Capítulo 8- Área 50 III
Depois de treinarem e se enturmarem com alguns poderosos, José e Safira foram ao refeitório para almoçar. Havia centenas de pessoas como eles e de etnias que nem sequer imaginaram conhecer um dia. Sentiram-se realmente em uma segunda casa ali. Voltaram ao hall de entrada apenas às 13h05min com seus "guias turistas pela Área 50".
— Agora vamos para o lugar onde é realizada a reabilitação de poderosos infectados. — Pierre avisou quando chegaram à porta dupla do meio, paralela a abertura da saída do abrigo.
Na entrada informava que somente pessoas autorizadas poderiam passar. Qualquer um passa por essa porta, nem tranca ela tem... Pensou a de cabelo esverdeado.
— Como assim, infectados? — Quando adentraram, o de chapéu verde pontudo indagou. Uma nova sala com mais três portas foi o que localizaram.
— Bem, deixo para Fire explicar essa parte. Pattrícya me mandou ir vê-la o quanto antes — alegou o dominador de pedras, antes de passar pela porta dupla que havia na frente deles.
— Por aqui... — King indicou a entrada da direita, para ela se dirigiram e começaram cursar por um corredor. — Acho que Joseph já possa ter dito isso a vocês: existem Sentimentos bons ou maus. E, de acordo com isso, o Sentimento que entrar em contato com o recém-nascido ou animal definirá a personalidade do poderoso. Porém, por alguma razão, há alguns meses, poderosos começaram a agir de forma violenta e agressiva, pondo em risco o nosso vital sigilo — explicava didaticamente. Viraram à esquerda.
— Ninguém descobriu o porquê dessa mudança de comportamento? — Safira inquiriu, preocupada com o mundo que temia se deparar dali em diante.
— Não se sabe ao certo, mas acreditasse que as trevas penetram nos corações das pessoas e corrompem o Sentimento que lá se encontra. Por isso o tratamento é feito à base de luz...
— Como assim? — questionaram genuinamente curiosos.
— Vocês vão ver — respondeu com suspense assim que chegaram num elevador. Entraram e as portas se fecharam. — Os andares de baixo são as selas dos poderosos, já os de cima são as alas hospitalares, também onde acontece o tratamento da infecção.
Apertou um botão e a caixa metálica iniciou sua elevação. Quando saíram dela, localizaram mais um caminho com várias portas. Percorreram em silêncio até uma delas e adentraram. Na sala havia apenas um homem teclando em alguns botões e controles.
— Tudo certo, Louis? — Fire cumprimentou para fazê-lo perceber que estavam ali. — Esses aqui são José e Safira, foram eles que me ajudaram a pegá-lo.
Com isso, os jovens constataram que a parede, em frente ao painel de controle que Louis manipulava, era um vidro escuro e que, do outro lado, Jhonatan estava cativo, andando de um lado para o outro.
— É este cara, junto com outros médicos, que cuida do tratamento de pessoas infectadas — esclareceu para os adolescentes ansiosos.
— O que vão fazer com ele? — A moça inquiriu apressadamente.
— Primeiro coloquem esses óculos. — O homem indicou os objetos que jaziam numa prateleira atrás deles. Todos os colocaram e suas vistas se tornaram anormalmente escuras. — Agora vamos dar início ao procedimento.
Louis empurrou uma alavanca. As paredes da sala em que Jhonatan se encontrava começaram a emitir uma intensa luz. O doutor corrompido não conteve os gritos que transmitiam sua dor, causando um pouco de pena nos mais novos, comovidos. O processo rápido levou menos de dois minutos para acabar, quando a claridade cessou, Jhonatan estava desmaiado no chão da câmara.
— Ele já está curado? — José questionou com pesar e incredulidade ao mesmo tempo.
— Não, esse procedimento é muito desgastante para o infectado. Quanto mais tempo ele permanecer contaminado, mais difícil será a intervenção — elucidou o médico e anotou alguma coisa em uma prancheta. — Como não podemos forçar o poderoso a um tratamento pesado, dividimos em sessões, de acordo com o número de semanas. Vocês sabem há quanto tempo ele está assim?
— Se me lembro bem, Sonya disse que os ataques haviam começado há duas semanas... — Safira respondeu parecendo pedir a confirmação de seu namorado, o qual assentiu a informação.
— Então Jhonatan precisará de duas sessões apenas, no máximo três. — Louis concluiu e deu um tabefe não mão de King, que a direcionava para um interruptor vermelho do painel.
— Podemos ir agora. — Fire chamou e os conduziu para fora depois de se desfazerem dos óculos.
Voltaram à encruzilhada de baixo e, com orientação do fera de capa preta, dirigiram-se até a diretoria de Pattrícya, a qual se encontrava tendo uma conversa muito séria com Pierre.
— Fique de olho, por favor, temos que ter certeza... — A dirigente cortou a própria fala quando os notou entrando.
— Nos chamaram? — José perguntou educadamente assim que King fechou a porta às suas costas.
— Sentem-se primeiro. — Havia duas cadeiras de convidados, sem falar na que a comandante estava sentada atrás da mesa, e um sofá de espera ao lado. Pierre levantou-se da cadeira e a indicou para que Safira se acomodasse, ela o fez e agradeceu, o bruxo sentou no outro assento, e os dois amigos se acomodaram folgadamente no sofá.
— Bem, quando Joseph nos procurou, alegou que estariam aqui apenas de passagem. Vocês não sabem ainda, mas sua próxima viagem já está programada. Porém estão necessitados de um guia e os mais apropriados para essa viagem são Pierre e Fire King — explicava com persuasão, indicando os homens de idades próximas aos vinte e oito. — Todavia, com a aproximação dos Jogos Egrégios, eles não poderão sair agora. Com isso, decidimos que ficarão aqui até depois do torneio.
— E o que vamos fazer até lá? — A garota questionou cruzando os braços. Não desgostava da ideia de demorar um pouco mais ali, mas não gostava de depender da vontade de terceiros.
— Acredito que Joseph ensinou muito sobre lutas e artes marciais, estou certa? — indagou retoricamente, mas os dois confirmaram assim mesmo. — Entretanto, ele não possui toda a experiência em batalha, muito menos completa sabedoria, por isso devem treinar com outros poderosos e aprender ainda mais aqui.
— Eu ia falar que temos área de lazer e jogos, mas essa resposta também é boa. — Batendo palmas leves, Fire comentou, fazendo todos gargalharem.
Finalmente se retiraram do recinto bem decorado e, na encruzada outra vez, José mirou desconfiado para a acesso fechado da esquerda, no qual ainda não havia entrado.
— O que tem ali? — Constatando que não iriam para lá, mas que voltariam ao hall de entrada, o rapaz loiro interrogou.
— É onde vai haver o grande Jogo Egrégio. — Pierre sanou.
— Infelizmente não podemos entrar lá, estão organizando e programando essas tecnologias, eles sempre inovam com alguma coisa a mais... — O domador de fogo alegou pensativo e nostálgico.
— Nem vocês podem? Achei que tivessem algum tipo de autoridade aqui... — Assim que finalmente retornaram ao hall, Safira questionou sem perder a chance de usar o ligeiro tom de zombaria.
— Para sua informação, querida, não podemos entrar lá apenas por sermos participantes. Para que não haja suspeita de fraude, nenhuma pessoa que participa pode entrar lá antes do início do torneio! — Fire King retrucou com desdém. Não andaram muito depois que perceberam a massa excessiva de poderosos, alguns em forma de animais pequenos, que surgiam pela abertura gigante e se direcionavam ao corredor dos aposentos.
— Nossa! Quanta gente! — A senhorita se surpreendeu.
— Os Jogos Egrégios são bem famosos e ninguém quer perder a chance de vê-lo sendo sediado, por isso alguns chegam dias antes para guardar sua vaga aqui.
— Por isso temos um estacionamento grande, assim como vários quartos disponíveis... — Pierre complementou seu amigo.
Eles conseguiram se infiltrar no meio das pessoas e irem aos cômodos. Não tiveram problemas com muitos civis no mesmo elevador, porque aqueles que chegavam eram considerados turistas e por isso seguiam pelo outro corredor e usavam um elevador diferente.
O casal juvenil retornou a sua acomodação e continuou lá pelo resto do dia, fizeram a refeição noturna ali também, pois não eram fãs de andar entre rios de pessoas animadas. Com o fim daquele dia, mais um vez deitaram juntos para descansar.
— Lembra quando seu pai falou que existiam poderosos maus? — Safira indagou olhando intensamente no fundo dos olhos verdes de seu namorado. Já haviam se destransformado para dormir. A roupa mística era muito confortável, mas não servia como pijama.
— Você não imaginou que encontraríamos um tão rápido assim, né? — José devolveu com um sorriso sem graça e a garota confirmou com a cabeça. — É..., também não imaginei... — Seu tom de voz parecia ser afetado pelo sono que sentia, mas a vagareza com que falava era resultado dos pensamentos que divagavam em turbulências.
— Na verdade, estava pensando mais no que ele não me contou... — concluiu o bruxo deitado, abraçando sua amada, porém, a jovem se pôs sentada na cama.
— Eu acredito que Joseph tenha feito isso para seu bem...!
— Esconder um passado inteiro? — Opôs-se a ideia da poderosa, erguendo seu corpo também. — Eu não consigo enxergar justificativa para não me dizer que é um deus, ou um herói lendário... Você vê?!
A exclamação do loiro a fez baixar sua cabeça. O vento gélido soprou nas janelas do alto aposento, mas não conseguiu adentrá-lo, muito menos levar consigo os pensamentos nostálgicos da moça de íris safira.
— Eu acho que você tem sorte... — sussurrou com pesar e seu namorado apenas a escutou. — Meus pais de sangue me rejeitaram com poucos anos de vida por ser amaldiçoada e meu padrasto me usava como troféu de sua fingida bondade. Esquecer isso, pra mim, seria uma dádiva...
— E-eu não fazia ideia, descul...
— Você não precisa se desculpar, José, não é quem me faz sofrer. Mas tenha fé no pai que o destino lhe deu, pois nunca conheci alguém tão protetor quanto Joseph — concluiu respirando fundo. A noite silenciosa os envolveu e deitaram-se abraçados.
•••
Em uma espantosa monotonia prolongada se passaram a segunda e a terça-feira: treinamento pesado para todos; entusiasmo excêntrico em cada célula viva para o torneio que se aproximava; e conhecendo diversas pessoas novas...
A quarta-feira quase que passou despercebida, se não fosse por uma cena bastante curiosa logo pela manhã:
— Serviço de quarto! — José e Safira ouviram a voz de uma mulher através da porta enquanto já escovavam os dentes no banheiro do cômodo. O bruxo terminou sua higiene e foi atender.
— Bom dia, em que posso ajudar? — indagou educadamente, abrindo a passagem.
— Olá, bom dia, somos do serviço de quarto e viemos arrumar seu aposento. — A mulher de cabelo branco, mas ainda jovem, declarou. Levava um carrinho cheio de panos alvos e outros sujos separados. Um homem esguio a acompanhava. — Não vamos demorar muito...
— Oi, Podem entrar! — Safira autorizou receptiva, aparecendo na entrada. Os dois jovens deram espaço para os funcionários, indo cada um para um lado diferente.
— Não precisa...
Assim que respondeu, o poderoso juntou os dedos das mãos, cada um com seu semelhante respectivo. Afastou as palmas ainda com os dedos colados, formando uma possível esfera, e entre suas mãos surgiu um orbe com o tom mais escuro da cor preta. A mulher apontou os indicadores para os panos limpos, esses começaram a voar magicamente, e invadiram o dormitório. Alguns eram passados nos móveis, limpando-os; tecidos limpos trocavam de lugar com os outros já usados, os quais voavam para o carrinho da camareira.
Enquanto alguns panos limpavam os objetos, a esfera preta começou criar um vácuo controlado, sugando toda a sujeira e poeira que possivelmente estivesse naquele cômodo, parecia uma pequena tempestade de areia. Não gastaram mais que alguns minutos para terminar.
— Pronto, acabamos. — O homem concluiu com um sorriso forçado e partiram para o próximo quarto.
Depois daquela cena, o dia continuou como habitual, pelo menos, normal para um abrigo lotado de humanos dotados de superpoderes. Horas, que pareciam ter ganhado mais minutos em sua cronometragem, passaram-se e chegaram a seu fim.
Quinta-feira seria o dia da segunda sessão do tratamento de Jhonatan. Safira e José obviamente quiseram presenciar o mesmo processo, o qual fez o paciente desmaiar outra vez. Entretanto com garantia do médico, aquele era a última. Louis disse também que logo ele estaria sem nenhuma sequela e que precisaria ficar em observação total, sendo fiscalizada cada estatística de sua saúde.
Os jovens foram em companhia de Fire K. e Pierre. Aqueles dois estavam os ajudando em tudo que necessitavam, de informações a treinamentos. Não era atoa que a ligação deles quatro se tornava cada vez mais forte. A amizade não demorou em se tornar algo perceptível.
Com o fim da quinta, o casal percebeu que, a cada dia, a Área 50 ficava uma loucura, dezenas de pessoas por todos os lugares mutuando cada espaço habitável. Naquela sexta-feira eletrizante, os dois adolescentes foram visitar Jhonatan em seu leito, estava um pouco melhor, mas não dizia nada. Os participantes dos Jogos Egrégios não treinaram mais, guardaram o dia para relaxar a mente e os músculos. E nada melhor do que ir para uma área de lazer, com piscinas, bares, jogos, nos quais o casal se saiu muito bem, e muito mais.
Sábado, o dia tão esperado havia chegado com o sol reinando no céu, mas não para quem se encontrava no subsolo. Jhonatan começou falar e pediu desculpas pelo que havia feito a José e Safira. No entanto com quem ele mais conversou foi o jovem Adrian, que o visitou algumas vezes para ler um livro e conquistou sua amizade por meio das palavras de apoio.
Depois do almoço, todos ali na Área 50 se direcionaram para o local onde aconteceria o famigerado Jogo Egrégio. Muitos estavam pintados da cor da equipe que torciam: dourado e branco eram as cores do grupo Asas Douradas (AD); vermelho e marrom para Meteoro Ardente (MA), que era o grupo de Fire e Pierre. O bruxo pintou algumas partes de seu corpo com essas cores, mas Safira não gostou muito da ideia então fez apenas duas listras nas bochechas.
Depois da porta, antes inédita para os dois visitantes, havia mais três passagens: uma para torcedores; a do meio para os integrantes das equipes que participariam; e a direita para torcedores VIP’s, que eram os convidados e pessoas de autoridade elevada. O casal juvenil foi por essa última junto com a pequena Emily, que os indicava o caminho. Um corredor que levava a um elevador. Subiram os três, junto com outras pessoas bem vestidas, e se encantaram com a visão que tiveram quando as portas automáticas se abriram.
Parecia com um estádio de futebol, só que em uma escala muito maior. O campo parecia uma arena por ser apenas de terra, sem grama alguma. A arquibancada circular era gigantesca, havia incontáveis assentos, muitos já ocupados.
Um pouco mais acima permaneciam os camarotes, onde as pessoas VIP’s ficavam: assentos confortáveis, bebidas, comidas e uma visão privilegiada de cima, era o que isso proporcionava. O teto inteiramente coberto por placas e vigas de metal, com luzes intensas que iluminavam toda a arena. Como o campo era retangular, os adolescentes decidiram ficar no meio da arquibancada VIP, para ver melhor.
Localizando o lugar perfeito para acomodarem-se, Emily, Safira e José se sentaram respectivamente. Sobravam cadeiras para os dois lados do trio ansioso. O loiro poderia disputar com a menor de cabelo marrom curto, para saber quem estaria com maiores expectativas.
— Posso me sentar? — Num piscar de olhos, Pattrícya surgiu com Jhonatan de acompanhante. Ele havia se recuperado absolutamente. O bruxo assentiu sorridente e se acomodaram, ela perto do rapaz e o doutor ao lado dela.
As torcidas divididas ovacionavam a cada segundo, gritavam nomes dos integrantes das equipes em emoção. Logo, cada assento foi preenchido, inclusive os VIP’s ficaram cheios. Um assovio estridente foi ouvido e o barulho cessou parcialmente.
Pattrícya se ergueu com imponência e um holograma dela apareceu no meio do arena de terra, porém, esse somava uns vinte metros de altura. As pessoas aplaudiram.
— Bem-vindos a Área 50 e, sem demora, que os Jogos Egrégios ascendam em seus corações uma chama ardente de força de vontade e que os Sentimentos estejam a seu favor! — A comandante discursava e sua voz ecoava pelo lugar fechado, como se seu holograma gigante estivesse clamando.
Sua imagem projetada desapareceu e os participantes começaram entrar por uma abertura ao lado das arquibancadas, paralelamente ao lugar onde estavam José e Safira.
— Tá parecendo mais um jogo de futebol... — O bruxo comentou sorrindo.
— É por que isso é futebol! — retrucou Emily, prestativamente, sem tirar o olho da arena.
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Como será esse Jogo Egrégio? Qual será o time vencedor? Jhonatan ainda é um perigo? O que espera nossos jovens aventureiros em suas próximas viagens?...
-José JGF
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