Em Ótima Companhia, por @NaiaraAimee

— Não! — Agatha disse com mais firmeza, enquanto apertava o copo de isopor em suas mãos. — Eu não vou dar uma de Julia Roberts e agir como uma prostituta de luxo em Uma Linda Mulher.

— Ah, ela não era exatamente uma prostituta de luxo — corrigiu-a Patrícia, balançando as madeixas loiras. — Na verdade, ela era até bem sem classe, mas Richard Gere conseguiu deixá-la nos trinques. Bom, o dinheiro dele.

A garota revirou os olhos para o comentário completamente irrelevante.

— Eu não vou me vender! — Agatha falou um pouco mais alto, chamando a atenção de alguns executivos que estavam na mesa ao lado.

A garota quase se encolheu de vergonha. Na verdade, desde que chegara ali a única coisa que queria era sair correndo de volta para casa. Patrícia não a havia avisado que a Starbucks onde haviam marcado o encontro ficava num bairro chiquérrimo de São Paulo, de modo que com seu jeans rasgado, a regata branca, além das sapatilhas da Minnie e a trança brega que fizera, ela se sentia como um peixinho fora d'água ainda que ninguém estivesse prestadando atenção nela.

— Você precisa de dinheiro, lembra? — Patrícia apontou. — E eu já disse para você que Eros Albertini não quer dormir com você. Ele não é um desses ricos safados. Eros é um grande amigo meu e precisa de uma mulher para ser companhia dele durante algumas festas e jantares. Você atuaria mais como uma espécie de secretaria, ajudando-o com algumas informações, e ficando ao lado dele.

Apesar de Patrícia ser completamente pirada, Agatha sabia que a amiga jamais a colocaria numa fria. Se ela confiava nesse tal de Eros Albertini, então talvez ela devesse aceitar a proposta. Já fazia algum tempo que estava desempregada, vivendo de bicos aqui e ali para conseguir pagar as dívidas do empréstimo estudantil com o qual havia se formado, além das contas básicas como aluguel, água e luz, comida... As coisas estavam ficando feias para o lado dela e se seu cenário financeiro não desse um up logo, ela seria obrigada a voltar para a casa de seus pais no interior onde as oportunidades eram ainda mais escassas.

Olhando ao redor, Agatha suspirou.

— Eu não tenho roupa para usar nesse tipo de evento.

— Não se preocupe com isso. — Patrícia deu dois tapinhas na mão de Agatha e um gritinho animado. — Peguei o meu cartão para gastar com você. Hoje nós duas iremos às compras!

— Pegou o seu cartão? — Agatha estreitou os olhos ligeiramente estupefata. — Não posso aceitar!

— Bobagem! Depois de como você me ajudou a passar naquele maldito curso de Sistemas é o mínimo que posso fazer por você! E eu garanti a Eros que te convenceria, então não me faça passar vergonha. Por favor, por favor, por favor — implorou com um biquinho.

— Certo. — Agatha deixou escapar uma risadinha e se recostou nas costas da cadeira. Ainda nem havia bebido seu cappuccino. — Eu concordo, mas se eu vou fazer isso pelo menos me fala algo sobre ele. Você tem uma foto?

Os olhos de Patrícia brilharam. Ela tirou uma edição da revista Forbes Brasil da bolsa, arrastou a cadeira, contornando a mesa para ficar ao lado da amiga e abriu numa página com uma foto grande do cara, enquanto despejava algumas informações.

Foi difícil se concentrar nas palavras da amiga quando diante dos seus olhos Agatha tinha a imagem de um dos homens mais sexys que já tinha visto na vida. Os olhos do cara eram de um tom de azul forte que junto com as sobrancelhas escuras e expressivas conferiam à sua fisionomia uma virilidade que parecia saltar da página e invadir o estômago dela. Os cabelos eram charmosamente selvagens e brigavam entre loiro e castanho. A pele tinha aquele leve dourado do sol e os lábios eram carnudos de um jeito que a fez fantasiar como seria a sensação de mordiscá-los. O queixo era sólido e a barba bem feita estendia-se por todo o rosto. Cada detalhe daquele homem fez Agatha perder o ar. Como se não bastasse tudo isso, na foto ele segurava uma taça do que ela poderia apostar ser champanhe com mãos grandes e fortes e estava usando uma camisa social branca justíssima, que emoldurada seus músculos que tinham a espessura perfeita. Ela precisou se esforçar para compreender tudo que Patrícia estava falando.

— Certo. CEO, italiano, loiro, rico, bonito, vinte e oito anos, saiu numa das revistas mais prestigiadas do mundo dos negócios... Que clichê. — Agatha riu com desdém, mas a verdade é que só de pensar em estar na companhia de um conjunto tão poderoso, ela sentia que estava prestes a hiperventilar.

— Um clichê muito do bom. — Patrícia ergueu as sobrancelhas de maneira sugestiva. — Não que eu já tenha provado, mas quem sabe você tira uma casquinha.

— Patrícia... — ela começou em tom de censura, mas sua pele arrepiou-se ao imaginar as mãos firmes dele em sua cintura, puxando-a para um beijo quente.

Céus, Agatha podia sentir a temperatura subir cada vez mais e ainda nem o havia conhecido! Isso a fez se questionar se era mesmo uma boa ideia seguir adiante com aquilo. Se apenas uma foto já havia mexido com ela daquela forma, imaginou como se sentiria quando o visse pessoalmente. Agarrou-se a ideia de que ao visualizar os defeitos do homem de perto o fascínio passaria. E ele devia ser um egocêntrico. Claro, todos os homens do naipe dele eram. Não é mesmo?

— É isso. Agora vamos, Agatha, Eros quer te conhecer ainda hoje.

— O quê? — A ideia a deixou assustada, mas Patrícia nem sequer lhe deu tempo para pensar e puxou-a, arrastando-a para as lojas mais chiques e caras em que Agatha já tinha estado alguma vez na vida.

*

Eros olhou ao redor da mesa à procura do contrato que havia acabado de assinar para um terreno cuja sua construtora havia sido acionada, então, depois de uma busca incessante, lembrou-se de que já o havia entregado a Marta, sua secretaria de meia idade.

— Merda! — murmurou para si mesmo.

Estava distraído aquela tarde desde que Patrícia lhe dissera que levaria sua amiga para conhecê-lo.

Com um suspiro, Eros deixou-se cair na cadeira giratória de seu escritório e passou uma mão pelos cabelos. Quando contou a Patrícia sobre como se sentiu desconfortável no último evento de gala para o qual fora convidado, já que não sabia o que metade das pessoas ali faziam ou mesmo quem eram, ela lhe sugeriu que contratasse uma acompanhante que, além de aparecer ao lado dele, fazendo-o parecer muito mais sério, também o ajudaria, memorizado e fornecendo aquele tipo de informação para ele.

— Você é louca! — ele disse na ocasião.

— Querido, você nunca assistiu O Diabo Veste Prada? Isso é simplesmente genial! — rebateu Patrícia. — Veja se não estou certa.

A loira seguiu até ele e abriu a galeria do celular, depois clicou numa foto em que estava ela e outra mulher.

— O que me diz, Eros Albertini? — a loira perguntou em tom sugestivo.

Ele pegou o celular da mão da loira e estudou a foto. A garota ao lado de Patrícia tinha um sorriso excepcional. Nada daqueles sorrisos tímidos, mas algo aberto e vivaz. Ela tinha dentes brancos e perfeitos que faziam um contraste sedutor com a pele bronzeada. Os olhos eram grandes, cor de avelã e havia algo neles que fazia com que ela parecesse divertida, esperta e interessante. Os cabelos castanhos com mechas cor de mel caiam em ondas sobre seus ombros e eram longos. Ela usava uma saia jeans e uma camiseta branca, que destacava seus seios, embora eles não fossem grandes. Eram na medida certa. Simples como estava a garota era mais fascinante que qualquer outra que ele já tinha visto.

Quando devolveu o celular à loira tudo que ele soube era que precisava conhecer a mulher da foto. Então, simples assim, a ideia já não lhe parecia mais tão absurda.

Eros despertou dos seus pensamentos quando o telefone em cima da sua mesa tocou.

— Sim? — perguntou a Marta.

— Patrícia e sua amiga estão aqui para vê-lo. Deixo que entrem?

— Claro! — ele consentiu.

Ele se levantou e deu a volta na mesa, encostando-se a ela com os calcanhares cruzados, ansioso para ver a bella donna ao vivo e a cores.

A porta do escritório foi aberta e Patrícia adentrou o lugar com um sorriso no rosto. Ao lado dela, uma morena, de estatura mediana, se aproximou um tanto hesitante.

— Eros, meu amigo! — Patricia lhe deu dois beijinhos em cumprimento
— Essa é Agatha, a garota que te falei.

— Muito prazer, Agatha. — Ele estendeu a mão, pousando seus olhos sobre ela e gostando ainda mais do que via pessoalmente. Agatha aceitou o convite e uniu sua mão a dele. O contato combinado com a forma com a qual Eros a olhou intensamente enviou uma onda de calor através do seu corpo.

— Muito prazer... Hum... Sr. Albertini?

— Pode me chamar apenas de Eros.

Agatha assentiu. Ela parou para analisá-lo, procurando qualquer defeito que fizesse com que ela se sentisse menos atraída, mas Eros era a personificação da sensualidade. Diferente do que achou que encontraria, ele não vestia um terno e gravata. Estava de camisa social, as mangas dobradas, embora cuidadosamente, revelando os pelos dourados de seus braços. Dois dos botões estavam abertos e ela podia ver uma corrente de prata fina em seu pescoço. Além da aparência, ele cheirava tão bem. O perfume era uma mistura de algo doce e cítrico que penetrou os poros dela. Droga, não fazia nem cinco minutos que ela havia entrado naquela sala e já se sentia arrependida.

— Eu tenho compromisso — Patrícia se manifestou e os dois se soltaram, dando-se conta de repente de que havia mais alguém ali. — Tudo bem se eu te deixar aqui? — perguntou, dirigindo-se a Agatha.

Agatha deu um sorriso amarelo, mas assentiu. Ela não sabia como voltaria dali para casa, mas nada como o Google para ajudá-la a se localizar depois. Ela só esperava que sua internet supostamente 4G não a deixasse na mão.

Saindo da sala, a amiga deixou Agatha e Eros sozinhos. Um silêncio recaiu sobre o ambiente. Enquanto Eros a fitava como se ela fosse um misterioso e interessante baú, como se estivesse imaginando o que havia lá dentro, Agatha se sentia ligeiramente desconfortável. Ela ainda estava usando a roupa com a qual saíra de casa pela manhã e sabia que seu rosto devia estar brilhando por conta do suor de caminhar à procura de lojas. Aliás, ela precisava se lembrar de pegar as sacolas na recepção quando fosse embora.

— E então? — ela ergueu as sobrancelhas tentando amenizar o olhar dele sobre ela, julgando que ele estava avaliando se havia feito uma boa escolha.

— Ah, sim! — Ele abriu um largo sorriso. — Que falta de educação a minha. Sente-se, por favor.
Eros puxou uma cadeira e Agatha se sentou, em seguida ele fez o mesmo, sentando-se quase que de frente para ela.

— Como a Paty deve ter dito, preciso de alguém que me acompanhe nas festas e me mantenha a par sobre cada convidado importante.

— Sério? Achei que essas coisas não eram relevantes na vida real.

— Ah, mas elas são, pode ter certeza! — garantiu Eros e abriu um sorriso de canto. — As pessoas se sentem ofendidas se elas te conhecem e você não sabe quem elas são. Além do mais — acrescentou —, vai me fazer evitar cometer gafes. Céus — ele riu —, dá última vez eu confundi a esposa de um dos sócios da Ford achando que a mulher era filha dele!

— Isso deve ter sido vergonhoso. — Agatha não conseguiu conter o riso.

— Em minha defesa a mulher é vinte e nove anos mais nova que ele.

— Uau! — Agatha estreitou os olhos.

— Pois é. — Ele soltou o ar. — E então? Aceita?

— Será apenas isso, certo? — ela o questionou e ele notou um pouco de receio em seu olhar. — Não há nada implícito neste negócio? Porque se você estiver pensando em...

— Pelo amor de Deus, não! — Eros adiantou-se. O rosto dele se contorceu numa careta preocupada. — Se te dei essa impressão, sinto muito. Nosso acordo não vai além do que combinamos, é estritamente profissional.

— Perfeito! — Agatha assentiu firme.

— Estamos combinados? — Eros inclinou-se e estendeu a mão, exibindo para ela um sorriso charmoso.

— Estamos combinados. — Agatha correspondeu e ergueu os lábios, tentando ignorar a sensação que o sorriso dele provocou em sua espinha.

*

— Certo! Nicolas Hoffman. Ele é o fundador das empresas de tecnologia que fazem serviço para a L.A. — Agatha apontou para o homem ao lado da mesa de aperitivos. — A mulher que está com ele é sua nova namorada. Os dois viajaram recentemente para Madrid.

— Ótimo — sussurrou no ouvido dela com seu hálito quente.

Eros levou o copo de champanhe aos lábios e Agatha acompanhou o movimento, a forma como ele a olhou por sobre a borda da taça como se fizesse de propósito. Ela quase deixou escapar um sorriso.

O italiano gostava de provocá-la, mas ela sabia que também mexia com ele. Naquela noite, Agatha estava usando um vestido vermelho que estendia-se até o chão e possuía uma fenda que começava na metade da coxa. Assim que Eros a buscou para levá-la ao evento com ele, Agatha não pôde deixar de notar como ele se demorou sobre ela, seus olhos admirando a forma como o tecido leve se agarrava ao corpo dela, destacando a cintura fina e as curvas dos seus quadris. Já fazia um mês que estavam trabalhando juntos e Eros se manteve cavalheiro e respeitoso todo o tempo, mas era nítido que havia uma faísca entre eles. E Agatha estaria mentindo se dissesse que não apreciava o flerte e todo ar que os envolvia.

Assim que Nicolas Hoffman se aproximou, Eros procurou manter uma conversa informal com ele como se ambos fossem amigos de longa data. No fim das contas, a ideia de Patrícia tinha mesmo sido promissora e, por inúmeros motivos, era bom ter Agatha ao seu lado.
No fim da noite os dois estavam bem cansados e Eros decidiu que devia levá-la para casa. Aquele era um dos seus momentos favoritos do dia, quando Agatha entrava no carro e soltava os cabelos do penteado elegante, passando os dedos entre os fios escuros, e tirava os saltos, relaxando e ficando mais à vontade.

— Pode me fazer um favor? — Agatha se virou para Eros, que procurava manter o olhar atento à estrada e não à mulher incrivelmente linda e inteligente que tinha ao seu lado.

— Claro.

— Você pode estacionar em algum mercado? Preciso me trocar.

— Sem problemas.

— Estou indo comemorar o aniversário de uma das minhas amigas. Não que minha vida já não seja uma festa — ela brincou e descansou a cabeça no encosto do banco, olhando para Eros.

— Aquelas festas chatas não contam. — Eros sorriu, mas o sorriso não chegou aos seus olhos. — Você vai poder relaxar de verdade, com amigos que não estão apenas interessados em querer fechar negócios com você.

Aquela afirmação fez Agatha se perguntar qual teria sido a última vez que Eros havia aproveitado com amigos sinceros, se é que ele realmente tinha algum. Patrícia havia contado a ela que Eros era viciado em trabalho e quase não tinha tempo para uma vida social de verdade.

Então, mesmo que soasse ridículo, ela não conseguiu conter o impulso.

— Quer vir comigo?

Eros desviou o olhar e a encarou com tanta surpresa que ela sentiu vergonha. O cara era elegante, o que ia querer fazer numa festinha de aniversário com ela?

— Ah, você deve ter coisas mais importantes para fazer, então tudo bem...

— Você me entendeu errado — Eros disse manobrando para estacionar. Então parou o carro e voltou a fitá-la. — Eu quero ir, mas só se você quiser mesmo que eu vá e se isso não for atrapalhar.

Um sorriso involuntário tomou conta dos lábios de Agatha.

— Não atrapalha. Maaaas — ela alongou um pouco a adversativa, estudando-o —, precisamos dar um jeito nesse visual de italiano CEO.

— O quê? Isso não é casual? — Ele abriu um sorrisinho de canto, apontado para o modelo que consistia numa calça jeans, camisa social e terno.

— Não o suficiente, mas deixa comigo. — Ela piscou para ele com um sorriso travesso. — Dou um jeito.

*

Fazia algum tempo que Eros não se sentia tão leve e descontraído. A amiga de Agatha era a aniversariante mais animada e receptiva que ele já havia conhecido. Os demais amigos também eram muito divertidos, procurando sempre fazê-lo se sentir como alguém do grupo.

— O senhor dança, Sr. Darcy? — Agatha perguntou ao se colocar à sua frente, o sorriso traquina e os olhos escuros brilhantes.

Eros abriu um grande sorriso.

— Só se não puder evitar.

— Pois sinto informar, mas hoje você não pode e será obrigado a me acompanhar.

Puxando-o, Agatha o levou para o meio do salão onde os convidados dançavam. A música era agitada e envolvente. Eros mordeu o lábio inferior com a visão do corpo de Agatha se movendo daquela forma despretensiosa, o jeans claro abraçando suas pernas torneadas, os cabelos flutuando pelos ombros, a entrega ao ritmo.

— Os italianos não sabem dançar Reggaeton, não? — ela provocou vendo que ele mal se movia. — Quer que eu peça pra colocar uma ópera?

— Ah, é assim? — Ele ergueu a sobrancelha e Agatha riu.

Com um braço, Eros puxou-a para perto dele, enlaçando sua cintura. Era leigo no estilo, mas aprendia rápido e logo seu corpo se mexia em harmonia com o dela. Seus olhos presos nos dela, contendo tantas promessas, enviavam uma onda de calor por sua espinha. Agatha tentou não parecer tão afetada pelo olhar dele, o cheiro masculino, os músculos sob a camiseta simples e preta que o fizera usar, mas era difícil quando eles estavam tão perto.

A mão de Eros subiu um pouco pelas costas dela e Agatha engoliu sem seco, sentindo sua pele queimar. Nenhum dos dois era capaz de desviar o olhar.

— Retiro o que eu disse. — Agatha sorriu e colocou uma mão no peito dele. — Você é bom.

— Você não viu nada — Eros rebateu com a voz grave, tocando a mão dela.

Devagar, Eros foi aproximando seus lábios dos dela. Agatha entrefechou os olhos, esperando aquele contato explosivo, extasiada com as sensações que ele causava em seu estômago e em cada parte minúscula do seu corpo, levando-a ao delírio e deixando-a num estado febril. Mas o beijo não veio. Seus cílios bateram sucessivamente quando Eros afastou-se parecendo perturbado e até mesmo frustrado. Ela também estava atordoada. A luz que antes iluminava os rostos de ambos estava mais fraca, a música tinha cessado e agora todos cantavam feliz aniversário, batendo palmas.

Engolindo em seco, ambos se juntaram aos demais nas palmas e se viraram em direção a aniversariante que parecia surpresa, mas feliz com o bolo enorme que era empurrado até ela. Ela soprou uma única vela que estava no topo da montanha de massa e creme e distribuiu pedaços generosos a todos.

O restante da noite foi de conversa, comida e bebida e nenhum dos dois tocou no assunto do que quase havia acontecido.

No fim da festa, Eros levou-a para casa. Continuaram em silêncio até ele deixá-la em sua porta. Ao se soltar do cinto e fazer menção de sair do carro, Eros tocou o braço de Agatha que se voltou para ele.

— Obrigado por hoje — ele disse com um brilho sincero. — Eu não comia um bom bolo de aniversário há anos e nem me lembro de ter tido conversas tão leves como as que tive com seus amigos. Eu... — hesitou, olhando-a profundamente. — Gostei de tudo. Até de dançar. Principalmente de dançar com você.

Agatha assentiu com um sorriso, engolindo em seco mais uma vez naquela noite, se soltando da pegada de Eros antes que o puxasse para si e terminasse o que eles haviam começado mais cedo.

*

— Como você faz isso? — Com as mãos nos joelhos e o corpo dobrado, Agatha respirava com dificuldade e ria.

— Ser atletla é mais uma das minhas habilidades. — Ele deu uma piscadela e passou as mãos pelos cabelos. — Mas valeu a pena, não?

Agatha ficou ereta e deu alguns passos para frente. Subir aqueles muitos andares pelas escadas, para chegar ao terraço daquele enorme edifício, tinha mesmo válido a pena agora que ela conseguia contemplar a paisagem. As luzes dos outros prédios, o céu, as estrelas, tudo parecia agradável e mágico visto dali.

— Meu irmão gostava de ver as coisas do alto. Ele era piloto. — Agatha moveu o pescoço para encará-lo. Eros não falava muito da família e a maneira como estava se referindo ao irmão no passado deixava a entender que ele já não estava mais entre eles.

— O que houve? — se viu perguntando.

A garganta de Eros fez um movimento que ela acompanhou com um olhar pesaroso. Dava pra ver que o assunto causava sofrimento.

— Câncer. — Eros apertou os lábios. — Frederico Albertini foi feliz. Apesar do final triste, ele fez tudo que queria. — Chacoalhando a cabeça, o italiano se voltou para Agatha e sorriu.

Ela foi pega de surpresa quando ele entrelaçou sua mão na dela, mas Agatha não se atraveu a se afastar. Permaneceu fitando-o, admirando aqueles olhos azuis que eram quentes e ao mesmo tempo gentis. A sensação era gostosa e diferente das outras vezes. Estar com Eros naquele terraço, sem as brincadeiras provocativas, a não ser o silêncio parecia mais perigoso do que o flerte, mas ela não estava pronta para se soltar dele.

— Quer dançar? — a voz grave dele de repente interrompeu seus pensamentos.

— Claro... — concordou ela, tentando esconder a decepção que a atingiu. Agatha não queria voltar para o salão e sorrir para aqueles magnatas e suas acompanhantes. Queria continuar ali, só os dois. — Vamos.

Agatha deu um passo para trás a fim de se soltar de Eros, mas ele segurou sua mão firme o suficiente para que ela soubesse quais eram suas intenções.

— Vamos dançar aqui mesmo. — Os olhos dele queimaram nos dela e Agatha sentiu os pelinhos da sua nuca se arrepiarem.

Tirando o celular do bolso da calça com a mão que estava livre, Eros colocou uma música, deixou o aparelho sobre uma estrutura de concreto arredondada que havia ali e, delicadamente, enlaçou a cintura de Agatha. Ele podia garantir que a ouviu ofegar quando ele colocou a palma da mão dele em suas costas e seu dedão encontrou a pele nua dela pela pequena abertura do vestido.

— Espera... — disse de repente e ele ergueu a sobrancelha para ela. — Eros Ramazzotti? Sério?

— O quê? Você não gosta? — Ele exibiu uma expressão chocada.

— Meio cafona. — Agatha torceu o nariz numa careta e Eros riu, jogando a cabeça para trás.

— Eu posso mudar se você preferir — garantiu com a voz rouca, fazendo movimentos circulares com o dedão e Agatha mordeu o lábio, deleitando-se com o choque elétrico que aquele simples contato provocava nela.

— Não. É cafona, mas eu gosto.

Encostando a cabeça no ombro de Eros, Agatha fechou os olhos e se deixou levar pela música, o movimento, a proximidade de seus corpos e a voz de Eros cantando em seu ouvido.

— Sto pensando a te, sto pensando em noi...

— Eros — ela murmurou quando ele subiu uma mão até sua nuca.

Fazendo esforço para abrir os olhos, Agatha o fitou. O olhar dele ardia de desejo. Os lábios de ambos estavam tão próximos que quase se tocavam. A vontade de chegar apenas um milímetro mais perto era quase insuportável. Ela queria senti-lo, queria a boca dele na dela, sua língua explorando-a. Mas ele parecia receoso, embora fosse evidente que a queria tanto quanto ela a ele.

— O que você está esperando, Eros?

O Italiano sorriu entendendo que aquela era sua permissão.

— Você, Agatha. Só você.

Com delicadeza, ele tocou os lábios dela, saboreando-os para logo em seguida aprofundar o beijo. A língua dele pediu passagem e Agatha deixou que ele invadisse sua boca. Era tão bom sentir o gosto dele. Ela ergueu os pés e seus braços rodearam o pescoço de Eros, que a trouxe mais para si como se não tivesse o suficiente dela.
Agatha gemeu baixinho quando ele encontrou a base do seu pescoço e Eros se sentiu encojado a continuar sua exploração, beijando seu ombro. Aquela mulher era doce, quente e fantástica. Se pudesse, Eros nunca mais pararia.

Mas não podiam continuar ali por mais gostoso que estivesse sendo. Então Eros descansou a cabeça entre o pescoço e o ombro dela, procurando acalmar suas emoções, enquanto Agatha acariciava seus cabelos.

Os dois permaneceram assim, em silêncio, apenas abraçados e Agatha sentia como se estivesse sobrevoando uma nuvem. Aquele beijo havia sido incrível, a música, as palavras que ele repetia, sobretudo aquela última frase... Nesse momento, Agatha se deu conta de algo que fez seu coração se alarmar. Ela não poderia mais trabalhar para ele. O que havia começado como uma atração estava se tornando algo mais para ela, mas, na vida real, príncipes como Richard Gere não se apaixonavam por pessoas como ela. Agatha tinha que se afastar.

*

— Você o quê? Por quê? — Patrícia parecia perplexa ao ouvir o que a amiga havia lhe dito.

— Eu precisava arrumar um emprego de verdade e aquilo não era um.

— Ah, qual é, Agatha! — Patrícia protestou. — Eu sei que você estava amando bancar a Anne Hathaway, sem a Miranda, claro. Afinal, Eros é um fofo. O que aconteceu de verdade?

A amiga dobrou o cotovelo, pousando-o na parte superior do sofá.

— Caramba, Paty! Eu já te disse!

Um tanto irritada, Agatha se levantou do sofá e ficou andando de um lado para o outro, com os braços cruzados.
Fazia uma semana que ela havia se demitido. Simplesmente chegara ao escritório de Eros e lhe dissera que havia recebido uma proposta de emprego que tinha a ver com sua formação, que não podia recusar a chance de atuar na área que havia escolhido. Ela não estava mentindo sobre a proposta, pois se inscrevera em todas as vagas disponíveis depois daquele dia no terraço, mas nem de longe o trabalho e o salário compensavam a saída dela de sua empresa. Mas ele não precisava saber os detalhes. Sendo assim, ainda que visivelmente triste, ele deixou que ela fosse embora seguir o que queria.

Ela sentia saudades de vê-lo, sentir seu cheiro, ouvir a voz dele, do seu humor italiano, das conversas quando ele a levava para casa depois das festas. Não ter mais nada daquilo a deixava nervosa e deprimida, mas era melhor sofrer antes do que deixar aquela ilusão se prolongar. Ele não havia ligado, nem a procurado naqueles dias em que estavam distantes e aquilo só comprovava que tudo que ele queria era suprir a evidente atração, mas não havia sentimentos reais.

— Não vou mais insistir no assunto. — Patrícia se levantou e, sorrindo para ela, pegou sua mão. — Mas tem algo que quero que você veja e pra isso você vai ter que vir comigo.

Agatha reclamou, mas Patrícia a ignorou. Cocolou-a no carro e dirigiu com ela até sua casa.

— Droga! — Patrícia deu um tapa em sua testa assim que chegaram. — Toma a chave. Sua surpresa tá lá no meu apê, você vai saber o que é quando ver. Não vou com você. Preciso pegar minha roupa na lavanderia antes que fechem!

Mandar lavar roupa era mesmo coisa de ric0, pensou Agatha. Ela fez um gesto negativo com a cabeça enquanto via a amiga dar ré. Entrando no prédio, ela subiu de elevador até o nono andar e abriu a porta do apartamento 95. O lugar era grande e sofisticado. De início ela não notou nada que pudesse ser para ela, até que deu um pulo ao ver uma cabeça se erguer do sofá, depois um corpo alto e forte.

— Agatha. — Os olhos de Eros brilharam.

— O-o que... O que faz aqui?

Eros se aproximou, mas Agatha deu um passo para trás.

— A Patrícia — ele explicou. — Ela me disse tudo. Eu pensei... Pensei que quisesse se afastar de mim porque não sentia o mesmo que eu. Por isso não te procurei. — Agatha mordeu o lábio sem responder e baixou a cabeça. Eros se aproximou e tocou seu queixo, trazendo o olhar dela de volta para ele. — Eu fui sincero quando disse que estava esperando você. Não vou dizer que te amo, Agatha. Não ainda. Mas eu sei que se dermos chance ao que sentimos um pelo outro, então lá na frente eu vou poder dizer, porque sei que será impossível não amar você. Sei desde que Patricia me mostrou sua foto no celular dela.

Aquilo era tudo que Agatha precisava ouvir. Com um sorriso bobo, ela jogou os braços ao redor dele e ele a apertou contra si.

— O que isso significa, Eros?

— Significa que eu quero uma relação com você, Agatha. Se você me quiser.

Agatha acariciou a barba dele. Então essa era a surpresa, Patrícia!, pensou e riu. Talvez, fazer com que os dois se apaixonassem fosse sua intenção desde o início. E havia dado muito certo. Mais do que certo.

— Tudo bem, Sr. Albertini, vamos apostar nossas fichas no amor.

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