Capítulo 18- Sexo Frágil IV

— Se eu morrer, vocês também irão — ria freneticamente —, não há saída deste lugar.

No mesmo momento, uma fenda se abriu no teto da caverna como uma passagem, bem acima das três poderosas, deixando um pouco de areia cair sobre elas.

— Sem saídas? — Arya indagou ironicamente e se juntou às outras sem demora, enquanto toda a estrutura desabava com os tremores contínuos.

— Você dará continuidade às minhas futuras gerações, filha de Amon! — O faraó afirmou com satisfação quando o quarteto já estava unido, tendo a egípcia à sua frente.

— Eu serei a última de sua prole amaldiçoada — cuspiu com arrogância, encarando-o.

— Então, pelo que vejo, a superfície ganhará uma assassina magnífica — profetizou na tentativa de atacá-la psicologicamente.

— Eu não sou você! — As outras três poderosas já usavam seus poderes para desviar e se defender dos destroços que as ameaçavam.

— Não! Mas aprendeu como se faz, bem aqui neste lugar e é isso que fará agora comigo — concluiu sorrindo.

— Não sou assassina. — Ela arrancou a adaga que ainda jazia presa em seu ombro e a arremessou velozmente, impulsionada pela força do ar. Disparou direto contra a ampulheta de ouro atrás do trono arruinado e a estilhaçou deixando que a areia dourada escapasse, invadindo todo o ambiente fechado como uma tempestade de poeira cintilante. — Você já está morto há muito tempo!

Um pedaço do solo sob os pés das poderosas se desprendeu do chão e começou flutuar, tirando-as dali velozmente. Entretanto, antes que saíssem da caverna, da qual não restou muito, constataram o corpo de Tutancâmon se degenerando incrivelmente rápido. A ampulheta era seu último amuleto, o qual concedia a imortalidade.

A plataforma que as elevava cabia perfeitamente no buraco feito no teto, o qual seguia como um túnel de terra e areia. Em poucos segundos, sentiram a luz do dia agraciar seus olhos que lacrimejavam com os incontroláveis ciscos, e finalmente surgiram no meio do mar de areia no deserto.

— Pierre?! — A garota de cabelos verdes exaltou-se ao ver o homem mal cuidado à sua frente. Os longos cabelo e barba alvos lhe faziam parecer mais velho. — Você era o prisioneiro esquisito?

Não houve tempo para que se vissem antes e ele só pôde sair do subsolo quando Arya destruiu o colar de ametista que tomava também seus poderes.

— Safira? — O homem esboçava a mesma surpresa enquanto as damas tentavam tirar a poeira que cobria seus corpos. — O que faz aqui? Onde estão Fire e José?

— Vocês se conhecem? — As outras interrogaram em uníssono.

Então é assim que é o sol... — Ignorando as falas ao redor, a egípcia contemplava a superfície que lhe foi negada durante toda sua vida. — E ele não queima os rebeldes. Eu finalmente estou livre...

— Não temos tempo para isso agora. — Pierre interviu, sendo o primeiro a sentir a volta dos tremores abalar ainda mais o solo arenoso.

— Shai-Hulud... — suspirou aquela com o ombro ferido.

— Quem?! — Safira inquiriu, sentindo o terremoto começar a soterrar seus pés com a areia que se movia.

— O grande guardião do Egito — sanou a capitã, com seus cabelos coloridos balançando ao vento empoeirado.

— Eu posso cuidar dele...

— Vamos fazer isso juntos... — Yara e Arya proferiram em uníssono depois do geocinético.

— Podem deixar com Safira, ela pode pará-lo! — Aurora afirmou esbanjando certeza e orgulho, fazendo os olhares se voltarem para a senhorita.

— E-eu, é, eu posso! — declarou sem tanta certeza, mas não deixaria de se esforçar. Lembrou por que estava ali e não com José. Preciso mostrar que sou capaz...

No ápice dos tremores, enquanto as dunas de areia se moviam e se desfaziam, de dentro do solo, uma serpente gigantesca surgiu semelhante à forma que Taniwha emergiu do oceano. Rodeava-os ligeiramente, fitando suas presas enquanto exibia a bocarra enorme e suas milhares de presas. As escamas alvas reluziam em contato com o sol escaldante, e talvez não fosse exagero dizer que poderia alcançar os duzentos metros de tamanho, uma vez que boa parte de seu corpo continuava sob o solo.

— Fiquem atrás de mim! — gritou imponente, com as íris verdes brilhando e seu vestido aos pedaços. Tentou controlar a mente dele, mas não obteve êxito, o que a fez pensar que a distância seria um obstáculo para seu poder.

Shai-Hulud notou que a desafiante possuía uma coragem monstruosa e não demorou a responder a essa bravura. Voltou-se para a jovem que lhe dirigia as palmas, avançando depressa contra ela. Assim como a aura que escapava do corpo da adolescente, os olhos do guardião se esverdearam, lembrando duas esmeraldas gigantes.

— Pare! — ordenou como um rugido, contudo, a serpente albina do deserto ignorou sua ordem quando a coloração original retornou para os orbes esbugalhados.

O guardião continuou seu avanço e Safira não conseguia se mover, pois sua mente estava ocupada demais, raciocinando o fato de ter falhado. Antes que fossem engolidos pela besta colossal, Pierre tomou a frente e ergueu uma muralha de areia que foi comprimida até se tornar resistente como uma rocha. Sua defesa deteve a ofensiva da monstruosidade, mas não serviria por muito mais tempo.

— O que aconteceu? — A capitã questionou em meio ao desespero e a poeira que cobria o grupo. Não gostariam de pressionar a mais nova deles, mas podiam depender da habilidade dela.

— Acho que não tenho chakra suficiente... — Buscava uma solução à medida que torcia para aquela barreira permanecer resistindo.

— Então vamos fazer do modo convencional. — Yara comentou socando a própria mão, gesto que as outras três poderosas desgostaram.

— Façam qualquer coisa, mas sejam rápidas! — O homem de túnica marrom mirava a muralha com suas palmas. Suor escorria por seu rosto mostrando o esforço que fazia em manter a defesa. — Não sei por quanto tempo vou conseguir segurá-lo, na verdade, me surpreende ele ainda não ter dado a volta na muralha.

— Shai-Hulud pode apresentar uma diminuta inteligência às vezes, já que ela é dividida em... — A fala de Arya foi interrompida por um segundo tremor que se juntou ao primeiro. Foi quando outra serpente idêntica emergiu das dunas de areia atrás deles e avançou contra seus alvos. — Duas cabeças!

Impedidos pelo espanto de exclamar o urro que continham em seu interior, todos foram salvos no último instante pelo segundo paredão que surgiu do solo quando o geocinético se pôs a apontar cada palma para um lado diferente.

Por isso não consegui controlá-lo, ele tem duas mentes... — A mais nova imaginava enquanto o grupo formava um círculo em posição defensiva, uns de costas para os outros no centro das barreiras rochosas.

As poderosas respiravam pesadamente, temendo aspirar a poeira, ao contrário do homem que perdia o fôlego a cada instante que sentia seu chakra se esvair. Com um suspiro fundo que encheu seus pulmões, as proteções desabaram e as duas cabeças de Shai-Hulud avançaram contra as presas, escancarando suas bocas.

Exigindo o máximo de sua força de vontade, Pierre ergueu as mãos e uma coluna de pedregulho se edificou sob os pés do grupo, elevou-os a dezenas de metros. Contudo as cabeças da serpente começaram se entrelaçar no pedestal que ainda crescia. As mulheres admiravam a persistência do poderoso e da besta que tentava os alcançar a todo custo.

Chegando perto dos noventa metros de altitude, o geocinético não mais encontrou chakra para usar. A força da monstruosidade estraçalhou sua construção e a gravidade os atingiu de modo súbito. O cansaço abateu o homem que desmaiou em queda livre, mas foi segurado pela dama alada que fez surgir suas asas.

Então essa é a sensação de liberdade...

Se alguma das outras três que se precipitavam ao solo, gritava, seria impossível escutá-las enquanto uma serpente gigantesca voltava ao chão juntamente com uma torre de pedra que desabava sobre essa. Aurora flutuava o mais rápido possível para alcançar suas amigas, as quais caíam descontroladas na direção do monstro que não demorou em abrir suas bocas para engoli-las.

A espectro buscava não pensar no fato de que talvez precisasse optar quem deveria salvar, já que não conseguiria alcançar as duas. Mas quem escolheria? A melhor amiga, ou aquela que se mostrou tão gentil e provocou emoções em seu interior confuso?

Percebendo a situação, Arya recolheu suas asas e deixou que a gravidade fizesse o resto, juntou seu peso ao de Pierre e assim dispararam em alta velocidade para baixo. Cerrou os olhos para que não fossem atingidos pela poeira que cobria todo o local desértico.

Anseio que essa não seja uma má decisão... — pensou a egípcia, findando a distância entre ela, as poderosas e a monstruosidade que tanto conhecia. Podia considerar Shai-Hulud até gentil, um ser místico com modos formais, mas não quando estivesse sob controle de Tutancâmon. — Lembre-se de mim, amigo.

Instantes antes do impacto com o solo, ou do encontro com as presas do oponente, a aerocinética revelou suas asas outra vez e usou quase todo seu chakra restante para produziu uma rajada de força grotesca. O bater de suas penas levantou as dunas de areia próximas, assim como desnorteou a enorme serpente albina que procurou abrigo sob o solo.

A lufada de ar foi de encontro ao chão arrebentado e retornou para cima, amortecendo a queda do grupo que sofreu com o impacto ameno. Levou alguns minutos para entender que desfeche aquela situação levou.

— Yara! — chamou a Arya, sem energia em seu corpo para espantar a poeira que cobria sua visão.

— Safira! — Aurora exclamava, brilhando na escuridão causada pela nuvem de terra que atrapalhava os raios do sol ardente.

— Aqui! — Conseguiram, em meio à agonia, reunir-se novamente, agradecendo pela queda gradativa da cortina arenosa. Enquanto isso, a jovem rogava ao universo para que seu adversário não retornasse, olhava para baixo com cautela, como se pisasse em ovos.

— O que aconteceu com ele?

— Desmaiou... — A egípcia respondeu a pergunta da capitã com obviedade, olhando o homem que posou no terreno com cuidado. — Passou uma semana naquele calabouço, deve estar quase sem chakra. Na verdade, estou perplexa com o tanto de poder que mostrou.

— Temos que ter certeza que aquele monstro não vai... — O comentário da espectro foi interrompido pelo vibrar do terreno. — Droga.

Shai-Hulud surgiu do subsolo, apresentando muita mais ira que antes, deu uma volta em torno de seu próprio corpo, como se quisesse mostrar superioridade. Safira se pôs a frente de suas parceiras, com confiança. Seus olhos verdes brilhavam novamente ao encarar seu inimigo que avançou de súbito.

Eu tenho que acabar com isso...

Eu preciso pará-lo... — Arya concluiu seu pensamento, tomou a dianteira do grupo e estirou a mão para.

— Pare! — gritou quando havia menos que cinco metros para que fosse estraçalhada pelas presas da besta. Surpreendendo a cada ser presente, até mesmo a ela e o colossal a sua frente, a serpente do deserto estacionou. Dessa forma, a voz da aerocinética transitou de imponente para cortês. — Lembra-se de mim?

O animal não respondeu, pois não possuía o dom da fala, mas permaneceu estagnado, paralisado pelas poucas lembranças felizes que contava em sua memória. Para ter certeza do que via, a segunda cabeça causou mais um tremor ao sair de uma duna. Assim se encararam as últimas duas espécies da prole amaldiçoada do povo oculto, recordando dos dias em que tinham apenas um ao outro e nada mais.

— Não precisamos mais servir a ninguém — clamou a rebelde sobrevivente para o grande guardião. — Estamos livres agora. Prometo que vou cuidar de você como fez comigo quando eu era menor, mas preciso que retorne ao subsolo e não seja visto por ninguém.

Assim ele fez, depois de acenar com as duas cabeças como se dissesse “adeus”.

— Poderosa... — O comentário de Pierre assustou todas as mulheres que se viraram rapidamente para olhá-lo sentado na areia...

Olá, poderosos! Como estão? Espero que bem e gostando do que estão lendo, se sim, por favor cliquem na estrelinha abaixo, compartilhem com outros leitores de fantasia e não deixem de dizer o que estão achando!

Essa nova participante do grupo feminino, o que acham? Será que esse quarteto de mulheres vai arrasar ainda mais? Como Pierre foi parar numa cela no subsolo do deserto no Egito? Será que os planos de Malléphycus estão indo por água a baixo? Qual será o próximo plano diabólico dele?...

-José JGF


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top