Capítulo 6- Hora De Partir I

— Bom, fazem dias que vocês vêm treinando, treinaram até algumas artes marciais, já aprimoraram alguns de seus poderes, então acho que agora estão prontos para mim...

Mais uma vez, havia chegado o sábado, passaram-se alguns dias desde que tinham aprendido suas novas habilidades. Joseph os motivava do lado de fora da residência e, dessa vez, eles se mostravam realmente mais confiantes em si mesmos. Era a hora de mostrar do que eram capazes.

— São cinco horas da tarde e ainda temos que preparar o jantar, por isso seremos rápidos... — O mentor de olhos cinza monologava, observando certa consternação vinda de seus aprendizes que maquiavam tal sentimento. — Acham que estão prontos?

— Sim! — Os jovens responderam ao mesmo tempo.

— Sabendo que isso decidirá a possibilidade de vocês irem ou não para uma viagem pelo mundo..., que comece a batalha! — gritou o que permaneceu parado.

— Isso tá valendo o nosso futuro, então... concentração! — Safira advertiu e, num instante, transformou-se, adquirindo a mesma veste de pétalas vermelhas e vinhas verdes de sempre.

— Queria poder usar meus poderes sem o cajado, mas enquanto não consigo, vou fazer o que posso — lamentou José e se transformou também.

— Vão ficar de conversa fiada ou irão partir para luta? — O grisalho indagou sem paciência.

O bruxo imediatamente apontou o bastão de madeira em sua direção, o qual emitiu um raio de luz, muito mais forte que antes por causa do árduo treinamento. Porém o assalto não acertou o alvo, não o certo, uma vez que a claridade incidiu em cheio uma ilusão e não o próprio Joseph, o qual surgiu um metro ao lado de onde há pouco jazia sua miragem.

— Safira, vamos pular essa parte e sinta onde ele está realmente. — O de longa trança e chapéu pontudo sugeriu, já aborrecido com a técnica de seu pai.

— Pode deixar comigo. — Ela se agachou e pousou a mão no gramado. — Aquele não é uma miragem.

— Me achou... — Joseph fingia espanto a uns dez metros de distância do casal. — E agora? O que vão fazer para me pegar? — questionou cruzando os braços.

— Isso! — A moça exclamou e, rapidamente, prendeu os pés dele com raízes que se manifestaram do solo.

— Não vai desviar do meu ataque dessa vez. — José garantiu e disparou novamente.

— Não funcionou... — O poderoso uma vez mais se mostrava ao lado de onde achavam que se encontrava. O flash de sol acertou a segunda ilusão dele, a qual esvaneceu no ar, deixando espaço apenas para dois sapatos cheios de pedra em seu lugar, esses envolvidos pelos cipós. — Mais uma lição: aprendam a estar sempre preparados para o embate, pois o espaço influência em cada detalhe do duelo.

— Como eu não te...? — Safira perguntava desconsertada, mas logo percebeu uma mera minúcia em seguida. O pintor precaveu-se capinando a grama de um pequeno espaço do chão pra se "esconder" da habilidade dela.

— Como eu disse: detalhes — reafirmou animando as mãos no ar e, prontamente, desapareceu.

— Não o sinto. — A garota de cabelo verde ainda se encontrava com a palma na grama. — Não deve ter saído do lugar...

— Então vou atacá-lo! — O de traje verde proferiu, avançando em direção à falha no gramado.

— Não! Se você for, eu irei confundi-los! — alertou a poderosa exaltada e, no segundo seguinte, tornou-se invisível.

— Amor! — O rapaz não demorou em perceber o que havia acontecido com sua parceira. Contudo, antes de correr até onde achava que ela estava, foi segurado por um golpe mata-leão repentino e também perdeu sua tonalidade em seguida. A adrenalina do momento não o permitiu ter controle total do que fazia e acabou perdendo seu cajado, o qual sumiu da mesma forma assim que caiu no chão.

A ativista havia cedido ao desespero e não notou os movimentos rápidos de Joseph.

— Amor, qual é você?! — indagou exasperada, voltando a sentir a relva com mais atenção, recebendo sua coloração corporal.

— Enrola nossos pés com raízes! — A voz ofegante de José exigiu.

— Não, eu vou ficar enrolado também! — Outra semelhante se opôs.

— Querida, ele é o impostor!

— Desculpa, amor... — lamentou a moça e, com um aceno de mão, envolveu-os com raízes até o joelho sem ao menos enxergá-los.

Depois disso, seu namorado ficou visível, via-se aprisionado ao chão pelos cipós, mas não havia nenhum sinal do pai.

— Vou te soltar! — Safira deixou de sentir a grama para acenar com a palma no ar, e ele foi solto em seguida.

— Não! — Ela ouviu outra voz de José gritar, mas a entonação não derivava da boca do indivíduo que havia libertado.

— Obrigado, querida. — Joseph proferiu depois que retirou a "fantasia" e disparou na direção dela.

— AAA! — A poderosa expressou sua raiva e, levantando as mãos, fez várias trepadeiras brotarem do solo, elas se erguiam na frente do seu oponente, o qual desviava de cada uma, sucessivamente. — Fique parado! — Indignada, aumentou a potência de sua habilidade. Chicotes de três metros dançavam ameaçadores.

E, imitando-a, seu professor complicou um pouco mais, criando quatro clones seus que corriam na direção dela em ziguezague, dificultando a distinção do mesmo. No entanto, num piscar de olhos, todos os Josephs sumiram e Safira fez suas lianas cessarem, por fim.

— Amor, vou te salvar.

José ainda permanecia invisível, cativo das plantas e quase inútil no desafio. A senhorita se abaixou, tocou o capim e, antes que sentisse o corpo de seu amado, notou pés pisarem bem às suas costas, porém, sem nem que pudesse se virar, foi a sua vez de ser presa por um mata-leão.

— E agora, o que vai fazer? — O sussurro em seu ouvido a assombrou, e o adversário ganhou cor outra vez.

Ela se contorcia na tentativa de escapar do golpe, mas não tinha força suficiente. Por um momento o embate estacionou. Ao menos, seus integrantes puderam respirar, visto que José não podia se mover, e não possuía seu cajado; Safira se encontrava imóvel, presa no movimento de contenção de Joseph, o qual se concentrava em mantê-la daquela forma.

— Amor, tente se acalmar! — O jovem buscava tranquilizá-la, sem transparecer estar calmo.

— Não se acomode, use a adrenalina como arma. — Seu oponente não permitia que ela focalizasse sua mente.

— Calem a boca! — Num movimento rápido, estendeu a enluvada palma direita para frente como se invocasse alguma coisa para ela. E logo em seguida, mesmo que não fosse visível, ela atacou brutalmente seu inimigo com o que possuía nas mãos.

O mentor deu um passo para trás, perceptivelmente, atordoado, pois o golpe da moça o acertou na cabeça. Ele se desconcentrou, o que fez o rapaz aparecer e, além dele, seu bastão também surgiu, jazia na mão da garota que o usou como arma.

— Pega! — Jogou o cajado na direção do namorado e o desprendeu do chão com um aceno. Tudo isso em escassos segundos.

Em campo de embate, no terreno da moradia isolada, encontravam-se: José de frente para a casa e de costas para o princípio da floresta; Joseph, que encarava o bruxo, recuperado da ofensiva anterior; e, entre eles, havia a senhorita, a qual observava seu professor na tentativa de lê-lo. Mantinham sensata distância um do outro.

— Muito bem. Vejo que está se esforçando muito, Safira! — pronunciou mirando no fundo dos olhos do filho.

— Já chega. — O adolescente murmurou em resposta, bateu o cabo no chão e várias pedras de todos os tamanhos foram arrancadas do solo, elas flutuavam ao seu redor. Apontou para seu oponente e as rochas se lançaram com rapidez na direção dele.

A jovem, vendo aquilo com repentina surpresa, abruptamente pulou para o lado, evitando ser acertada por um dos disparos. Assim também fez o poderoso mais velho, com sua máxima agilidade, desviando com perfeição.

— Não vai ser tão fácil assim me acertar! — Joseph manteve o foco na defesa sem se dar ao trabalho de ficar invisível.

— Eu vou te ajudar! — A ativista alegou já movimentando as palmas, fazendo brotar do chão, em baixo dos pés do instrutor, várias raízes aterrorizantes que tentavam prendê-lo ao solo. — Continue e não pare! — O incentivava e seu namorado fazia as pedras, já lançadas, serem arremessadas outra vez.

— Ele é veloz e isso parece torná-lo pequeno — resmungou o bruxo, ponderando muitas coisas enquanto permanecia na ofensiva. — Como uma ilusão de ótica!

— Isso não é ilusão! — Joseph parou subitamente e, num movimento rápido, apanhou uma das rochas que voava velozmente em sua direção. Isso fez seus adversários cessarem, perplexos. — Mas já que deseja um alvo maior...

Com isso, ele principiou a crescer anormalmente. À medida que se tornava gigante, sua pele ganhava um tom avermelhado e se enchia de escamas; assim como sua boca lotava de dentes afiados; suas unhas se tornavam garras enormes e em suas costas apareceram imponentes asas.

— Que tal isso? — O dragão debochou, rugindo com uma voz não tão assustadora quanto o esperado, mesmo que não tivessem esperando tal técnica.

— Todos nós sabemos que isso é só uma ilusão! — Safira concluiu, invocou um galho para sua mão e jogou-o na direção da cabeça da fera.

O inesperado aconteceu, o graveto acertou o focinho do réptil colossal, deixando os dois pobres jovens sem ação alguma. Eles pensavam que o pedaço de madeira atravessaria o monstro, pois imaginaram que aquilo seria apenas uma miragem. Pelo visto, estavam errados.

A não ser que seu tutor tivesse feito à ilusão de um galho caindo, enquanto o verdadeiro realmente trespassava pela besta fictícia... Todavia não possuíram tempo suficiente para ponderar tal fato, pois o ataque despertou a fúria do dragão; chamas escapavam de sua boca.

— Safira! — José gritou, correu até ela e os defendeu erguendo uma pequena parede de plantas à sua frente.

Os dois fecharam os olhos, talvez se preparando para sentir o ardor queimando sua pele. Então a fera baforou as chamas que produzia em seu interior, pondo fogo em tudo que desejasse. Mas, por algum motivo, os dois adolescentes não foram queimados, nem sequer sentiram a temperatura aumentar, por isso abriram as pálpebras.

— Quê?! — indagaram em uníssono.

Não havia dragão. O fogo era, possivelmente, apenas mais uma das ilusões. Porém o que os assustou foi o fato de se verem rodeados de altivas árvores, como se a floresta tivesse se expandido um pouco para o lado e os engolido.

Naquela situação, as reações possíveis podiam variar para cada pessoa que presenciasse a cena. Receio, atenção, raiva ou até medo... A daqueles alunos foi começar a gargalhar de modo repentino, confusos e, sem dúvida, nervosos.

— Caímos como coelhinhos. — A moça comentou rindo.

— Temos que estar mais atentos aos detalhes — declarou o Bruxo da Natureza, mostrando-se mais sério e desfazendo magicamente a barreira de plantas.

— Acho que isso é apenas o poder de Joseph... — Aproximou-se de uma árvore e tentou tocá-la, mas sua mão enluvada atravessou o caule.

— Agora só nos resta...

— Exatamente, e agora? O que vão fazer... — Ainda era a entonação rouca do dragão, mas uma tosse penosa fez sua voz retornar para a do pintor. — Que tal brincarmos de: ache o mestre? — Ele parecia se movimentar rapidamente, visto que o som mudava de direção num piscar de olhos.

— Safira, você já sabe o que fazer...

— Sei!

— Vão apelar para a grama outra vez?

— E o que você tá fazendo agora, não é apelar?! — Indignada, a jovem contrapôs.

— Não, estou apenas deixando as coisas mais interessantes — refutou o poderoso e, em seguida, vários clones seus surgiram correndo em ziguezague, por trás das árvores, contornando-as e até passando por dentro das mesmas.

— Vou logo acabar com isso de uma vez! — Safira abaixou-se e pôs a palma no capim. — Ele não está aqui...

— Como assim? — Olhou-a com cenho franzido. Ele tem que estar por aqui... Mas onde?

— Eu não sei. Não consigo sentir os pés dele em nenhum lugar. — Perplexa, ainda tentando, a todo custo, encontrá-lo, como se fosse questão de insistência.

— Pai?!

— Ele deve estar por perto, pois ainda mantém as ilusões ativas — deduziu com base nos clones que não interrompiam a corrida monótona.

— Venham me procurar... Eu estou aqui. — Perceberam de onde emanava a voz, Joseph estava dentro da floresta grande, entre as árvores reais. A ativista não pôde senti-lo antes, pois não havia grama perto dos pinheiros verdejantes, o que demarcava perfeitamente a fronteira entre o terreno gramado e a flora verdadeira.

— Se é assim que você deseja — replicou com convicção e um leve tom de ameaça. — Amor, se prepare... Vamos pôr um ponto final nisso!


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