Capítulo 2- Ascende O Protetor IV
Levantaram-se em total silêncio, recolheram toda a louça de cima da mesa e se direcionaram à cozinha juntos. O rapaz de olhos verdes se acomodou em uma das quatro cadeiras da mesa que lá havia, os outros dois puseram-se a lavar os pratos e talheres que foram usados.
— Agora pode continuar a história — comentou o sentado.
Aquilo não era uma simples história, mas a pura realidade. As palavras pareciam tão fantasiosas que poderiam facilmente não passar de uma boba invenção fértil, como acreditava que eram aquelas que ouvia quando criança e desacreditou assim que cresceu, até que voltou dos mortos como o Bruxo da Natureza.
— Ah, é! Em qual parte eu parei mesmo? — questionou-se o anfitrião.
— Espectros! — A moça relembrou rapidamente, desejando não voltar ao assunto anterior.
— Certo... — Uma vez mais, ele estagnou um pouco e iniciou. — Então, os espectros são a humanidade personificada de um Sentimento; nascem quando começam a possuir chakra e são necessários para algum objetivo. Dependendo de sua missão, eles podem ter uma vida longa ou curta.
— Tamíres é uma espectro, não é? — Safira inquiriu. Humana, ela, com certeza, não é...
— Sim, a Tim é. Ela não existe há muito tempo, mas viverá até que seu objetivo seja cumprido.
— Qual o objetivo dela? — A menina o questionou mais uma vez.
— Alguns dessa espécie são personificados sem ao menos saberem qual obrigação devem cumprir, é o caso da Tamíres... Mas em geral são...
— São como, por exemplo, apagar vestígios dos poderes. — José interviu rapidamente, surpreendendo, e completou sorrindo. — Eu vi um espectro cinza perto da floresta, acabando com os resquícios da nossa luta e depois sumindo, acho que seu objetivo não era tão longo...
— Exatamente. Depois de ganharem uma forma, eles vivem esperando atingir sua missão, vivendo igualmente aos humanos e as feras. — O homem explicava, enxaguando as coisas que a ativista já havia passado a esponja com detergente.
— As três raças se respeitam sem se aterem as diferenças, porém, ainda existe certo preconceito, por parte principalmente dos poderosos humanos, mesmo que isso seja bastante incomum... José, me passe esse pano que está em cima da mesa, para enxugar os pratos. — Joseph pediu, depois que terminaram de lavar a louça.
— Pode deixar que eu faço isso — insistiu a convidada, pegando o pano que o jovem já possuía nas mãos. Começou o serviço do anfitrião de olhos cinzas, enquanto esse se sentava à mesa.
— Muito obrigado — agradeceu surpreendido. Talvez José realmente esteja em boas mãos. — Continuando... Um patamar acima dessas três espécies existem os deuses. Um deus é basicamente um poderoso melhorado, possui uma maior quantidade de chakra e consequentemente é mais... poderoso.
— Há como um poderoso se transformar em um deus? — Safira aparentava muito interesse em tal assunto.
— Sim, mas apenas quando dá bons motivos...
— Para quem? — interrompeu de súbito, parando de passar o pano no prato que segurava e colocando-o em cima do balcão que separava a pia do resto da cozinha.
— Calma! Acho que deve ser aos Sentimentos, não sei ao certo. — Tentava acalmar seus ânimos, erguendo as palmas. — Talvez depois eu fale mais sobre isso com você...
— Em que parte eu entro nesta história? — interviu o jovem que encenava exclusão.
— Está bem, você já era o próximo mesmo... Bem, depois dos deuses, vêm os bruxos...
— Espera! Como você sabe que eu sou um bruxo?! Eu não te disse isso — questionou com indignação.
— Fácil, lá perto da floresta você estava rodeado de Runks — explicou, simplificando. — Sem falar que essa seria a única forma de um humano normal ganhar poderes voltando à vida. Além da sua aparência de bruxo, aquele chapéu pontudo te entregou de primeira.
— Aah! Eu queria fazer uma surpresa... — Todos começaram a rir, mas José cessou, pois sentiu um pouco de dor nas costelas.
— Então, continuando... São quatro bruxos especificamente, um para cada planeta com seres vivos. Eles são os cuidadores dos planetas e são os escolhidos para protegê-los. Como você está destinado a fazer agora. — Indicava seu filho com a cabeça. Não poderia mencionar o quanto estava orgulhoso dele. — Por isso deve aprender a usar seus poderes, no que vou tentar ajudar... O bruxo daqui da Terra controla a natureza, se não me engano ele possui cinco poderes distintos, mas Infelizmente só conheço três desses.
— Você conheceu o último bruxo? — O jovem questionou, mostrando-se muito atraído pelo tema.
— Não, apenas nossos caminhos que se cruzaram uma vez, por isso eu acabei descobrindo. — Relembrava de alguns momentos vividos há anos. — Mas eu sei quem o conhecia... Irei mandar você para ele, mas só depois que eu mesmo lhe treinar.
— Então vamos logo começar o treinamento, quero aprender meu terceira habilidade! — O bruxinho com certeza estava entusiasmado, até se levantou da cadeira com o ânimo.
— Vamos! Vamos! — Joseph fingia a empolgação e aparentou enganar muito bem. — Mas agora a aula é teórica, então senta aí.
— Falta muito? Porque eu acabei de enxugar tudo. — Safira informou, tentando chamar atenção depois de guardar toda a louça no armário.
— Ótimo! Vamos à sala para que eu possa terminar, lá é mais aconchegante — declarou o anfitrião, convidativo, antes de ajudar José, que ainda se via de pé, pegando em seu braço e levando-o até a sala de estar.
— Por que somente eu estou tão cansado e dolorido?! — inquiriu, aborrecido.
— Talvez porque eu já era uma poderosa e estava acostumada. — Safira tentou explicar, enquanto sentava na mesma cadeira que jantou, assim como os outros. — Ou por causa de um treinamento que eu fazia escondida na floresta.
— É... pode ser, isso explica muito.
O rapaz não parecia satisfeito. Na verdade, seu interior guardava o contrário disso. Por que nunca me contaram nada?! Seus pensamentos apenas maquinavam o que as feições escondiam e era quase impossível ao outros saber que ali se encontrava um explosivo cronometrado, o qual esperava o momento para detonar.
— Talvez seja por isso mesmo... — Joseph finalmente proferiu algo, sentando, se sabia o que o filho pensava, também usava sua plenitude para esconder isso. — Bruxos usam os Runks, ou seja, a própria vida, e isso exige muito deles. Além de que a primeira vez sempre é a mais difícil em todos os casos.
— Não sei por que eu nunca me transformei antes! — exclamou a ativista, levemente revoltada.
— A primeira transformação vem muitas vezes quando o poderoso enfrenta uma grande emoção ou quando se sente inconscientemente seguro e preparado para isso. Deve ter se sentido assim apenas quando teve meu filho com você.
— Eu me senti preparado assim que ganhei meus poderes. — José proferiu tentando mudar o clima, direcionando seu olhar à moça. — Te tive ao meu lado antes mesmo de virar bruxo.
— Está bem, então chega de conversa melosa. — Joseph se realocava na cadeira, para sentir-se mais confortável. — Vamos ao que interessa... Em relação a poder, os bruxos estão em segundo lugar, mas no quesito intelecto, eles ocupam a quarta colocação. Quem está à sua frente no ranking são os oráculos. Estes não têm poderes especiais, apenas uma vasta sabedoria quase infinita. Existem somente quatro destes, um para cada planeta onde há seres vivos...
— Sua fonte de inteligência são os Runks? — José o complementou, mostrando que aquilo era óbvio.
— E eles usam essa sabedoria para cuidar do planeta, no qual vive? — Safira continuou.
— Hum! E depois ainda pedem pela explicação. — O tutor murmurava consigo mesmo, cruzando os braços com uma expressão de censura, seu semblante transmitia chateação. — Está certo, eu entendi que isso pode ser chato, mas não posso pular a explicação.
Na verdade, não chegava nem perto de ser um assunto chato para aqueles adolescentes, apenas não tão atrativo, pois imaginavam outras questões na mente, que seriam expostas, cedo ou tarde.
— Tenta agilizar — comentaram em uníssono, rindo. As vozes entregavam o cansaço que sentiam.
— Vou tentar... Bem, o próximo é o mais forte de todos os seres, o Deus. Basicamente, ele possui a onipotência; controla os Sentimentos; não morre até que sua alma deixe o seu corpo. — O que lhes era contado deveria os impressionar, mas apresentavam certa descrença e, ao mesmo tempo, surpresa demais para saber como se expressar adequadamente àquelas revelações. — Depois que a alma deixa o deixa, ela se agrega ao corpo do Deus Oráculo...
— Este não é o mais poderoso de todos os seres, mas sim o de maior sabedoria — pronunciou o jovem bruxo.
— Você realmente lembra tudo! — Joseph impressionou-se com a memória aguçada do filho.
— Me lembro de toda aquela conversa... ou quase toda. Nunca imaginaria que fosse tão real.
Todos pararam de falar por alguns segundos. Lá fora, o vento era calmo, se havia frio, esse não penetrava a residência, mas devia estar tão gélido quanto os semblantes indecifráveis daquela sala. Uma incógnita pairava entre eles... O silêncio se alastrou ali, sendo finalmente quebrado por Safira.
— Vocês vão explicar pra mim a respeito do que estão falando, ou vou ter que adivinhar? — Os questionou na tentativa de tomar a atenção.
— Eu já falei sobre isso com meu filho. — O homem ainda transparecia a surpresa. Ele não deveria saber de nada, não deveria, então como ainda recorda? — Mas me admira que ele lembre.
— Não sei por que tanta surpresa, eu tenho memória... — O cenho do loiro não poderia ser decifrado tão fácil.
— Estou sabendo, então escute o final e guarde na memória. — Voltou a medir as palavras, na tentativa de explicar perfeitamente. — O Deus Oráculo é onisciente tanto quanto o Deus é onipotente. Ele existe desde sempre, assim, guarda os ensinamentos e conhecimentos de todas as gerações de divindades... Fim.
— É só isso?! — José interrogou, mostrando descontentamento. — Pensei que iriam ter mais explicações...
— Iria! Que vem do verbo: não vai mais. — Safira comentou com um sorriso que sumiu em milésimos de segundos, percebendo que o repentino clima pesado não se desfaria em risos tão fácil. Algo está errado aqui...
— A parte dos poderes, Sentimentos, Runks e chakra eu deixarei para depois. — Joseph revelou sorrindo forçadamente, ele também sentia a tensão momentânea.
— Isso tudo não explica vocês dois esconderem isso de mim! — O rapaz mudou drasticamente, exclamou com irritação, indignado e sentindo-se enganado. — Não explica mesmo...
— Nós não estávamos escondendo nada de você... — A jovem tentou interferir calmamente, mas também séria e firme.
— Ah não?! Jura? — Eles não falariam alto mesmo que estivessem discutindo, então a voz saía carregada e pesada. Os gritos que deram na missão da floresta também poderia ser uma das causas daquele tom rouco. — Então por que eu não soube que as pessoas que eu mais amava eram...? — Estagnou.
— Filho, cuidado com as palavras que vai usar. — Joseph aproveitou a brecha para remediar a tensão do âmbito.
— As pessoas que eu mais amava não eram vocês, eram apenas máscaras bem feitas. — Sua expressão se mostrava genuinamente descontrolada e incontida, os olhos marejados, fazendo-os brilhar sob a luz amarela da lâmpada no teto. — Segurei isso desde o começo desta conversa, ou até antes disso. Agora me digam. Digam-me por que mentiram pra mim.
— Acalme-se, filho...
— Eu nem sou seu filho! — A bomba-relógio explodiu.
Gritou de súbito, e todos se assustaram, inclusive ele mesmo. Os corações palpitaram tão forte em conjunto que pressionaram dolorosamente as costas contra as cadeiras de madeira. Não seria tanto exagero dizer que o brado reverberou pelas florestas, despertando os animais que já adormeciam.
— Nós não podíamos... — A moça começou falar, lágrimas transbordando seus olhos azuis.
— Vocês não podiam falar quem eram de verdade? É isso que está me dizendo? — José mal possuía forças para altear o tom da fala, por mais que estivesse descontrolado. — Que a melhor escolha foi fingir? É isso?
— Humanos normais não podem saber sobre os poderosos, essa é a regra da Terra. Nós não podíamos falar a você, filho, porque, se fizéssemos isso, algum espectro com a função de apagar sua mente nasceria... — Com calma, mas firme, sanou seu pai, tentando acalmar o filho que ouvia atentamente. — Me surpreende que eles não tenham feito isso antes, não havia nada que eu temesse mais em toda minha vida... Eles poderiam apagar todas as suas memórias, aí você se esqueceria dos poderes, de mim e da Safira. Eu sinceramente espero que entenda...
Entre os sons agourentos das corujas, podia-se ouvir um longo silêncio gritante.
— Vocês não me falavam a verdade por medo de me perder... Fingiam ser quem não eram apenas para me ter perto de vocês... Ou me mantinham longe para me proteger. — José dirigiu o olhar de seu pai para a adolescente. Tinha mudado o tom da voz drasticamente para outro, tímido e sem pressa.
— Isso é como estar do lado da pessoa amada e não poder dizer que a ama... É como não poder, realmente, se expressar livremente... Como se a presença do seu amor tivesse condicionada a sua capacidade de segurar todos seus sentimentos dentro de você... É como...
— Como o amor. — Safira o complementou prestativa, trazendo o silêncio de volta, cuja duração não se prolongou como o último.
— Desculpa... Eu amo vo... — Antes que terminasse sua frase, o bruxo desmaiou ainda sentado na cadeira, desabando seu corpo sobre a mesa.
Comente o que está achando da história e suas dúvidas. Eu sei que esses últimos capítulo tiveram muita informações, então se houver questionamentos, é só perguntar... Vota aqui na estrelinha pra me dar ainda mais motivação e não deixe de compartilhar com seus colegas leitores.
Quais serão os outros poderes de José? Como será essa sua função como bruxo? Como lidará com tudo isso e essa carga sentimental? O que eles farão, agora dados como mortos? O que os aguarda?...
-José JGF
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top