Capítulo 24- Os Doze Tronos II
— Agora que estamos todos aqui, não há por que esperar mais...
— Espera! — Interrompendo Kongjian, o rapaz entusiasmado tomou a atenção. — Onde estão meu pai e Tamíres?
— Os dois não virão, ainda há muito que fazer em relação à guerra, por isso também devemos ser rápidos. — Noel informou fazendo o adolescente atrofiar um pouco de seu ânimo.
Então não vou vê-lo neste Natal... — Lutava contra sua própria consciência pra imaginar que ele lhe visitaria antes do fim daquele dia.
— E onde será essa reunião? — Safira questionou abraçando seu namorado de lado, para lhe mostrar apoio emocional. — Aqui mesmo?
— Exatamente aqui, basta somente um aceno do cajado do bruxo... — O indiano relatou incitando o jovem a fazê-lo, todavia, apenas quando seu estado pensativo atraiu os olhares de todos foi que ele despertou e entendeu o que devia fazer.
— Será que ele esqueceu que é o bruxo? — A indagação de Raphaello trouxe o riso daqueles que não compreendiam a vida do protetor da Terra.
Ignorando os risos, a ausência de Joseph e a necessidade do que faria a seguir, apenas invocou seu bastão de madeira e o deslizou graciosamente pelo ar. O terreno começou vibrar minimamente e as pedras gigantes puseram-se a mover de um lado a outro, ordenadas. Umas se conectavam as outras, algumas surgiam do solo e havia aquelas que se rompiam para tomar uma nova forma. No final, altos tronos de pedregulhos colocados em um círculo formavam a paisagem que podiam vislumbrar.
Nunca vou me enjoar de ver isso — declarou mentalmente José, vislumbrando os assentos a um metro do chão, com degraus para subir e sentar-se. — Mesmo que não pareçam confortáveis...
— Pois bem, guardiões e bruxo, tomem seus lugares. — Kongjian enunciou com certo tom autoritário, mas gentil, talvez apenas por estar simulando a Oráculo.
Por que estamos recebendo ordens dele? — O telepata frígido questionou na consciência daquele que lhe ofereceu abrigo.
Ele está aqui representando a Oráculo — esclareceu mentalmente subindo os degraus de seu trono rochoso.
A que parecia querer nos matar?
Essa mesma...
Todos reivindicaram seus lugares sentados, todavia, três permaneceram em pé: Safira, entre os assentos de Noel e seu namorado; Dragon, dentre seu mestre e Curupira; e Pierre, no meio de Raphaello e Arya, a qual representaria o oriente, já que Tutancâmon não poderia estar presente. Ainda haviam três tronos vazios, porém, eles já estavam reservados para outros representantes.
— Ótimo, agora restam somente os bruxos. — José arregalou os olhos azuis quando ouviu o indiano, mas não conseguiu pronunciar nada, pois sua boca tremia ao imaginar que finalmente conheceria seus iguais. — Sempre atrasados...
Um bater de asas ecoou repentinamente naquele lugar e um vórtice anil apareceu no centro do círculo de tronos.
— Bruxos não se atrasam. — Uma voz rompeu entre os Runks que surgiram de todos os lados. Era um homem de roupas azuis cintilantes, tão místicas e angulosas quanto às do moço chocado, ele portava um tridente, mas esse logo desapareceu no ar. À suas costas, Valka se apresentava imponente, como uma guarda costas. — É bom estar de volta...
Mais um portal surgiu do lado deles, disparando descargas elétricas para todos os lados. Outro homem com aparência bruxesca brotou daquele transportando um bastão com uma bifurcação afiada em uma das pontas. Suas vestes eram em tons escuros e amarelos, o cabelo preto tão grande quanto o que José possuía antes dele se transformar em folhas e nunca mais crescer. Esse havia teleportado junto do deus que despertou certos sorrisos, Fire King.
Depois desses, mais uma abertura espacial quase invisível, à base de vácuo, mostrou uma dama que flutuava acima da cabeça dos outros. Trajava um vestido rosa e portava também um cajado majestoso que parecia ser feito de ouro.
Se fosse uma disputa de entrada triunfal, esses três estariam empatados em primeiro lugar. — O loiro avaliou mentalmente.
— Sejam bem-vindos, bruxos! — Os guardiões cumprimentaram em coral e se levantaram, curvando-se em seguida. Todos os imitaram e os três protetores tomaram os assentos restantes.
— Por que ninguém se curva quando chego? — José questionou-se em seu interior, mas sua boca relatou o que pensava, trazendo olhares para si quando estavam acomodados novamente.
— Vamos dar início ao... — Kongjian resolveu ignorar aquela fala, mas foi interrompido por aquele a sua direita.
— Espere! — O primeiro bruxo levantou a mão. Depois a sacolejou e cadeiras de gelo apareceram atrás daqueles que ainda permaneciam de pé, os quais não demoraram a sentar, agradecidos. Fire acomodou-se entre o segundo bruxo e Yara; Valka se assentou no meio do primeiro bruxo e José. — Quem sabe isso se prolongue.
— Pois bem... — retomou a palavra. — Representando a Oráculo, declaro iniciado o conselho dos doze tronos... Reunidos hoje nesse consenso: O bruxo Merlin, emissário do planeta Água; O bruxo José e os guardiões do planeta Terra representando o mesmo: Noel, Curupira, Meredyth, Raphaello — dizia pela ordem que jaziam sentados —, Arya, Aurora e Yara; O bruxo Salazar, enviado do planeta Fogo e, por fim, Morgana, vinda do planeta Ar.
— Acredito que meus iguais, bruxos, dividam comigo o questionamento de por que realmente fomos convocados — Merlin começou secamente —, então, se puderem nos explicar...
— Como já devem saber, Malléphycus não mais se encontra cativo e seus planos são um mistério — Noel rebuscou sua fala para se equiparar ao netuniano e foi sucinto. — Os convocamos a fim de pedir auxílio uma vez que seja necessário.
— Não exerço minha função há muito tempo, mas é do meu conhecer a existência de uma profecia que prevê a morte dele. — Salazar afirmou acomodando melhor sua roupa escura no assento não tão confortável. Parecia apenas um pouco mais velho que José. — Então o que temem?
— Incerteza — sanou Meredyth. — O futuro não se mostra inteiramente e as dúvidas nos fazem ficar mais cautelosos, por isso estamos aqui.
— A profecia fala de um protetor que carrega a luz, o qual acreditasse ser o Bruxo da Natureza — introduziu Morgana, fazendo todos olharem para o jovem acanhado. — Se vocês possuem o protetor, então já deviam ter acabado com essa ameaça.
— O bruxo ainda não está capacitado totalmente para esta possibilidade. — Noel sanou com pesar.
— E não o treinaram por quê? — inquiriu o bruxo de Marte.
— Assim como no planeta Fogo, o nosso vem enfrentando uma guerra. — Justificando, Curupira revelou. — Nosso tempo se mostrou escasso diante dessa batalha.
— A qual também teorizamos que seja consequência das trevas de Malléphycus — completou Yara.
Até ela tá falando assim? — O jovem se admirava com as palavras. — Espero que eu não precise falar...
— Entendo a situação em que se encontram — o de longo cabelo arroxeado, Merlin, mostrou empatia —, mas até que ponto você aperfeiçoou seus poderes?
— Ele não...
— Deixe que o bruxo fale por ele mesmo! — O netuniano interviu na intromissão do guardião escarlate, o qual temia pelo linguajar do adolescente.
— Bem, eu... — Começou suar frio. — Infelizmente, meu treinamento não pôde ser concluído como esperado e... minha capacidade alcança efetivamente apenas o quarto poder. — Mandei bem!
Mandou bem. — Ouviu em sua mente. Dragon mostrava os dentes para ele na tentativa de formular um sorriso. Os outros apresentavam uma leve surpresa furtiva.
— Como já devem saber, a quinta habilidade é sempre um mistério... — Noel citava, surpreendendo José.
— Você também não sabe?! — exclamou e dirigiu-se aos de seu conjunto. — Vocês talvez possam me ajudar com isso.
— Não podemos ajudá-lo com isso. — Morgana incitou-o a se acalmar. — Cada bruxo tem uma capacidade única e a descobre de forma distinta dos outros.
— Entretanto sinta-se à vontade para nos visitar em nossos planetas e lá lhe ofereceremos tudo o que sabemos. — Salazar convidou gentilmente, mas não causou a reação que esperava.
— Sinceramente, bruxo — Kongjian tomou a palavra com admirável sutileza nas frases afiadas —, não os convocamos pelo que sabem, mas pela somativa de poder que podem oferecer.
— Luxyus e Joseph tinham poder suficiente, todavia, por falta de sabedoria, deixaram que a ameaça viesse a ressurgir. — Merlin argumentou convicto.
— Já sabemos como lidar com Malléphycus — foi a vez do poderoso de gorro vermelho impor sua palavra —, porém, em nosso planejamento, seus auxílios estão incluídos.
— Eu acho que você está sendo precipitado, guardião. — O marciano alfinetou encarando-o.
— E eu acho, caros companheiros bruxos, que vocês estão acovardando diante do inimigo. — José não se aguentou e detonou seus ânimos. — Apenas procuram erros e brechas em nossos planos para que, no fim, não precisem mover um dedo. Em vez de procurar uma solução plausível, somente ditam o que devemos fazer. Precisamos que nos estendam a mão e não que nos apontem o dedo.
Gastei todo meu vocabulário... — Todos os presentes o olhavam ofegar enquanto buscava manter a calma.
— Acha que somos desocupados?! — Morgana contrapôs um tom mais alto. — Diferentemente de você, não temos guardiões para fazerem o nosso trabalho como protetores. Nossos planetas enfrentam dificuldades assim como o de vocês.
— E quem garante que isso não seja obra de Malléphycus? — Safira retorquiu inesperadamente. — Assim como a guerra que enfrentamos tem raízes nas trevas dele, a desestabilidade em seus planetas também pode haver.
— E em vez de zelarmos por nosso lar, deveríamos ajudar vocês? — Salazar sorria incrédulo com tal perspectiva. — O que ganharíamos com isso?
Não se dá as coisas, esperando receber algo em troca. — Escutaram uma voz fria em suas mentes.
— A nossa guerra não atinge seus planetas, mas vocês fazem parte dela. — Noel afirmou enquanto alguns ainda tentavam descobrir de onde tinha vindo à voz telepática. — Acham mesmo que ele vai se contentar em conquistar apenas a Terra? Um planeta que enfrenta uma guerra civil é um alvo perfeito para ser desestabilizado e usurpado.
— Diz isso porque está desesperado. — O marciano retorquiu sem se abalar.
— Como não ficar?! — O guardião exaltou-se. — Quando se vê milhares de pessoas morrerem e não poder fazer nada, nada além de esperar... Não há como manter a calma. Manter-se firme diante do inimigo e perceber aqueles que lhe deveriam ajuda, não expressarem o mínimo de empatia.
— Desculpe-me, mas não devemos nada a vocês. — A dama de traje rosado proferiu pondo fim aos ânimos exaltados.
— Ela tá certa. — A fala mansa de José atraiu a atenção. — Por que deveríamos perder nosso escasso tempo tentando concretizar uma aliança que beneficiária a todos reciprocamente? Vendo a negação deles, não há nada que possamos fazer, já que não nos devem nada — articulava mirando os guardiões, mas suas palavras atingiam os bruxos, para os quais ele direcionou o olhar naquele momento. — Espero que lembrem que tentamos, quando precisarem de ajuda, não a receberem e forem obrigados a tentar também, para salvar a vida de seus povos.
Os terráqueos vislumbravam, surpresos, o rapaz que parecia brilhar como um Runk vívido. Safira o admirava com fascínio. Joseph está orgulhoso de você, amor, assim como eu...
Belo discurso, bruxo. — O jovem escutou em seu interior e sentiu a energia vital que o rodeava, inspirando-o como todas as vezes que precisava. Sabia que Hugo havia lhe ajudado com as palavras.
Um breve silêncio instaurou-se entre eles, dado que os bruxos sentiam a verdade nas frases cirúrgicas.
— Suponhamos que iremos nos juntar em prol dessa causa — começou Merlin, presunçoso —, onde está Malléphycus? — Seu questionamento trouxe apenas mais questões ao consenso, as quais se mostravam de difícil resolução.
— Uma coisa é certa, ele não está no planeta Terra. — Noel afirmou convicto.
— O que lhe dá tanta certeza? — Morgana o questionou.
— Maria, ela saberia se ele ao menos entrasse em nossa atmosfera.
— Então ele deve estar em um dos vossos — presumiu o indiano, Kongjian.
— Nós temos uma fiscalização rigorosa quanto a quem reside no planeta Ar, saberíamos se ele estivesse entre nós — relatou a jupteriana de cabelos loiros cobertos por um longo gorro rosa.
— Sendo assim, ele só poderia estar em Marte ou Netuno. — Arya ponderou o óbvio. — Mas em qual deles? — Feito tal questionamento, em sincronia, alguns presentes dirigiram suas vistas para Salazar.
— Por que estão me olhando? — inquiriu franzindo o cenho.
— É do conhecimento de todos que o Fogo é o planeta natal de Malléphycus e essa disparidade civil recente pode indicar a presença das trevas. — O Bruxo Aquático alegou serenamente, incitando a uma conversa mais civilizada.
— Isso não prova nada! — O marciano recusou o tom proposto, como se aquilo lhe tirasse algum peso de culpa. — Ele pode estar em seu planeta, Merlin, o que me parece mais provável, uma vez que o meu seria uma escolha óbvia demais.
— E se ele optasse pelo óbvio? — replicou convincente.
— Não chegaremos a lugar algum com suposições... — Kongjian interviu antes que se tornasse uma eterna discussão.
— Sei que estão querendo por a responsabilidade toda em mim! — Salazar exaltou-se levantando.
— Se estamos em um conselho, é porque somos todos responsáveis! — Depois que Merlin ergueu seu corpo em contrapartida, todos pareceram se exasperar. As exaltações não podiam ser compreendidas pois uma abafava a outra e, por pouco, eles não usaram seus poderes para se expressarem melhor.
Contudo todos estagnaram quando um trovão os fez silenciar. O céu fechou completamente de forma súbita e o belo dia escureceu, como se previsse uma tempestade a caminho. Tão estrondoso quanto o trovão foi a gargalhada maléfica que ecoou entre eles, mas não vinha de nenhum deles, fazendo-os ficar alerta.
— Vocês são patéticos. — A insinuação furtou os olhares para uma figura que vestia a noite, caminhando até eles lentamente, como se trouxesse a escuridão em seu encalço. Uma mulher com um sorriso debochado e desgastado.
— Freya... — Noel sussurrou pasmo, para si mesmo. — Esses meses todos, e eu esqueci totalmente de avisá-la sobre esta reunião.
Freya? — José analisou seu estilo sombrio. — Ela, com certeza, é a rainha da entrada triunfal...
— Seja bem-vinda, ao nosso conse... — O cumprimento do bom homem foi interrompido.
— Sshh — silenciou-o com o dedo enrugado na frente da boca, pondo-se no centro dos tronos, dramaticamente. — Percebo quando não sou bem-vinda entre aqueles que não me reservam um lugar, tão pouco convidada para me juntar a esses.
— O que veio fazer aqui, vidente obscura? — Kongjian foi direto ao ponto.
— Ela também faz parte deste conselho! — proclamou Curupira, em contrapartida.
— Obrigada pela consideração — agradeceu expressando seu sorriso amarelo ao poderoso, mas o desfez e olhou os restantes, severa. — Juntei-me a vocês apenas para trazer a luz da verdade.
— Luz? — indagou Morgana, rindo. — Você está marcada pelas trevas. — Os dois outros bruxos se juntaram as risadas da jupteriana.
— Vocês estão tão cegos pela ignorância, que nem conseguem ver a escuridão entre vocês — cortou seus risos e todos se entreolharam, desconfiados. — Exatamente, a força maligna de Malléphycus está aqui entre nós.
— Se sabe quem está infectado, então diga! — Noel mostrou impaciência pelo suspense de Freya, a qual sempre fazia tudo parecer um espetáculo de enigmas.
— Quem trouxe as trevas consigo foi...
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