Capítulo 8- Área 50 II
Com isso, as três meninas se retiraram e foram com Marcelo ao elevador, enquanto a dirigente adentrou o aposento. Quando ela passou pelo jovem de pijama azul-escuro, fascinado pela sua repentina aparição, esse a tocou no ombro, fazendo-a virar-se para entender o que ele queria.
— S-só pra ter certeza de que não é um holograma — explicou-se sorrindo sem graça.
Mais uma vez estavam os dois sentados na cama, todavia, naquele momento, quem se encontrava em pé era a diretora da Área 50.
— Bom dia e me desculpem pelo incômodo, elas são muito curiosas — começou com a gentileza expressada pela perfeita dicção. — Dormiram bem?
— Sim! — responderam em uníssono.
— Prontos para conhecerem o abrigo? — indagou com um leve, mas forçado, tom de entusiasmo.
— Sim, mas antes queríamos saber por que somos convidados, se não me lembro de ninguém nos convidando... — Safira incitou explicações, com as quais se sentiriam mais à vontade. Exceto por aquele homem estranho que nos salvou, mas não sei se devo considerar aquilo um convite.
— Entendo... Querido, pode abrir a porta? Por favor — propôs indicando a entrada do cômodo, e José o fez, mesmo sem entender o porquê. Assim que abriu, constatou uma mulher com um carrinho cheio de bandejas tampadas em frente à porta, ela o entregou uma dessas e retirou-se dali teleportando num piscar de olhos. O adolescente entrou novamente, confuso.
— Sirvam-se. — Pattrícya proferiu quando ele se sentou. Retiraram a tampa e observaram apetitosas comidas vegetarianas. — Enquanto comem, explico tudo... Seu pai veio uns dias atrás e disse que passariam aqui, por isso os tratamos como nossos convidados.
Os dois arregalaram os olhos, principalmente o bruxo, que não compreendeu muito. Meu pai tem essa moral toda, ou isso é uma coisa comum? Vendo aquilo, a comandante tentou esclarecer melhor.
— José, seu pai é uma lenda viva para nós, seus feitos junto com Tamíres são lendários entre os poderosos. Inclusive, o campo de força e invisibilidade que esconde esse abrigo foi criado inspirado nele. Por isso vocês sempre serão bem-vindos aqui.
— Poxa! E eu achando que era pelo fato de eu ser o Bruxo da Natureza. — Depois de mastigar e engolir, revelou tristonho.
— Também é por isso, mas o fato de você ser um bruxo ainda não é tão conhecido assim. Em contrapartida, todos sabem que o grande Joseph tem um filho e que esse é você.
— Você disse que ele tem grandes feitos, que feitos são esses? — Safira interrogou interessada, assim como estava seu namorado.
— Bem, isso é história para outra hora. Mas ele, por exemplo, foi um dos responsáveis pelo fim da primeira guerra mundial do planeta Terra e por isso foi transformado em um deus... — Foi interrompida por exclamações.
— Quê?! — gritaram juntos, atônitos.
— Fim da primeira guerra?! — Safira não via como aquilo ser possível.
— Meu pai, um deus?! Por que ele não nos contou isso? — Quase derrubando a bandeja em seu sobressalto, o loiro de olhos verdes continuou.
“Existem coisas que você não está preparado para descobrir...” — Recordou do que o grisalho lhe disse em cima do tapete voador. — Então é isso... — Sua mente arriscava montar um quebra-cabeça, mas sabia que nunca conseguiria. Precisaria de todas as peças para isso e ele não as possuía.
— Essa parte eu não sei, contudo, tenho certeza que ele tem os motivos dele... — Aparentava ter percebido que havia falado mais do que deveria, por isso nada mais diria. — Quando terminarem, vão ao hall de entrada, vocês já estão sendo esperados — informou Pattrícya, por fim, desmaterializando-se em seguida.
— Gente! Qual o poder dessa mulher? — Safira se questionou numa mistura de encanto com espanto.
— Também não sei, mas vamos logo que estou ansioso para conhecer todo esse lugar. — Os dois terminaram a refeição apressada e trocaram seus pijamas pelos trajes místicos depois de fazerem suas higienes. Depois desses acontecimentos inusitados do começo do dia, saíram finalmente para o corredor em direção ao elevador.
— Legal, não é? A pessoa que está à frente de uma organização tão importante ser uma mulher... — Safira desabafou levando a bandeja na mão. Talvez apenas quisesse tirar seu namorado dos pensamentos tempestuosos sobre o pai. — É bom saber que têm pessoas lutando pelos nossos direitos. Se sentir representada é sempre importante...
— Com certeza... — Carregando a tampa da bandeja de cabeça baixa, José completou de forma automática. — Tomara que isso melhore com os anos...
Chegaram ao elevador, o qual demorou um pouco até chegar em seu andar, alguma outra pessoa devia estar o usando. Desceram sem falar nada mais e, quando a porta abriu, Pierre já estava os esperando com uma expressão que mostrava impaciência.
— Já estava indo ver se tinham se perdido, o que aconteceu? — perguntou e se lembrou da cortesia, por isso logo completou com um sorriso. — Bom dia.
— Bom dia — responderam começando a caminhar até o hall.
— O dia já começou louco! — O bruxo pronunciou-se primeiro. — É sempre assim por aqui?
— Porque: primeiro nosso quarto é invadido por três garotinhas... — complementou sua namorada.
— Depois chega um musculoso pra buscar uma delas...
— Seguido da comandante em carne e osso, que aparece para nos explicar umas coisas...
— E, por fim, abro a porta pra uma mulher antes mesmo que ela bata, a qual me entrega o café-da-manhã — explicavam juntos, da mesma forma que mostraram a bandeja e a tampa que levavam, quando chegaram à bifurcação. — Aliás, onde colocamos isso?
— Tony, pode levar isso, por favor? — Um rapaz esbelto passava por eles em direção ao refeitório. Ele sorriu para o casal e seus braços se esticaram anormalmente, reivindicando os objetos para si. — Obrigado... Ele não é de falar muito. — Pierre completou cochichando enquanto continuavam a caminhada.
Sem demora, já se viam no hall de entrada, onde se depararam com uma figura de presença imponente já conhecida.
— Fire King! — exclamaram em uníssono e foram até ele.
— Oi, vocês... É... Samira e o bruxo — cumprimentou sem certeza nenhuma dos nomes. Todavia sua face relaxada mostrava que não fazia esforço algum para lembrar.
— É Safira! — A de vestido de pétalas corrigiu revirando os olhos verdes.
— Ah, é! — Bateu a mão na testa e olhou para o rapaz. — Eu conheço você de algum lugar... — Pensava em qual das centenas de viagens pela Terra poderia ter visto o loiro. — Não, acho que era alguém parecido...
— Eu sou aquele humano que você ignorou na fábrica! — falou firme como raramente fazia. — E meu nome é José!
— Ah, tá! Desculpa aí... Mas me diz uma coisa: como foi que vocês chegaram aqui antes de mim? — interrogou cruzando os braços musculosos. Estavam os quatro em pé no meio do hall, só não atrapalhavam a passagem de ninguém porque a sala quadrada possuía bastante espaço.
— Viemos voando... — O adolescente respondeu secamente. Teria usado do sarcasmo se aquilo não fosse a verdade.
— Senti um atrito. — Pierre colocou lenha na fogueira, rindo e fazendo Safira olhá-lo com censura, à qual ele reagiu dando de ombros.
— Cheguei ontem à noite, um pouco depois de vocês. Demorei porque estava trazendo o assassino que quase os matou... — Depois de retrucar para ferir o ego do mais novo, Fire ponderou seus pensamentos um pouco e chegou numa conclusão. — Que tal um duelo entre o deus do fogo e o Bruxo da Natureza depois dos Jogos Egrégios?
— E-eu... — A proposta repentina o fez recuar, sem saber o que deveria responder. — Não sei o que é isso aí...
— É brincadeira, não vou poder — revelou relaxando a tensão que se aproximava, trazendo alívio ao outro também —, depois do torneio, eu vou estar exausto. Deixa para outro dia...
— É..., deixa isso aí pra outro dia — concordou com vagareza, ainda sem compreender.
— E o Jhonatan? — Safira indagou para o poderoso pirocinético, porém, ele nada respondeu. Não sabia a quem a moça se referia então apenas cerrava os olhos, assim como forçava sua mente a lembrar. — O médico assassino — explicou revirando os orbes.
— Aah! Esse médico..., eu o levei para o centro de reabilitação. Logo, logo, ele talvez possa viver em sociedade outra vez sem ser um risco às pessoas — informou, tendo o homem de cabelo platinado ao seu lado, parecendo apressado.
— Que bom! — Pierre fingiu entusiasmo e indicou a abertura que ele havia dito que levava às salas de treinamento. — Vamos, temos muita coisa para mostrar para eles.
— Vamos! — Os outros três concordaram e King chamou atenção para si.
— Que foi? Não posso ir com vocês? — Sua indagação recebeu olhares franzidos do trio. — É que eu não tenho nada melhor pra fazer...
Assim, os quatro começaram o tour pela Área 50, iniciando pelo corredor da esquerda, que levava para uma bifurcação. Nessa, eles seguiram a diante até uma porta em seu final, pela qual não parava de sair e entrar poderosos. Foi nela que eles adentraram e encontraram mais um corredor com dezenas de aberturas.
— Aqui, as câmaras Power-Men. — Fire revelou apontando as várias passagens fechadas. Todas estavam em uso, até que uma delas foi desocupada e o quarteto pôde ingressá-la. Assemelhava-se a que havia no porão da moradia de Joseph.
— Ah! Isso é a sala Power-Men? Nós já vimos uma dessa embaixo da minha casa. — José revelou, surpreendendo os dois poderosos mais velhos.
— Óbvio que ele deu uma ao grande Joseph... — Pierre murmurou ao saber que a ciência deles não era tão única assim.
— Ele quem? — Safira buscou saciar sua curiosidade, olhando as simétricas paredes lívidas.
— O mesmo que nos forneceu a maioria dos equipamentos tecnológicos deste abrigo... — Com tom de mistério, sanou King.
— Tá bom, vamos partir para outras coisas. — Se já sabiam para que servia aquele recinto, não precisariam demorar mais que o necessário. O manipulador de terra os conduziu para fora da Power-Men, mas, antes de seguirem até o acesso ao corredor daquele recinto, um jovem-adulto saiu de uma das câmaras metamórficas bem ao lado deles.
— Pierre! Fire King! Animados para o torneiro?! — exclamou sorrindo maliciosamente. — Espero que treinem o mais rápido possível para que, ao menos, me vejam chegando. — Gargalhou alto e retirou-se correndo em uma velocidade invisivelmente extraordinária.
— Babaca! — O deus esbravejou dando um soco na própria palma, fazendo a corrente do seu pulso, tilintar.
— Não tinha reparado nessas correntes, por que você as usa? — José questionou curioso, porém, notou a indelicadeza da pergunta. — Não precisa me falar... Mas o que é mesmo esse torneio? — mudou de assunto quando começaram voltar pelo corredor já depois da porta.
— Minhas correntes são uma longa história... — respondeu baixando a cabeça, mas logo a levantou. — Já o torneio, chamado de Jogos Egrégios, é um grande meio de interação mundial. — explicava o musculoso de pele bronze como a de Safira. Voltaram à bifurcação de antes, na qual escolheram o outro percurso a tomar.
Isso aqui parece um formigueiro, cheio de corredores... — O bruxo não pôde deixar de imaginar isso assim que estacionaram numa encruzilhada, vendo mais três caminhos novos para seguir.
— Nós da Área 50 sediamos um torneio por ano e pessoas do mundo inteiro vêm assistir...
— Por isso temos um estacionamento tão grande. — Pierre completou olhando para Safira, a qual começou rir ao lembrar-se da pergunta que fez no dia anterior. — Bom, sobre os Jogos Egrégios, vocês vão entender somente presenciando. Agora vamos para a sala de jogos...
— Ah, Pipi! Até parece que você não está animado com o torneio. — Fire zombou tentando fazer uma voz fina. Andava de costas na frente dos três, enquanto iam em direção à abertura do lado direito.
— Não me chame de Pipi!... — O homem branco que ganhava a cor vermelha, retrucou. — E olha por onde você...
— Pipi! Você vai fazer o quê se eu continuar? — permanecia rindo, sem importar-se para a presença dos jovens constrangidos.
Pierre serrou os olhos para seu amigo. As pedrinhas brancas que estavam presas em sua canela se soltaram e rolaram para debaixo dos pés de King, o qual caiu de bunda no chão, sem entender como havia parado ali.
— Que tal isso, Fifi?! — Os três ainda de pé caíram na gargalhada, sem dar-se ao trabalho de ajudar o que tombou na sua frente. Fire prontamente os acompanhou. No final do percurso, encontraram um porta dupla de elevador.
Todos os andares para os quais ele levava, eram destinados a jogos educativos, que incitavam o poderoso a usar da melhor forma suas habilidades.
Com isso, retornaram à encruzilhada. O próximo e já visível destino era a caixa metálica que conduzia para salas de aula, para crianças e adolescentes. Numa das classes, pela parte de vidro da porta, dava para ver o perigoso trio de meninas estudando, uma ao lado da outra.
— Olha lá o meu orgulho. — O controlador de chamas apontou com os olhos dourados brilhando. José e Safira seguiram sua indicação.
— Ruby? — indagaram em uníssono.
— Minha irmã adotada, longa história... Como tudo em minha vida — disse meloso.
— Não pode falar no xodó dele, senão ele derrete igual manteiga. — Pierre relatou fazendo os jovens rirem.
Antes de se afastarem da porta, Emily os percebeu lá e fez seus lápis de cor se elevarem no ar e formarem um OI colorido.
— Bem, a última sala é usada para treinamento de batalha e transformação. — King detalhava já abrindo a entrada da esquerda na encruzilhada. Um cômodo quadrado repleto de poderosos treinando. Era perceptível também, alguns animais transformando e se destransformando em humanos. Sem falar nas diversas armas brancas penduradas em porta-armas nas paredes.
— Ah, essa eu quero ver de perto! — Os adolescentes revelaram ao mesmo tempo, mostrando entusiasmo e já adentrando.
— Vocês sempre falam sincronizados assim, é? — questionou fingindo medo, o homem de cabelos brancos, fazendo-os rir.
— Só quando estamos juntos... — José respondeu sorrindo.
— Essa é a última coisa para mostrar, então vamos ficar aqui mesmo e treinar um pouco — sugeriu Fire, já se aquecendo entre outras pessoas.
— E vocês, são amigos ou o quê? — Safira inquiriu sem segundas intenções na fala, mas notou que poderia ser entendida de outra forma e apressou-se em consertar. — Quero dizer, não que eu esteja falando que vocês são alguma outra coisa, porque não estou...
— Amigos! — responderam em um só tom, sorrindo pela confusão da garota.
— Bem que você gostaria de ser mais que isso, não é mesmo? — King proferiu para Pierre e saiu correndo gargalhando pela sala, desviando de todos os presentes por saber o que viria a seguir.
— Dessa vez você não me escapa. — Seu cabelo branco começou a se estender pelo corpo de forma rápida e cada pedaço de pele foi preenchido por um pelo extremamente alvo. Ele cresceu e ficou com dois metros e meio no mínimo, sua roupa já não existia mais e o rosto transfigurou-se para um focinho.
— Um urso polar?! — exclamou o bruxo, enquanto o poderoso disparava atrás do outro.
— Ele é um fera! — Safira concluiu quando o urso finalmente alcançou seu alvo. Suas exclamações de surpresa chamariam atenção se não houvesse um animal voraz lutando contra um deus naquele recinto.
— Será que Fire King também é um fera? — estipulou pensativo. — Deve haver um jeito de saber sem que eles se transformem...
— Não, não há... — Um jovem de óculos grandes refutou sem dar-se ao trabalho de olhar os novatos ali. Estava sentado ao lado de vários livros amontoados. — Fire é um fera, mas não gosta de se transformar, ele tem seus motivos... Inclusive, meu nome é...
— Adrian, vai ficar aí sentado? Vem treinar com a gente para os Jogos Egrégios, ou tá com medinho de quebrar a unha? — caçoou um dos rapazes de um grupo zombeteiro.
— Com licença, tenho que ensinar uma lição para esses idiotas — sussurrou para os dois adolescentes enquanto se erguia do chão e arrumou os óculos.
No mesmo instante, as páginas de seus livros foram arrancadas e voaram violentamente para o grupinho, atazanando-os. Eles ficaram espantados com a tempestade de folhas afiadas que não cessava sem deixar arranhões rasos. Porém um vento forte deteve o ataque, sendo esse produzido pelo bater de asas potentes. A penugem dourada atraiu a atenção para Marcelo, mais um dos responsáveis pela Área 50.
— Desculpe essas crianças! É... Adrian, não é? — interrogou, e o moço de óculos confirmou com a cabeça. — Pode recolher suas folhas? — Marces pediu, e as folhas instauraram-se perfeitamente nos livros em seguida. — Obrigado.
— Me tira uma dúvida: só quem fica aqui são integrantes desse tal torneio? — Safira inquiriu, ignorando totalmente o que acabou de presenciar, depois que o grupo retirou-se junto do poderoso alado.
— Geralmente não, mas como o torneio já está próximo, esta sala se tornou privilégio dos participantes ou pessoas autorizadas por esses... — Adrian respondeu sentando-se novamente e abrindo mais uma obra para ler. — Aliás, acho que não deveriam estar aqui. É...
— Ah é! Não nos apresentamos, eu sou Safira... — Percebeu que o bruxo estava entretido demais olhando os outros treinando. — Esse é meu namorado, José. E foram aqueles dois que nos trouxeram aqui — explicou-se apontando para King e Pierre que voltavam de sua disputa amistosa que consideravam uma mera brincadeira.
— Participo no grupo deles nos Jogos — contou passando a página. Realmente não focava em nada mais que não fossem as palavras que seu cérebro engolia. — Não são muito de pensar com a cabeça, porém, num duelo são extremamente estrategistas.
— Quem não é muito de pensar aqui, hein? Quatro olhos. — Fire chacoteou chegando perto. — Pois é, escutei com minha audição apurada. Mostrei minha habilidade, agora mostre a sua! — Num instante, atirou uma intensa bola de fogo em direção ao Adrian, o qual se defendeu com uma barreira de folhas feita precipitadamente e que se recusava a queimar. — Como...?
— Gel não inflamável — revelou sorrindo, vendo as caras de surpresa. — Obrigado pelas palmas.
— Mandou muito bem! — parabenizaram entre outros elogios.
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