Capítulo 8- Área 50 I
Em cima de uma plataforma feita de pedra que descia pela parede, José e Safira se encontravam encantados pela visão daquele local. Enquanto ainda desciam, sendo proporcionada uma vista de cima, através da janela do carro conseguiam ver: um salão enorme que parecia uma grande caixa de metal; lá embaixo jaziam vários automóveis parados, dando a cara de um estacionamento; próximo à parede do outro lado, paralela a que estavam descendo, havia alguns balcões e atendentes, mas o que elas faziam não era fácil de descobrir de tão longe.
— Que lugar é este?! — Os jovens se questionaram surpresos, com os olhos arregalados.
— Este, meus caros, é o estacionamento. — Pierre respondeu as exclamações.
— Se só o estacionamento já é deste tamanho, imagina o resto. Deve ser tão grande quanto um estádio de futebol — arriscou o bruxo, e o motorista não pôde deixar de rir discretamente.
A plataforma de pedregulhos finalmente encontrou o alicerce e as pedras que os levaram para baixo retornaram para cima magicamente. Assim, o veículo voltou a andar entre os outros.
— Ainda têm pessoas que não sabem estacionar direito! Essas crianças só dão trabalho aos organizadores! — O homem de cabelos platinados rangeu os dentes, o volante sofria com o arrocho da raiva que sentia. — Se eu pudesse, fazia o teto desabar em cima dos carros que ocupam duas vagas.
— Pra quê o ódio no coração? — A moça indagou sorrindo, inclinando-se para observar melhor através da janela.
— É verdade, me desculpem. Qual a impressão que terão de mim, não é mesmo? — redimiu-se estacionando o veículo em uma vaga, a mais próxima possível dos balcões e, mesmo assim, ainda longe.
— Muito boa, pode ter certeza. — José devolveu com ironia evidente, fazendo-os gargalhar.
Abriram as portas, saíram do automóvel fechando-as em seguida e começaram a seguir Pierre em direção as balconistas.
— Por que um estacionamento tão grande para tão poucos carros? — interrogou com curiosidade a senhorita com pele cor de carvalho escuro.
— Porque, às vezes, enche — sanou olhando apenas para frente.
— Estou perguntando em relação à altura — explicou gesticulando as mãos com mais dinamicidade.
— Porque, às vezes, lota para cima também! — Pierre respondeu voltando seu olhar marrom para os dois adolescentes, querendo captar suas expressões de fascínio.
— Os automóveis ficam voando, por acaso? — Com ar de sorriso, José fez a pergunta, porém, foi interrompido pelo homem que se plantou na frente do casal, virando-se para eles.
— Vocês não têm nenhuma experiência com poderosos, não é mesmo? — inquiriu, mas não obteve resposta vinda daqueles que se entreolhavam espantados com a forma repentina como foram abordados, então voltou a andar.
— Sabe, moço, nossa primeira viagem começou hoje pela manhã e essas horas não foram nossas melhores — desabafou Safira, diminuindo seu tom gradativamente, pois chegavam aos balcões.
— Boa noite, Pierre. — Uma atendente loira que estava transformada, cumprimentou com gentileza ao se aproximarem. — Chegou cedo dessa vez, como foi o passeio?
— Boa noite, Emma. O passeio foi turbulento, mas bem proveitoso, principalmente por trazer estes dois comigo. — Indicou os jovens calados que acenaram sem dizer uma palavra.
— Eles são novatos? — indagou vistoriando, com os olhos prata iguais sua veste, de José até Safira, e de baixo para cima. — Eles devem fazer o checking com o Patrick...
— Os dois são convidados e não novatos — esclareceu a situação, a qual o casal buscava compreender.
— Bem, então estão aqui, duas chaves para um quarto. — Da prateleira embaixo do balcão, um par de chaves flutuou e parou à frente de cada um dos convidados, os quais as tomaram, pasmos. — A primeira regra é que, se já podem se transformar, devem andar transformados. O resto, deixo por conta do Pierre...
— Ah é! Quase me esqueci dessa parte...
Vestia roupas bem formais, mas ainda normais como as de José e Safira. Todavia, num piscar de olhos, os três mudaram de veste e forma.
O poderoso possuía uma pele clara como a do bruxo,o qual ganhava uma grande trança amarela quando se transformava. No entanto ocabelo do sujeito alto ainda era branco. Ele foi envolvido por uma espécie detúnica em tons de terra; usava braceletes amarelos e ombreiras verdes, além deum acessório feito de pedras alvas que adornava um de seus pés descalços.Simples, mas ainda místico.
— Vamos agora. — O manipulador da terra os chamou para seguirem, porém, lembrou-se de algo que o fez retroceder à atenção para a atendente. — Emma, o Fire já chegou?
— Não, ele ainda não retornou — clareou sem cerimônia.
Com isso, seguiram para uma grande abertura, pela qual daria para passar dez pessoas ao mesmo tempo. Encontrava-se na parede atrás dos balcões. Entretanto antes que atravessassem a passagem, repentinamente, surgiu na frente deles a imagem, com aspecto fantasmagórico, de uma mulher com cabelo dourado.
— Boa noite aos três! Sejam bem-vindos, José e Safira. — A roupa dela parecia um uniforme espacial bem tecnológico. — Eu sou Pattrícya, quinquagésima comandante a assumir o cargo de presidência aqui na Área 50. Espero que se sintam à vontade conosco — pronunciava mansamente, todavia, parecia tão séria quanto receptiva. — Onde está Fire?
O poderoso geocinético não saberia responder, por mais que quisesse, por isso o bruxo tomou a palavra:
— Ele foi nos encontrar, mas tivemos um probleminha com um assassino em série. Foi assim que nos separamos, então acabamos encontrando o Pierre — explicou toda a situação, à medida que buscava entender de que era feito o corpo da dirigente.
— Muito bem... Então Pierre mostrará seus aposentos e amanhã conhecerão mais sobre este lugar. Novamente, boa noite! — Sumiu sem deixar rastros.
Finalmente passaram pela abertura e a seguir cessaram quando o homem mandou. Imediatamente após a passagem, encontravam-se num lugar onde constantemente passavam algumas pessoas em grupo ou sozinhas.
— Este é o hall de entrada. — Apenas uma sala simetricamente quadrada enfeitada com plantas e quadros. Em cada parede havia uma entrada, incluindo a que eles acabaram de cruzar. — Esta passagem do lado esquerdo leva aos espaços para treinamento e jogos educativos, onde ajudamos os poderosos a controlar seus poderes. Sem mencionar as áreas de lazer...
Apontava o acesso ao lado esquerdo, até que indicou com a mão a porta dupla fechada na frente deles. Algumas das pessoas que transitavam por ali de um lado para o outro, observava-os com curiosidade, outros estavam apressados demais para isso.
— Depois daquela porta está a sala de reuniões e o gabinete da comandante. Há também um local para reabilitação de poderosos destrutivos. — Por último, estirou o braço para a passagem da direita. — E ali é o corredor que leva para todos os quartos de moradores, turistas e convidados, neste caso, vocês, então vamos lá.
Seguiram por aquela abertura, encontrando apenas um corredor extenso com luzes na parte de cima. Paredes, teto e alicerce eram lívidos e uma trilha sonora calma soava baixinha por todo o ambiente.
— Pierre, o que era aquela mulher? — Enquanto tentava acompanhar os passos rápidos do homem de olhos castanhos, José inquiriu.
— Aquilo é só um holograma da comandante da Área 50. A verdadeira Pattrícya deve estar lá no escritório dela. Vocês vão encontrar várias coisas de alto nível tecnológico por aqui, coisas que não se veem fora deste abrigo — informou e estacionou numa bifurcação do caminho: um seguia adiante e outro virava à esquerda. — Seguindo mais à frente neste corredor encontram-se os aposentos dos turistas e o refeitório deles. Já por aqui ficam os quartos dos moradores e convidados. Vejam as plaquinhas...
Na quina da bifurcação fixavam duas placas, as quais diziam para onde levava cada corredor. Nelas havia palavras em inglês e em outros idiomas abaixo, como francês, espanhol e outros orientais. Viraram, portanto, para o corredor do lado esquerdo e continuaram caminhando.
— O que mais tem aqui de tão tecnológico assim? — Safira perguntou entusiasmada, segurando as alças de sua bolsa nas costas.
— Temos as câmaras Power-Men, salas metamórficas e nano-magnéticas — relatou com palavras difíceis, o que encantou ainda mais os adolescentes que antes apenas imaginavam aquilo enquanto liam livros de ficção-científica. — Entre outros equipamentos de treinamento... Também temos uma coisa que não é mais tão especial assim: elevadores. Eu sei que vários lugares já têm, mas os nossos são mais velozes.
— Pra quê essa velocidade toda? — A moça interrogou genuinamente curiosa.
— Serve mais quando os andares são muito altos ou muito baixos. Pois há mais vinte andares para baixo e sessenta para cima. — Estagnaram em frente a uma porta dupla de elevador, Pierre olhou direto para um círculo pequeno um pouco acima da abertura, fazendo com que abrisse, assim eles entraram em seguida. — José, por favor, pegue sua chave e olhe o que está gravado nela — pediu gentilmente.
— +LI25... Não faço a mínima ideia do que seja, mas é isso — revelou o rapaz loiro, sem ter certeza.
— + quer dizer que seu quarto é para cima; LI é... Sempre me esqueço... — Parecia buscar alguma informação em sua consciência.
— 51 em algarismo romano? — Safira murmurou relutante.
— Exatamente! Isso significa que o aposento de vocês fica no quinquagésimo primeiro andar. Ainda não sei por que botaram isso em algarismo romano — desabafou fazendo os jovens rirem. Apertou num botão de um painel que havia ao lado da porta automática, a qual fechou e o elevador começou subir. — O 25 indica apenas o número do quarto de vocês.
Subiram até o quinquagésimo primeiro andar, saíram da caixa metálica e rumaram até o cômodo que lhes pertenceria.
— Num andar tão alto assim, nós já devemos estar acima do solo... — José fez a observação para mascarar uma pergunta, porém, não obteve retorno, então insistiu. — Como fazem para esconder a instituição? — questionou para Pierre que, como sempre, andava apressado na frente.
— Campo de força e invisibilidade, para nos proteger de invasores indesejáveis — sanou imutável, quase de forma robótica.
Parece gentil e educado, mas firme como uma rocha... — A poderosa de cabelos verdes como a grama o avaliava, vendo suas costas musculosas.
— Quando é que invasores são desejáveis? — zombou Safira, rindo junto de seu namorado, mas cessaram instantaneamente assim que o homem voltou-se para eles, parando de andar ali.
De repente, uma tensão cobriu o corredor ligeiramente rotundo. Os adolescentes encaravam o poderoso que vestia o que parecia ser um manto antigo com alguns símbolos estranhos.
— É aqui! O quarto de vocês... — Pierre apontou para a porta à sua direita, quebrando a tensão. — Pedirei que tragam algo para que comam e aconselho dormir cedo. Amanhã vai ser um dia muito corrido, como todos os outros nesse lugar. Tenham uma boa noite! — Voltou por onde chegou ali e deixou os convidados em frente ao aposento.
Eles abriram a porta, adentraram e a trancaram novamente. Não era um cômodo de luxo de um hotel cinco estrelas, muito menos um quarto descuidado. Seguia os tons claros de todo o resto da instituição. José sentiu alívio por a acomodação ficar acima do solo, assim teriam mais ar puro. A vista da janela não mostrava muito já que a noite não permitia tanta visibilidade, mas estavam no meio do nada mesmo, não havia muito que ver.
Tomaram um bom banho de água quente e aguardaram a comida chegar. Depois que mataram a fome que os consumia, eles uniram as duas camas de solteiro e deitaram juntos, como prometeram estar para sempre. Espantando a insônia de expectativas, dormiram, por fim.
•••
Domingo, um bom dia para aqueles que foram desgastados pela semana e abraçavam a preguiça, assim como o travesseiro. 09h00min e os dorminhocos ainda se encontravam deitados. O que Joseph diria se soubesse disso? Todavia a paz que reinava foi barrada pelos sussurros através da porta, os quais acordaram o casal.
— Eu posso queimar a tranca... — Os adolescentes ouviam ainda sobre as camas juntas. Lembrava a voz de uma criança vinda do corredor.
— Ou talvez eu possa quebrar a porta! — Outra fala angelical atravessava a entrada trancada.
— Não, isso faria muita bagunça. Ali! A Emily já está vindo! — A primeira voz exclamou, e José resolveu ir até a porta ver o que estava acontecendo.
— Não fizeram nada dessa vez, né?! Deixa que eu resolvo... — Uma terceira entonação censurou as outras. Quando o bruxo tentou destrancar a passagem, essa se abriu sozinha e do outro lado apareceram três garotinhas enérgicas.
— Oooiii! — cumprimentaram ao mesmo tempo, com os dentes de leite à mostra.
— Posso saber quem são essas lindas damas? — O rapaz indagou com cordialidade e o trio de crianças soltaram risinhos abafados.
— Eu sou Laura! A mais bonita. — Devia ter no máximo um metro e dez de altura, assim como as outras duas. Seu longo cabelo amarelo-cintilante que arrastava no chão, decorado com algumas tranças, e seu vestido alvo davam a ela uma aparência angelical.
— Meu nome é Ruby. A mais corajosa. — Essa possuía o cabelo ruivo em rabo de cavalo, que, juntamente com seu vestido curto, dava um ar de aventureira.
— Sou Emily, prazer! A mais inteligente. — Vestia uma roupa em tons de outono simples e, para completar, seu cabelo marrom no ombro lhe deixava mais despojada.
— Amor, quem você está chamando de linda dama...? — Safira chegou por trás do namorado e logo trocou o desconforto por encanto, isso ficou perceptível no brilho de seus olhos azuis. — Olha essas gracinhas!
— Gracinha é você, querida! — Laura entrou empurrando o casal bruscamente, um para cada lado da entrada do aposento.
— Vem conosco! — Emily convocou pegando num braço do jovem bruxo e, com a ajuda de Ruby que pegou no outro, levaram-no para o acolchoado, sentando-o nele.
Ficaram as três de frente para o José sentado na cama, que logo foi acompanhado por Safira, a qual acomodou-se ao seu lado depois de fechar a porta.
— Você é o bruxo? — A garotinha ruiva inquiriu apressada, na ponta do trio que estava em pé e de olhos cerrados.
— Sou... Por quê? — devolveu receoso.
— Nada não, só queríamos ver se era real mesmo. — Emily respondeu da outra ponta. — Minha mãe me disse que você estava aqui, por isso viemos investigar.
— Sua mãe...? — Curiosa, a senhorita sentada indagou.
— Emma, a atendente.
— Como abriram a porta? — interrogou o moço de olhos ainda inchados.
— Usei meu poder. — A mesma continuava a responder, mas percebeu que não explicou o suficiente. — Eu controlo tudo que é feito de madeira, ao contrário da minha mãe, que controla o metal. — Safira, então, lembrou-se de sua chegada à noite anterior. Isso explica as chaves voando...
— Mas eu bem que poderia abrir com minha super força. — Laura atraiu a atenção entre as outras, dando soquinhos na mão.
— E quebraria a porta! — refutou a de rabo de cavalo e personalidade audaciosa.
— E você?! Que queria queimar a maçaneta! Colocaria fogo na Área 50 inteira — retrucou a de cabelo castanho-escuro curto.
— Parou! — Safira bradou, porém, ainda assim com impensável gentileza. — Nos digam o que vieram fazer aqui!
— Já disse. Queríamos saber se ele era o bruxo mesmo... — Emily respondeu outra vez.
— Vocês podiam nos esperar sair, ou aguardar até abrirmos a porta, pelo menos. — José aconselhou num tom ameno de censura. — Mas isso já passou e já respondi que sou mesmo o bruxo, então podem voltar...
— Mas você não parece bruxo.
— É, cadê os Runks?!
— E seu cajado, onde tá?
As três crianças começaram a enchê-los de perguntas, contudo, foram interrompidas por batidas fortes na porta. O garoto loiro não demorou em erguer-se e foi atender com seu bom humor esgotando-se. Era um alto homem de pele clara coberta por uma veste de couro, muito musculoso e com cabelos dourados. Lembrava um deus grego.
— Olá, bom dia, eu sou Marcelo — apresentou-se estendendo a mão, a qual foi apertada pelo jovem que recorria à cautela cada vez mais no decorrer dos instantes. — Estou aqui apenas para buscar minha irmãzinha, Laura! — pronunciou o nome dela um pouco mais alto para que a mesma o escutasse.
— Que chato, hein, Marces?! Não posso nem me divertir com minhas amigas. Eu não vou! — A garotinha esbravejava enquanto ia até a porta, mas sem sair do quarto. E, antes que seu irmão a obrigasse, uma mulher se materializou ao lado do musculoso.
— Laura, por favor, chame suas amigas e vá com elas brincar em outro local. Preciso ter uma conversa particular com o bruxo. — Era Pattrícya, a comandante.
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