus é alguns centímetros maior que Grayson e muito musculoso, tipo muito mesmo.

Qualquer um recuaria diante daquele prédio em forma de garoto, principalmente pela cara que ele está.

Grayson não avançou mais, apenas encarou Jesus, em uma luta silenciosa. E esse é o momento que me pego amedrontada mais com o fato de Jesus desafiar Grayson do que eu levar uma surra do próprio.

Como disse Grayson é, basicamente, o rei desse lugar, Jesus é só um lacaio.

Um lacaio da minha gangue, lacaio da pessoa que Grayson mais odeia no mundo, a única pessoa que é contra Grayson no reformatório e não foi espancada por isso. Por conta do medo bobo dos detentos, é claro. Mas se Jesus se virar contra Grayson, ele virá totalmente para meu lado e isso é um caminho sem volta. Se ele fizer isso, nunca mais poderá voltar atrás.

Mas, felizmente, Jesus não avançou, não mexeu sequer um músculo. E ele não vai, não até eu sinalizar que ele deva fazer isso. O garoto é inteligente de mais para entender de primeira a principal regra desse lugar, não se meta na briga de outros.

Internamente fico feliz por ele apenas ficar de pé perto da cama mantendo Grayson longe de mim por mais tempo, assim pelo menos ele não escolhe um lado e eu não tenho que lidar com as consequências disso.

Até porque, mesmo sendo difícil de admitir, me apeguei bastante a Jesus, nesses poucos dias juntos.

Eu sentia falta disso, de ter alguém falando diretamente comigo. Senti saudades de falar com alguém que não tem medo de mim, porque Jesus, por algum motivo desconhecido, realmente não sente medo de conversar comigo, e perdê-lo agora, pode me afetar mais do que eu estou disposta a admitir.

- Escute aqui, sua cobra venenosa, se você acha que eu vou deixar aquela facada sair impune, você está muito enganada. - ele diz em um tom ameaçador se aproximando violentamente de mim, em seus olhos antes vazios, agora transbordavam a ódio.

- Oh, mas eu apenas escorreguei. - eu minto nos aproximando mais ainda. Jesus fica tenso a alguns centímetros de mim, não sei se por medo do que estar por vir ou por medo do que eu posso fazer, pensando bem, ele deve estar com medo de ambos, não sou muito confiável neste momento.

- Sua vadiazinh.... - Grayson se descontrola e tudo que eu consigo ver é sua mão se formando em um punho sendo puxado para cima e ele avançando para cima de mim.

Ele é muito rápido para mim conseguir desviar, então apenas fecho meus olhos e espero o impacto da sua mão em mim, mas depois de uns dois segundo, quando nada acontece, abro os olhos.

Os abro a tempo de ver Jesus avançando, sem meu sinal, para cima de Grayson. Jesus praticamente voa para cima de Gray o agarrando pela cintura, o mesmo acaba caindo e batendo as costas no chão, com força. Jesus, por outro lado, não perdeu tempo em ficar em cima de Gray e lhe acertar uma serie de socos no rosto repetidas vezes.

- Não se levanta a mão para nenhuma mulher, não importa a situação. - Jesus diz dando um último soco no Gray que está largado no chão com o rosto todo machucado e sangrando.

Eu, normalmente, não sou a favor da violência, mesmo que as vezes eu recorra a ela. Porém, não posso negar que o que Jesus acabou de fazer foi algo grandioso. Não são todas as pessoas que se intrometem no meio de uma briga quando uma mulher está prestes a apanhar, muitos dizem que são contra a violência a mulher, mas na hora H não fazem nada, quando veem uma mulher apanhando não levantam um dedo para ajudar, mas Jesus não, ele acabou de espancar Grayson por quase ter batido em mim.

Ninguém nunca fez isso por mim. Nem lá fora, nem aqui dentro.

E eu posso estar meio anestesiada pela forte corrente de adrenalina que passa no meu sangue, mas só percebo agora que o que eu mais temia a segundos atrás acabou de acontecer, Jesus escolheu um lado, o meu lado. E agora não tenho mais certeza se ele escolheu meu lado por um impulso de ver uma mulher apanhando e precisar fazer algo a respeito ou se realmente queria isso, ir contra Grayson.

Jesus se levanta ofegante, ele olha para Gray esparramado no chão, depois seu olhar encontra o meu, faço o máximo de força para ir contra meus instintos, luto para baixar minha máscara por alguns segundos para sorrir para ele, por mais confusa que esteja por dentro, tudo isso apenas para mostrar que eu realmente me sinto grata pelo que ele fez.

Ele se espanta por me ver sorrindo assim em sua direção, mas seu espanto não vem pelo fato de eu estar sorrindo para ele e sim porque esse não é apenas uns dos meus sorrisos sarcásticos ou maldosos, é um sorriso verdadeiro e genuíno.

Por um segundo quase esqueço que Grayson está logo ali sangrando em meu chão, por isso, mudo minha postura de novo em segundos fazendo o garoto a minha frente franzir as sobrancelhas por minha constante troca de humor constante.

Volto me para a porta e grito alto o bastante para que Honor e Titus ouvirem e venham tirar seu líder inútil do chão do meu quarto. Os dois adentram no quarto de cabeças abaixadas e pegam seu líder desacordado do chão e o levam para fora em silêncio. Eles não loucos de criar uma briga pelo de Gray no chão, já que isso é apenas um resultado de algo que Grayson começou.

Espero o grupo dos três patetas saírem para fechar a porta do quarto, me encostando na mesma em seguida, escorrego por ela até chegar no chão, abraçando meus joelhos, suspiro, olhando para Jesus esperando qualquer reação.

- Giornata impegnativa, principessa? (dia agitado, princesa?) - sua ironia inesperada me atinge em seco e confirmo gargalhando.

- Não tem graça, ainda não são nem 10h da manhã. - resmungo deitando minha cabeças nos joelhos, respirando fundo.

- Aqui, nada fica entediante por muito tempo, não é? - ele questiona se sentando ao meu lado, eu poderia elogiar sua melhora na pronúncia ou pedir para que fique longe, mas estou tão cansada de carregar essa máscara, que acabo não fazendo nenhum dos dois.

- Então, mi spiegherai cosa ha con te quel ragazzo? (você vai explicar o que aquele cara tem contra você?) - ele perguntou colocando uma das mãos nas minhas costas fazendo círculos preguiçosos nelas, me acalmando.

Me concentrei apenas na sua mão nas minhas costas me acalmando, o toque de alguém.

Fazia tempo que não sentia algo desse tipo, muito tempo, para falar a verdade. Mas mesmo sentindo todo o conforto que ele passa a mim, ainda não estou pronta para simplesmente sair contando as coisas da minha vida para ele, não ainda.

Não é uma questão de confiança, não depois de hoje. Não depois de Jesus acabar de escolher um lado, o meu lado. É só que, Grayson é o cara que manda em tudo aqui, e eu, sou apenas uma exceção aparte, eu sou a que todos temem e não querem chegar perto, porque eles me acham perigosa.

Quando Jesus bateu em Gray para me defender, indiretamente ou diretamente, ele assumiu estar do meu lado e ir contra Grayson, ou seja, contra todos no reformatório, e suspeito que Jesus já saiba disso, me pergunto se ele se arrepende.

E mesmo ele tendo feito tudo isso, mesmo ele tendo acabado com sua vida aqui dentro até o comprimento total de sua estadia aqui, ainda não sei se tenho palavras para começara a falar de mim, ou de qualquer coisa que me envolve.

- Você não deveria ter batido nele por mim, você não entende o que acabou de fazer, ele não vai esquecer isso, ninguém vai, você vai virar um alvo, assim como eu sou. - eu desvio, não totalmente, do assunto.

- Eu não ligo se eu vou virar um alvo ou não, nunca se deve levantar a mão para uma mulher, nunca, se vira um alvo é o preço a pagar para evitar isso eu o aceito de bom grado.

Levanto minha cabeça surpresa. Nunca em toda minha vida, que foi uma merda aliás, eu ouvi isso da boca de um homem. Até porque todos os homens que eu conheci eram algo da minha mãe, namorados, maridos, amantes, ficantes.

Nesse tempo em que o garoto esteve aqui nunca o vi destratar ninguém, ninguém mesmo, por mais idiota que seja, nunca xingou e nunca me destratou ou qualquer outra mulher aqui, como os homens aqui costumam fazer. Como uma pessoa como ele veio parar aqui? O que ele fez para parar aqui?

Não que eu vá julgá-lo, as pessoas podem vir para lugares como este pelos menores motivos possíveis, às vezes. Não chega a ser meu caso, mesmo assim, gostaria de saber o que um estrangeiro italiano, praticamente analfabeto na nossa língua, e por incrível que pareça, super educado, faz em um lugar como esse?

- Você é um tolo se pensa que isso é algum tipo de jogo, todos aqui são maus e cruéis. Eles não vão se importar se você fez aquilo para ele não me agredir. Eles não gostam de mim, eles não ligam para isso, para eles você escolheu um lado, o meu lado. Agora você é um alvo deles assim como eu sou, e eles vão devorar você como corvos devoram carniças. - eu digo me levantando da porta, andando até a janela na parede a frente.

- Não eles não vão, perché ora hanno paura di noi, entrambi. (porque agora eles estão com medo de nós, de nós dois). - ele diz atrás de mim.

Será que ele não entende o principal? Eu sozinha conseguia controlar todos, conseguia fazer com que todos tivessem medo de mim, mas agora conosco juntos, não sei se vou conseguir fazer isso.

- É por isso que não aconteceu nenhuma briga quando o guarda me jogou para você, não é? Voglio dire, oltre a quel ragazzo che se n'è andato di qui (quero dizer, além daquele cara que saiu daqui).

Ele se aproximou um passo de mim.

- Eles têm medo de você, não tem? Porque você deve ter feito algo muito ruim para eles não mexerem com você. Estou certo? - ele comentou se aproximando mais de mim, até que sua mão encostou no meu braço me virando devagar para ele, até que esteja de frente com aquela parede de músculos, levantando a minha cabeça com uma das mãos para encarar seus olhos.

- Troppo, per il tuo bene. (demais, para seu próprio bem).

- Cos'hai fatto? (o que você fez?) - ele perguntou com o sotaque mais carregado dessa vez.

- Para eu poder te contar sobre isso, eu preciso saber se você quer mesmo ficar do meu lado, tem certeza de que é isso que você quer? Capisci di cosa parlo? (entende o que eu estou falando?)

- Si, capisco. (sim, eu entendo) - ele respondeu de prontidão - E eu quero que você saiba que o que está feito, está feito. Eu quero ficar do seu lado, e sim eu tenho certeza sobre isso. Cosa mi devi dire? (o que você tem para me contar?).

- O que eu vou te contar agora pode mudar tudo...

*********

Boa noite, meu povoo.
Como vocês estão amores?

Eu sei o que vocês devem estar pensando 'O QUE MERDA ACONTECEU NESSE CAPÍTULO?'

Bom vamos lá, como já sabemos, nossa querida protagonista Amber tem muitos segredos guardados para si, e um deles pra quem já leu a SINOPSE, já sabe que nossa querida Amber 'mora temporariamente' em um reformatório e que agora ela tem um novo companheiro de quarto.

Mas Amber misteriosa como sempre, não chegou a contar como foi parar lá, ou porque todos a temem.

Bom agora é a hora que eu me despeço,
Até a próxima.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top