Capítulo 18- Sexo Frágil III
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— Tutancâmon! — A capitã reivindicou seu olhar surpreendido, entrando em cena por uma abertura próxima a passagem pela qual passaram na noite anterior.
As celas do calabouço eram acessadas através de uma escadaria que descia a partir da porta ao lado direito da entrada principal. Por ela, a guardiã surgiu tendo Arya como refém, mantendo-a a sua frente e prendendo seus braços para trás.
— Nos liberte agora! — gritou novamente dando alguns passos. Safira e Aurora apareceram à suas costas, mantendo a cautela á medida que transpareciam intimidação.
— Arya, sua insolente, como permitiu que escapassem?! — cuspiu as palavras ainda sentado em seu trono escuro. — Elas nem podem usar os poderes! E você, por que não usa os seus?
— Liberte-nos imediatamente, ou ela vai morrer! — Vendo o sofrimento psicológico da egípcia, a hidrocinética interviu.
— Mate-a quando desejar — facas afiadas doeriam menos se perfurassem as costas da dama —, não será mais de muita utilidade para mim, porém, vocês nunca sairão.
Aquilo estraçalhou o coração da mulher. Ele podia ter uma personalidade questionável, mas já havia lhe proporcionado alguns momentos felizes e seus planos diabólicos não apagavam o passado venturoso, no qual não era perfeito, mas significativamente melhor.
Num impulso repentino, a poderosa de cabelos escuros escapou das mãos de Yara. Suas velocidade e agilidade eram incomparáveis. Cortava o espaço como um vulto, quase invisível como o próprio ar rarefeito que respiravam. Em poucos segundos, percorreu toda a passarela rochosa e logo chegou em seu alvo.
Pulou no ar ainda avançando e desceu na direção do faraó. Enquanto os olhos brilhavam, seu punho fechado foi de encontro à palma da mão de Tutancâmon, o qual a fitou com um olhar predominante, defendendo-se sem muito esforço.
— Eu vou dar um fim em seu reinado doentio! — prometeu firmemente em árabe, enquanto matinha força no assalto.
— Sério?! — O homem gargalhou descontroladamente, respondendo no mesmo idioma. — Você não passa de uma criança ingênua que acredita em qualquer baboseira. — Arya recuou um pouco para trás, como se aquilo a machucasse fisicamente, tanto quanto ao seu psicológico. — Elas vão te enganar e te usar, assim como eu fiz!
Sem aviso prévio, um ataque desferido pela mulher o acertou bem em sua face enrugada. Carregava todos os anos de dor e sofrimento, despejados com um soco na cara de seu mais novo inimigo mortal, o qual sentiu o ardor nos ossos de seu rosto virado.
— Você pode me usar e me ludibriar, mas elas não são como você! — Empoderada, ela estufou o peito com confiança. — E é com a ajuda delas que eu vou te deter.
O sorriso em seu semblante se esvaiu com a potência do revidar de Tutancâmon. Ele usou sua superforça contra a barriga de Arya e ela foi lançada para trás, voando metros e mais metros. Passou por cima das poderosas e parou apenas quando suas costas encontraram a parede da caverna. Caiu desnorteada no chão e as três correram para socorrê-la, porém, a atenção delas não demorou na rebelde abalada.
— Agora eu vou mostrar quem manda em meu reino! — O faraó gritou chamando atenção delas antes que prestassem ajuda à egípcia.
— É mesmo? — Aurora interviu encarando-o. — Você e que exército?
Apresentando um sorriso diabólico, o homem estendeu a mão com a palma virada para baixo e a pedra âmbar de seu bracelete de ouro emitiu um brilho incessante. Em poucos segundos, um odor horrível se espalhou no ar e um barulho estranho ecoou do fundo daquele abismo tenebroso.
— O que tá acontecendo?!
— É o exercito dele... — Ainda caída no pé da parede paralela ao trono, Arya sanou, com dificuldade, o questionamento de Safira.
— Tinha que perguntar, Aurora?! — exclamou a jovem de cabelos castanhos.
— É que eu sempre quis fazer isso. — O fedor, assim como o barulho tilintante, intensificava-se cada vez mais. — Não imaginava que ele tinha um.
— Fique aí! — Yara apressou-se em manter a mulher no chão, a qual respirava com certa complicação. — Nós vamos te proteger.
— E... — a adolescente de íris azuis foi até a borda da ponte de pedras e olhou para baixo — quem vai nos proteger?
Não demorou muito para que, pelas paredes da caverna mal iluminada, corpos esqueléticos subissem assustadoramente. Alguns ainda mantinham partes de seus cadáveres devidamente inteiros, mas em outros restavam somente o próprio esqueleto e suas vestes que geralmente só consistiam em trapos sujos. Alguns ainda portavam armas como: espadas, lanças e adagas. Entretanto não pareciam ter habilidade ou estabilidade suficiente para usá-las corretamente.
— Que diabos é isso?! — a capitã inquiriu indignada.
— Estas são as vítimas do vírus. — Arya pareceu se recuperar do golpe, mas ainda se mantinha sentada. — Tutancâmon deve ter reanimado seus corpos com alguma magia antiga.
— Se alguém quiser compartilhar o plano que está pensando, essa é uma boa hora. — A espectro recuava para trás, como as duas outras.
— Não há para onde correr! — O faraó gargalhou enquanto seu esquadrão finalmente abordou todo o local mal iluminado. Subiram na ponte, espalharam-se pelas paredes como insetos e mantiveram guarda, esperando a ordem. — Vocês estão acabadas... Ataquem!
Inesperadamente, a última descendente atraiu a atenção para si. Tomou a frente daquelas que a protegiam mostrando coragem e abriu os braços. Da parte de baixo de cada membro saíram penas e grandes asas lilases e azuis surgiram neles majestosamente.
Num movimento abrupto, ela abanou com força de vontade e uma intensa ventania avançou contra as múmias vivas, jogando-as para todos os lados em cada lufada. Continuou seus ataques, enquanto aquelas desprovidas de poderes se afastavam para não serem atingidas, e seus verdadeiros alvos eram lançados pelos ares, caindo no abismo.
— Não vais tocar um dedo podre em minhas amigas! — gritou aumentando a potência do bater de asas e foi aí que seus pés começaram a deixar o chão, flutuando alguns centímetros pela força do ar.
Não, elas não eram suas amigas, mas, se saíssem dali vivas, nada as impediria de se tornarem. Por isso, seria visando uma pequena possibilidade do futuro, que lutariam pela vida contra uma armada de mortos-vivos.
— Então se prepare para morrer junto a elas — enunciando isso, Tutancâmon pôs a mão em seu peitoral e tateou-o caçando algo que devia estar ali. — Cadê? Cadê ele?!
— Procurando por isso? — A mulher alada sorria convencida, perdendo altitude enquanto diminuía o bater de asas. Quando voltou a passarela rochosa, ela mostrou um colar de ouro com várias pedras ametistas que reluziam. — Não pensou que eu me dirigiria até você sem um plano, não é mesmo?
— Sua vadi...
— Eeii! — Aurora interviu em seu berro.
— Matem-nas! — O grito dele ecoou pelo antro fétido e foi seguido pelo barulho de seu exército indestrutível que persistia em se aproximar das poderosas.
— Prontas? — Arya inquiriu retoricamente levantando o adereço luxuoso.
Com as múmias a poucos metros delas, a egípcia jogou o amuleto no chão e pisou-o com toda sua força. Instantaneamente, Safira e Yara se transformaram já em posição defensiva.
— Prontíssimas! — retrucaram em uníssono.
Partiram na direção de seus inimigos com toda ferocidade e bateram de frente com cada um. A mulher alada alçou voo e iniciou seus ataques de rajadas de ar bem acima de suas parceiras, dando-as cobertura.
Safira usava os cipós para jogar as múmias para fora da plataforma. Yara não percebia nenhum fluido para controlar, por isso sublimava a água do ar ao se redor e lançava com as próprias mãos, não era tão eficiente, mas ela não tinha muitas opções. As duas iam a frente tendo Aurora na retaguarda, ela andava de costas, servindo como escudo, uma vez que usava seus poderes apenas para defesa.
Assim, elas avançavam pela ponte, acabando com uma legião inteira de múmias vivas que parecia infinita. Tutancâmon se mostrava cada vez mais desconfortável em seu trono, vendo o progresso de suas adversárias.
— Gente, eu estava pensando — a espectro chamou atenção, entre seus flashes de luz. — O que vamos fazer quando pegarmos o guardião fajuto?
— Matar? — Yara inquiriu quase como uma afirmação, usava a água como chicotes ligeiros.
— Ele já está morto, agora é apenas um cadáver eterno. — Arya refutou derrubando um grupo esquelético que se movia rapidamente pelas paredes.
— Então o que vamos fazer? — Safira inquiriu desviando de um corpo que se jogou do teto da caverna.
— Deixem isso comigo, preocupem-se em chegarmos juntas até ele. — A alada respondeu dando voltas no ar para não ser pega pelos soldados perecidos.
— Mulheres tolas! — Tutancâmon estirou a palma esverdeada em direção a elas. — Venham para a morte.
Pouco antes que elas o notassem, da mão do homem foi lançada alguma substância viscosa em tons verdes escuros.
— Cuidado! — A rebelde tomou a frente das três amigas diminuindo sua altitude elevada e bateu a palma das mãos enluvadas.
Com isso, uma massa de ar explodiu ao seu redor formando um escudo que logo se extinguiu, todavia, foi o suficiente para repelir o ataque inimigo. O disparo do faraó acertou em algumas múmias, as quais começaram queimar e derreter ao mesmo tempo.
— Que foi aquilo?! — Yara inquiriu embravecida.
— Não entendo direito — a mulher de cabelo preto finalmente pousou e assumiu a posição da capitã, a qual se voltou para trás ficando na retaguarda —, mas me parece a fusão de fogo verde com ácido tóxico e muito ódio no coração.
— Ui, que velha feia! — Safira se exaltou vendo o corpo de uma senhora reanimado, enquanto a dama alada as defendia de outro assalto do rei oculto. — Arya, você deve avançar e parar com esses ataques, não quero morrer desintegrada. — Não restavam muitos metros as separando de seu inimigo real.
— Aurora, assuma meu lugar! — A tensão do embate não permitia que falassem normalmente, alterando o tom.
Assim que a espectro passou à frente, a egípcia alçou voo e avançou pelo ar, sendo alvo dos disparos contínuos do faraó, dos quais desviava com agilidade e certa dificuldade.
— Não vai se aproximar, insolente! — esbravejou Tutancâmon, atirando com as duas mãos.
— Você não é deus! — Parou no ar, encarando-o com segurança. — É um covarde que se esconde atrás de corpos e que tem medo da morte, mas é esse o seu futuro.
— Não dirija palavras hereges a quem te deu um lar... — Voltaram a se pronunciar em árabe.
— Isso não é um lar! — bradou retraindo suas penas e as asas adentraram nos braços. Com isso, ela precipitou-se desabando em linha reta sobre monarca. — É uma prisão!
Caiu como um míssil em cima do assento real, já desferindo um soco em qualquer coisa que esse alcançasse. Com o golpe desviado pelo alvo, o qual levantou-se rapidamente, o punho de Arya destruiu metade do trono.
— Primeiro sua força. — Sua acomodação imponente era um amuleto mágico também, o qual concedia grande força física ao faraó espantado.
— Ainda tenho vários outros. — Pondo-se de costas para a ponte de pedra, revelou sorrindo, mas com certo receio o abalando.
Mirou-a com o dedo indicador. As poucas armas que seus guardas carregavam consigo começaram a flutuar aleatoriamente e foram lançadas para todos os lados. Aurora as defendeu com um barreira reluzente e Arya criou uma proteção de ar à sua frente, que serviu com eficácia para seu propósito.
— Sua mira parece estar afetada também — zombou desfazendo o escudo e avançando imponente contra ele.
— Acredita mesmo nisto? — interrogou com um olhar frio e sombrio, ainda mirando-a.
A rebelde pôde sentir através das fitas presas em sua cabeça, as quais eram usadas como antenas extrassensíveis, que um objeto se aproximava velozmente por trás. Com agilidade e velocidade, ela desviou para o lado, porém, seu reflexo tardio lhe custou uma adaga cravada na parte da trás de seu ombro esquerdo.
Um grito rompeu de sua boca chamando a atenção de suas parceiras, mas elas não tiveram tempo de ajudá-la, uma vez que eram atacadas por um exército.
— De todas as coisas que definem um covarde — começou suspirando com seus olhos dourados brilhando —, atacar por trás é a pior delas.
Num passo rápido, Arya alcançou as vestes de Tutancâmon com suas mãos e o arremessou, por cima de seu próprio corpo, contra o assento de pedra. Ignorando a lâmina em seu ombro, ela o colocou deitado no trono que, estando quebrado, servia perfeitamente como uma mesa grande.
— Vamos tirar sua resistência também. — Tomou os dedos dele e arrancou rispidamente um anel com uma pedra vermelha.
— Sua desgraçada! — O guardião tentava se erguer, porém, bastando usar apenas uma mão, a egípcia o parou, já que seus poderes se esvaiam aos poucos, junto com seus amuletos preciosos.
— Você poderia empregar suas magias para o bem — usando a outra mão, ela começou lhe desferir socos impiedosos —, mas não, você decidiu se tornar mais poderoso enquanto seu povo perecia. Entretanto eu vou extrair todo seu poder — proferindo isso, ela tirou o anel de esmeralda da outra palma dele.
Dado momento de tensão, os soldados mórbidos avançaram contra ela, mas foram contidos pelas poderosas que finalmente os alcançaram. Naquele instante, as três formavam uma defesa para que eles não chegassem até Arya.
— Já tá acabando aí? — Safira questionou, ela havia desfeito a parte de baixo de seu vestido feito de pétalas vermelhas, e as usava como armas.
— Não tem como eles morrerem de uma vez por todas? De verdade e sem volta. — Aurora interrogou arfando de cansaço, como todas as outras.
— Aah, desculpa! — Por fim, arrancou o bracelete do braço do faraó, quase arrancando o membro junto. — Deixe-os morrerem em paz.
Automaticamente, todos os corpos reanimados caíram ao mesmo tempo, uns na ponte e outros voltando ao fundo do abismo obscuro. Com isso, as três poderosas se voltaram para sua companheira que mantinha o inimigo sob controle.
— Acaba com ele...
A fala de Yara foi interrompida por um tremor, que fez pedaços do teto desprenderem e cair. Toda a caverna vibrava levemente e, a cada segundo, ia intensificando mais ainda. Uma gargalhada atraiu os olhares para Tutancâmon e todas constataram o brilho das pérolas brancas nos olhos da cobra que fazia parte do adorno na cabeça dele. Reluzia incessantemente.
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